Mikaella escrita por no-chan


Capítulo 4
Tentando ter uma vida normal




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- Arrrr... To morta. Fiona,tira minhas botas e aproveita e me enterra.

Mikaella estava exausta. Jogou-se na cama de roupa e tudo ignorando os protestos de Fiona para que fosse tomar um banho. A dama de companhia tentava pelo menos tirar suas botas e trocar seu vestido para que dormisse, no mínimo, sem a sujeira da cidade.

- Miky, por favor, pelo menos se vire. Não consigo abrir os botões assim. – resmungava a jovem governanta com dificuldade para tirar o vestido de seda que Mikaella usara para ir à universidade.

- Arranca eles, Fiona! Rasga o vestido, seja o que for. Eu não tenho força pra me virar. Meus braços parecem gelatina, minhas mãos estão ardendo e EU PRECISO DE UMA MANICURE, URGENTE!!! – choramingava a italiana sem um pingo de vergonha de mostrar seu lado mimado.

Fiona suspirou irritada e foi até a mesinha de cabeceira de onde tirou uma larga tesoura e retornou a Mikaella para cortar o vestido justo da base até a gola.

- A senhorita sabe muito bem que isso tudo é culpa sua! De uma hora para outra decidiu fazer vinte mil coisas ao mesmo tempo! E afazeres, digo eu, incrivelmente esgotantes. – Fiona continuava com seu sermão sem se importar com a careta que a jovem Parllazo fazia. Não se importou de estar sendo ouvida ou não, só queria descarregar o stress de ter que acompanhar a jovem nos últimos três meses.

Três messes de pura correria! E tudo começou com um telefonema.

*****

- Ligue para Jean Carlo agora!

- Mama, aclame-se. Esse estágio não vai sair correndo pela janela. – resmungava Mikaella com a mãe ao telefone enquanto discutiam sobre a possibilidade de trabalhar com um dos estilistas mais famosos da Itália. Jean Carlo Armati.

- Você é que vai voarr pela janela se não me obedecerr, mocinha. – disse Adrianne Colett com um forte sotaque francês perdendo a paciência com a filha. Coisa que raramente acontecia. – No mundo da moda tudo é muito dinâmico, Mikaella! Pode serr hoje e não amanhã. Você tem o diferrencial agorra com Jean Carlo pela sorte de tê-lo encontrado naquele cruzeirro Azamarra, mas não significa que terrá parra sempre. Tem que aproveitarr esta chance. Clarro que posso colocarr você nesse mundo a qualquerr horra, minha filha, mas se for porr outro estilista, e um famoso como Armati, você vai terr muito mais crredibilidade.

Mikaella suspirou nervosa. Estava louca para conseguir esse estágio, mas como poderia conciliar com os treinos malucos de Yamato e Romanov? E ainda tinha a faculdade! Mas sua mãe estava certa. Estilismo ainda era seu sonho, assim como amava lutar e ela era orgulhosa demais, ou mimada demais, para desistir de um dos dois.

- Considere o estágio conseguido, mama.

- Esta é minha Hera! – disse sua mãe usando o apelido que dera à filha. Hera, a mais bela e poderosa das deusas gregas. A rainha do Olimpo. Apelido este que fora a origem para o nome do golpe mais poderoso da italiana. O Paron di Hera.

*****

Depois disso Mikaella teve de refazer todos os seus horários. Afinal, conseguir o estágio foi moleza, pois depois do que ela provou no Azamara, não teve nem que fazer o teste, sendo contratada na hora. Mesmo assim, como Jean Carlo a ocuparia por toda a tarde, a italiana colocou as aulas da universidade para noite, o que foi facilmente resolvido com uma certa quantia em dinheiro na mão do reitor, e passou seus treinos para manhã.

Parecia simples a princípio, mas quando percebeu que o tempo para os treinos era ralo, Mikaella começou a acordar cada vez mais cedo para suprir os exercícios que faltavam, o que atualmente significava acordar às cinco da manhã.

Mas para piorar, tinham seus trabalhos na faculdade e essa parte era a mais estressante para a pobre Fiona que corria de um lado para o outro em busca de algum tecido, ornamento, modelo ou simplesmente costurando parte do que faltava. Isso deixava as duas exaustas!

Os finais de semana eram ainda mais complicados. Como Romanov só podia vir treiná-la de quinze em quinze dias, Mikaella resolveu prolongar esse tempo indo ela mesma até ele. Na Rússia! Nem é preciso comentar a confusão que isso deu. No final, Romanov acabou por aceitar e ainda mandou um de seus subalternos vir ensiná-la o básico do apresamento durante a semana.

Seus dias estavam impossíveis!

- Isso está se tornando ridículo! A senhorita não tem mais tempo para nada e eu sou levada junto no pacote! Não sai para festas, não pode fazer compras com calma... Onde foi parar sua vida social? – continuou Fiona tentando vesti-la com sua camisola.

- Provavelmente no mesmo lugar onde foram parar minhas unhas. – murmurou a italiana quase caindo no sono – E de que vida social está falando? Os únicos amigos que tenho estão do outro lado do mundo.

- Na verdade, apenas algumas milhas, mas isso não vem ao caso. E eles não são os úni... – disse a governanta, mas parou ao ver a cara de sono de Mikaella – A senhorita está bem?

- Me arranja uma manicure e um massagista que eu fico bem em um segundo.

- É pra já!

******

- Fiooooona. – rosnou Mikaella entrando na próxima loja. – Se Romanov descobrir que estou matando o treino eu sou uma italiana morta!

- Você não está matando treino nenhum. Está apenas tirando um dia de folga. – respondeu a governanta sem se importar com o olhar mortal que a jovem lhe dera. – Já liguei para o senhor Armati e para universidade avisando que iria faltar. O tenente Zeklos foi dispensado por esta manhã e você não vai encontrar as fitas de treinamento do senhor Yamato nem que revire a mansão inteira. Então desista e aproveite o dia.

Mikaella suspirou pesadamente, mas acabou desistindo de questioná-la. Estava muito cansada e, querendo ou não, tinha que admitir que precisava de uma folga. Um dia de compras poderia recobrar suas energias mais rápido do que um SPA e já que não podia fazer nada, por que não aproveitar?

Lojas e lojas depois, ela já podia sentir seu corpo mais relaxado e tudo parecia melhor. As duas saíram do shopping de Milão carregadas de sacolas em direção à limusine que já aguardava. O motorista correu até elas pegando todas as compras de Mikaella e colocando-os no porta-malas. Enquanto esperava, um dejavú tomou seu corpo. A jovem olhou ao redor e percebeu que fora exatamente ali que aquele ladrão roubara sua bolsa alguns meses antes. Aquele ladrão a quem perseguiu com tanta teimosia e que acabara por levá-la direto para uma luta entre street fighters. Fazia tão pouco tempo! Tão pouco tempo que sua vida mudou drasticamente e por vontade dela!

- Arrependida? – perguntou Fiona como se lesse os pensamentos da jovem e Mikaella sorriu levemente enquanto olhava para unhas agora curtas, mas bem pintadas.

- Tive que sacrificar algumas coisas, mas não. Não me arrependo.

- Mikaella!!

Seu nome ecoou pela rua. A jovem virou-se de repente e encarou uma moça loira de lindos olhos azuis. E a garota não estava sozinha. Uma ruiva a acompanhava, assim como um belo rapaz de cabelos castanhos que lhe parecia familiar.

- Gesebel Biagio e Amanda Dusano. Ambas suas colegas de faculdade. O rapaz é Eliot Fiorello, a senhorita só o conheceu na festa de ano novo. – Fiona rapidamente sussurrou para a jovem, uma vez que ela nunca fazia questão de decorar os nomes de quem não lhe interessava, mas então ela se lembrou do rapaz.

- Mikaella querida! – disse Gesebel dando dois beijinhos no ar e sendo imitada fracamente pela jovem Parllazzo. – Não a vejo desde o começo das aulas! Desistiu da faculdade?

Ignorando o cinismo na voz da garota, Mikaella sorriu largamente e cumprimentou os demais, quase rindo com a cara que o rapaz fez ao encará-la.

- Claro que não desisti, apenas remodelei meus horários. Precisava de tempo para lidar com o estágio com Jean Carlo. – disse a jovem recebendo um olhar assustado das duas.

- Você é a nova assistente dele?! – perguntaram as duas abismadas e Gesebel continuou – Não acredito! Foi a sua mãe não foi? Tenho certeza que teve dedo da senhora Colett nisso.

Mikaella se segurou para não arrebentá-la. Estava pronta para dar uma resposta quando o rapaz, até então calado, interrompeu.

- Não creio que ela tenha precisado disso, até porque eu soube que o senhor Biagio tinha oferecido uma fortuna para que Armati escolhesse você e ele não aceitou, não é? Esse comentário está mais para inveja de sua parte.

O rapaz falou rapidamente e o rosto da garota ficou mais vermelho que o cabelo da ruiva que não conseguiu se segurar e soltou uma gargalhada divertida. Mikaella torceu os lábios segurando o riso e olhou o rapaz acabara de subira no seu conceito.

- Cale a boca, Eliot! Nada garante que o pai dela também não tenha feito isso!

- É verdade... Então de qualquer jeito você não teria chance. Os Parllazzo devem ter dez vezes mais dinheiro que os Biagio, não haveria como você ganhar nem assim.

- Ora seu!

- Chegaaaa... Gesebel, amiga, vamos indo. Está na hora de nossa massagem lembra? – disse a ruiva tentando acalmar a situação.

- Você está certa, tenha um bom dia Mikaella. – disse Gesebel retomando a compostura, mas não perdendo a chance de insultá-la – Espero que não faça nenhuma besteira no estágio com Armati ou pode arruinar sua carreira que ainda nem começou.

- Não se preocupe. Não farei nenhuma roupa de Barbie como as que você resolveu apresentar no desfile de Inverno. Aquilo me deixou bem claro o que não devo fazer para ter uma carreira. – sorriu a Parllazzo com puro sarcasmo e a loira saiu bufando sendo arrastada por Amanda.  

- Sério, eu espero que essas duas não consigam comprar uma passarela ou vamos todos acabar tendo que vestir babados rosa. – murmurou o rapaz e Mikaella não se conteve mais soltando uma gostosa gargalhada – Sabia que você me fez perder minha carona?

Mikaella parou de rir e olhou o rapaz com um sorriso cínico virando-se para a limusine onde Fiona já abria a porta.

- Não fiz nada.

- Por que fugiu de mim na festa? – disse ele puxando seu pulso e Mikaella percebeu o quão fraco e mal colocado era aquele aperto. Poderia soltar-se facilmente e prendê-lo antes que dissesse um “ai”. – Por acaso mentiu pra mim? Aquele garoto grandalhão não era mesmo seu namorado, era?

- Ed? – perguntou a italiana fingindo hesitar, mas mantendo o sorriso maroto – Talvez... Mas e se for? O que vai fazer?

- Vou rezar para que ele não me mate por isso.

Mikaella não teve tempo nem de piscar. O rapaz baixou o rosto colando seus lábios tão rapidamente que ela só pode segurar seus ombros com força. Ela podia chutá-lo longe, podia deixá-lo estério, podia prendê-lo no chão e fazê-lo desejar não ter nascido, mas ela apenas deixou-o beijá-la e correspondeu levemente aproveitando o pouco de normalidade que era esse momento.

Compras, pequenas intrigas e romance. Algo tão comum em sua antiga vida, que ela nem havia se dado conta que sentia falta.


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Notas finais do capítulo

Eu explico melhor a história desse rapaz quando escrever o capítulo do ano novo.^^ (tenho certeza que vão gostar)



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