Por sorte Morgan levantou uma parede de pedras que os protegeu, os espinhos cravaram-se na rocha eles tinham aproximadamente uns trintas centímetros e eram afiados como agulhas e muito resistentes.

—Você está bem Bryan?

—Sim, mas um desses espinhos esta cravado no meu braço. — Falou ele intercalando com um gemido de dor.

—Acha que ainda consegue lutar?

—Creio que sim.

—Ei vocês dois, ainda estão ai? Espero que não tenha sido tão fácil, não gosto de conquistas sem desafios.

Morgan jogou uma pequena rajada de pedras, mas ela se defendeu com escudo em forma de casca de árvore que simplesmente brotou de sua pele.

—Então vocês estão vivos, que bom, então vamos brincar um pouco.

Nesse momento o chão abaixo de Morgan e Bryam começou a se mover e dele começou a sair grossas raízes, que rapidamente buscavam prende-los, Bryan cortou algumas com lâminas de luz que criou e então eles se viram obrigados a sair de seu esconderijo improvisado e tiveram que ir para o campo aberto.

—Morgan eu não estou me sentindo bem.

—O que Bryan?

—Estou meio nauseado. — Nesse momento cambaleou e caiu sentado no chão. —Acho que aquele espinho estava envenenado. —Falou caindo desacordado.

—Era só o que me faltava.

—Agora sou eu contra você garota das pedras.

Lançou em Morgan uma saraivada de espinho atrás da outra, mas por sorte Morgan desviou de todos, mas ela não encontrava brecha para atacar Melyade.

A mulher atacava Morgan sem parar, mas o seu real objetivo era afasta-la do corpo de Bryan que estava estirado no chão, enquanto lançava espinhos, fez raízes irem brotando lentamente ao entorno do corpo de Bryan sem que Morgan percebesse.

Morgan criou uma redoma em volta de si, precisa pensar em algo rápido, Bryan podia morrer se não fosse socorrido logo.

—Nunca te disseram que não é educado deixar os mais velhos falando sozinhos garota! —Gritou Melyade.

Morgan não tinha escolha não podia simplesmente ficar ali, precisava se livrar dela e ajudar seu amigo.

—Não se fazem mais guardiões como antigamente, espero que você não acredite poder me vencer com algumas pedrinhas, na minha época eu fazia isso sem precisar nem usar o anel de poder.

O fato de Melyade sugerir que havia sido uma guardiã soou estranho aos ouvido de Morgan, mas ela não tinha tempo para conversa, pois no mesmo instante viu o corpo de Bryan coberto por raízes.

—Terra é um elemento lindo, alguns dizem que a água é a vida ou a origem dela, mas eu não acredito nisso, não existe como algo que se curva diante de qualquer um ser a origem de algo tão belo como flores e tantos animais. Mas a terra sim é a origem de tudo, ela é forte, robusta e não se deixa subjugar por nada. Nós duas temos um grande dom Morgan, você poderia ser minha pupila eu posso te ensinar todos os segredos dos seus poderes, basta que você renegue essa criação decadente. Jure lealdade ao anjo de luz como eu um dia o fiz e terá acesso a todo conhecimento que desejar.

—Tentador, mas a terra também é nobre, não se deixa entorpecer pela riqueza e mesmo pisada ainda ajuda aqueles que a procuram, dá alimento e abrigo sem pedir nada em troca. Diferente de você eu jamais abandonaria uma amigo, ninguém que saiba o que é a solidão o faria.

—Então eu estava enganada, você não passa de uma fraca, sem um coração duro como uma rocha você não tem a menor chance contra mim.

—Talvez não mesmo, mas eu sempre lutarei para proteger os meus amigos.

Melyade fez crescer raízes espinhosas por todos os lados elas começaram a se enroscar nos braços e pernas de Morgan abrindo cortes por toda a sua pele, as raízes começaram a puxar seu corpo tentado esquarteja-lo enquanto ela se debatia, Morgan tentou usar seus poderes, mas as raízes não rompiam.

Por um momento a dor se tornou insuportável e ela fechou os seus olhos.

—Pensou. — No fim fui incapaz de proteger a mim e a meus amigos, talvez Ele estivesse errado, talvez a humanidade de fato não tenha salvação e nós tenhamos sido a escolha errada. — Nesse instante viu um grande clarão e ouviu uma voz em sua cabeça.

—Ele nunca se engana, embora o coração do homem fraqueje Ele permanece etéreo e inabalável. Lute Morgan sinta a vida que emana da terra, seja a terra, seus amigos precisam de você.

Morgan sentiu uma chama acender-se em seu coração e toda a dor sumir, um único pensamento permeava sua cabeça, tudo posso, pois a que Aquele que me escolheu nunca se engana.

Brotaram do chão lanças de pedra que romperam as raízes, Morgan estava muito machucada, mas o poder simplesmente emanava dela, um poder que Melyade a muito a havia se esquecido de como era sentir. O poder da criação.

Morgan correu até Bryan e arrebentou as amarras que o prendiam, sua pele estava esverdeada, com certeza não lhe restava muito tempo.

Melyade cuspiu para cima dela um ácido pútrido e esverdeado que por pouco não atingiu, ele criou uma cratera onde caiu. Depois uma saraivada de espinhos e mais outras, mas Morgan se defendia de tudo, existe um momento que determina o fim de uma batalha e é quando alguém simplesmente perde o medo do adversário e era assim que Morgan se encontrava.

Ela subiu aos céus flutuando em uma rocha com Bryan deitada sobre ela.

—Chegou o seu fim Melyade.

—Garota tola posso passar uma eternidade brincando de gato e rato com você, mas vejamos por quanto tempo você conseguira fugir de mim.

Mas já era tarde demais, enquanto se desviava dos ataques Morgan havia transformado todo o solo abaixo em areia movediça, inebriada pela sensação de vitória Melyade nem notou a armadilha, ela sentiu os chão se afundar de baixo de seus pés e braços de areia começaram a puxá-la para baixo até que só a cabeça dela ficou para fora e não havia mais o que fazer estava totalmente imobilizada.

—Nunca conseguirá escapar da minha armadilha, eu modifiquei esse solo para que nada brote nele e é impossível sair da areia movediça depois de afundar nela.

Melyade ficou enterrada apenas com a cabeça para fora a proferir ofensas, enlouquecida e tomada pela fúria da derrota.

Com a sensação de dever cumprindo Morgan voltou ao solo e deixou-se desfalecer ao lado de Bryan.

***

Quando Devyl, Denika e Ray acordaram, estavam em um lugar familiar, logo que o cheiro salgado do mar pode ser sentido tiveram certeza que estavam novamente a bordo. Saíram correndo para procurar Noah e saber o que havia acontecido e onde estavam Bryan e Morgan.

Quando chegaram à sala de Noah entraram de supetão e ele estava caminhando de um lado para o outro, parecendo impaciente.

—IMPRUDENTES! —Gritou. É isso que vocês são! Por pouco não botaram em risco toda a missão e a vida de Morgan e Bryan.

Nessa hora lágrimas se formaram nos olhos de Denika e Noah viu que talvez estivesse sendo duro demais, no fim eram apenas crianças.

—Sentem-se. —Falou um pouco mais calmo e dirigiu-se a sua mesa no canto esquerdo da sala.

—Como os dois estão? —Perguntou Ray afobado.

—Vivos. —Suspirou. — Bryan foi envenenado e Morgan ficou esgotada e muito ferida depois da luta contra Melyade, um verdadeiro milagre que ela ainda esteja viva, aquela bruxa velha sempre foi uma eximia lutadora.

—Quem era ela afinal, sabia muito sobre nós e sobre os guardiões?

—Bem Devyl, Melyade foi há muito tempo uma guardiã, antes mesmo de Eterniel, mas ela escolheu o caminho errado.

—Mas como? — Os guardiões não são escolhidos por serem nobres e puros.

—Isso é verdade, mas o coração do homem é fraco, ela deixou-se embriagar pela glória e pelo poder, Eterniel me disse que segundo as lendas ela foi uma das mais bravas combatentes, mas estava sempre procurando formas de ficar mais forte até que ela chegou a um ponto critico onde parou de se importar com a proteção dos fracos e passou a adorar o poder pelo poder.

—Melyade certo dia foi tentada por Iratus, ele a ofereceu o poder que ela buscava e ela tornou-se sua serva fiel, mas a justiça foi feita, os outros guardiões depois de uma grande batalha conseguiram vence-la e aprisionaram-na naquela ilha. Sem duvidas caímos em uma armadilha àquela ilha deveria ser invisível para qualquer um que se aproximasse. Todos vocês tiveram muita sorte, teríamos grandes problemas se ela conseguisse escapar.

—Que história triste, mas como podemos saber que não iremos fazer a mesma coisa que ela, um dia também podemos acabar sucumbindo aos nossos desejos mais pérfidos?

—Denika quando chegar a hora certa algo dentro de vocês lhe dirá qual o caminho a ser seguido, se vocês continuarem firmes e constantes alcançarão o grande o objetivo que não é apenas a remissão para a humanidade, mas também o perdão para suas vidas. Nunca esqueçam, no dia em que seus poderes não protegeram mais aqueles que não conseguem se defender é hora de voltar atrás.

—Vocês deveriam ir ver os seus amigos, a companhia de vocês pode fazer eles se sentirem melhores.

A conversa deixou os garotos um pouco abalados, saber que aquela que os havia atacado um dia lutara pela mesma causa que eles foi um choque, se até mesmo um guardião estava sujeito a se corromper, como poderia o mundo ter salvação? Mesmo com os conselhos de Noah ainda era difícil de manter as esperanças inabaláveis.

—Será que isso um dia também irá acontecer conosco. —Perguntou Ray enquanto os três se dirigiam para enfermaria improvisada no barco.

—Melhor não pensar nisso, vai dar tudo certo, nós não somos tão egoístas quanto ela, temos pessoas a quem gostamos e que dependem de nós. Pense nos seus pais, nos seus amigos, em todas as pessoas do povoado, não dá para simplesmente desistir de todas elas.

Assim que Denika terminou de falar todos ficaram em silêncio, não havia mais o que cogitar, nada poderia ser mais importante do que proteger as pessoas que se gosta. Se Melyade fez o que fez é porque não possuía um ideal que desejasse proteger.

Logo chegaram ao lugar em que Morgan e Bryan estavam, bateram na porta e Bryan mandou-os entrar.

O lugar era um tanto apertado, havia duas camas com lençóis brancos e um pequeno armário com alguns frascos dentro. O lugar cheirava um pouco a mofo, provavelmente por não ser muito usado e uma pequena janela de vidro circular deixava entrar uma luz fraca e fosca no local.

Morgan ainda estava desacordada os braços e as pernas estavam totalmente enfaixados e alguns cortes eram visíveis em sua face. Bryan encontrava-se sentado encostado na cabeceira da cama mais tinha olheiras profundas e estava bem pálido. Ele se ajeitou um pouco melhor para que os três pudessem se assentar do seu lado.

Os três não tinham o que falar, estavam se sentindo extremamente culpados talvez se tivessem ouvido os avisos de Bryan nada daquilo tivesse acontecido, se lutassem os cinco juntos teriam vencido com uma facilidade muito maior.

—Não quero que se sintam culpados. —Falou Brayn quebrando o silêncio do quarto. Se aconteceu é porque tinha que acontecer, talvez se eu não fosse tão autoritário vocês me escutassem mais. Prometo que vou tentar deixar vocês tomarem as suas próprias decisões

—Não é sua culpa Bryan, nós que fomos inconsequentes, acho que pedindo desculpas falo por nós três, se o poder da luz foi lhe dado é para que ilumine nosso destino, devemos ouvi-lo pois você foi escolhido para ser nosso guia.

As palavras de Devyl finalizaram a conversa, ele disse o que no fundo todos estavam pensando e queriam dizer a Bryan. Momentos de dificuldades também são momentos de grande aprendizado e os guardiões aprenderam depois desse dia que se não fossem um grupo coeso não tinham a menor chance.

Os garotos ainda ficaram mais um pouco para saber melhor o que tinha acontecido e Denika foi sentar-se ao lado de Morgan, depois se levantaram e saíram para deixar Bryan descansar, antes de sair Denika apenas pediu para que Bryan agradecesse a ela por tê-los salvado e pedisse desculpas pela teimosia deles.