-Sam...o que houve?-perguntei conduzindo-a até o sofá.

Ela tremia de frio,suas roupas enxarcadas e um pouco respingadas de sangue.Seu rosto tinha terra misturada com a cor vermelho vivo do seu sangue,ela deve ter passado a mão para limpar,pois estava esparramado por todo o seu rosto inexpressivo,o que tornou impossível saber onde era a fonte do sangramento.

Ela se sentou,bem devagar no sofá,como se estivesse sentindo alguma dor.

-Eu...eles queriam...eu não...-ela tentava formar frases enquanto olhava para o nada.Sua voz era fraca.

-O.k. Sam.Espera aqui.Eu vou pegar uma água para você se acalmar um pouco.-falei observando-a,esperando a resposta.

Ela apenas assentiu lentamente.

Fui direto para a cozinha e enxi um copo com água,voltei correndo para a sala,e por causa da pressa acabei chutando a mesa de centro.

-Ai que...!-eu já ia xingar o ar,quando vi a loirinha parada feito uma estátua,fitando o chão aos seus pés.-Aqui,Sam.-entreguei o copo para ela.-Beba isso.Depois suba lá em cima,tome um banho.Eu acho uma roupa limpa e seca para você e preparo um lanche.-falei ajudando-a a levar o copo até a boca.Ela parecia tão fraca.

Ela deu um meio sorriso depois de beber um gole d'água.Pareceu despertar do transe.

-Você fica mais idiota que o normal quando está preocupado...-ela riu,fraca.

É,ela despertou do transe.

Suspirei um pouco aliviado,apesar de que meu coração continuava pulando insesantemente de preocupação com o que ela havia passado.O que me deixa mais nervoso é que eu avisei para ela que era perigoso,muito perigoso!E ainda não tive capacidade de impedir.É a culpa foi minha.Só minha!Eu conheço a Sam,sei como ela é:uma teimosa,orgulhosa,e que adora fazer qualquer coisa que para contrariar a qualquer um.

-Sam...você está melhor?-perguntei,minha voz estava demonstrando todo meu pânico.

Ela assentiu.

-Vou lá tomar um banho...-ela foi se levantando do sofá,devagar,com certa dificuldade.Eu a segurei pela cintura e a ergui.Ela gemeu,provavelmente estava sentindo dor ali.

-Desculpa,eu não...

-Tudo bem,nerd.Não foi sua culpa.Eu que estou toda quebrada.-ela começou a caminhar e eu fui seguindo,com os braço em sua cintura.

Confesso que,apesar da situação horrível,eu estava amando estar abraçado assim com ela.

-Sam,quem fez isso?Ou o quê?-perguntei,impaciente.

-Eu só quero tomar meu banho,depois eu te conto,o.k.?Mas uma coisa eu te digo:esse imbecíl vai me pagar!-havia ódio em sua voz.-Ninguém faz isso com a mamãe aqui e sai imune.Ou melhor: ninguém faz isso e saivivo!

-Sam,não pensa nisso agora...

-Ei,ei...nunca diga não para a vingança,o.k?-ela disse,seu olhar era desafiador.-E não precisa me agarrar assim,eu consigo andar!-ela disse,saindo dos meus braços.

Fiquei um pouco desapontado com isso,mas fazer o quê?É a Sam.Mas eu sabia da verdade.Aquela loirinha gostava pelo menos um pouco de mim,e isso já me deixava feliz.

Ela entrou no quarto e já foi direto para o banheiro.Quando chegou na porta ela parou e olhou para mim.

-Hum...eu preciso da roupa...

-Ah,claro...-fui até meu guarda-roupa e peguei uma camiseta e uma calça.Ai me lembrei que ela provavelmente ia precisar de uma calcinha.Fiquei sem saber o que fazer diante disso.Droga!Dou uma das minhas cuecas para ela ou não?Será que ela vai achar estranho isso?

-Freddie?-ela perguntou.

É,não tem jeito,vou ter que falar.

-Sam,você...bom,você vai precisar de uma...você sabe...calcinha?-meu rosto estava fervendo,e eu não conseguia encará-la,fiquei fitando a gaveta meio aberta.

-Eu odeio essa palavra!-ela gritou.-Mas...acho que temos um problema...de qualquer forma eu me viro.Só preciso de um ferro-de-passar...

-Ah,o.k.-fui até ela e entreguei a roupa.Eu estava totalmente vermelho.-Eu vou pegar,pode ir tomando banho,vou deixar aqui na porta.Eu vou estar lá embaixo preparando alguma coisa para você comer.

Ela assentiu.

-Algo com presunto?-ela perguntou.

-Sim.-eu acabei sorrindo com o brilho nos olhos dela.

-Então ótimo!Vai logo!-ela disse me empurrando.

-O.k.

Sai do quarto e Sam foi tomar seu banho.

Peguei a chave do armário que guarda as "coisas perigosas" e peguei o ferro.

Voltei para o quarto e ouvi o barulho do chuveiro.Fui até a porta e pude sentir o vapor da água saindo,provavelmente ela estava tomando um banho ultra quente.

-Sam,o ferro está aqui!-gritei.

-Tá bom!-ela falou,um pouco rouca.-Vai fazer meu lanche!

Eu ri.A Sam não muda nunca.

Desci até a cozinha e comecei a preparar um sanduíche,achei melhor fazer mais que um,Sam precisa se acalmar.

Eu juro que mato o desgraçado que fez isso com a Sam,seja lá quem seja ele.E vou me certificar de que ele sofra bastante.

Ninguém encosta um dedo na minha loira,muito menos para machucar ela.

Já estava tudo pronto,mas resolvi ficar na cozinha mais um tempo,fazia uns conco minutos que Sam desligara o chuveiro,melhor dar tempo de ela fazer tudo que tem que fazer.

Fiquei imaginando tudo que poderia ter acontecido a ela,mas eu não conseguia ver ninguém batendo em Sam,ela é tão forte!

Nisso se passaram 15 minutos,acho que já deu tempo de ela se arrumar.

Peguei a bandeja e subi.

Sam estava deitada,olhando para a TV desligada,pensativa,seus olhos estavam vermelhos,talvez ela tenha chorado...

-Ei...cheguei.-anunciei,tirando-a de seus devaneios.

-Finalmente!O que tem para mim?-ela perguntou,se sentando.

-Sanduíches de presunto e chocolate quente.-coloquei a bandeja na cama e me sentei de frente para a loira.

-Presunto extra?-ela perguntou enquanto examinava um dos sanduíches.

-Uhuun...-falei sorrindo.

-Mamãe gosta!-ela abocanhou o sanduíche com vontade.E fechou os olhos enquanto mastigava,depois emitiu um longo "hmmmmmmmmm".

-Cara,você faz sanduíches muito bem!Como pode?-ela falou de boca cheia.

Eu ri envergonhado.

-Ah...-falei um pouco convencido.

Ela voltou a comer.

-Sam...-comecei.-Você pode me dizer o que houve?

Ela olhou para mim,hesitante.

-Bom...eu fui para um "abrigo"-ela fez as aspas com os dedos.-onde tem um pessoal conhecido dos meus parentes...-ela deu de ombros.-Eu já tinha ido lá uma ou duas vezes com meus tios,eu só precisava de um teto por causa da chuva,e lá não passa de um balcão abandonado.Tem um pessoal que fica lá...um pessoal barra-pesada,que eu não conhecia...aí eles me disseram que eu tinha que pagar para ficar lá.Ai eu disse que não!Até parece que ia pagar para ficar debaixo de um teto que estava caindo aos pedaços!-seu tom de voz ja estava alterado,e ela estava brava,gesticulando feito louca.-Ai eles não aceitaram minha resposta e nem eu a deles.Ai veio uns cinco caras para cima de mim,tentaram roubar minha bolsa.-ela parou um pouco para respirar.-Ai começou a briga,e eu,como você pode ver - apontou para si mesma.-perdi.-ela rosnou a última palavra com um ódio tão grande que até me assustou.-Três eu dava conta,quatro eu até poderia ter chance,mas cinco...cinco é covardia extrema!Fala sério!Cinco marmanjos contra uma garota de quinze anos?-ela estava indignada.Colocou o sanduíche na bandeja e começou a olhar em volta.Fitou meu travesseiro por um segundo,depois o colocou no colo e ficou encarando-o por mais uns segundos,séria.Ela gritou e deu um soco no travesseiro,que ficou com o local onde ela atingiu marcado.Sam suspirou aliviada.-Mas eu juro para você,Freddie,eu juro que vou mandar cada um deles para um necrotério o mais rápido possível!-ela pegou o sanduíche e o mordeu violentamente.Pobre sanduíche!

Mas aquilo realmente era covardia,mandar cinco homens pegar uma menina?

Aquilo ferveu em meu sangue,tudo que eu queria agora era matar os desgraçados.Mas eu não podia expressar isso,eu precisava acalmar Sam.

-Sam,eu não sei o que dizer...

-Vai,pode dizer "eu te avisei!".-ela imitou meu tom de voz.

-Mas você sabe que isso é verdade.

-Que seja,eu estou viva.E aqueles ímbecis vão me pagar,é só isso que importa.-ela ia dar uma mordida no sanduíche,mas parou,e ficou encarando-o,uma lágrima desceu por seu rosto,pingando no pedaço de pão que ela segurava,logo outra lágrima escorreu,e outra,e outra...e Sam estava chorando.

Ela largou o sanduíche e abraçou o travesseiro,afundou seu rosto no mesmo e começou a gritar e apertá-lo com toda a força.Entendi que ela queria um abraço,um abraço amigo e tranquilizador.E o travesseiro não estava fazendo isso.

Tirei o travesseiro de seus braços e empurrei a bandeja que tinha um sanduíche e meio,e um chocolate que nem fora tocado.Puxei Sam para perto de mim e a abracei,com toda a força.Ela afundou a cabeça no meu ombro e me abraçou de volta,com força.Eu pude sentir a minha blusa ficando molhada com as lágrimas dela.Isso cortou meu coração.

-Eu estou aqui,Sam...está tudo bem agora...

-Freddie...eu..eu não sou forte.-ela disse em meio a soluços.-Eu sou fraca,sou...

-Xiii.Você é forte sim!É a pessoa mais forte que já conheci.Não minta desse jeito.-falei em seu ouvido.E isso era a mais pura verdade.

Sam era muito forte.Foi capaz de enfrentar aqueles homens,vir até aqui toda machucada,não ter fraquejado em nenhum momento...ela é um guerreira.

Apertei mais ainda o abraço.

Ela começou a gemer alto e chorar mais ainda.

-Sam,calma!Você está segura agora...

-Não é isso!É que você apertou minhas costas,e isso doeu pra caramba!-afrouxei meus braços,ela pareceu ficar aliviada.-Eles acabaram comigo Freddie...acabaram...-ela suspirou,e voltou a chorar.

-Sam,esses caras não valem a poluição que eles respiram.-falei com ódio.

-Obrigada...-ela sussurrou.

-Pelo que?-perguntei confuso.

-Por existir na minha vida.-isso me atingiu como um soco,mas no bom sentido.Eu não consegui acreditar no que ouvi e um sorriso se formou em meu rosto.Me senti um porco por ter feito isso diante da situação que me encontrava.-Você é tão bom,tão certinho,tão nada haver comigo...e eu te trato tão mal,te bato,te ofendo,acabo com sua auto-estima...e mesmo assim você não me abandona.Me ajuda,me acolhe,e até me da carinho.Por que?Por que você faz isso?

-Você é minha melhor amiga,Sam.Eu eu gosto muito de você,muito mesmo!Eu estou...meio que...-eu não consegui completar a frase.

-Encantado pela mamãe aqui?-ela riu e me encarou,um olhar sapeca.

-Acho que sim.-eu sorri,um pouco sem-graça.Meu rosto estava quente.

-Eu não te culpo.Só alguém que não seja humano é capaz de resistir ao meu charme.-ela falou convencida.

-Realmente!-eu não sabia se ela estava brincando,só sei que eu não estava.

-O.k...agora me deixe terminar o meu lanchinho.-ela saiu do meu abraço e atacou o sanduíche de novo.

-O.k...-eu sorri.-Então...-comecei.-acho que agora você aceita ficar aqui,não é?

-Eu preciso me recuperar para poder quebrar a coisa que aqueles idiotas chamam de rosto.Então eu acho que sim...

Sam sempre faz de tudo para dizer que só está aceitando ficar comigo porque tem algo maior que a força a isso.

Começamos a assistir TV,estava passando um filme idiota de comédia,mas era legal.

-O quê?!Outro comercial?!Isso é uma falta e respeito!-Sam reclamou.

-É mesmo...-assenti.

-E agora?-ela perguntou.

-E agora o que?

-O que a gente faz durante o comercial?

-Sei lá...nada?-falei.Eu realmente não tinha nada em mente.Nada que ela concordaria.

-Nada parece bom...-ela se ajeitou na cama.

Eu apenas fiquei olhando para ela.O filme voltou,mas mesmo assim não tirei os olhos de Sam.Ela era muito mais interessante que o filme.

Aos poucos vi seus olhos pesando,ela lutando para mantê-los abertos.Ela nem sequer notou que eu a observava...nem imagino o quão difícil foi seu dia,e o quão nervosa ela ainda estava.

Depois de uns cinco minutos ela perdeu a batalha contra o sono,e começou a dormir.

Peguei a coberta e coloquei sobre Sam,que se aconchegou dentro dela.

Coloquei um saco de dormir no chão ao lado da cama,e apaguei a luz.

E tive a coragem de fazer algo que poderia ter posto minha vida em risco.Mas não aguentei.

Encostei de leve meus labios nos de Sam,por no máximo três segundos.Ela apenas sorriu,dormindo;o que foi suficiente para parar meu coração.

Fui me deitar,e fiquei pensando em como essa diaba é especial,e como tenho sorte de conhecer ela.

Adormeci logo depois.