Aurora Boreal escrita por Maiah Oliveira


Capítulo 5
Capítulo 3 - Vínculo Parte II


Notas iniciais do capítulo

Gostaria de avisar que esse capítulo tem três links de vídeos do youtube, escrito "Música" para vocês ouvirem enquanto leem.



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Bella o seguiu.

– O que é? – indagou claramente confusa.

Fosse porque a sanguessuga tinha decidido entrar pelo outro lado da casa, fosse o vento que tenha mudado de direção, uma coisa era certa eles estavam em rota de colisão e ele não pretendia ter um confronto com uma sanguessuga, não quando estava tão irritado. Deu meia volta decidido a sair pelos fundos e evitar mais problemas, quando Bella apareceu no seu caminho, ele xingou em voz baixa, maldizendo a sua sorte. Jacob numa tentativa frustrada de se afastar novamente acabou esbarrando em Bella de novo, a fazendo cair no chão, enquanto suas pernas se enroscavam nas dele.

– Mas que droga! – Bella reclamou enquanto Jacob saia em disparada na direção da porta dos fundos.

No momento seguinte ele estava paralisado se controlando enquanto via a sanguessuga parada ao pé da escada.

– Bella – a voz de Alice saiu engasgada.

Jacob ficou alheio por um momento se concentrando apenas em controlar seus extintos. Até que ouviu a sanguessuga falar o nome dele o fazendo muito consciente de Bella que oscilou perigosamente na escada. Sua reação foi automática correu para lhe dar suporte e impedir ela de cair. A carregou até o sofá falando todos os palavrões e blasfêmias que tinha aprendido a maior parte com Paul, era o melhor jeito de não atacar a sanguessuga a sua frente, estava muito nervoso e irritado para conseguir manter um controle decente. Seu corpo inteiro estava tremendo.

– O que você fez com ela? – seu tom estava permeado com uma raiva contida.

Alice ignorou a pergunta e encarou Bella, precisava que ela recuperasse o foco.

– Bella? Bella pare com isso. Precisamos correr – a voz de Alice saiu desesperada, elas não tinham tempo para isso.

– Fique longe daqui! – ele avisou. A ideia de se transformar e atacá-la, por machucar Bella, tomando cada vez mais forma em sua mente.

– Calma Jacob Black! – a voz saiu firme e tranquila, uma ordem clara. – Não vai querer fazer isso tão perto dela.

– Não acho que terei problemas para manter o foco. – replicou sua voz puro gelo.

– Alice? – a voz saiu frágil. – O que houve?

Enquanto Alice sussurrava perdida. Bella tentou levantar, sendo rapidamente amparada por Jacob. Ele tinha certeza que o único motivo para conseguir o mínimo de controle era porque sabia que Bella precisava dele, da sua presença e não de um lobo descontrolado, mas seu controle estava por um fio, ele mesmo tinha perfeita noção disso. Provavelmente do jeito que seu corpo tremia, mesmo Bella estando tão abalada perceberia sua instabilidade.

A atenção dele estava totalmente focada em Bella e nas reações dela, não ia deixar ela se despedaçar como parecia prestes a fazer enquanto ouvia a sanguessuga no telefone. Ele só focou novamente sua atenção em palavras quando Bella começou a falar.

– Alice – Bella disse assim que Alice encerrou a ligação. Parecia insegura, com medo. – Alice, Carlisle voltou. Ele ligou antes...

Alice pareceu não entender.

– Há quanto tempo? – a voz estava seca.

– Meio minuto antes de você aparecer.

– O que ele disse?

– Eu não falei com ele. – Bella voltou sua atenção a Jacob.

Alice também jogou um olhar afiado na direção de Jacob, que se encolheu com a atenção repentina, mas se manteve firme no lugar, numa posição protetora para Bella.

– Ele perguntou por Charlie e eu disse que Charlie não estava aqui – sua voz saiu baixa e rancorosa.

– Só isso? – indagou Alice friamente.

– Depois ele desligou na minha cara – disse de má vontade. Seu corpo tremeu de raiva com a simples lembrança.

– Você disse que Charlie estava no enterro! – Bella recordou.

A isso Alice virou sua cabeça tão rápido que se não fosse o que era teria deslocado o pescoço.

– Quais foram suas palavras exatas? – indagou, urgência e uma ponta de desespero permeando sua voz.

– Ele disse: “Ele não está”, e quando Carlisle perguntou onde Charlie estava, Jacob respondeu: “No enterro.” – Bella respondeu percebendo que Jake não estava muito disposto a falar mais que o estritamente necessário.

Alice fez um som estrangulado com a garganta e caiu de joelhos como se o impacto das palavras de Bella a atingissem fisicamente.

– Me diga, Alice... – pediu Bella com a voz baixa, com medo tanto de assustar Alice, quanto de ouvir sua resposta.

– Não era Carlisle no telefone... – falou desolada.

– Está me chamando de mentiroso? – grunhiu Jacob se sentindo ultrajado com a tácita acusação nas palavras dela.

Ela não fez caso da reação de Jacob, voltando toda a sua atenção em Bella que estava perplexa com as palavras de Alice.

– Era Edward. – sua voz saiu num tom apertado e baixo, estrangulada. – Ele acha que você está morta.

Para a surpresa de Jacob que assistia toda a cena atentamente, ao invés da reação desesperada e angustiante que ele esperava dela, sempre que ouvia aquele nome ou qualquer menção a ele, Bella contraditoriamente parecia aliviada.

– Rosalie disse a ele que eu me matei, não foi? – ela indagou enquanto suspirava o alívio nítido no modo como seus músculos relaxavam.

– Sim – confirmou a expressão séria, a voz ligeiramente dura, contida. – Preciso ressaltar que ela acreditava nisso. Eles confiaram demais na minha visão, numa habilidade que é tão imperfeita. Mas ela o localizou para contar isso a ele! Será que ela não percebeu... nem se importou...? – as palavras jorraram de seus lábios depois, como se pensasse em voz alta, seu tom mudando do desespero alarmado para um horror silencioso.

– E quando Edward ligou para cá, pensou que Jacob estivesse se referindo ao meu enterro – Bella concluiu o pensamento, parecendo muito calma e triste. Jacob percebeu o momento em que ela compreendeu o quão perto ela esteve de falar com ele, quando Bella cravou as unhas em seu braço, não machucando realmente, apenas o fazendo consciente da reação dela.

Alice dirigiu um olhar confuso a Bella.

– Você não está perturbada... – seu tom baixo e ligeiramente confuso.

– Bom, o momento é horrível, mas tudo isso pode ser consertado. Da próxima vez que ele ligar, alguém dirá a ele... o que... na verdade... – a voz dela sumiu. Enquanto Bella observava o lindo rosto de porcelana transfigurado numa mascara de pânico e pena.

Com sua atenção voltada ao silêncio e clara confusão de Bella, Jacob assistiu a cena sem pestanejar preocupado demais com suas reações.

– Bella... – a voz melodiosa saiu fraca. – Edward não vai ligar de novo. Ele acreditou nela.

– Eu. Não. Entendo. – Bella pronunciou lentamente, com medo demais de fazer uma pergunta direta, sentindo que a resposta seria o motivo para todo o horror no rosto de Alice.

– Ele foi para a Itália. – pareceu haver um tom definitivo em suas palavras. Como um juiz que declarava a sentença derradeira de um condenado. Até mesmo Jacob que não sabia o que isso significava realmente, sabia que não podia ser nada de bom.

Bella levou apenas um segundo para compreender.

Jacob viu a mudança em Bella, ele quase conseguia ouvir as engrenagens girando na cabeça dela, de forma quase vertiginosa, se sua reação a seguir dizia algo. O grito de “Não!” estridente cortou o silêncio pesado como uma lâmina afiada e cortante explodiu de seus lábios com uma força surpreendente no meio de todo aquele silêncio. Mesmo a mudança na respiração e batimentos cardíacos de Bella não o tinham preparado para a explosão dela que tinha feito tanto ele como Alice saltarem.

– Não! Não, não, não! Ele não pode! Não pode fazer isso!

– Ele se decidiu assim que seu amigo confirmou que era tarde demais para salvar você.

– Mas ele... Ele foi embora! Ele não me queria mais! Que diferença isso faz agora? Ele sabia que um dia eu ia morrer! – Bella provavelmente não percebia, mas seu tom tinha um desespero tão pungente e uma dor desesperada tão profunda, que Jacob sentia seu coração partir só de ouvir.

– Não acho que ele tenha planejado viver muito tempo após sua morte – sussurrou em resposta.

– Como ele se atreve! – a voz saiu alta, descontrolada de raiva e indignação. Bella levantou de rompante e Jacob seguiu atento e preocupado, enquanto se colocava entre Bella e Alice, temendo que Bella atacasse a sanguessuga e toda a situação fugisse de controle. Seu corpo tremeu mais só com a ideia de Bella se machucar em meio a uma atitude impensada.

– Ah, saia da minha frente, Jacob! – disse parecendo impaciente e irritada enquanto fazia seu caminho em direção a Alice, entre cotoveladas – O que vamos fazer? – pediu a Alice. Pareceu quase implorar por uma solução milagrosa, algo em que pensar ou trabalhar, algo que lhe devolveria a tênue linha de equilíbrio que estava perigosamente ultrapassando. – Não podemos ligar para ele? Carlisle não pode?

Alice negou desolada. Derrotada. Não havia nada que ela pudesse fazer a esse respeito, tinha tentado tudo o que estava a seu alcance. A situação não estava mais em suas mãos e agora só havia uma pessoa que poderia resolver essa situação, mas isso estava totalmente fora de cogitação. Tinha sido estúpido pensar que poderia arriscar a vida dela dessa maneira, mas então estava chocada e desesperada demais quando recebeu a visão.

– Esta foi a primeira coisa que tentei. Ele largou o telefone numa lata de lixo no Rio de Janeiro... Alguém atendeu... – sussurrou.

– Você antes disse que tínhamos que correr. Correr como? Vamos fazer logo, seja lá o que for!

– Bella, eu... eu não acho que possa pedir a você para... – Ela parou de falar, indecisa.

– Peça! – ordenou.

Alice segurou seus ombros e lançou um olhar intenso em direção a ela, desejando que Bella compreendesse a situação e todos os riscos envolvidos, bem como as poucas chances que elas tinham.

– Pode ser tarde demais para nós. Eu o vi indo aos Volturi... e pedindo para morrer. – Jacob observou ambas se retraírem às palavras. Os olhos de Bella rapidamente se tornaram brilhantes de lágrimas não derramadas – Tudo depende do que eles decidirem. Não consigo ver nada até que eles tomem uma decisão. Mas se eles disserem “Não”, e eles podem fazer isso... Aro gosta de Carlisle e não vão querer ofendê-lo... Edward tem um plano B. Eles protegem muito a cidade deles. Se Edward fizer algo para perturbar a paz, ele acha que vão tentar impedi-lo. E tem razão. Eles vão mesmo.

A expressão de Bella estava fechada numa máscara frustrada enquanto encarava a vampira. Ansiedade parecendo sair de todos os seus poros, como se a qualquer momento ela estivesse prestes a correr. Jacob ficou tenso com a ideia, seu corpo tremia, mas ela não notou, concentrada demais em Alice.

– Assim, se eles concordarem em fazer esse favor a Edward, já é tarde demais para nós. Se eles disserem “Não” e ele pensar num plano para irritá-los rapidamente, será tarde demais para nós. Se ele ceder a suas tendências mais teatrais... Talvez tenhamos tempo.

– Vamos! – ela exigiu.

Musica 1

– Preste atenção, Bella! Quer tenhamos tempo ou não, estaremos no meio da cidade dos Volturi. Seremos consideradas cúmplices dele se ele for bem-sucedido. Você será uma humana que não só sabe demais, mas que também tem um cheiro bom demais. Há uma boa possibilidade de que eles eliminem todos nós... Bem, no seu caso, não será tanto uma punição, mas o jantar.

– É isso que está nos prendendo aqui? – descrença e quase choque se misturavam em sua voz. – Eu vou sozinha, se você estiver com medo. – ela estava tão impaciente quanto Jacob estava ficando apavorado com a ideia de ela sair por aquela porta e enfrentar o pesadelo fora das paredes seguras daquela casa. Ele podia não entender a história toda mais o pouco que estava ouvindo e conseguia compreender, já dava uma ideia clara demais do cenário que ela provavelmente iria enfrentar. E isso o apavorava.

– Só tenho medo de provocar sua morte. – Alice disse em uma voz sumida.

Bella bufou parecendo desmerecer a ideia como um problema menor. Jacob, no entanto se encolheu só de ouvir as palavras. Sentiu como se uma mão gelada segurasse seu coração só com a ideia. Mas Bella novamente não notou, presa demais no seu próprio inferno pessoal, para notar que Jacob enfrentava o dele bem diante dos seus olhos.

– Eu quase me matei diariamente! Me diga o que precisamos fazer!

– Escreva um bilhete para Charlie. Vou ligar para a companhia aérea.

– Charlie... – arquejou, como se finalmente se desse conta de que alguém poderia sofrer com o impacto da sua corrida insana e desenfreada a procura da morte quase certa.

Mas a expressão intensamente preocupada em seu rosto fez Jake perceber que mais uma vez, ela estava se colocando de lado e pensando no bem estar de alguém que ela amava, mesmo que não pudesse proteger.

– Não vou deixar que nada aconteça a Charlie. – conseguiu dissimular sua dor e medo, com um tom agressivo e irritado. – O pacto que se dane!

Retorceu seu rosto, para a expressão apavorada no rosto dela, tentando ao máximo ocultar seus sentimentos diante dela. Será que ela podia por um segundo pensar na própria segurança, era ela que estava indo em direção à morte e não Charlie. Tudo o que queria naquele momento era segurar ela e nunca mais soltá-la, talvez...

– Rápido, Bella! – a voz da vampira interrompeu seus pensamentos.

Bella não precisou de um segundo aviso, já estava na cozinha, com Jacob nos seus calcanhares. Ela procurou freneticamente por uma caneta, que ele logo encontrou a entregando.

– Obrigada! – agradeceu sua voz baixa, enquanto arrancava com os dentes a tampa da caneta.

Jacob entregou a ela um bloco de papel, enquanto reunia todas as suas forças tentando se controlar para simplesmente não amarrá-la numa cadeira e a impedir de sair dali. Com Bella amarrada sabia que a pequena vampira não seria um grande problema. Mas será que ela o perdoaria se a impedisse de salvar o sanguessuga? Provavelmente não, mas o que importava destruir tudo o que eles tinham, se isso significasse manter ela viva e a salvo? Parecia um preço pequeno a se pagar pela vida dela.

A observou rabiscar uma nota com pressa febril.

Mas será que ela conseguiria viver com a culpa que ela sem dúvida sentiria, se o sanguessuga morresse, sem ela ter tido a oportunidade de fazer nada?

Tinha visto nas memórias de Sam como ela tinha ficado quando ele a abandonou, tinha visto com seus próprios olhos como ela estava quando se encontraram novamente, estava destruída, em cacos. Ela tinha se destruído, Bella tinha razão, ela quase tinha se matado diariamente, desde a separação. Se algo acontecesse ao sanguessuga sabia que ela não ia aguentar. Então novamente não havia escolha, não estava em suas mãos, não podia simplesmente prendê-la. Mas o inferno congelaria se ele não tentaria o que fosse possível para convencê-la a ficar, a não se matar.

– Não vá... – o pedido deixou seus lábios, o rosto desarmado. Sem máscaras.

– Por favor, por favor, por favor, cuide de Charlie! – falou, se demorando só um segundo antes de voltar para a porta da frente.

– Pegue sua carteira... Vai precisar da identidade. Por favor, me diga que tem passaporte. Não tenho tempo para falsificar um. - cerrou os dentes e os punhos enquanto escutava a vampira falar, ainda da cozinha.

Se dirigiu com passos firmes em direção a ela, determinado a tentar manter Bella em segurança. Se aquela parasita se importava tanto com Bella como a morena acreditava então ela não permitiria que Bella cometesse essa loucura. Travar uma conversa com uma sanguessuga não estava na sua lista de coisas preferidas, mas se isso significava manter Bella a salvo faria esse sacrifício.

Se aproximou dela no batente da porta tanto quanto era humanamente possível dadas as circunstancias – de serem inimigos mortais presos num espaço muito pequeno, sem realmente poderem se matar. Tentou racionalizar com ela sem poupar qualquer palavra mostrando claramente o que esperava por Bella, uma humana indefesa no meio de monstros sedentos de sangue.

– Você pode se controlar de vez em quando, mas esses sanguessugas de onde a está levando... – Jacob estava furioso, será que ela não entendia? Será que ela sequer se importava? Afinal Bella só era mais uma humana!

– Sim. Tem razão, cachorro. – ela rosnou quase cuspindo as palavras. – Os Volturi são a essência de nossa espécie... São o motivo para seus pêlos se eriçarem quando você sente meu cheiro. Eles são a substância de seus pesadelos, o pavor por trás de seus instintos. Não estou alheia a isso.

– E vai levá-la para eles como uma garrafa de vinho a uma festa! – vociferou inconformado.

– Acha que ela vai ficar melhor aqui sozinha, com Victoria em seu encalço?

– Podemos cuidar da ruiva. – respondeu com desdém.

– Então por que ela ainda está caçando? – Alice desafiou.

Jacob emitiu um ruído surdo e ameaçador, enquanto um tremor percorreu todo seu corpo.

– Parem com isso! – Bella interrompeu falando numa voz alta e sôfrega. – Discutam quando voltarmos, agora vamos!

Um segundo depois a vampira já estava no carro e Bella correndo atrás dela interrompendo sua corrida para fitar a porta de casa.

Ele aproveitou aquele segundo de indecisão, para segurar seu braço e tentar uma última vez. Suas mãos tremiam, seu corpo todo tremia.

– Por favor, Bella. Estou pedindo.

Sua voz saiu estrangulada por conter as lágrimas. Não podia perdê-la, não para a morte certa.

– Jake, eu tenho que...

A interrompeu antes que ela completasse a sentença, sabia que a estava pressionando, mas ele tinha que tentar convencê-la.

– Não tem, não. Não tem mesmo. Pode ficar aqui comigo. Pode ficar viva. Por Charlie... Por mim.

O que eles tinham era muito forte, ele a amava demais, talvez se ela ficasse eles teriam uma chance, uma vida. O amor dele devia ser o suficiente para os dois e sabia que ele era importante para ela, por um momento ousou ter esperanças, mas o momento passou.

Ela meneou a cabeça com lágrimas caindo dos olhos com a ação. Se soltou do seu aperto, ele não fez nada para detê-la, não havia nada a ser feito, ela tinha feito a sua escolha.

Não estava mais em suas mãos.

– Não morra, Bella – quase sufocou com as palavras, tentando conter um soluço. – Não vá. Não.

Será que era assim que tudo ia acabar? Será que esse seria o último encontro deles?

O rosto de Bella se encheu de lágrimas, como se as mesmas questões rondassem sua mente. Ela se atirou nos seus braços inesperadamente, enterrando o rosto úmido no peito de Jake. Ele segurou sua nuca, como se pudesse prendê-la nos seus braços para sempre, onde ela estaria segura, viva. Naquele segundo eterno, ele se permitiu fingir que isso era verdade.

– Tchau, Jake. – Ela disse afastando sua mão da própria nuca e beijando sua palma como se dissesse adeus. Os olhos dela nunca encontraram os seus, provavelmente porque ela não tinha coragem de partir tendo que encará-los – Desculpe – disse silenciosamente.

Logo se virou correndo novamente em direção ao carro. Entrou pela porta aberta a batendo em seguida. Jacob não ficou para ver o carro partir, para vê-la partir, talvez para sempre. Mas conseguiu ouvir quando ela disse para cuidar de Charlie, antes de a neblina vermelha encobrir sua visão e o calor queimar em sua espinha dorsal o fazendo se fragmentar até explodir e virar o lobo castanho-avermelhado.

Musica 2

Logo, não estava mais sozinho. Infelizmente.

Embry e Jared estavam na ronda. Escutou as palavras preocupadas e confusas, pelas lembranças da recente despedida que ele e Bella haviam tido. Só pode mostrar que ela estava indo embora com a parasita para salvar o outro sanguessuga, antes de pedir para deixarem ele em paz.

A única coisa que queria era ficar sozinho e longe, de tudo.

No entanto Embry insistiu em acompanhá-lo.

“Não” rosnou irritado.

Jacob tinha explicado a Bella, como a comunicação entre eles era inconveniente, mas ela provavelmente não conseguia mensurar o quanto inconveniente ela poderia ser de fato. Se fosse só ouvir, mas eles podiam ver, viam através dos olhos uns dos outros. E isso não era só constrangedor, mas como naquele momento, totalmente detestável. Jacob odiou ver a si mesmo através dos olhos deles... toda a pena. Urgh!

A única coisa que ele queria era silêncio. Paz!

Embry seguiu em sua direção apesar do seu protesto. Soltou um rosnado ameaçador, um aviso, se Embry se aproximasse ele não se responsabilizaria.

Foi então que a voz calma de Sam surgiu. Uma ordem para Embry se afastar e voltar à forma humana como Jared, já havia feito. Jake agradeceu, antes de sentir Sam assentir e como os outros dois voltar, depois só houve...

Silêncio.

Correu como se a vida dependesse disso. Sentindo o som da noite, músculos se flexionando, o corpo esticando, enquanto voava, mal tocando a relva fresca pelo orvalho. Uma coruja piou em algum lugar da floresta, um som que logo sumiu, as árvores eram só um borrão no escuro na noite. Era muito mais fácil, ser apenas um lobo.

Havia apenas instinto, as emoções eram mais simples, menos agudas, menos... dolorosas. Era uma dor diferente. Tudo se sentia diferente. Até mesmo, a corrida alucinada que fazia em direção a lugar nenhum, guardava um prazer quase pueril, que no meio de toda aquela dor, era um pequeno conforto. Mas não o suficiente.

Nunca seria o suficiente.

Correu ainda mais rápido, fugindo da dor, daquela maldita despedida, da ideia de que nunca mais a veria com vida.

Depois do que pareceram horas e seis fronteiras estaduais, se deitou. Patas em baixo da cabeça, corpo encolhido, sob a copa de uma grande árvore. Fechou os olhos desejando que estivesse cansado demais para conseguir pensar e fosse absorvido pelo esquecimento do sono.

E por algum tempo, foi isso o que ele conseguiu.

Esquecimento.

Mas então tudo mudou.

De repente Jacob foi inundado por uma dor inteiramente nova, uma dor que não era sua. Ele reconheceu a sensação antes do sentimento, estava vendo a dor pelos olhos de outra pessoa, pelos sentidos de alguém que não conhecia. Não fazia parte do bando, disso tinha certeza. Outro lobo? Não. Era uma garota, pode perceber agora, uma garota humana. Se concentrou nela, não porque era mais fácil de se distanciar da sua própria dor, mas porque de um momento para o outro se sentiu impelido a ajudá-la de alguma forma. A dor dela era tão intensa que simplesmente não podia ser alheio a ela.

Ela estava morrendo!

Percebeu com um sobressalto. Estava morrendo e simplesmente para seu choque e surpresa não se importava, nem sequer parecia querer lutar.

Mas porque?

Porque ela queria desistir?

Tentou ir mais fundo, ver mais longe.

Ela se sentia sozinha. Mas não era qualquer solidão. Ele quase perdeu o ar com a dimensão do sentimento. Era árido e vazio. Sufocante e desesperador. Não havia nada, ninguém, ela estava sozinha há muito tempo. Ela tinha crescido sozinha, desejando ser outra pessoa, desejando ser.., amada. Ela tentou com afinco ser a melhor em tudo, mas nem sempre as coisas davam certo, parecia que no fim, sempre fazia as coisas erradas, as escolhas erradas. Rejeição, atrás de rejeição, deixava um sabor amargo. Lágrimas, à noite embalavam o sono dela, havia um desejo tão forte de ser outra pessoa, de ser querida... era quase esmagador. Ela sempre estava rodeada de pessoas, mas incrivelmente sozinha. Brincando sozinha, aprendendo sozinha, sonhando sozinha. Desejando a cada passo, a cada respiração, simplesmente fazer parte, ser parte de algo. Mas ela não era boa o bastante para isso.

Nunca boa o bastante...

Musica 3

Até que surgiu alguém que a olhou e sorriu. Alguém que a fez florescer, que a fez se sentir parte. E então ela não estava mais só. E houveram, risos, livros, doces, gostos, música... O mundo inteiro explodiu numa profusão de cores brilhantes e ricas. Um mundo inteiro se abriu diante de jovens olhos maravilhados. Tudo era novo, tudo era intenso e ela tinha com quem compartilhar cada pequena descoberta. E finalmente ela deixou de desejar ser outra pessoa, deixou de tentar mudar a si mesma, se permitiu apenas ser. Alguém a amava por quem ela era. E isso era maravilhoso! A sensação era embriagadora, intoxicante. Depois disso nunca mais quis ser mais ninguém além de si mesma. Nunca mais invejou nada, nem ninguém. Apesar dos dias chuvosos, o verão se instalou no seu coração.

Mas sem nem mesmo passar pelo outono, o inverno chegou trazendo um frio repentino e inesperado, com uma dor que dilacerou seu coração. Nada doeu tanto. De uma hora para outra tinha perdido a pessoa que mais amava, a única que a tinha amado, da forma mais definitiva de todas. Para a morte.

Mais uma vez estava sozinha, tendo apenas a rejeição como companheira. Ter tido o gosto da felicidade mais completa e brilhante, só tornou a antiga treva que habitava sua vida, mais escura e fria. No entanto, não desejou ser outra pessoa, não mais. Tinha orgulho de quem era, porque mesmo que a pessoa que amava acima de todas as outras não estivesse mais ali, sabia que seria amada além da morte, por quem era ela. Nunca mais foi outra pessoa, ou fingiu ser quem não era. Mas se permitiu ser rebelde, tentando ser notada, sabia que ninguém nunca mais preencheria sua solidão então jurou que não mais viveria nas sombras.

Todavia o destino tinha dado uma grande reviravolta. Agora estava numa cama de hospital, morrendo, sem se importar com nada simplesmente porque não tinha nada a perder. Nem ninguém esperando por ela se decidisse lutar. Sua vida estava vazia. Oca.

Perceber que alguém podia se sentir assim mexeu com ele como nada havia mexido. O vazio dela doeu em Jacob, uma dor surda, mais incrivelmente profunda. E a dor parecia ainda mais terrível, por ser a dor dela, saber que havia uma garota lá fora, que tinha o coração tão despedaçado, uma vida que ela simplesmente achava que não valia a pena ser vivida, era uma tragédia. Se sentiu tão triste por ela, por saber que ela não tinha ninguém. Quis chorar por ela, abraçá-la apertado, prometer que ninguém mais a machucaria, garantir que a protegeria, que ela jamais estaria só novamente. Desejou gritar todas essas promessas e pedir para ela não desistir. Ele estaria lá por ela.

Naquele instante algo curioso aconteceu. A dor que o tinha levado tão longe da sua família e amigos, a dor pelo seu amor perdido se enredou na dor do vazio dela. Se uniram como duas correntes de ar de temperaturas diferentes se misturando ao sabor do destino, para formarem uma grandiosa tempestade, cheia de vida e de som. Um acontecimento, tão espantoso como fascinante. Tão natural, quanto incrível. Longos e delicados fios se entrelaçaram unindo a ambos. Um vínculo tinha sido criado. Então a tempestade amainou e só sobrou a vida, brilhando com mais intensidade e riqueza. Eles estavam unidos, não havia mais solidão.

De um momento para o outro o contato foi quebrado e ele temeu por ela. Sentindo o vazio do rompimento da conexão. Buscou por ela em sua mente, em seu coração e encontrou o laço que os ligava. Apenas isso o aliviou. Os dois ainda estavam juntos.

Pediu silenciosamente para ela lutar, ele estaria esperando por ela quando voltasse. Ela não estava mais só, nenhum dos dois estava. Ela precisava tanto dele! Ela precisava dele de um jeito que Bella nunca precisou. Era muito bom sentir que era necessário, que poderia talvez ser a prioridade da vida de alguém, estar em primeiro lugar ao menos uma vez, na mente e talvez no coração de outra pessoa. Compreendeu também, naquele momento, que também precisava dela. Quando viu a vida dela, quando sentiu o que ela sentiu, percebeu o quanto estava sendo tolo tentando afastar a todos. Ela o fez perceber que apesar de tudo, poderia contar com seus amigos, entendeu que havia pessoas que se importavam com ele e o quanto isso era precioso. Tinha certeza que ela o entenderia, assim como ele a entendia. Só esperava que ela soubesse disso e lutasse.

Esperou ansioso, que ela tomasse a decisão de ficar, desejou secretamente que ela o escolhesse... E foi o que ela fez. Ele descobriu com um conhecimento que estava além do seu entendimento. Ela ainda teria que lutar pela vida dela, mas ele sabia, como uma certeza inesperada que como a lutadora que ela era, venceria a morte.

Um sussurro de certeza soprou em sua mente.

Em breve eles se encontrariam.

Muito em breve.

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Notas finais do capítulo

N/A: Então gente esse é o último capítulo reeditado o próximo capítulo é inédito, embora seja um pouco filler, mas espero que vocês gostem mesmo assim. Um agradecimento a minha beta Clessy!



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