No dia que estive seguindo a humana, ou melhor, Shiori. Aconteceram coisas na área reservada para o limbo. Um grande demônio aprisionado no mundo humano estaria solto novamente. Decidi procurar informações, especificamente com Yao. O que os guardas fariam?

– Yao, o que houve realmente? – perguntei confuso.

– Um demônio, meu caro. Um demônio está solto. Graças a uma humana, ainda não sabemos especificamente onde ele está. Mas onde a humana estiver ele possivelmente estará. – explicou-me Yao.

– Mas onde ele estava preso? – perguntei novamente.

– Em um livro. Um livro antigo, feito por criaturas malignas que existem numa parte do Limbo. Este livro deve ter se perdido, quando ouve a Grande Batalha. Nele estão contidas informações perigosas, sobre o que há no limbo e como libertar todas as coisas aprisionadas lá e também como nos destruir.  É necessário que encontremos esta humana, pois ela deve estar conectada ao demônio e também acho que deve possuir o livro. – respondeu-me Yao tenso.

– Ah.. – foi a única coisa que consegui dizer.

– E você onde estava este tempo todo? Quase perdeu a hora do turno. – questionou-me Yao.

– Eu? Bem..eu..eu..estava no mundo humano. É muito legal, lá... – Gaguejei.

– Sei, o mundo humano é muito legal, ou aquela garota que você passou um dia seguindo é? – acusou Yao.

– Como?Como você sabe? Ah deixa pra lá. – murmurei meio chocado.

– Eu tenho minhas fontes. Mas é melhor você tomar cuidado, não pode arranjar encrenca com uma humana. Você sabe, ela correria perigo. – murmurou Yao.

– Eer eu sei..mas mudando de assunto. – falei rapidamente. Eu sabia que o que ele falara, era verdade. Era perigoso – Então vamos ter uma caça ao demônio, certo? – falei com entusiasmo. Era ótimo, finalmente teríamos algo realmente a fazer.

– Sim, teremos. É melhor estarmos preparados para tudo. – confirmou Yao, que depois fez uma careta e com ar sarcástico disse. – Mas não sei se os outros guardiões vão deixar você ir...

– Ah, fala sério! – revirei os olhos. – Eu vou estar nessa caçada, custe o que custar meu caro, Yao. Agora tenho que ir para meu posto.

Era dureza ser o guardião mais jovem da elite e em treinamento. Todos te tratavam como um bebê. Quando cheguei ao posto, ou ao que chamo de lugar obsoleto e repleto de tédio, continuei a refletir o que Yao disse até que me distraí com minha espada, comecei a afiar-la que nem um louco queria-a perfeita, caso necessário eu precisasse dela... Depois de tanto afiar eu tinha esquecido que meu turno no posto haverá acabado.

– Seth? SETH?  – gritou Yao.

–Quê? O que houve? Tem demônios aqui?? Onde? Eu vou pega-los... Ou espera!  É o Sr. Oyakata?? Ahh, cara..! – exclamei assustado.

– Calma! Eu só estou aqui para avisar que acabou seu turno, e que o Sr. Oyakata quer ver todos os guardiões dos arredores do Limbo, pois ele tem algo importante a dizer.  – murmurou calmamente Yao.

– Ok! Então o que estamos esperando? Vamos vê-lo! – exclamei entusiasmado.

Fomos até onde o Sr. Oyakata estaria com os outros guardiões – A praça central, um lugar um pouco mais afastado do muro do limbo, lá havia um grande palanque, onde discutiam variados assuntos–. Quando chegamos, estavam todos sérios, desorganizados numa platéia de mais de 500 guardiões, esperando para que – o líder da elite, o guardião mais antigo, o cara, o general da tropa de guardiões do limbo ou só o Sr. Oyakata, começasse subisse ao palanque para falar.

– Célebres guardiões dos arredores do Limbo, aqui presentes. Possuo notícias, não muito agradáveis. – iniciou o general quando já estava lá em cima. – Como muitos já sabem, existe um demônio muito poderoso a solta no mundo humano. Este demônio, foi um grande inimigo meu, seu nome é Sari.  Ela foi uma das criadoras do livro infernal, O limbo. Este livro é um artefato da mais antiga magia negra, também possui um conteúdo vasto das criaturas que lá habitam e como libertá-las.  Graças à ajuda de uma sacerdotisa humana chamada Sagwa, Sari acabou sendo aprisionada neste livro por causa do seu conhecimento sobre o mesmo. Entretanto,como muitos sabem, ouve a Grande Batalha – A revolta de todos os demônios pela prisão de Sari no livro demoníaco–. Fazendo com que nós guardiões lutássemos numa batalha sangrenta, perdendo então muitos entes queridos. – o general parou e baixou a cabeça por alguns segundos e depois continuou. – Felizmente ganhamos a batalha, porém o livro se perdeu nesta guerra. Assim caindo no mundo mortal. – ouve mais uma pausa do general, que logo prosseguiu com sua voz de trovão ensurdecedor, – Pedimos para a sacerdotisa Sagwa, que também possuía um livro mágico muito poderoso, encontrá-lo, e ela o assim fez. Ela foi guardiã desse livro por anos, quando ela morreu o livro foi entregue ao seu aprendiz , que morreu tragicamente enquanto protegia o livro. Izayoi , filha adotiva do  aprendiz tomou conta do livro, mas a humana foi morta por causa de um feitiço lançado sobre ela enquanto era criança. Depois disso não soubemos mais do paradeiro de qualquer um dos dois livros mágicos.  Agora, depois de três mil anos, Sari retornou mais forte que nunca, graças à uma humana, especificamente uma adolescente humana que também possuía uma vasto conhecimento sobre magia negra.  As duas são ligadas por uma relação de ódio. Não sabemos o que ela pretende, mas já temos em mente o que seja. – Então todos olharam o grande portão preto do Limbo distante, tensos. – Não se preocupem meus caros, tudo está em ordem. Mas ficará melhor se acharmos o livro de Sagwa, este livro pode ajudar muito para derrotar Sari.  Mandarei uma lista de guardiões que mandarei a terra para procurar os livros. O quanto mais rápido acharmos ela ou livro, melhor. Serão enviados cem guardiões a terra, cada um receberá um chamado. Agradeço pela a atenção, estão dispensados.

– Nossa. –soltei o ar chocado. – É sério mesmo.

– Claro que é. – afirmou Yao, que estava ao meu lado.

– Então, é preciso que o melhor guardião da elite esteja presente lá. – brinquei.

– E quem é esse cara? – murmurou Yao com sarcasmo.  Eu o encarei e depois sorri.

– Eu estou falando sério. É muito, muito importante mesmo, que eu esteja entre esses cem guardiões enviados a terra! – murmurei entusiasmado, enquanto Yao revirava os olhos.

– Certo...agora vou indo. O meu turno começa já, já. – murmurou Yao por final.

Enquanto Yao preparava-se para alçar vôo, pensei em fazer uma visita ao mundo humano novamente. Dirigi-me até um dos portais mais próximos, que levavam ao mundo humano, estiquei minhas asas e preparei-me para atravessar. Rápido e fácil. Do outro lado do portal, já no mundo humano, sobrevoei a cidade por um bom tempo, tentando me distrair. A cidade era encantadora, e ao mesmo tempo não era.

O mundo possui muitas qualidades, mas as pessoas que nele habitam fazem com que existam muitos defeitos. O modo que a natureza, o lugar de onde tiram a maior parte de coisas que é necessária para sua vida, é tão maltratada. Entretanto existem exceções, algumas pessoas lutam por ela, por uma melhor qualidade de vida. Tendo que aja uma preservação dela. Mas quem sou eu para julgar, né?

Continuei a voar, até encontrar o que eu buscava. A garota humana, chamada Shiori. Não seria tão difícil de encontrar ela, já que se diferenciava bastante do resto da população, mas desta vez foi difícil. Então resolvi ir a sua casa. Quando cheguei, eu a vi correndo de um lado para o outro e falando com uma gata. Naquele momento pensei que era louca. Achei que ela estava atrasada para algo importante e resolvi sair, caminhei até a parte dos fundos da casa, onde lá havia um templo reservado aos ancestrais dela..era o que eu achava pelo menos. Quando entrei, tive a sensação de estar sendo vigiado. Bem, eu havia acertado.

– Quem ousa perturbar o descanso dos ancestrais da família Hamasaki? – falou uma voz fina e fraca.

– Ora eu não estou querendo perturbar. Só estou olhando.. – murmurei espiando todo o templo. Lá havia um espírito, especificamente de uma garota pequena, ela se escondia atrás de uma mesinha de canto, cheia de velas. – Por que se esconde? Sabe que posso vê-la.

– Tenho medo. O que você é? Estou confusa, nunca vi algo como você.. – sussurrou a criança.

– Eu posso responder, é só você se mostrar. Não precisa ter medo, não farei mal a você. – murmurei em resposta.

– Certo. – sussurrou desconfiada.  Então o pequeno espírito saiu de trás da mesa. A primeira coisa que vi foi uma garotinha de oito anos normal japonesa da era antiga, porém ela carregava em seus braços  dois livros, o primeiro  idêntico ao da garota Shiori e o segundo estava todo coberto com um pano preto,  ela também tinha uma espada em sua cintura, acho que era a sua forma enquanto viva.  Mas depois eu a vi realmente. Uma garota fantasma, já não mais com oito anos, cheia de ferimentos, provavelmente os que causaram sua morte.

– Eu sou um guardião celeste do limbo. E você quem é? – murmurei enquanto fitava a garota fantasma.

– Um guardião.. – murmurou pensativa a fantasma e depois continuou. – Sou Izayoi Hamasaki.

– Izayoi... Um nome muito familiar... hm. Gostaria que você contasse-me sua história. Fiquei intrigado com a imagem que vi de você, quando viva e também com seu nome. – murmurei.

– Me viu quando viva? – sussurrou a garota surpresa.

– Sim. Peço que me conte que livros eram aqueles que você segurava nos braços, e por qual motivo tinha uma espada em sua cintura. –murmurei intrigado. Será que a fantasma, seria a filha adotiva do aprendiz da sacerdotisa, que o general Oyakata havia falado? Resolvi investigar.

– Certo, vou contar a você a minha história. – murmurou a garota fantasma com um sotaque antigo. – Há exatamente três mil anos atrás, minha mãe havia me abandonado enquanto bebê na porta de um templo chamado Ai, no alto do Monte Arukata. O sacerdote-chefe de lá cuidou de mim, ele se chamava Hiten. Foi ele que me ensinou tudo sobre o mundo espiritual e o que havia nele. Quando fiz dez anos, o meu mestre recebeu algo, de sua antiga mestre, no nosso templo. Ele não me contou o que era. Mas depois disso nosso templo era constantemente atacado por criaturas. – murmurou por final fazendo uma pausa, e logo após continuou. – Eu não sabia exatamente a causa de tantos ataques. Então resolvi conversar com ele, o procurei por todo o templo, mas não o achava. Então resolvi ir à sala Tama, o lugar que ele guardava objetos sagrados. Lá havia dois livros no centro da sala, um grande e um pequeno, todos os dois possuíam trancas e eram ambos negros, o menor tinha o símbolo do infinito na capa, com curiosidade o peguei, por sorte, ele estava destrancado. Então o abri, o estranho é que não havia nada escrito lá, não tinha nada, só folhas e mais folhas em branco. Percebi que algo rondava a sala. Até que eu vi, um homem estranho que me encarava. Ele ordenou-me entregar os dois livros, mas eu me recusei a fazer isso. De repente o homem, começou a falar palavras numa língua estranha, ele recitava um feitiço. Senti meu corpo dormente e uma dor no peito. O homem disse que eu morreria depois disso, eu estremeci e cai no chão, eu não iria me entregar, até que uma barreira luminosa surgiu. O mestre Hiten estava lá para me proteger, lançando um contra-feitiço. A dormência e a dor cessaram, mas as palavras do homem me deixaram com medo. Quando o homem retornou a falar, disse que mesmo que eu ainda vivesse, num futuro próximo eu morreria, de qualquer forma.

Depois daquela batalha – pausou a fantasma editando a história. – a qual meu mestre conseguiu vencer. Ele me contou a história dos livros. O maior era sem dúvida o mais perigoso, tinha um grande demônio aprisionado e o outro um poder incrível de uma sacerdotisa chinesa. Cada um possuía uma maneira de abrir, o menor era através de um feitiço específico, – o qual meu mestre sabia– o outro apenas quebrar seu cadeado e ler. Os dois livros não podiam cair em mãos erradas.  Já que eu sabia de tudo, ele teve que ensinar-me, desde feitiços à contra-feitiços, me transformando assim em uma verdadeira exorcista.   Algum tempo depois, meu mestre me presenteou com o livro menor. Dando-me o feitiço para ativá-lo, mas antes disso ele me avisará que só o usasse em um caso extremo. Quando ele morreu– depois de proteger a mim e os dois livros numa batalha–, o outro livro também ficou sobre meus cuidados.  – novamente a fantasma fez uma pausa e olhou para a casa. – Eu lutava para proteger os livros. – sussurrou a fantasma curvando-se como uma bola. – Coisas me perseguiam, demônios, eles queriam o outro livro.  Quando completei quinze anos, vi que realmente morreria, por causa do feitiço que o demônio lançou sobre mim quando era criança. Para proteger os livros, eu os enterrei e joguei um feitiço. Foi necessário, eles poderiam pegar, mas alguém, alguém os desenterrou e os levou. – murmurou confusa por final.