Os olhos de todos que estavam ali se viraram para acompanhar a passagem da deusa, mas esta fingiu não perceber. Ela sabia o que todos deveriam estar se perguntando, “O que houve com ela?!”, “O que ela está vestindo?”, Atena estava escutando aquelas palavras desde que saira do palácio de Poseidon, no dia anterior. É claro, ela havia procurado, e muito, algo decente no novo guarda-roupa que Poseidon havia “arrumado” pra ela. Mas tudo que conseguira encontrar eram blusinhas justas e shorts curtos.

                Nesse momento Atena estava usando uma blusa de alcinhas azul clara com um short branco e sandálias. Sim, porque todos os tênis e rasteirinhas confortáveis também tinham desaparecido. A deusa havia odiado seu novo guarda-roupa, mas parecia que nem todo mundo tinha a mesma opinião.

                -Irmãzinha querida, o que houve com você?

                -Não é da sua conta, Ares.

                O deus da guerra estava parado a sua frente, com a espada pendurada na cintura e olhando descaradamente pras pernas de Atena.

                -Tire os olhos de mim, Ares!

                -Com essa roupa fica complicado, né? –Disse ele, fazendo Atena bufar. –Mas falando sério, qual é o motivo da mudança?

                -Nenhum motivo especial.

                -Hum, acho bom mesmo. Porque andam dizendo por ai que essa mudança repentina tem algo a ver com a vinda de Poseidon pra cá.

                -O que? Não! Não tem nada a ver.

                Ela devia ser realmente uma péssima mentirosa, porque Ares ficou mais desconfiado do que já estava.

                -É mesmo? Nadinha?

                -Nadinha. Na verdade, isso aqui é obra de Afrodite. É. E por falar nisso, por que você não está com ela, hein?  Vai lá, vai procurá-la. Vai!

                -Até que não é uma má ideia. - Ele sorriu de modo sacana, e Atena rolou os olhos.

                Ele saiu e Atena suspirou aliviada. Tinha conseguido se livrar de Ares, mas logo outra pessoa iria perguntar o motivo da mudança. O que ela iria dizer? Ai Poseidon, eu ainda descubro um jeito de te matar, pensou a deusa irritada.

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                Dez e meia! Ele está atrasado! De novo! Meia hora atrasado! Atena estava em frente ao palácio do deus, batendo o pé impaciente. Chegara ali exatamente ás dez horas. Estava esperando há trinta minutos e os deus simplesmente não aparecia. Ela já havia pensado em ir embora, mas sua consciência não deixava. Ela também já havia tentado bater na porta do palácio, mas ninguém atendia a porta. Irritada com tudo aquilo, Atena tomou uma decisão. Se dirigiu corajosamente a porta e tentou abrir a maçaneta, mesmo que estivesse secretamente torcendo para que estivesse trancada. Não estava.

A deusa entrou timidamente no palácio, rezando, sem saber direito pra quem, que não tivesse ninguém ali. Felizmente, a sala estava vazia. E aparentemente, os outros cômodos também. Não havia barulho e as janelas estavam fechadas, dando ao lindo palácio, um ar meio assustador.

Atena se dirigiu a escada, ainda um tanto incerta do que deveria fazer a seguir. E lá estava ela, no mesmo corredor do dia anterior. Ela podia facilmente identificar a porta do quarto onde estava o armário com as roupas que Poseidon obrigá-la a vestir. Mas não tinha porque a deusa entrar ali, era o quarto de hóspedes, Poseidon não estaria ali. Ela se concentrou nas outras portas. Havia uma grande porta, no fundo do corredor, onde Atena achava que seria o quarto de Poseidon. Mas a deusa não queria entrar ali, era invasivo demais.

Mas por outro lado, ela não poderia ficar ali o dia todo. E afinal, ela já estava lá, certo? Agora ela tinha que fazer alguma coisa. E se Poseidon estiver realmente ali, e acabar pegando ela, no meio de seu palácio, em frente à porta de seu quarto, Atena jamais conseguiria explicar o porquê de estar lá. Isso, é claro, supondo que ela não morreria de tanta vergonha.

Movida por estes pensamentos, Atena caminhou até a porta e bateu com o punho na madeira, fazendo o barulho ecoar pelo corredor. Nenhuma resposta. Ela empurrou a porta levemente. E tomando coragem, entrou no quarto.

Poseidon dormia tranquilo, jogado na cama, com o lençol caindo no chão. Vestindo apenas uma calça de pijama. Atena desviou rapidamente os olhos do tronco nu do deus e andou até a cama, ainda sem olhá-lo diretamente.

-Poseidon!-Ela estava decididamente irritada agora. Havia esperado ele durante meia hora e ele estava ali, dormindo.

-Hum? Que foi? Onde é o incêndio? –Murmurou o deus, ainda um tanto desorientado por ter acordado tão de repente.

-Larga de ser bobo, Poseidon! Não tem incêndio nenhum. Você estava dormindo?!

-Não, estava treinando pra morrer.

-Engraçado, eu achava que deuses não morriam.

-Engraçado, eu achava que a deusa da sabedoria deveria ser inteligente. É claro que eu estava dormindo, o que mais eu estaria fazendo?

-Ah, eu não sei... Fazendo uma maldita transformação em mim, talvez?

-Ah, é verdade. A transformação. Eu tinha me esquecido.

-Percebi.

-Hum, e você estava tão ansiosa que não quis esperar, né? Eu sabia que você estava gostando.

Poseidon tinha se levantado e agora vestia uma camisa.

-O que?! Eu não gosto disso! Nem um pouco! Só que, diferente de você, eu iria me sentir culpada em faltar a um compromisso e deixar alguém esperando.

-Ok, ok. Eu entendi a indireta. Desculpas e tal. Bom, podemos começar agora.

-O que? Mas...

-Mas o que, Atena?

-Você está de pijama!

-Eu sei. –Disse ele, olhando pra ela e fazendo, como fazia na maioria das vezes que estavam juntos, Atena se sentir uma completa idiota.

-Arg, você me entendeu! Eu quis dizer, quis dizer... Você não vai nem ao menos trocar a sua roupa?

-Bom, eu posso ficar de pijama, ou trocar de roupa aqui, na sua frente. E ai? O que você prefere?

-O que? Seu... seu...

-Você sempre gagueja assim ou é só porque a minha presença te deixa confusa?

Atena corou fortemente e encarou Poseidon, incapaz de dizer qualquer coisa. E isso nem foi preciso, porque Poseidon continuou a falar.

-Sabe, eu sempre causo certos efeitos nas mulheres, mas admito que gagueira não está entre os mais comuns.

Ele ria abertamente da incredulidade de Atena ao ouvir suas palavras. Essa, por sua vez, continuava parada, sem reação.

-Vamos, Atena. Mexe-se. Vamos descer, eu tenho uma aula muito interresante planejada pra hoje...