Pedro encarou a imagem no espelho. Quem diria que tudo aquilo aconteceria com ele? Tinha um milhão de pensamentos em sua cabeça. Seria um bom rei? Aslam estava certo? Rebeca estava certa? E por falar na garota, ela estaria lá na coroação? Bem, a resposta para essa última pergunta seria com certeza e Pedro sabia disso. A Cavaleira não perderia o acontecimento por nada.

O Grande Rei levantou os olhos para o espelho mais uma vez e deu de cara com o reflexo de Edmundo atrás do seu. Ele se virou para o irmão.

- Pronto? – Ed perguntou.

Pedro apenas acenou com a cabeça, engolindo em seco.

– Vamos, está na hora. – disse por fim e os dois saíram da pequena sala.

Suas irmãs já estavam no corredor, esperando. E na porta central encontrava-se Aslam, pronto para guiá-los.

Os quatro fizeram seu caminho em direção ao trono lado a lado com Aslam e os olhos rápidos de Pedro logo encontraram Rebeca ao lado dos Castores. Ele tomou algum tempo para analisar cada detalhe da garota. Ela usava um vestido azul petróleo com alguns detalhes dourados e uma capa azul acinzentado descansava em seus ombros. Rebeca notou o olhar de Pedro e lançou-lhe um sorriso encorajador, os cabelos delicadamente trançados caindo de leve nos olhos. O Grande Rei sentiu seu coração bater mais rápido e não ousou quebrar o contato visual com a Cavaleira enquanto parava em frente ao seu trono.

Aslam fez sinal para os Castores e eles deram um passo à frente, segurando almofadas que carregavam as quatro coroas.

– Em nome dos Brilhantes Mares Orientais, apresento-lhes Rainha Lúcia, a Destemida.

Tumnus, que estava logo atrás dos Castores, foi o denominado para a função de colocar as coroas nos Reis. Então ele cuidadosamente posicionou a peça prateada na cabeça de Lúcia. Os dois trocaram um olhar divertido.

– Em nome dos Grandes Bosques do Ocidente, Rei Edmundo, o Justo.

Edmundo sorriu humildemente em agradecimento enquanto recebia a coroa de prata.

– Em nome do Radiante Sol do Sul, Rainha Susana, a Gentil.

Susana sorria timidamente, tentando perceber que tudo aquilo era real mesmo. Tumnus ajeitou a peça dourada na cabeça da garota, acenando de leve.

- E em nome do Limpo Céu do Norte, apresento-lhes Rei Pedro, o Magnífico.

Um arrepio subiu pela espinha de Pedro quando a voz de Aslam ecoou pelo castelo. Tumnus deu um passo à frente com uma coroa de ouro em suas mãos. Ela era exatamente como o Grande Rei, magnífica. Com gratidão espalhada no rosto, Pedro recebeu a peça.

Os Castores e Tumnus se afastaram e os quatro irmãos se sentaram, sendo reverenciados pelos presentes.

- Quem é coroado Rei ou Rainha de Nárnia será sempre Rei ou Rainha. – Aslam encarou os novos Reis e depois se virou para a platéia – Assim como quem nasce destinado a ser algo, será.

O Grande Leão olhava para... Rebeca? Mas... Ela nasceu destinada para ser Cavaleira e ela era isso. Então sobre o quê Aslam estava falando?

- Rebeca, Cavaleira de Nárnia. Você foi destinada pela Magia Profunda a ser Princesa de Nárnia. O trono é seu por direito desde o seu nascimento.

A garota tinha uma expressão surpresa e então aos poucos os presentes notaram um quinto trono, menor do que os outros, um pouco mais ao canto do salão. Aslam sorriu e acenou para que Rebeca se aproximasse. Ela parou em frente ao assento e nesse momento o Raposo adentrou o salão carregando uma almofada. E em cima dela havia uma peça que brilhava. Uma coroa delicada de prata com pequeninos detalhes dourados.

- Em nome da Brilhante Lua do Leste, recebam Princesa Rebeca, a Valente.

Tumnus se aproximou e posicionou levemente a coroa no topo da cabeça da garota, ajeitando-a em seus cabelos. Rebeca abriu um sorriso doce, adorando a sensação do objeto. E mais uma vez, todos ali fizeram reverências.

“Ela merece tanto isso...”, Pedro pensou.

- E agora, que Vossa sabedoria nos abençoe até que as estrelas caiam dos céus. – Aslam sorriu.

Os narnianos recitaram juntos um ‘Vida Longa’ a cada um e aos poucos o público foi aplaudindo, preparando-se para a festa de coroação.

***

Rebeca POV –

Fui até uma das sacadas e observei o pôr do sol. Eu mal podia acreditar! Princesa de Nárnia. Eu? Uau. Quem diria, certo? Uma garota simples!

- Princesa de Nárnia. – escutei uma voz conhecida e me ajoelhei na frente de Aslam – Oh, você não me ouviu? Você é a princesa, levante-se!

Me levantei lentamente, ajeitando o vestido.

- Obrigada, Aslam.

- Querida, não me agradeça. Essa coroa lhe pertenceu desde o seu nascimento.

- Mesmo assim, Aslam, muito obrigada. – insisti e o Grande Leão riu.

- Tudo bem, querida. Agora... Acho que alguém quer falar com você.

Eu segui seu olhar e me deparei com um Pedro impaciente e nervoso parado ao lado da porta da sacada. Ele trocava o peso de um pé para o outro e apertava freneticamente as mãos. Aslam se retirou e o novo Rei caminhou ansiosamente na minha direção.

- Então... Princesa, não é? – ele abriu um sorriso.

- É... Eu não fazia ideia.

Um silêncio confortável se instalou entre nós dois enquanto eu observava o sol indo de encontro ao mar.

- E-Eu queria te agradecer. – Pedro disse e eu voltei meus olhos para ele – Você ficou. Você ficou quando eu mandei você ir embora com o Castor.

- Não foi nada, Edmundo também ficou.

- Mas é diferente, Edmundo nunca me obedeceu mesmo. – ele pareceu se lembrar de algo – Ah, e obrigado por protegê-lo. A Feiticeira teria o matado se você não aparecesse.

- Você sabe que não precisa agradecer. Eu só fiz meu dever.

- Há-há! Saiba que agora você não tem os mesmos deveres de antes! – ele riu e apontou para minha coroa.

- Ah, quer dizer que princesas não podem batalhar? – fingi lamentar.

- Posso abrir uma exceção para você.

- E agora é minha vez de agradecer, Grande Rei.

- Pedro. Eu virei Rei, mas continua sendo só Pedro. – ele falou suavemente.

- Tudo bem, Só Pedro. – ri sendo seguida por ele.

Caímos em um silêncio confortável novamente. Eu olhei para o garoto na minha frente e respirei fundo, buscando coragem.

- Então... Quando o Rei vai escolher uma Rainha? – brinquei.

- Nárnia já tem duas garotas no trono, precisa de mais uma? – Pedro fingiu reclamar.

- Ah, não sei...

- Quer saber? Uma terceira Rainha seria uma boa ideia.

- E quem seria a sortuda? – perguntei com expectativa.

***

Pedro POV –

Eu podia ver o brilho naqueles olhos castanhos claros. Tomei coragem mais uma vez e disse:

- Uma certa Princesa de Nárnia.

E com isso eu me inclinei e toquei seus lábios com os meus. Ela retribui delicadamente enquanto seus dedos se entrelaçavam no meu cabelo e eu a puxava pela cintura. O beijo era calmo, cheio de paixão e eu podia sentir um gosto de limão, que naquele momento parecia a coisa mais doce do mundo. Quando finalmente nos separamos, ela me encarou com um sorrisinho brincando em seus lábios.

- E se eu quiser ser só uma Princesa? – brincou ainda ofegante.

- Tudo bem, mas vai ser minha Princesa.

Segurei a mão dela firmemente e juntos voltamos à festa da coroação.