Do outro lado da rua dois jovens passeavam de mãos dadas. Os pescoços expostos pareciam gritar para os meus instintos, piscando como placas de neon.

Maravilha, eu tinha certeza de que não conseguiria me controlar por muito mais tempo e Stefan teria um ataque, dando todo aquele discurso de como é mais saudável se alimentar de coelhos - mais saudável para os humanos, que ficariam com seus pescocinhos deliciosos livres -. Eu já estava cansado dessa dieta vegetariana, literalmente cansado, fraco e lento. E sem contar o fato de que trocar peles macias por pelos macios não era nada agradável.

Por um lado eu não estava afim de ouvir o discurso de sempre do meu irmão vampiro caquético, por outro lado a sede era maior que tudo.

Optei pela sede.

Fiquei escondido na sombra de um velho, destruído e abandonado prédio, - que com certeza na próxima chuva desabaria - tentando não ser notado. A rua escura e sombria, e os outros prédios vizinhos igualmente destruídos e abandonados, não se ouvia som de humanos por ali, não se ouvia o leve respirar deles dormindo ou os passos ecoando no linóleo, estava tudo deserto a não sem por mim e o casal. Um péssimo lugar para um humano azarento passar, e então ele nem teria tempo de pensar lugar errado, hora errada.

Baixo demais para ouvidos humanos, ouvi uma voz fina e aguda - a garota provavelmente - dizer 'Eu te amo' e o outro, o garoto ele era alto e os dois não pareciam ter mais que dezessete, ele sussurrou de volta 'Para sempre'

Suspirei angustiado e murmurei 'Dia de sorte. Resolvi dar uma chance ao seu para sempre'. Recostei a cabeça na parede de reboco, voltando à sombra do prédio, vendo meu ex-jantar ir embora. Cadê o antigo e sanguinário Damon? - pensei triste, voltando a ficar alerta quando ouvi risadas ao longe. Esse provavelmente não teria tanta sorte. Entrei por um vão entre o prédios escuros, segui rapidamente por um beco cheio de latas de lixo e, quando cheguei ao fundo enfiei os dedos nas brechas entre os tijolos e subi a parede.

Saltei de um telhado a outro, as risadas cada vez mais perto. Era uma mulher. Estranho, ela ria mas na rua só havia passos de uma pessoa. Puxei o ar pelo nariz - uma inspiração profunda, longa -, minha postura mudou. Os ombros rijos me abaixei no telhado, agarrando a beirada com uma das mãos. Agora eu era um predador. Desliguei meu cérebro. Era hora de caçar. Não era a única humana por perto mas era a mais próxima, caminhando e falando ao telefone numa viela escura - não poderia ser melhor -. Quem você caça é o tipo de decisão que se deve tomar antes de farejar a presa.

Um grunhido baixo escapou por entre meus dentes. Meu. O sangue era meu. O fogo ardia em minha garganta, as veias secas e eu não conseguia pensar em mais nada. Saltei do telhado aterrissando ao lado da ruiva que falava ao telefone. Quando ela me viu ao seu lado piscou duas vezes, assustada, depois seus lábios se curvaram sorrindo e a mão com o telefone pendeu flácida.

– Oi - piscou pra mim.

– Uma garota como você não deveria andar sozinha por aqui. - eu disse, a cara mais séria deste mundo. - É perigoso - sussurrei.

– Quer me fazer companhia? - ela passava os dedos pelos cabelos vermelhos brilhantes, os cachos caindo até a cintura, seu rosto em forma de coração, as maçãs rosadas e os grandes olhos verdes, ela era realmente bonita mas a minha sede era maior.

– O prazer é todo meu. - eu disse lentamente, passando os braços pela cintura do meu lanchinho. Ela me olhou surpresa, depois se deixando levar, eu a puxei para uma parede do beco e encostei minhas costas no tijolos - uma posição de defesa - a puxando para mais perto. Nosso corpos estavam colados e eu podia sentir o martelar frenético de seu coração, a respiração ofegante. Suas mãos urgentes percorriam o meu peito.

– Fique quietinha. - sussurrei em seu ouvido, minha boca descendo pela clavícula e dando leves beijos ali e então não consegui mais me controlar, sentindo as presas sensíveis aparecerem afundei os dentes eu seu pescoço. E antes que ela pudesse gritar tapei sua boca com uma mão, a outra apoiando-a pela nuca. 'Quietinha' murmurei voltando a enterrar os dentes em seu pescoço, os protestos ficavam cada vez mais letárgicos, até que ela ficou inconsciente.

O sangue era morno e doce, um leve sabor amargo que sugeria o uso de drogas - eu já estava acostumado com isso, era raro conseguir sangue limpo se você seguisse as regras de caçar a escória, que ninguém procuraria nem se importaria. Eu sugava e engolia vagamente ciente de qualquer coisa. Tive a impressão de que em poucos segundo a garota estava drenada. Sacudi seu corpo flácido num gesto frustrado.

Joguei o corpo vazio no chão produzindo um baque surdo como um livro sendo colocado sobre uma mesa. Por uns dez minutos protelei sobre o que fazer com a garota morta, resolvi por queimar o corpo. Pelo menos assim ela não seria reconhecida nem pela arcada dentária.

Soquei a janela de um carro que estava ali perto, enfiei a mão pela janela estilhaçada abrindo a porta por dentro. Joguei o corpo da menina dentro do carro e arranquei o capô, furando o tanque de gasolina. Tirei minha camisa cuidadosamente ensopando-a com a gasolina, joguei-a no motor do carro acendi o meu isqueiro e joguei. Saí correndo para o mais distante e mais seguro possível.

De cima do telhado de um prédio velho, esgueirando-me na beira, pude ver o carro queimar aos poucos e quando o fogo atingiu a parte elétrica ele explodiu. Uma visão particularmente bonita de se ver; as labaredas lambendo e deixando o seu rastro de destruição por onde passavam...

Perfeito. Murmurei, ninguém iria desconfiar dos vampiros.