O Diário De Shiori escrita por AnkhPamy


Capítulo 8
Capitulo 8: “Prisão.”




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Depois da batalha com o demônio, fiquei preocupado com a humana o que eu faria com ela? Ela estava inconsciente por um bom tempo. Fiquei aflito. E se ela não acordasse mais? Não queria pensar, além disse isso me custaria muito. Tentei repassar meu longo dia de ontem e hoje na cabeça.

Após conversar com o espírito da garota Izayoi. Fiquei bastante abismado e voltei para a área que cerca o limbo inferior. Ela era realmente Izayoi, filha adotiva do aprendiz da sacerdotisa Sagwa. Eu precisava contar para Yao, e não só para ele, mas também para o senhor Oyakata. Ele se orgulharia e me promoveria a guardião mesmo depois que o contasse. Era perfeito, perfeito demais até. Procurei por Yao, mas infelizmente ele não estava. Tinha sido escalado para uma viagem até o lado mais distante do limbo inferior, ele tinha sorte. Quando fui procurar pelo senhor Oyakata outro guardião, chamado Maru, disse-me que ele estava além do limbo inferior, provavelmente no limbus patrum. Eu não sabia o que fazer? Teria que esperar, esse seria o certo. Já que se eu contasse a outro guardião é claro que não acreditaria, só por que eu era um aprendiz. Resolvi ficar no meu posto esperando, enquanto eles não chegassem. Morria de vontade de falar tudo o que eu sabia o mais rápido possível.

Passei um dia esperando por eles, mas nada. Houve varias trocas de turnos e isso atenuava um pouco a situação, mas eu continuava inquieto. Resolvi olhar o mundo humano como sempre fazia. Sentei na beira do lago do reflexo – era um tipo de lago que espelhava qualquer coisa que queríamos ver – ao lado do meu posto, era de lá que eu avistava o pequeno e interessante mundo terrestre. Procurei pela casinha tranqüila, diferente do resto da cidade. Entretanto houve algo inesperado, o lago encontrou a imagem da casa, mas partiu para o templozinho no quintal dela. Lá havia um demônio.    Fiquei atônito, minhas asas se distenderam com minha tensão. Shiori corria perigo. Eu não podia deixar isso acontecer. Então houve uma enorme confusão, que por fim consegui sair a salvo e a garota também...bem era o que eu pelo menos achava.

Enquanto aparava a pequena e delicada menina em meu colo, uma guardiã, que eu não lembrava bem o nome... acho que era Haru, se aproximava num vôo rasante em minha direção.

O que será que ela quer? , perguntei-me.

– Seth! – gritava Haru, enquanto pousava. – Pelos céus, o que fez!

O que ela quer dizer com isso? O que eu fiz? , indaguei para mim mesmo.

Ela corria na direção que eu estava com Shiori nos braços amparando-a. Haru só mantinha seus olhos cor de fogo na humana.

– Coitada... – sussurrou Haru, como se quisesse que eu não escutasse. Depois olhou para mim, seu olhar agora era de pena.

– O que há Haru? Por que está com os olhos cheios de pena a me olhar? – perguntei rispidamente.

–Acho que ainda não percebeu. – murmurou ela. – Você infringiu uma lei importante, Seth. O artigo noventa e nove mil duzentos e um do livro dos guardiões. – murmurou ela hesitante. Acho que ela pensava que eu não sabia qual era essa tal lei, pois logo começou a falar. – Hum.. essa lei proíbe qualquer contato com seres humanos desse mundo, mesmo em um caso de perigo e blá blá. Você entendeu não é?

Não respondi, mas apenas meneei a cabeça confirmando. Estava sendo atormentado por imagens que se passavam na minha mente. Era provável que sofreria um castigo. Mas qual? Droga! O que eu faço?...

– Seth. – Haru interrompeu meus devaneios. – Todos já sabem... e bem o senhor Oyakata está vindo falar sobre seu castigo agora mesmo. Eu apenas vim aqui para lhe preparar para o que você vai enfrentar. – falou por final ela olhando para trás e abrindo as asas.

– Espera! Você não pode me ajudar? – sussurrei apreensivo.

– Não, me desculpe! – falou ela e depois arregalando os olhos, arfou. – Ele chegou! Bem...boa sorte!

Droga!Droga!Droga! , gritei de desespero mentalmente

Fechei meus olhos e respirei profundamente, podia ser meu ultimo suspiro quem sabe. Depois oscilei a olhar o rosto da garota recostada em meu corpo. O que aconteceria com ela? Tentei não pensar, o melhor era pensar na segurança dela. Recostei a garota no chão e me pus de pé. Nesse decorrer de tempo alguém pigarreou. Era ele, só podia ser.

– Senhor Oyakata. – fiz uma mesura profunda, depois me endireitei. Olhando cautelosamente, aquele rosto magnífico do anjo de batalha mais conhecido de todo o território celestial.

– Você conhece as regras, não é mesmo guardião? – ponderou com sua voz de trovão.

Meneei a cabeça um pouco indeciso, com medo que minha voz falhasse.

– Sabe também que existem castigos para quem as descumprem. – continuou ele. – Você sofrerá um...

– Senhor... –Comecei a protestar baixo. – Por favor, não há uma...

– Não. – interrompeu-me ele. – E não me interrompa mais.

– Certo. – resmunguei.

Ele pareceu sorrir um pouco. Acho que eu aparentava ser uma criança birrenta que fez algo errado e levava uma bronca dos pais. Legal. Fechei a cara.

– Só quero dizer lhe que não serei eu que lhe dará o devido castigo. Por isso, largue a garota humana e parta imediatamente para o limbus patrum. Procure por Miyet, uma oficial egípcia, ela lhe dará seu castigo e um destino para a humana, pois ela sabe demais. – murmurou o mais acatado guardião do limbo.

Meneei hesitante a cabeça. Tinha medo sobre o que poderia ocorrer com a pobre garota, mas mesmo assim me preparei para içar vôo.    Não demorei muito para chegar perto do portal. Para quem não conhece o limbo, pensa que ele é como nas histórias ou como contam os padres mortais: "O limbo é um lugar fora dos limites doCéu, onde se vive a plena felicidade natural, mas privado da visão beatífica de Deus" e todo aquele blá blá. Não é totalmente assim, mas não existe apenas um. Ele é divido entre o: “limbus patrum, o limbus minus e o limbus puerorum”. O patrum ou limbo superior, onde ficam as almas inocentes que não cometeram pecados mortais – era para onde eu estava indo agora–, já o minus ou limbo inferior – onde eu trabalhava – guardava todos os tipos de almas pecadoras e monstros um lugar não muito agradável. E o puerorum ou infantil, ficavam as crianças, os pequenos e inocentes que nem puderam viver direito no mundo mortal. Nesses três locais seus habitantes esperavam por decisões superiores. Apenas para o inferior recebíamos ordens para castigos e outras tarefas.  Eu segui meu caminho sem entusiasmo, pensando no que me aconteceria. Nunca fui bom em recordar os castigos sofridos por quem não cumpre as regras. Também estas eu não recordava. Não fazia muita diferença mesmo.

Passei pela entrada sagrada do “omnipotentis patrum” onde, possivelmente, estavam os sagrados, ou seja, as pessoas boas que marcaram a eternidade e continuei seguindo em frente. Até que avistei uma placa de ouro maciço que brilhava mais que o sol, lá estava escrito “Limbus Patrum” e do lado se encontrava uma guardiã de porte altivo, sua aparência não lhe negava de que era egípcia, pois tinha pele azeitonada e cabelo negros como carvão. Seus olhos eram também da mesma cor e sobre eles estava uma longa cortina de longos e belos cílios de um preto brilhoso.   Parecia uma pintura saída das antigas pirâmides, porém era mais bela não podia dizer que era nova, pois muitos dos guardiões eram quase eternos. Pois muitos viveram na época do Cristo e bem antes disso e sua aparência era de adolescente. Eu esperava que comigo também fosse assim, pois era o mais e inexperiente de todos, pois só tinha dezessete anos, até mesmo Yao que tinha uma aparência tão jovem quanto a minha já era bastante velho tinha cem anos. Procurei esquecer meus tolos devaneios e tentar lembrar o nome da bela guardiã que mencionara o senhor Oyakata. Qual o nome mesmo? Hm... acho que é Miyet.

Tremi um pouco resignado com a situação.

– Ora, jovem vejo que treme. Creio que não é necessário tremer, pois o castigo não é tão doloroso quanto parece, mas doloroso será quando o tempo passar e você o descobrir. – articulou a bela guardiã de sotaque egípcio e voz de soprano, enquanto eu me aproximava dela.

– Não tremo por isso senhora, tremo por que também não sei o destino daquela cuja vida arrisquei...

– Não tema, ela não sofrerá nada... – a guardiã fez uma pausa hesitante. E depois seus olhos se fixaram no vazio, parecia que não estava ali. Ela via algo, não ela previa, esse era o termo certo. Esperei que prosseguisse. – ...Mas ficará feliz com o que irá ocorrer, sua vida não será a mesma. Não é possível apagar de sua memória o que ocorreu. Ela é especial. – murmurou com satisfação a guardiã.

Fiquei quieto. Uma sensação boa corria pelo meu corpo. Ótimo, pelo menos não terei que arriscar meu pescoço mais uma vez. Pois teria um destino pior do que agora e a garota também.

– Seth, jovem filho de Mika a guardiã suprema do patrum com Liam o risonho e eterno guardião do minus. – proferiu Miyet novamente em transe. – Sois fruto de um amor jovem e próspero, e teu futuro não acaba aqui. Mas é aqui que este começa e com tua punição é que ele também inicia outros futuros.

Eu não entendia muito bem o que ela queria dizer. Mas o que tinha haver meus pais?Meu futuro e futuro de outros com a minha punição? Eu esperava algo prático, justo e doloroso. Mas o que só acontecia era tagarelice da guardiã e m transe. Comecei a suspirar de tédio, sem dar importância para o que ela dizia.

– Desagrada minhas previsões a ti garoto insolente? – murmurou a guardiã com mansidão. – Pensa que sou só uma mera vidente e guardiã? Também leio teus pensamentos e sei o que se passa dentro de ti.  Agora não me interrompa com sua lamúria e preste atenção, e isto é uma ordem!

Sacudi a cabeça nervosamente.     Evitando qualquer tipo de pensamento para a guardiã ler e fiquei esperando pelas próximas palavras que vinham.

– Teu castigo é simples e nada deves temer. Pois a essa terra vos pertencia e agora às de ser destinado para outra. Só voltaras quando o solstício do próximo inverno chegar enquanto isso pagará tua pena lá. – e apontou para uma nuvem que se abria mostrando o mundo humano.

É O QUÊ? , gritei em minha mente pois não conseguia achar minha voz, Eu irei a terra? Aquele mundinho de...

– Cale-se! Eu disse que não me interrompe-se. Sabe que eu poderia piorar seu castigo por desobedecer? – murmurava a guardiã, ainda de tom calmo. Parecia que seu tom suave piorava suas palavras, me dando mais medo do que se ela estivesse gritando. – Jovem aquele mundo não é tão ruim não é? Pois foi lá que encontrou a pequena Shiori.

Pensando assim, tenho que admitir que está certa....mas, pronuncie mentalmente.

– Mas você não quer ir para lá sofrer como todos os mortais. Sei, sei. – murmurou rapidamente a guardiã poderosa. – Eu fui humana, muitos daqui foram e sofreram no mundo terreno há muito e muito tempo atrás, e nem por isso me arrependo. Minha vida foi boa lá e por ser uma pessoa incomum fui presenteada como guardiã do limbus patrum. Sei que gostará de lá, e agora sem mais demora está na sua hora.

HÃ? O que agora? Não espera aí! , gritei eufórico em minha mente, Eu não me despedi de ninguém! Por favor, Senhora Miyet. AAhh...

Então caí.  O vento soprava com força meu corpo e senti também que me cortava. Pois minhas roupas de guerreiro e guardião estavam sendo estraçalhadas, mas não apenas minhas roupas minhas asas também. Eu via as penas de minhas asas se desprenderem em cascatas, tentava segurá-las e forçar um vôo rápido, mas não adiantou. Caía tão rápido que girava no céu. Eu gritei bastante, pedi perdão, xinguei, mas nada me ouvia. Quando estava nu, de asas e roupas, apareceram roupas humanas em mim, uma calça caqui e um blusa de algodão de cor azul escura, quando olhei para o lado notei que uma pequena mochila caía ao meu lado. Eu ri com ódio.

– Eu peço ajudo e olha o que me dão roupas? Como se eu me importasse em estar nu ou não! – gritei aos céus.

Quando estava perto de me achatar contra o chão. O vento soprou forte outra vez me jogando no alto de um prédio. Eu me atraquei contra um ferro machucando as costelas e caí sentado. Eu nunca havia sentido dor, mas para a primeira vez que senti pensei estar morrendo.

– Bem que podia ter me trazido até aqui Miyet e não me jogar! Sua maluca! – vociferei no alto do prédio vazio sentindo tanta dor que tive me deitar no chão.

Mas que droga! O que eu farei agora? , pensei.

Eu estava confuso, com ódio, dor, e era HUMANO! Senti até arrependimento de seguir aquela humana estúpida que salvara.  Quando olhei novamente para o céu vi uma coisa.

– Droga! Agora que ela termina de cair! – gritei e me joguei contra uma parede para que a mochila não me atingisse minha cara. Não queria sentir dor.

A mochila se achatou contra o chão e até o rachou. Será que tinha algo pesado dentro dela? Ou ela era de um material tão bom e pesado assim? Arrastei-me até ela ainda com dor.

– O que será que tem aqui dentro? – murmurei abrindo a mochila.

Lá dentro se encontravam alimentos e água e também algumas mudas de roupas. Enfiei a mão vasculhando se encontrava algo mais e acabei achando.

– O livro de poder dos guardiões e minha espada! Ah que bom, que bom! –gritei eufórico olhando o céu. Eu ainda estava sendo treinado, mas muitos dos ataques mágicos e outras coisas, além disto, eu tinha aprendido. – Pelo menos os poderes de guardião e minha espada me deixaram. Obrigado senhora Miyet!

Abri o livro procurando um feitiço para curar meu machucado e me tele transportar para procurar Shiori, já que não podia mais voar. Disse as palavras fervorosamente esperando que algo acontecesse e Paft!

Nada aconteceu. Tentei outras coisas, mas nada também. Senti tanta raiva que pensei que ela me rasgaria todo se eu não quebrasse algo antes. Comecei a chutar a parede, pelo menos a força ainda me restava.

De repente algo soprou palavras em meu ouvido, dizendo algo como: “Izayoi..” E lembrei que havia esquecido de mencionar isto aos guardiões que eu tinha encontrado no limbo. O livro, o poder, vive.


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