Kokoro No Koe escrita por P r i s c a


Capítulo 7
Danzou


Notas iniciais do capítulo

Músicas do CAP:
- That's What You Get (piano tribute) - Paramore
- Crushcrushcrush (piano tribute) - Paramore



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Amanhecia. Infelizmente amanhecia.

Chegara a hora de se despedir dos marújos que tanto a ajudaram. Ao menos teria chegado, pois a Hyuuga, ainda com remorso e um aperto no coração, se escondera de todos, a fim de esperar que fossem embora, esperar esquecê-los.

A fim de esperar... que ela fosse esquecida.

Escondida em um pequeno armário naquele mesmo quarto de hóspedes em que estiveram na tarde anterior, a Hyuuga chorava, silenciosamente, relembrando o que se passara para deixá-la naquele estado.

Ela e Naruto realmente foram ao encontro do pai da jovem para tentar convencê-lo a deixá-la partir com os piratas rumo as Shima Koe. Mas então... porque ao conversar com seu pai o loiro mudara de idéia?

Naruto se oferecera para ir primeiro, depois a chamaria e ela reforçaria os argumentos dele.

O Uzumaki entrou. Hinata o aguardava do lado de fora do escritório, a pena e o bloquinho sendo firmemente abraçados e prontos para serem utilizados quando Naruto lhe chamasse.

Mas ele não chamou.

Ao sair do escritório, havia algo diferente em seu olhar. Havia algo errado.

'Hinata... precisamos conversar.' ele dissera.

Havia algo muito errado.

De volta à sacada que dava vista para a baía, Hinata lhe perguntara no papel o que acontecera no escritório. Ao ler, ao invés de responder imediatamente como lhe era costume, o Uzumaki virou o rosto, passando a observar os barcos ali atracados.

'Hinata...' ele começou. Então finalmente a olhou nos olhos. 'Acho melhor você ficar.'

Ter um pedaço seu arrancado pelos dentes do Leviathan teria lhe doído menos do que ouvir aquilo...

Rapidamente ela pegava o papel e voltava a responder. Sua letra começava a falhar.

'Por quê? O que meu pai te disse? Ele os ameaçou ou algo assim?'

'Não!' gritava Naruto, repreendendo-lhe a idéia 'Ele não fez nada assim!'

'Ele apenas me proibiu de ir, não foi?' ela rabiscou no papel.

Ao ler, o loiro se demorou um pouco, cabisbaixo, mas acabou por afirmar com a cabeça.

Furiosa, Hinata rabiscava o papel com a pena. As letras continuavam belas, mas agora estavam tensas e mais grossas devido à carga emocional da Hyuuga.

'Não importa o que ele disse!' era o que estava escrito. 'Eu irei do mesmo jeito! Não tem problema'

Agora o cenho do Uzumaki se franzira. Ele mesmo teve sua carga emocional descontada na voz. 'Não! Não vai!' ele gritava. 'Você tem que ficar, não entende?'

'Meu pai não saberá que parti. Posso contar a ele que nem vocês sabiam depois que voltarmos!'

Naruto começava a ficar fora de si. Abrira a boca diversas vezes para falar e, não conseguindo, colocava as mãos na cabeça enquanto andava em busca de calma. 'Não! Você não vai dizer isso a ele quando voltar porque você não vem! E nós não vamos fingir que não sabemos de nada porque: Você. Não. Vem!'

Hinata ouvia e escrevia, evitava encará-lo uma vez que seus olhos tenham começado a marejar.

'E porque não? O que mudou desde que você conversaram?'

Aquele bilhete, Naruto relutava em responder. Mordia os lábios com uma expressão cada vez mais tensa, porém nada dizia. Como podia, logo ele, estar tão submisso ao pai dela!

'Que tipo de piratas são vocês, afinal?' era o que estava escrito em um dos últimos bilhete que entregara.

Então aconteceu. Com o cenho mais franzido do que nunca e os braços a balançar nervosamente, Naruto ficara fora de si.

'O TIPO DE PIRATA QUE SABE RESPEITAR O PEDIDO DE UM PAI QUANDO OUVE UM! E VOCÊ, HINATA? QUE TIPO DE FILHA É VOCÊ?'. Seus movimentos, sua expressão, ainda que bruscas, não machucaram a Hyuuga tanto quanto suas palavras.

Ao ver a água que escorria do rosto da jovem, o loiro se acalmara, voltando a falar com um tom de voz completamente oposto.

'Olha... Não... Não foi isso que eu quis dizer, Hinata.' ele dizia com uma voz mais embargada. Novamente com as mãos na cabeça e andando pros lados em busca do que falar Naruto parecia estar em seu limite naquela conversa.

'Não posso pedir a uma pessoa que te ama... que a deixe partir...' era o que tentava lhe explicar. '...Que ponha sua vida em risco. Você entende?'

Vendo que a Hyuuga não o encarava mais, decidiu que era hora de partir.

Já passava da hora dele partir.

Deu meia volta e começou a se retirar.

A Hyuuga levantara o olhar uma última vez para então ver que Naruto ainda a olhava, enquanto saia.

'Eu estava sendo muito egoísta...' dizia serenamente a voz do loiro enquanto ele saia. As palavras ficando cada vez mais distantes. '...ao achar que sua presença seria o bastante apenas pra mim.'

Aquilo a acertara em cheio. Hinata se sentira a pior filha do mundo só de imaginar o que seu pai dissera ao loiro. Ela se preocupara tanto com seus próprios sentimentos que esquecera de levar os de seu pai em conta.

Seguir em uma viagem em prol do bem do mundo... sendo que ignorava o bem da pessoa que mais a amava... não fazia qualquer sentido.

A Hyuuga correu alcançando Naruto. Um último bilhete pôs nas mãos dele e então foi embora, para o quarto de hóspedes, se esconder.

Hinata entendia que para seu pai, um homem que já tanto sofrera com perdas e lutas para proteger suas filhas, tê-la por perto e a salvo era muito importante. Não estava triste com ele. E nem com Naruto.

Não chorava por causa disso.

Na nova nau em que seguiriam viagem a fim de reverem seus amigos, Naruto relia, pela vigésima vez achava, o último bilhete que a Hyuuga lhe entregara.

'Obrigada por tudo. Faça uma boa viagem, por favor.'

Chorava porque não queria que fossem embora. Porque não queria ver o navio partir.

Chorava porque sentia dor.

Chorava porque lhe doía pensar que deixara uma pessoa que ela passara a amar partir.

E lhe pediu que fizesse uma boa viagem.

___

O Uchiha estava irreconhecível.

Agora, ele era o Konoha. Sua madeira antes escura, com seu nome escrito em um macabro tom de vermelho-sangue, agora tinha uma camada de madeira clara cobrindo-o, disfarçando-o. O nome Konoha escrito em belas letras cor de trigo. Suas velas, as furadas e as remendadas, foram subistituídas por novas. Completamente brancas. Puras.

Nobres.

Sasuke fez uma careta ao sentir seu estômago revirar. Aquilo tirava toda a antiga "masculinidade" de seu navio...

"Então...?" lhe perguntava Ibiki com um largo sorriso satisfeito em seu rosto cortado. "Nada mal para o trabalho de uma noite, hein?"

"É..." desdenhava Sasuke com as sombrancelhas erguidas. "Até que-"

No mínimo umas cinco espadas foram apontadas para sua garganta naquela fração de tempo.

"Não ouse fazer menos de nosso trabalho para nos empurrar seu bônus falsificado!" Então Ibiki voltou a sorrir enquanto guardava a espada "Até porque... nós não as queremos..."

Ter as espadas apontadas para si fazia parte de seu plano... Faria com que eles realmente achassem que eram jóias de valor. Mas a reação seguinte o intrigara bastante.

"O disfarce do poderoso Uchiha fica por minha conta dessa vez..." lhe dizia Jiraya que acabava de chegar. "Mas tem uma condição..."

A tripulação que ainda não havia subido na nova nau mantinha um curioso olhar sobre Jiraya, esperando para ouvir a tal condição.

"Sigam meu conselho... e zarpem daqui direto para o norte..." sua voz sombria deu espaço para um sorriso pervertido. " e... chegando lá, digam para meu bem que o Jirayazinho dela deu um 'oi'!"

Sasuke suspirou. Já dava pra esperar que Jiraya quisesse mandar um recado. Da última vez que se encontraram, há uns cinco anos, ele pedira para encontrarem seu "amorzinho" e pedirem um dinheiro para ele investir em uma rede de restaurantes.

Como a mulher rira na cara deles e não pagara nada, a rede se resumira naquele Bar de Stripe mesmo...

Após subir a bordo, o capitão "Konoha" os saudou e deu ordens para zarpar. Quando já estavam na água, alguém sentiu falta de alguma coisa...

"ESPEREM!" gritava Kakashi desesperado. "E MEU ICHA ICHA?"

Agora já haviam zarpado. Mas ainda era possível ouvir a sarcástica risada de Ibiki lhe gritando:

"ACHA MESMO QUE DISFARÇAMOS ESSE NAVIO INTEIRO EM UMA MADRUGADA E AINDA TIVEMOS TEMPO PARA SEU BARQUINHO?" ele parava e ria mais. "ME POUPEM!"

"SE APARECEREM POR AQUI DE NOVO PODEM BUSCÁ-LO, JÁ PRONTO E REFORMADO!" despedia-se Jiraya, logo depois encarava Ibiki lhe pedindo o pagamento pela reforma - Ou não.

No convés, ao ouvir o afastar das vozes no Paradise, Tenten se permitiu voltar à sua recente preocupação, procurando reunir Sasuke e Shikamaru para debaterem o que fariam. Que rumo tomariam.

Ao encontrar o Nara, pediu a ele que a acompanhasse até a cabine do capitão. Shikamaru olhou para sua noiva e, ao vê-la dar de ombros por também não saber do que se tratava, decidiu acompanhar a violinista.

Foi chegando à cabine do capitão que viram, pela primeira vez, um Sasuke com roupas de nobre.

Por cima da nova camisa branca, sem sangue, e por baixo do longo sobretudo também branco, havia um colete dourado que combinava com todos os detalhes, também em dourado da roupas. Um respeitoso babado cuidadosamente feito na gola. As calças também brancas finamente ajustadas e ajeitadas por baixo de longas botas marrom claro lhe davam um ar de quem fora feito junto do barco, tamanha era a sincronia de cores entre ambos. Faltava o chapéu.

Ao captar os olhares sobre si, a única coisa que Sasuke fez foi pôr o vistoso chapéu, branco, com uma pena clara, sobre sua cabeça.

Aquele meio sorriso voltava a seu lábios.

"Estão esperando o que pra também se fantasiarem?"

"M-mas, Jiraya disse..." Era exatamente aquilo que ela queria! Fugir do norte! Não tinha a mínima idéia do por que o estava contestando, as palavras simplesmente fugiram de sua boca.

"Jiraya já se enganara antes, não há porque ser diferente agora." Ignorando completamente os rostos boquiabertos diante de si, Sasuke seguiu caminho para fora da cabine, rumo ao convés.

Agora quem o contestava era Shikamaru.

"E quanto à Temari? E toda aquela história de destino?"

"O destino, Nara..." dizia sem sem virar enquanto abria a porta da cabine" ...nada significa para mim. Mas proteger a quem já passou por males demais..." Tenten se sentiu quase emocionada com  aquela parte do discurso. Quase porque tinha certeza de que não passava da obrigação do Uchiha dar ouvidos à sua Imediata. "Isso sim tem importância."

___

That's What You Get (piano tribute) - Paramore

Hinata havia adormecido bem ali, ainda dentro do armário. Começava a acordar, pouco a pouco, ao ouvir um certo movimento pelo quarto. Parecia que alguém remexia nas coisas por ali... alguém abria e fechava as portas.

Só entendeu o que se passava quando a porta de seu singelo esconderijo fora aberta pela pequenina figura que procurava por sua irmã no quarto.

Sem nada dizer, Hanabi a olhava com aquela cara de ligeiro espanto, esperando que lhe contasse o que acontecera.

A Hyuuga mais velha dera um triste sorriso ao perceber que ainda estava com a pena e o pequeno caderno ali. Mas como tinha de responder à sua irmã, começou a escrever.

'Eu estava querendo ficar sozinha... Só isso.'

Ao ler o que estava sendo escrito a Hyuuga mais nova simplesmente devolvera o caderno e se sentara ao lado da irmã, fechando a porta do armário.

Quando Hinata já não entendia mais nada, Hanabi a abraçou.

Achara que já havia chorado o suficiente, que já estava bem... mas ao sentir toda a ternura que sua irmã lhe passava naquele abraço, Hinata desabou mais uma vez. Mas com a diferença de agora estar se permitindo ser confortada.

Mal sabiam elas que seu pai as procurava.

Passando pelos corredores da sacada que dava vista à baía, o capitão Hyuuga perguntava a qualquer um que ali estivesse o paradeiro de suas filhas. Havia acabado de ver o Hakkeshou Kaiten, a nau que emprestara ao Uzumaki e ao Inuzuka, zarpar e se distanciar, até sumir de sua vista.

No momento, o que ele desejava avistar era uma de suas filhas...

Finalmente se acalmara. Agora, já sentindo aquele aperto em seu peito afrouxar, Hinata observava sua irmã buscar todas as folhas de papel que pudesse encontrar pelo quarto e recolhê-las.

Era com muito desconforto que a Hyuuga mais velha observava o pescoço de sua irmã, que hora ou outra ao se abaixar, deixava uma rude cicatriz aparecer por trás de seus longos cabelos negros.

Um dos momentos mais difíceis dos Hyuugas durante a repressão fora quase ter sua caçula morta pelos perseguidores.

Por muito pouco a haviam salvo e, desde então, mesmo com a subida de Gaara ao trono, a Hyuuga mais nova raramente lhes dirigia qualquer palavra.

Depois de tudo o que passara seu pai naquele episódio... ela ainda ousava reclamar da superproteção do capitão Hyuuga.

Hinata sentiu o nojo de seu próprio egoísmo atingir-lhe como um tapa.

Saiu de seus devaneios ao sentir que Hanabi lhe estendia um bolo de papéis.

'Pra quê isso?' perguntara Hinata ainda utilizando o bloquinho.

Com um infantil sorriso no rosto, Hanabi lhe fazia sinais com as mãos.

Um barco...

Tapa-olho...

Cobra...? Não. Serpente. Leviathan.

Hinata sorria meio sem-jeito ao entender que sua irmã lhe pedia para contar o que acontecera durante sua aventura com os piratas na luta contra o Leviathan.

Provavelmente a mais nova desejava tantos detalhes que Hinata precisaria de folhas maiores. Ou talvez ela quisesse desenhos..

Ela teria mesmo que contar aquilo? Teria mesmo de relembrar tudo só para sentir a saudade beter-lhe o peito?

Foi aí que ouviu um soprar vindo de sua irmã. Um som.

"Por favor..." ela dizia, bem baixinho, quase que só para se fazer uma leitura labial.

Após respirar bem fundo, Hinata pegou todas as folhas de papel que estavam no chão e pôs na cama. Pegou então Hanabi e a pôs deitada, acomodando-a debaixo dos lençóis.

Sentou-se na beira... e, ao alcançar uma das folhas para si apoiando-a no bloquinho, começou a escrever sua narrativa.

___

Destino... Que tolice!

Eram pensamentos assim que corriam pela mente de Sasuke enquanto se vestira de nobre. Já havia se decidido a não ir pro norte antes mesmo de chegarem à Paradise, enquanto ainda conversava com Sakura.

Conversara com Jiraya sobre isso só para ter certeza de que o peregrino discordaria.

Durante todos os instantes e durante todos os movimentos que fizera ao se fantasiar, sentira seu peito queimar. E ao constatar que aquela ardência vinha de sua ferida, toda a conversa, todo o ocorrido que narrara à Haruno lhe voltava à memória.

'Há pouco menos de cinco anos...' ele lhe contara. '...fizemos uma viagem ao norte. Era uma das primeira viagens que fazíamos todos juntos, eu, Naruto e Tenten, como piratas. Devíamos ter... uns 14 ou 15 anos, na época. Se estivesse aqui, provavelmente Naruto também se transtornaria com a ida ao norte. Menos que Tenten, mas ainda sim...'

Sasuke abaixara a cabeça.

'Estávamos atrás de Itachi.'

Era impossível contar aquela história... sem revivê-la.

'Chouji, Lee, Kiba, Shino... eu ainda não conhecia a nenhum deles... E foi por muito pouco que jamais os conheceria. Naquela época eramos novos demais, por isso o capitão de nosso barco era um outro homem. Seu nome... era Danzou. Não me lembro como nos conhecemos. Nem como o convencemos a perseguir Itachi. Mas me recordo muito bem de já estarmos atrás de meu irmão a uma semana. E ele ia para o norte. O tempo estava bom, com bastante vento e um mar pacato. Em algum momento da viagem... tudo mudou. Havia tempestade. Céu e mar estavam negros e revoltos... Metade da tripulação havia se perdido e morrido.'

'Foi nessa época que vocês enfrentaram a Itachi?' lhe perguntara a Haruno.

'Não. Foi depois. Eu já havia me tornado capitão.' então Sasuke dera um sorriso amargurado. 'Metade da tripulação já havia morrido e nem havíamos chego perto do Itachi.'

'Então... o que os estava matando? A tempestade?'

Sasuke balançava a cabeça negativamente.

'O que nos matava... era uma canção.'

Sirens... Sasuke sentia seu sangue ferver só de se lembrar daquela maldita raça criada pela tal deusa da voz.

Uma raça constituída por belas mulheres. Com belas vozes. Mas mortais, como suas metades animas. Peixes e pássaros.

'Muito... de minha memória se perdeu logo no início da canção. Eu, Naruto, Danzou, o resto da tripulação... Todos já estavamos enfeitiçados.'

'Todos?'

'Todos... os homens. Tenten fora a única a assistir e se lembrar de tudo o que aconteceu. Por isso ela é a mais... 'traumatizada', eu acho'

Sasuke fizera menção de encerrar a conversa apesar de saber que Sakura percebera que havia ainda muito a ser contado.

'Tudo que eu sei...' dissera ao se levantar. 'É que essa ferida eu ganhei lá... há cinco anos. E há cinco anos... que ela não cicatriza.' novamente aquele riso amargurado. 'Nem sei como somente nós três sobrevivemos. Ou como Itachi fugiu...'

Crushcrushcrush (piano tribute) - Paramore

Sakura se levantara. Aquele brilho no verde de seus olhos indicava que ela faria pelo menos mais uma pergunta cabulosa antes de aceitar o fim do assunto.

'E o capitão? Aquele Danzou... o que aconteceu com ele?'

'Nós...' lhe dissera com sinceridade '...nunca mais o vimos.'

___

Finalmente sabia onde estavam suas filhas! Perguntava-se sem parar sobre como não pensara no quarto de hóspedes antes...

Seguia apressadamente o som de piano que vinha de lá.

Mesmo que não pudesse cantar, Hinata ainda o emocionava no piano. Era essa sensação de emoção que causava um ligeiro estranhamento no capitão.

Ela estava triste. Disso ele tinha certeza. Então por que aquela música lhe parecia tão... animada?

Abrindo a porta do quarto, sentiu que seu coração dera um salto, quase parando.

"E ENTÃO... BEM QUANDO ACHEI QUE SERIA ARREMESSADA DE SUAS ESCAMAS, PUDE OUVIR PESSOAS GRITANDO NOS NAVIOS DA TROPA DE PAPAI. NARUTO-KUN E KIBA-KUN HAVIAM CHEGADO PARA NOS AJUDAR! QUANDO NÃO ME AGUENTEI MAIS E FUI JOGADA PARA LONGE, NARUTO E SUA FORMA DE RAPOSA ME SEGURARAM E ME PUSERAM EM SUAS COSTA, DE ONDE PUDE VER KIBA-KUN E AKAMARU-KUN, JUNTOS, ATACAREM O LEVIATHAN..."

Aquela que... gritava... que, com tanto entusiasmo, lia era... Hanabi?

Ao piano, de pé, Hinata parecia querer dançar enquanto tocava a música de fundo, que dava emoção à história narrada.

Hanabi não só lia alto, como também pulava em cima da desarrumada cama, agitada, jogando as páginas que terminava de ler pelos ares e prosseguindo com a leitura da aventura de sua irmã...

"AAAAAAH! EU GRITAVA AO ACHAR QUE NÃO CONSEGUIRIA VOLTAR Á SUPERFÍCIE! QUANDO FINALMENTE EMERGI, NARUTO-KUN TOMOU UM IMPULSO, PULANDO E INDO PARA DIRETO NA GARGANTA DA SERPENTE!"

Os dedos da Hyuuga mais velha corriam ao piano com a mesma facilidade de ler de Hanabi.

O que havia acontecido? O que havia mudado? O que, por Kami, devolvera tamanha alegria ao pequeno ser de sua caçula?

Não importava.

Não se aguantando mais, Hiashi sentara sobre a cama, observando, perplexo, suas filhas. Hanabi ainda pulava, olhando para seu pai sem entender o que ele queria.

"Vamos, Hanabi, continue! O que acontece depois?" perguntou á sua filha, com o sorriso mais largo e encorajador que possuia em si.

Hinata não parara de tocar. Ela também sorria ao ver a emoção nos olhos de seu pai.

Hanabi riu, um lindo riso esbanjando aquele seu doce ar todo infantil, e voltou a narrar.

"Mas ouça com atenção, pai!"

"Minha atenção, minhas filhas, nunca esteve em outro lugar... nunca."

Maravilhados, os Hyuuga dividiam entre si não só a história do Leviathan, como também falavam sobre os piratas, sobre Ichiba, os Akatsukis, sobre como quase morreram, como foram resgatados, Neji, o navio que voa, a Sereia, Sakura, Ino, Tenten, tudo, tudo que conseguia lembrar Hinata anotava e Hanabi lia para eles como em uma grande família na hora da história antes de dormir.

A tarde passou depressa enquanto ouvia suas pequenas. Hanabi, antes tão calada, só, finalmente, parara de falar para tomar um grande copo de leite no lanche da tarde.

Estava feliz como nunca ali á mesa do quarto de hóspedes, lanchando leite e biscoitos com suas filhas, mas era impossível não perguntar a si mesmo o que acontecera.

Enquanto olhava Hinata fazendo um desenho de duas criaturas caninas, uma raposa de nove caudas e um cão branco de duas cabeças, como era de se esperar, e entregando à Hanabi que logo o coloria, Hiashi não se aguentou mais... fazendo sua pergunta.

"Hana... eu..." limpou a garganta, aproveitando para bolar um jeito de não ser rude. "Eu estava me perguntando... Por que agora?"

A mais nova piscou, sem esconder, nem por um instante, que não havia entendido a pergunta.

"Agora, o que, pai?"

"Por que... você só voltou a falar agora?" apesar das feições imutáveis de seu rosto, por dentro, Hiashi se contorcia de medo de que a mais jovem voltasse a se calar.

"Eu não voltei só agora... eu sempre falei."

Hinata também parara de desenhar, atenta para conversa à sua frente.

"Mas... desde o que lhe aconteceu..." ao dizer isso o capitão engoliu em seco. Mas forçou-se a prosseguir "Você sempre evitava conversar."

"Nos primeiros dias, com aquelas ataduras em volta do meu pecoço, deixando minha voz estranha..." dizia a pequena, um enorme pedaço de biscoito dentro de sua boca distorcia sua voz. "...sempre que eu dizia qualquer coisa vocês pareciam querer chorar!"

Então caiu a ficha.

O trauma daqueles acontecimentos da repressão nunca afetara Hanabi e sua voz...

Hanabi nunca se sentira triste por falar... Eram eles quem se entristeciam... ao escutar.

"Vocês são tão bobos. Neji era o único que conversava comigo, mas aí chegava alguém e o mandava treinar violoncelo ou parar de me incomodar..." Neji... O único que continuava na aventura rumo as Shima Koe... "Tinha vezes que ele parecia ficar tão zangado com isso... Chegou uma hora que ele também parou de conversar. Dizia que iríamos nos encrencar. Aí eu parei de falar... Achei que era isso que vocês queriam."

Anos vivendo e pensando que não protejera sua filha... pensando que a alegria havia sido privada de sua pequena... e era ele quem privava a alegria de si.

'Hana... você não tem medo...? Pelo o que lhe aconteceu?'

Tamanha declaração surpreendera a ambos os Hyuugas mais velhos, mas estando seu pai muito abalado e vendo que ele não faria muita coisa, Hinata prosseguira com as perguntas.

"Quando aqueles caras ainda estavam por aí, sim. Mas quando disseram que o tal Gaara seria o rei, que ele era bonzinho e gostava de música e que tudo iria mudar eu deixei de ter medo."

Simples assim.

Sim, eles eram uns bobos.

Ficaram em silêncio durante um tempo... digerindo a idéia.

Hanabi já estava claramente cansada de pessoas em silêncio com suas idéias.

"Pai" ela chamava depois de comer o último biscoito e limpar a boca. "Agora você vai deixar a Hinata ir? Ela tem que ajudar o Neji-nii-san a salvar o mundo, você sabe..."

Hinata contara à irmã que estivera triste pro ter de ficar. E que o que eles iriam fazer nas Shima Koe era libertar as pessoas. Hanabi entendera isso como "salvar o mundo" e achou que seria muito apropriado pessoas de sua família, como Neji e Hinata, serem os heróis.

Assim ela poderia se gabar com as outras crianças depois...

"Não, Hana... Na verdade eu queria mesmo era um meio de tirar seu primo de lá." disse sinceramente, afundando sua cabeça nas grandes e ásperas mãos.

Pela primeira vez em muito tempo a mais nova franzira o cenho, reprovadoramente. Mesmo com os traços infantis, seus pálidos olhos ofendidos transmitiam uma seriedade encontrada nos melhores adultos.

"Você não pode ser o vilão!"

"Vilão?" seu pai perguntara, tanto ele quanto Hinata meio encurralados com aquela mistura de convicção e indignação vindas da voz da mais nova.

"Se você impede os heróis de salvarem o mundo, você é vilão! Meu pai não pode ser o vilão!"

Agora aquela, apesar da metafora infantilizada, tornara-se uma conversa séria.

"Hana... eu não sou o vilão. Eu só quero protegê-los! Ou você acha que 'salvar o mundo' não é algo perigoso?"

Hanabi nada respondia. Mas era porque lia o bilhete de Hinata que reforçava a idéia do pai.

"Ele quer que tenhamos uma vida segura... e por muito tempo também. Heróis, Hanabi, como Naruto-kun e Kiba-kun... não vivem muito"

Hanabi fez um bico. Com o cenho ainda franzido, ela encarava seus dois familiares antagonistas...

Mais séria do que nunca, a pequena respondeu:

"Neji-nii-san disse que aqui não estamos vivendo. Estamos existindo." e ao ver o choque dessa afirmação nos olhos perolados de seu pai e irmã, ela continuou. "Desde que me machucaram vocês me deixam presa aqui. Eu sei que assim eu vou existir por muito tempo, mas agora, quem está vivendo, e vivendo uma aventura, é Neji e aqueles piratas."

Hinata não perdera tempo. Interpretando tudo o que sua irmã dissera ela anotara mais um bilhete e entregara a seu pai. No momento, as únicas coisas que fazia ali era reforçar as idéias de seus familiares uns pros outros, em busca, talvez, de compreender as suas próprias.

Logo ela que estava muda, tinha que servir de intermediária para aquela discussão.

Hanabi não sabia o que estava escrito e também não saberia tão cedo porque ao começar a ler em voz alta, a voz de Hiashi fora interrompida.

"Senhor, precisamos conversar." à porta, seu principal comandante o chamava. "É sobre aqueles piratas..."

Olhou uma última vez para suas filhas antes de se levantar pedindo licensa.

Ao, sair, fechou a porta atrás de si, ainda com o bilhete em mãos.

"Senhor, fomos informados de que uma nau de nome Konoha fora vista saqueando um porto a nordeste daqui."

"E o que isso tem a ver com nossos piratas?" dizia sem encará-lo, ainda pensando no que lera.

"Bem... de acordo com a descrição da tripulação, esses do Konoha são os nossos piratas."

Isso era um problema. E um problema gravíssimo. Seus oficiais entenderiam que os deixara escapar uma vez em agradecimento por salvar sua filha... mas duas vezes? Qual a desculpa? Que eles iriam "salvar o mundo"?

Ele precisaria decidir se os perseguiria ou entregaria os pontos e contaria á seus oficiais que os estava ajudando.

Os Hyuuga não permaneceriam na polícia por muito tempo se descobrissem isso.

Mas se os piratas dessem sorte, teriam tempo de escapar ainda que a ordem fosse de perseguí-los.

Respirando fundo, ele perguntou:

"E o que você sugere, Danzou?"

"Que vamos atrás deles. De acordo com os navegantes, ainda amanhã os alcançaremos... e os condenaremos." dizia seu avariado comandante com um sorriso convicto nos lábios. "Quais as ordens, Capitão?"

Naquele mesmo momento, o coração de Hiashi se dividiu.

'Pai...' dizia-lhe o bilhete em suas mãos. 'O senhor prefere que existamos por muito tempo... Ou que vivamos, ainda que só por alguns instantes?'



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Notas finais do capítulo

espero que gostem!



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