O Diário De Shiori escrita por AnkhPamy


Capítulo 7
Capitulo 7: “Caos.”




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Um cheiro estranho invadia minhas narinas. Era cheiro de poeira. Mas como se eu estava dormindo confortavelmente na minha cama? Resolvi abrir meus olhos.     Era realmente poeira, eu havia caído da cama enquanto dormia e rolei para debaixo da cama. Era incrível como eu conseguia essas proezas.

– Mas que droga. – resmunguei baixinho, tentando esticar-me. Estava me sentindo um caco, a queda da cama devia ter me feito um estrago, minhas costas doíam. Rolei um pouco para fora e dei de cara com Sue, brincando com uma das mechas de meu cabelo.

– Sueeee! Bom dia! – exclamei sorrindo para ela. A gata miou e se esparramou ao meu lado. – Você não está ajudando muito a minha saída daqui, sabia? – murmurei encarando-a. A calda da gata balançava num compasso. Fiquei a observando por um tempo.

– Está bem, estou cansada! Sai da frente Sue! – exclamei a empurrando. Rolei mais uma vez tirando o resto do meu corpo para fora.  Eu tinha muita coisa pra fazer nesse sábado, uma ida ao centro da cidade, uma visita ao meu parque, fazer as orações no templo da família... e mais outras coisas que eu não lembrava agora. Não demorou muito e eu já estava pronta. Corri até a cozinha para tomar meu café da manhã.

Bom dia Shiori. Como dormiu garota?  – murmurou minha mãe.

– Bem mãe. Hm.. Você guardou meu pacote de biscoitos recheados? – perguntei.

– Sim, está no armário. – respondeu minha doce mãe chamada Hannah. Ela era uma pessoa pratica com o dom da justiça, bondosa e simples.

– Certo. – vasculhei os armários até encontrar. Seria meu lanche se eu sentisse fome na cidade. – Achei! – exclamei.

– Hmm.. Vai sair? –indagou minha mãe.

Meneei a cabeça confirmando. – Quer algo?  – perguntei distraída.

– Sim. Por favor, traga-me algumas flores, de preferência rosas e tulipas para colocar no templo. – respondeu ela.

– Ok. Tchau. – disse eu por final.

A viagem até o centro foi curta. Paguei algumas contas, comprei coisas que eu estava precisando e as rosas que minha mãe pedira. Na volta para casa passei no parque das cerejeiras, meu parque.  Passei um curto período de tempo lá, escrevendo como sempre.  Meu diário era algo interessante, tudo o que eu escrevia desaparecia, mas era apenas soprar, e todas as coisas escritas surgiam. Descobri isso em um bilhetinho rasgado no fundo dele, lá também havia um pequeno e incompleto parágrafo escrito, ao qual não entendi muito. Era algo como: “ Uma incursão na alma, um fogo dentre a profundeza, entre tantos sortilégios eis uma acepção diante a amalgamação tenho em minhas mãos um presente divino, dado pelos deuses para mim. Não houve e não há algo equivalente e diante disto, eu...” O resto bem deve ter de se perdido muitos anos atrás. Não me importava mesmo.

Vim o caminho todo lendo uma pequena revista, era uma das minhas preferidas. Passei várias páginas para achar meu horóscopo, eu sempre gostei de ler mesmo não acreditando muito no que havia escrito. Hoje para capricórnio, meu signo, havia uma frase do tipo “Dia tempestivo: encontrará coisas inusitadas além do grande amor de sua vida, e uma terrível batalha”. Não me importei muito, que tipo de coisas inusitadas encontraria? Também sabia que era difícil para que eu, Shiori Hamasaki prender-se a um grande amor. E quanto à terrível batalha.. Já estava acostumada a enfrentar coisas ruins mesmo. Quando cheguei em casa, acho que pelas cinco horas da tarde, estava um pouco cansada, mas iria rezar um pouco no templo e fazer um pedido como sempre fazia. Muitas vezes esses meus pedidos aos meus ancestrais eram atendidos. Eu tinha bastante sorte por eles me atenderem tão bem. Ao passar pela porta da cozinha encontrei minha mãe e ela pediu que eu colocasse todas as flores no templo e acendesse um incenso e algumas velas para  alegrar um pouco o templo e dar boa energia.  Sai pelo quintal até o templo com várias flores e incensos e velas nos braços. Os cabelos de minha nuca se eriçaram quando pisei na entrada. Eu nunca tive medo de entrar no templo da família, mas hoje parecia que havia alguma coisa de errado por ali.  Acho que estava errada em relação ao horóscopo sobre coisas inusitadas. Corri para dentro e me agachei, iria deixar qualquer pensamento negativo longe para que não atraísse coisas ruins. Comecei a cantarolar desafinada e a colocar as flores em seus lugares e também acendendo os incensos e as velas. Rapidamente terminei e resolvi rezar um pouco. As coisas iam bem até que as portas da frente do templo fecharam com um estrondo enorme. Eu não consegui suportar o susto sem soltar um gritinho. Logo após as velas se apagaram. Comecei a tremer como uma gelatina, fechando meus olhos bem apertados para não ver nada e comecei a rezar, bem acho que rezar não era bem a palavra e sim era implorar misericórdia a todos os deuses que eu soubesse o nome na terra. O quer que fosse que estava ali usou algo metálico para tocar meu pescoço, senti que iria desmaiar, mas controlei-me rapidamente. Então um longo arrepio na espinha me fez suar como um porco, que espera para ser assado no natal. Eu não queria morrer.

– Então menininha, diga-me onde está o livro. – disse uma voz suave de homem.

Eu não respondi. De que livro esse homem falava? Se fosse dinheiro bem eu entenderia, mas um livro?

– Responda querida. – perguntou novamente a voz suave de homem. – Sei que sabe, pois é descendente de Izayoi. Deve haver um segredo na família sobre o paradeiro do livro. Diga-me vamos, não tenho tempo! – gritou o homem por final, e logo me deu uma bofetada na cara. Eu caí no chão, mas ainda continuava com os olhos bem fechados.

– Senhor, por favor...  Não sei do que fala... –gemi com a dor da pancada.

– Sei que sabe menina! Não me obrigue a matá-la! – gritava o homem. – Preciso desse outro livro para aumentar os poderes de minha mestra! Ande diga!

– Eu não sei de nada... – gemi. – Por favor, não me mate... – enquanto terminava a frase, abri meus olhos rapidamente. Havia um homem com uma aparência horrenda a dois passos de mim. Metade de seu rosto era humano, já o outro tinha uma aparência bem demoníaca.  Eu arregalei meus olhos com mais medo do que antes e depois os fechei. Implorei novamente por todos os deuses da face da terra para que tivesse piedade de mim e me salvassem daquilo. Eu precisava escapar dali mais como? De repente ouvi um pequeno baque de algo sendo pousado no chão, e parar acompanhar logo vieram passos. Alguma outra criatura demoníaca estaria ali? Ótimo! Agora haveria mais alguém pra dar cabo de mim.

– Um guardião?! – gritou o homem metade demônio sobressaltado.

– Nãoo! Sou apenas uma gaivota não reparou? – disse a outra voz em tom de deboche. – O que faz aqui seu demônio asqueroso? Não acho que perdeu nada por aqui, não é mesmo?

– Isso não é da sua conta seu guardião de meia tigela! – rugiu o demônio para a voz. – Agora suma daqui, por que se não darei conta de você e essa humana débil!

– Humana débil?Era o que me faltava!– resmunguei baixinho.

Ouve uma risada abafada no templo.

– Cale-se sua tola! – berrou para mim o demônio.

– Cale-se você! O que pensa que ela é? – rugiu a outra voz.

Fiquei atônita. O que era isso agora? A voz desconhecida me defendia?

Mais silêncio se fez no pequeno templo. Senti que alguém me fuzilava com os olhos, só poderia ser o demônio é claro. Mas abri meus olhos novamente para conferir.  Fiquei atarantada com o que vi. Existia uma espécie de anjo plantado na minha frente, não um anjo comum como aqueles que se parece com bebês fofos, lourinhos e com covinhas. Na verdade era o anjo do meu sonho. Um homem alto e forte, de certo modo até atraente. Seus cabelos pretos e curtos realçavam seu rosto. Mas o que mais me chamou atenção foram seus olhos carregados com uma densa camada de cílios que cobriam um olho de cor magnífica, acho que era um esverdeado.  Ele tinha asas com penas densas e longas em suas costas. Era lindo. Já do outro lado o demônio me fuzilava intensamente, podia ver que queria muito me esganar.

– Ah.. Já sei o que existe aqui! – exclamou o meio demônio em tom de descoberta, olhando para mim e depois para o anjo. Mas o que ele havia descoberto?

– Você não sabe nada! – grunhiu o anjo encarando-o. – Agora ande, não vim aqui para ficar parado! Quero uma luta.

– Se é assim que deseja. Mas primeiro iremos até minha dimensão aqui não é um lugar muito bom para uma luta. – respondeu o meio demônio com um rosto inexpressível.

Ouve alguns estalos na sala e tudo começou a ficar mais e mais escuro. Bem, acho que hoje não era mesmo um dia bom pra mim.

– Fique aqui. Você não pode ir. – respondeu o anjo para algo que eu não via e para mim também.

– Ah ela vai sim! – disse o demônio. – Foi por ela que vim, e não irá fugir.

O anjo o encarou com os punhos semi-serrados. Eu também o encarei.

– Que droga! Eu mereço. – resmunguei baixinho.

Então de repente não havia mais luz ali no templo. Deixando-me numa espécie de cegueira. Fiquei piscando varias vezes no escuro até que encontrei uma luz, no começo era fraca e depois ficou forte. Estávamos na beira de um penhasco. Levantei para conferir a altura e me arrependi disso. Era muito alto, muito alto mesmo.

– Caramba! – murmurei para mim mesma, com o olhar perplexo ao ver um rio lá em baixo que parecia apenas uma fitinha azul. – Aqui é alto.

– Sim, perfeito para uma luta básica com um guardiãozinho. – disse o demônio.

O rosto do anjo endureceu. Parecia que ele queimava de raiva em seu interior.

– Vamos logo com isso! – cuspiu o anjo. – Irei mostrar quem é o guardiãozinho aqui.

Então começou. O homem demoníaco lançou uma espécie de raio na direção do anjo, que ainda se mantinha na minha frente. Com um movimento rápido ele usou suas asas como um escudo, protegendo-o e me protegendo. Era incrível, ele estava bastante disposto em me salvar.  O demônio não demorou muito para atacar novamente, agora ele corria tão rápido que eu mal o conseguia ver. Raios e mais raios começaram a ser lançados em nossa direção. O impacto era tão forte quando os raios caiam no chão que algumas rochas deslizavam penhasco abaixo.  Por certo momento o anjo só se defendia, até que esferas de energia começaram a ser lançadas de suas mãos. Elas não eram tão poderosas quanto os raios mais faziam um belo estrago.      Uma camada densa de poeira subia a cada ataque. Eu estava ficando meio sufocada e sem falar que estava mais suja de terra que tudo. A luta parecia não terminar até que o anjo caiu com um golpe que levara na cabeça.

– Morra anjo maldito! – gritou o demônio se preparando pra mais um ataque, colocando dois dedos da mão direita num lado do peito. – Conheçam agora meu ataque mais poderoso! Gehennae ignis!

Fiquei pasma e não consegui me mexer. O ataque vinha em minha direção, até que ouve algo que me assustou mais.

–Nãao! – berrou o anjo me empurrando para me salvar do ataque levando toda a descarga elétrica. Ele caiu na minha frente tremendo como uma gelatina.

– Nãoo.. – gemi aflita.

– Agora é sua vez, querida. Onde paramos mesmo? – disse o meio demônio se aproximando de mim com alguns passos. – Ah sim, foi na parte em que você iria dizer-me onde está o livro!

– Eu não sei de nada já disse! – gritei sufocada, me afastando mais dele.

– Sabe sim! Tem que saber! Se não soubesse, eu não estaria aqui! – gritou ele. Agora mais perto de mim. Quando suas mãos quase me tocaram, caí do penhasco só conseguindo segurar-me com uma mão numa pedra um pouco afiada próximo ao topo.

–Socorro! – gritei. – Estou escorregando!

Além de quase morrer na mão de um demônio, ou quase morrer atingida por raios. Eu agora morreria numa queda mortífera de um penhasco com uma altura nada modesta. Que jeito de morrer, hein.

– Ai! Socorro! – gritei mais uma vez. Mas foi tarde, meus dedos escorregaram da pedra e eu comecei a queda livre.

– Aaaaaaahh!! – foi à única coisa que consegui dizer enquanto caía. Fechei meus olhos e rezei por um momento, mas logo comecei a ter flashbacks da minha vida.   A minha efêmera vidinha curta. Era bom saber que estaria morrendo dessa forma e não pelas mãos de um demônio ou quem sabe um anjo. Já que eu não sabia qual era seu propósito com toda aquela historia de me defender. O vento me atingia com tal velocidade que me machucava. Em seguida mais uma vez o inusitado aconteceu. Ouvi o barulho de asas cortando o ar perto de mim. Era o anjo?Ou o... Argh! Não queria pensar. Mas mãos me agarraram pela cintura, e eu involuntariamente me agarrei ao corpo desconhecido.

– Me larga! Me larga! – gritei.       

– Não dá! Você ta agarrada que nem chiclete em mim. Além disso, você prefere morre nessa queda livre? – era a voz do anjo. Fiquei sobressaltada, porém um pouco aliviada. Mas em seguida meu corpo amoleceu e minha vista ficou embaçada. Eu estava desmaiando.

– Droga.. – sussurrei. E essas foram minhas ultimas palavras.


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