- Sério, que tipo de treinamento maluco foi esse que o Yamato passou pra mim?! Vou acabar desfalecendo se continuar a levantar tanto peso e ainda vir treinar com você!

Mikaella reclamava abertamente enquanto chegava ao ginásio onde o comandante russo a esperava para sua rotina de treinos. Não estava irritada a toa. Havia pedido a Yamato para ajudá-la num treino exclusivamente físico e quase se arrependeu quando recebeu a fita de treinamento. Se não o conhecesse bem, pensaria que o japonês tinha perdido um parafuso... Ok. Ela não o conhecia bem.

- Ataque-me – ordenou Romanov de repente.

Mesmo de surpresa, a italiana não pensou duas vezes. Esse era seu momento favorito em todos os treinos. A chance de voar em cima daquele russo com todas as forças e chutá-lo até não poder mais.

A jovem avançou rapidamente sem medo. Romanov sempre fora mais lento que ela. Ele costumava se defender de seus golpes antes de tudo, então ela caprichou na joelhada. E como ela esperava, o russo defendeu o golpe com maestria e quase não sentiu o efeito. Aquele tanque de guerra quase não se moveu! Ela rapidamente se preparou para um novo ataque, antes que ele resolvesse meter-lhe um chute que, com certeza, iria doer pra...

- Ahhhhhhh!! Me soltaaaa!

Mikaella sentiu o aperto pouco antes de tocar o solo. Romanov não esperou que ela se movesse para um novo ataque. Aproveitou a confiança da italiana de que seria mais rápida e segurou seu pulso torcendo-o para trás fazendo-a ficar de costas e segurando seu pescoço com o braço. Ela estava completamente presa. Tentou mover-se e chutar o ar, mas o aperto do russo era impossível de ser quebrado.

- Qual é Romanov?! Isso é uma luta, me solte!

- Estamos lutando, recruta. E se você não conseguir se soltar significa que perdeu. – o russo falava calmamente. Não parecia nem um pouco cansado por segurá-la.

- Não seja ridículo! Não pode me segurar para sempre e arrrg...

Romanov silenciosamente apertou o braço no pescoço da jovem deixando-a sem fôlego e sentindo uma dor violenta. Mikaella se debateu novamente tentado se soltar. Ela podia sentir que, se não se libertasse rápido, logo iria desmaiar pela falta de ar.

- Vega é rápido e se movimenta muito. Essa é sua principal vantagem. – disse o russo com a voz baixa próximo ao ouvido da jovem, mas sem afrouxar o braço – Se você for capaz de mantê-lo seguro, estará diminuindo esta vantagem nem que por um pouco.

Dito isso, Romanov soltou a jovem que caiu no chão tossindo violentamente buscando ar e segurando a garganta na tentativa de aliviar a dor.

- Isso... foi... desnecessário. – disse ela tossindo e olhou-o inquisitória – E esse seu plano só seria brilhante SE eu fosse capaz de enfrentá-lo!

- E desde quando você se importa com a capacidade de vencer ou não, recruta? Você vem tentando me vencer a dez anos e isso é uma causa perdida. – disse o russo sem a menor expressão e Mikaella o encarou com ódio mordendo a língua para não xingá-lo – E eu não disse para você enfrentá-lo sozinha. Não seria tão idiota, seria?

A italiana ignorou o sarcasmo do comandante e se levantou com certa tontura causada pela falta de ar.

- Se está se referindo a lutar junto com os Punhos, essa parte de agarrar eu deixo para o Ed. Ele é expert em pegar e jogar. Prefiro continuar focando nos meus chutes e fazê-los ficar mais fortes. – disse ela tentando ainda aliviar a ardência na garganta e murmurou para si – Já vi ele dando esse golpe, só não pensei que doesse tanto. Tenho que me lembrar de ficar longe das mãos dele se lutarmos algum dia.

- Ed... Ah. Edward Armstrong, dezenove anos, americano, judoka, aluno de Arnold Kagan, street fighter a um ano, vencedor do torneio de Las Vegas. Impulsivo, inconseqüente, atrevido e possivelmente suicida. Sim, apresar é a especialidade do garoto. – Romanov falava como se estivesse lendo uma ficha e Mikaella olhou-o assustada. Mas claro! Ele obviamente deveria ter investigado o time todo antes de mandá-la até eles – Qualquer um esperaria que o “rinoceronte” tentasse agarra-lo, mas você? Uma dondoca chutadora ágil e afoita, ninguém esperaria e esse será seu diferencial.

Mikaella hesitou um pouco na dúvida se aquilo era um insulto ou elogio e, sem chegar numa conclusão, balançou a cabeça e resolveu ignorar, até que percebeu do que o russo havia chamado Ed.

- Até você está chamando-o de rinoceronte? – perguntou ela abismada e Romanov apenas a observou calado. Ele esperava uma resposta. – Ah, não vem com essa, Alexander. O único trato que fizemos quando você começou a me treinar foi que eu não usaria minhas mãos para lutar. Não acredito nem que estou usando-as para bloquear!

- Se seu medo de quebrar uma unha ou ficar com calos nas mãos é maior do que sua preocupação com a segurança de seus...

- Ok, Ok, ok! Já entendi! – interrompeu Mikaella antes que se sentisse mal pelas palavras do russo e suspirou pesadamente – É uma boa estratégia. Quando começamos?

- Assim que eu achar que você já pagou por seu atrevimento.

Mikaella olhou-o apavorada. Toda vez que ele dizia isso significava que o treino seria um inferno! E não foi por menos. Romanov assoviou alto e o latido dos dobermans foi ouvido à distância, mas se aproximando da entrada do ginásio. A jovem receosa deu vários passos para trás em direção a porta dos fundos.

- Eu pensei que você tinha se livrado desses cachorros!!! – gritou ela quando viu o primeiro deles invadir a porta da frente.

- Por que eu faria isso? Eles são ótimos para fazê-la correr. Cхватить его!

- Ah não!

Mikaella não esperou mais nem um segundo. Romanov tinha dado uma ordem a eles e ela não ia esperar que cumprissem. Rompeu em disparada para fora do ginásio correndo na maior velocidade que podia e já sentindo os cães atrás de si.

- Romanov, figlio di una cagna, Voi mi paghi!!!