Uma nova lenda
Kaline Bogard

Capítulo 16

Draco não tinha medo do escuro. Mas tinha medo do escuro quando estava sozinho num corredor em Azkaban.

Nem as celas em que passara sua infância e adolescência eram tão silenciosas. Ou tão negras.

Olhou a passagem por onde Harry sumira. Nenhum som vinha de lá. Como era possível?

Odiou quando a varinha falhou novamente. Esfregou o braço por cima da capa tentando não amassar o mapa. Estava frio. Muito frio.

Foi então que teve um pressentimento, algo mais instintivo que outra coisa. Ele viu, flutuando do lado direito do corredor, a sinistra criatura. Negra como a morte, assustadora. Um dementor.

A surpresa virou medo.

Draco apontou a varinha para aquilo, nunca imaginaria que havia Dementors em Azkaban. O único feitiço que poderia ajudá-lo era a conjuração de um Patrono. Ele não sabia conjurar um patrono.

Preparou-se para dar meia volta. Surpreendentemente pareceu congelado no lugar. Apavorado apenas observou a criatura chegar mais perto, até ficar cara a cara com ele. Tudo escureceu e Draco sentiu tão somente o frio intenso. Ao fundo ouviu sons, sons familiares. Choro, a voz de sua mãe, os gritos de seu pai. Ameaças. A risada de Bellatrix e algo pavoroso como a voz do Dark Lord murmurando Parsel. E um berro mortal.

Draco sentiu que estava apagando. Se deixando levar pelo escuro e frio beijo do Dementor sem que pudesse fazer nada pra se defender.

– Harry...

HPDM

O capitão do Basilisco Alado deu meia volta e precipitou-se para fora. Pareceu correr por um tempo imensurável até sair da cela de Sirius Black.

Assim que saiu suas pernas fraquejaram e ele caiu de joelhos no chão. Não soube dizer se por causa do frio intenso ou por causa da cena que seus olhos observaram. Talvez fosse por ambos.

Havia Dementors: cinco, seis, sete, oito... tantos que Harry desistiu de contar. Um deles, próximo demais de Draco, trouxe desespero ao moreno. Sabia o que era aquilo. Seu namorado estava recebendo o beijo... estava sendo dementado!

Apertou a varinha entre os dedos. Precisava de um patrono. Precisava... a varinha escapou-lhe indo ao solo. Acabara de ouvir a voz de sua mãe. Tinha certeza, apesar de ser apenas um bebê na época. Ela estava gritando, gritando por misericórdia. Então a voz de seu pai... gritando seu nome. Harry sentiu o frio. Muito frio. E em seguida a voz de Draco sussurrando, sussurrando um pedido...

– EXPECTUM PATRONO!

A luz foi tão intensa e forte que dizimou os Dementors, jogando-os longe. O frio desapareceu por completo. A sensação foi tão boa que Harry abriu os olhos a tempo de ver um grande lobo brilhante esmaecer até sumir por completo. O patrono de Sirius Black.

O prisioneiro girou a varinha que pegara do chão e devolveu a Harry Potter, se apoiando precariamente na parede. Exausto.

– Me lembrei dos velhos... tempos, quando estava... com... Moony, Wormtail e Prongs, o seu pai. – a voz rouca pelo desuso saiu mais firme do que esperado – Bons tempos.

– O... obrigado – Harry disse ainda se recuperando.

– Pegue seu amigo. Ele precisa... de cuidados. Chocolate... urgente. Dê o fora... daqui, Harry.

Imediatamente Potter correu até Draco, sem sentidos no chão. Pegou o Mapa do Maroto e a varinha dele, depois o ergueu nos braços.

– Black...

– Vá embora, Harry – ele sussurrou – Eu vou... ficar aqui e terminar de... cumprir minha sentença. Jamais me perdoarei...

O jovem moreno apertou sua preciosa carga nos braços. Tinha que obedecer e sair dali antes que mais guardas viessem. Tinha que desistir de sua vingança agora que descobrira uma mínima chance daquele homem ser inocente.

Inocente.

Em Azkaban.

Harry Potter tomou uma decisão. Impulsiva e inconseqüente, como todas as que tomava. Empunhou a varinha com certa dificuldade por levar Malfoy nos braços e lançou um feitiço dentro da cela de Sirius. “Harry Potter esteve aqui”, brilhou em vermelho destacado no negrume da prisão.

– Você vem com a gente, Black.
 

Continua