Pedro POV –

Nárnia é um lugar legal. Os narnianos também são legais. Tudo é muito bonito, as paisagens são bonitas. Pena que só existe neve. Eu estou caminhando perto do lugar aonde deveria estar o guarda roupa, mas eu só vejo árvores e um poste. E eu fico ali, rodando o poste e escuto uma voz. Na verdade, várias vozes.

- Rei Pedro? – parece uma multidão falando.

- S-sim? – eu tentei não tropeçar nas palavras, falhando em fazer isso.

De repente eu vejo uma espada. Só uma espada, com vozes saindo de dentro dela.

- Pode segurar a espada? – as vozes perguntam.

- S-sim. – eu só sei dizer ‘sim’? E eu só sei gaguejar?

Pego a espada do chão e as vozes falam novamente.

- Aslam o aguarda.

- Por quê? – que bom, eu sei pelo menos dizer mais alguma coisa.

- Você deve lutar contra a Feiticeira. Precisamos que você e seus irmãos lutem.

- Precisamos? Quem precisa? – eu estava confuso.

- Nós, narnianos. E nossa cavaleira também.

- Por que então a cavaleira de vocês não luta sozinha? E além do mais, por que os outros cavaleiros de Nárnia não a ajudam?

- Não é tão simples assim. Você não sabe direito sobre a profecia, não é? Só vocês podem derrotar a Feiticeira. O máximo que a Cavaleira Rebeca pode fazer é nos proteger da Feiticeira, nada mais.

- Eu quero lutar, o problema é minha irmã, Susana. E Lúcia é pequena, ela poderia se machucar...

- Aslam não permitiria que Rainha Lúcia fosse ferida. Agora, qual o problema com a Rainha Susana?

-Ela só não quer lutar, realmente não entendo o motivo. Ela quer segurança, só isso. Por que não entram no sonho dela e explicam que devemos lutar e que ficaremos seguros com Aslam por perto?

- Já falamos, não é tão simples. Quando chegar o momento sua irmã irá lutar, só precisamos que você tome a iniciativa.

Respirei fundo e me decidi.

- Vou tomar.

- Obrigado, meu Rei. – as vozes falaram por fim – Agora nós temos de ir.

Coloquei a espada no chão e a observei se fundir com a neve. Comecei a caminhar até sentir que eu estava caindo.

***

Acordei. Os narnianos precisavam dessa luta. Eu precisava tomar uma iniciativa. E eu iria fazer isso, quando o momento certo chegasse.

***

Rebeca POV –

Duas horas de sono já estava bom. Levantei-me e comecei a andar pela floresta. Precisava chegar as montanhas e encontrar o Sr. Noel, ele tinha um recado para me entregar.

Caminhei entre as árvores observando cada detalhe do lugar. Eu conhecia Nárnia tão bem e mesmo assim não me cansava de tentar conhecer cada vez mais. Afinal, é meu trabalho como cavaleira. Eu não sou somente uma garota no meio dos outros cavaleiros, eu sou a única garota. E além do mais, eu tenho muito mais obrigações do que eles. Eu tenho uma profecia sobre mim.

É meu dever conhecer cada pedaço de Nárnia, é meu dever ser uma boa rastreadora, é meu dever proteger cada narniano. Eu tenho muitos deveres.

Parei aonde eu estava para visualizar as montanhas de gelo. Papai Noel tinha se isolado lá depois que a Feiticeira proibiu o Natal. Mesmo assim, Noel era feliz. Ele adora minhas visitas.  

Eu já estava virando a curva secreta que levava à caverna onde o Sr. Noel morava quando avistei o Raposo correndo até mim. Ele tinha um ferimento parecido com uma mordida no lado do corpo.

- Olá, Raposo! – cumprimentei e apontei para o ferimento – Lobos?

- Sim, eu ajudei os Reis a fugirem deles. – ele disse ofegante por causa da corrida.

- Então é verdade? – perguntei animada.

Poucos narnianos sabiam da chegada dos Reis e Rainhas, mas como uma cavaleira, era minha obrigação eu estar informada disso. O que tinha me impedido de ouvir as notícias foi ordens de Aslam para eu ficar nas florestas, tentando ajudar os narnianos que auxiliaram Tumnus quando ele foi levado.

- Sim, é verdade, Rebeca. Agora, Aslam mandou-me lhe dizer que se esconda. A Feiticeira tem com ela um dos Reis. – olhei-o chocada.

- Como ela conseguiu capturá-lo? Ah, era meu dever estar lá para ajudar! – ele balançou a cabeça e sorriu.

- Não é culpa sua. Ele não foi capturado. – então seu sorriso morreu – Ele traiu seus irmãos.

- Como assim?! Ele os traiu?! Por quê?! – mais chocada do que eu já estava era impossível.

- Sabe como a Feiticeira pode conseguir manipular as pessoas... – Raposo explicou – Mas você deve obedecer Aslam. Não tente se meter com a Feiticeira Branca. Você derrotou ela uma vez sozinha, mas eu não sei se vai conseguir fazer isso de novo. Deixe esse trabalho para os Reis. Isto é, se eles quiserem lutar.

- Como assim se eles quiserem lutar? Qual o problema? – questionei com surpresa.

- Parece que o Grande Rei se preocupa com a segurança das irmãs e a Grande Rainha está relutante em relação à guerra. – Raposo falou e eu mordi meu lábio. Isso era uma coisa preocupante – Mas relaxe, eles vão lutar quando à hora chegar. Agora vá, Ree.

Lancei-lhe um sorriso por usar meu apelido favorito. Ele retribuiu e eu acenei antes de começar minha longa caminhada em direção ao topo da montanha.

***

Edmundo POV –

O que eu pensava de tudo isso? Simplesmente odiei. A Feiticeira me usou. E eu ainda a achei legal no começo. Eu só queria saber se os outros estão bem, eu os denunciei, os traí. Agora eu estava aqui, preso, torcendo para que meus irmãos conseguissem ajuda. Em pouco tempo o trenó da Feiticeira estaria preparado para partir.

- Mais rápido com isso! – ouvi a voz da Rainha Branca – Pretendo sair antes do amanhecer. Não quero dar nenhum tempo para aquela cavaleirazinha me impedir.

Espera! Quem era essa “cavaleirazinha”? Geralmente, mulheres não podem ser cavaleiras. A Feiticeira pareceu notar o meu olhar interrogativo e me explicou sem vontade.

- Não sabe da cavaleira inútil? Bom, vou falar sobre ela enquanto os preparativos são terminados.

A Feiticeira manteve um olhar de desgosto enquanto me falava sobre essa cavaleira. Rebeca Bell. “Uma garota que acha que sabe lutar”, foi o que a Feiticeira disse. Parecia ter inveja da menina. Explicou-me sobre uma profecia, falou sobre Aslam proteger essa Rebeca. Eu tinha aprendido bastante sobre Aslam e no começo até achei que ele não era nada. Mas, de novo, era a Feiticeira me manipulando.

O silêncio caiu sobre o aposento e eu me recostei na parede. Não demorou muito para que eu estivesse dormindo.