E lá estava eu, a garota esquisita que todos odiavam, encostada na parede mais distante do corredor central da escola, que estava lotado de adolescente fúteis e idiotas com suas vidinhas de merda, e eu refletindo sobre a droga desse mundo, como sempre. Era incrível como ninguém gostava de mim. Eu era tão ruim assim?

Sempre fui uma criança sozinha. No orfanato, todos os casais, que iam à procura de uma criança, normal e estúpida, sempre me rejeitavam. Quando uma família, finalmente me adotou, eu tinha oito anos, e acho que foi a primeira vez e ultima em toda a minha vida que fiquei feliz.

Com um tempo eu percebi que meus próprios pais e meu tio não gostavam de mim, como o resto do universo. Tentei ser “normal” como as outras crianças, mas foi impossível. Na escola as outras crianças tinham medo de mim, pelo modo que eu agia, me chamavam de esquisita, garota maluca, e outros apelidos terríveis. Percebi que nunca seria boa. Enquanto eu refletia essas coisas, percebi que quase todos já haviam ido embora e o corredor cheio, agora estava vazio. Era hora de partir.

Fui para meu emprego numa loja de livros. Nunca tinha clientes, então eu passava meu tempo lendo. Tinha livros de todos os tipos, desde contos de fada até de feitiçaria. Os que envolviam a arte da magia me interessavam, mas o dono da loja, o Sr. Parker nunca deixava que eu pegasse em qualquer um, pelo menos quando ele via. No horário de almoço dele, eu ia até a parte mais sombria da loja e pegava estes livros todos os dias, interessante e assustador de certo modo. Hoje eu estava decidida a pegar um livro de magia do Japão esse era o único que eu não tinha lido, e também era o que mais me intrigava. O livro grande e negro com vários símbolos de monstros se chamava “O limbo”, tinha uma tranca enorme, senti a necessidade enorme de pega-lo.

– Oi, Sr.Parker. Hmm.. O senhor já pode ir, eu tomarei conta da loja. – falei calmamente, enquanto abria a porta da loja. Hoje, eu tinha chegado atrasada de propósito, pois sabia que ele pegaria as duas filhas dele na escola e depois iria almoçar quanto mais tempo ele demorasse melhor.

– Saori, você está atrasada. – repreendeu-me o velho. – Mas, tudo bem. Tenho que ir.

Assim que ele se pós para fora da loja, eu já estava na parte mais escura da loja, a seção de livros de terror, logo após estaria minha seção preferida a de magia. O livro estava lá, no lugar mais alto. Escalei a estante com facilidade e o peguei. Ele parecia muito maior de perto. Senti um calafrio percorrer meu corpo. Precisava abrir aquele livro rapidamente. Mas havia algo em minha cabeça que me contrariava, dizia para largar aquele livro e fugir. Então ouvi um estalo. Parecia vir do corredor do outro lado. Outro calafrio percorreu um corpo.

– Argh! Não agüento mais essa tensão. Vou abrir essa droga é aqui e agora! – resmunguei baixinho. Flexionei as laterais do livro para quebrar a tranca, até que escutei mais um estalo. – Consegui! – exclamei. Abri o livro com o maior cuidado que pude, mas um vento tão forte fez com que todas as luzes da loja se apagassem, me deixando tensa. Peguei meu celular no bolso e liguei na função lanterna, comecei a ler o livro.

Ele estava todo em japonês, mas isso eu já esperava, por sorte minha família adotiva era japonesa e muito tradicional, me ensinaram a ler, escrever e falar japonês. No começo havia uma frase, que me fez ter calafrios novamente.

“... Para quem lê este livro não há salvação, nem inferno. Há coisas piores que tudo isto reunido. Sua condenação a um destino cruel e amaldiçoado e a uma morte sangrenta.”

Mas dois estalos perturbaram minha concentração. De repente, estava tudo tão frio e escuro que pensei que não estava mais na loja. Havia algo ali, me aproximei mais do livro quase o abraçando. Eu suava frio enquanto lia mais uma pagina, ate que a luz do meu celular apagou. Então aconteceu. Foi incrível, e tão rápido. Há segundos atrás eu estava lendo um livro de magia negra japonesa. E agora estava sendo agarrada por uma escuridão imensa. Algo me puxava mais para o fundo, com uma força inacreditável. Fechei meus olhos com força, para ver se acordaria se fosse um sonho ou um pesadelo, logo acordaria certo?

– Hahaha. Sua tola. – uma voz sombria quebrou o silêncio. – Isso não é um tipo sonho, nem pesadelo. Só a sua condenação. – Tremi incontrolavelmente, a voz sabia o que eu pensava.

– Ora, por que está com medo? Foi você que quis ler aquele livro, certo? – murmurou a voz. Tentei controlar meu medo, para falar mais foi inútil. – Garota, preste atenção em minhas palavras. O livro que você leu, é uma coisa perigosa. Algo que um humano não deveria ler. O limbo é o lugar de onde vim. Lá existem coisas terríveis, muito piores que eu. E agora você está condenada a ir para lá também, mas irá cumprir primeiramente a tarefa que eu e você fomos destinados. – a voz sombria em meu ouvido.

Perguntei-me que tipo de destino eu estava condenada. Que legal! A minha vida já era uma droga e agora eu tinha que fazer uma tarefa destinada a mim e a esse...esse sei lá o quê! A raiva fez passar todo meu medo, então abri meus olhos.

–Argh! Eu faço o que quero! E não haverá nada que me impedirá. – gritei ferozmente. Havia uma espécie de demônio com um rosto idêntico ao meu diante de mim. Ele tinha asas e um corpo longo e desajeitado. Eu encarei seus olhos de fogo sombrios. Era incrível que eu não senti medo algum, na verdade senti um imenso ódio. Meus olhos pareciam ser de fogo também. Lancei um olhar sombrio para a criatura.

– Sua idiota, pensa que é assim? Que você vai fazer o que quer? Eu estou conectado a você, eu sou você. Sou a parte mais negra e sombria da sua alma! – exclamou o demônio com meu rosto. – Você escolheu isso! Escolheu o livro, o destino! Escolheu a mim! Não há mais volta! – E essas foram as ultimas palavras que escutei o demônio que dizia ser eu, entrou em meu corpo. Pensei estar morrendo, mas logo senti um prazer, um prazer enorme, por causa do ódio dele e do meu aquecendo meu corpo.