Pedro.

Acordei estranhamente cedo e como não tinha mais nada pra fazer decidi ir correr, coloquei uma roupa de ginástica e tênis e desci. Corri pelo condomínio quase uma hora quando parei em uma banca de jornal pra comprar uma água e vi uma revista que vinha  como título “Mental Help, tudo sobre transtornos de personalidade”. Foliei até achar uma página inteira sobre Borderline. Comecei a ler:

“Borderline é um transtorno de personalidade que traz sérias conseqüências para a pessoa, seus familiares e seus amigos próximos. Não é muito freqüente. Nos USA se considera 2% da população, muito mais freqüente em mulheres do que em homens.

            Sintomas:

1)      Medo de abandono: uma necessidade constante, agonizante de nunca se sentirem sozinhas, rejeitadas e sem apoio.
Dificuldade de administrar emoções
Impulsividade.
Instabilidade de humor. As oscilações de humor do DAB ou TAB - Distúrbio ou Transtorno Afetivo Bipolar duram semanas ou meses, mas as Borderline têm oscilações de minutos, horas, dias. Comportamento autodestrutivo (se machucar, se cortar, se queimar). As portadoras de Borderline dizem que se machucam para satisfazer uma necessidade irresistível de sentir dor. Ou porque a dor no corpo "é melhor que a dor na alma".Alta sensibilidade a qualquer sensação de rejeição. Pequenas rejeições provocam grandes tempestades emocionais. Uma pequena viagem de negócios do namorado ou marido pode desencadear uma tempestade emocional completamente desproporcional (acusações de rejeição, de abandono, de não se preocupar com as necessidades dela, de egoísmo, etc.).

2)      Tratamentos:

Medicação:

O tratamento medicamentoso inclui Estabilizadores de Humor (mesmo que não se trate de DAB), pois eles ajudam a conter a impulsividade e as oscilações de humor.
Antidepressivos e Tranqüilizantes não tem a mesma eficácia que teriam em casos de depressões ou ansiedades "puras" mas certamente tem sua utilidade em Borderline. Embora a medicação seja muito importante, ela é ator coadjuvante. O ator principal no tratamento é a Psicoterapia.

Psicoterapia:

            As mais úteis são as Analíticas (Junguiana e Freudiana). Não é uma terapia fácil. O que acontece "na vida real" acontece dentro do consultório: instabilidade, alternância de amor e ódio, idealização e desapontamento com o terapeuta, sedução, impulsividade, etc....”

No final da página havia alguns depoimentos, alguns muito parecidos com a vida de Mariana, na página havia uma observação importante em um quadro chamativo que dizia “As chances de controle para a doença na adolescência são de aproximadamente 95% se não interrompido o tratamento”, então, ela teria chances de ser normal mais uma vez. Voltei pra casa no mesmo pique que sai e subi pro quarto, a cama estava completamente arrumada, e não havia nenhum sinal de Mariana por ali, caminhei pela casa praticamente inteira e nada, já estava me preocupando quando subi uma escadinha que dava pra um tipo de porão, de lá eu ouvi soluços cortados, um chorinho baixo, passei com dificuldade por uma portinha e encontrei Mariana chorando muito, com a cabeça apoiada no joelho, aquilo apertou meu coração.

            -Hey Mari, o que aconteceu? – Eu falei me aproximando dela

            -Eu achei que você tinha me abandonado- Ela disse e eu cheguei mais perto dela, encostando sua cabeça em meu peito, ela passou os braços por minha cintura, e foi ai que eu vi, no chão tinha uma pequena navalha suja de sangue e do lado tinha um paninho branco também sujo, a apertei mais sobre meu corpo beijando o topo de sua cabeça.

            -Ei, eu estou aqui agora não estou?- Eu disse e ela chorou um pouquinho mais alto, eu peguei seu pulso recém-cortado e beijei, ela me olhou com dúvida e eu me apressei a explicar- Minha mãe sempre disse que beijo sarava a dor, e o ferimento- Eu expliquei e dei mais um beijinho, ela sorriu e me abraçou mais uma vez soluçando e controlando mais o choro, eu me desvencilhei do abraço e a encarei, ela tinha a face pálida e anêmica, precisava comer

            -Você quer comer alguma coisa? Parece que você está realmente com fome...- Eu disse e passei o polegar pela face gélida e úmida dela, ela deu mais um soluço e levantou o olhar

            -Eu... Eu não posso comer Pedro, eu preciso emagrecer. - Ela disse e eu suspirei, bulimia, como eu não pensei nisso antes?