Atena não podia acreditar que aquilo estava acontecendo. Ela olhava assustada pro armário e depois pra Poseidon, que apenas sorria cinicamente pra ela. Ele não pode estar falando sério! Eu sou uma deusa casta e não posso usar essas roupas. E ele sabe disso!

                -Poseidon eu não vou...                               

                -Nem começa, Atena! Nem começa porque eu não quero ouvir! Você concordou com a aposta, agora agüenta!

                -Mas eu sou uma deusa casta!
                -E por acaso vestir essas roupas vai mudar isso? Bom, se você quiser, pode até ser... -disse ele com um sorrisinho sacana.

                -O que?! Seu tarado, pervertido, mente poluída e desrespeitoso. –Atena praticamente gritava.

                -Querida, me elogiar não vai adiantar.

                -Você é um idiota mesmo!                 

                -Também te amo. Agora vamos decidir que roupa você vai usar.

                Poseidon se dirigiu ao armário enquanto Atena se sentava na cama, tentando se controlar. Como alguém consegue ser tão irritante? O que ele pensa que eu sou para ficar usando esse tipo de roupa? Uma... Uma... Ah, deixa pra lá! Atena olhou ao redor do quarto, procurando desesperadamente algo para se distrair. O quarto era muito bonito, mas aparentemente não era usado, já que as estantes e mesinhas estavam vazias e os móveis do quarto eram bem básicos. E infelizmente, isso não dava a Atena muitas opções para ela observar. Não dava nenhuma opção, na verdade. Então, ela se viu obrigada a olhar para a única coisa minimamente interessante ali (mesmo que Atena não quisesse admitir isso): Poseidon.

                Por mais que ela tentasse negar, era impossível não ver o quando ele era lindo. O cabelo preto, sempre bagunçado, caindo sobre os olhos incrivelmente verdes, lhe dava um ar absurdamente sexy. Um ar o que?! O que diabos você está pensando, Atena?, ela perguntou pra si mesma.

Ah, você sabe o que está pensando. Vai negar que ele é super lindo? , disse uma voz na mente da deusa.

O que?! Não, bom... Ei, quem é você?, ela perguntou pra voz.

Eu sou uma parte de você, a sua parte mais... ham...      

Louca? Ou afroditana? Bom, louca e afroditana são praticamente o mesmo, né?

Bom, é, pode ser. Mas isso não vem ao caso. O caso é que Poseidon é lindo, não é? Admita logo, não pode mentir pra mim.

Ham, é. Ai chega voz afroditana. Não quero mais falar com você. Nunca mais. Vai embora!

Atena achou melhor fazer algo, antes que enlouquecesse, então perguntou a Poseidon, que continuava remexendo no armário.

-Onde você conseguiu essas roupas? Elas são de Anfitrite? –Poseidon se ergueu e virou pra deusa rapidamente, como se tivesse tomado um susto.

-Anfitrite?!-Exclamou ele, parecendo não saber se ria ou ficava sério.

-É, Anfitrite, sua esposa. –Atena não entendia porque o deus estava a olhando daquele jeito.

-Atena, eu me separei de Anfitrite antes da guerra! -Poseidon caiu na gargalhada ao ver a cara de surpresa que Atena fez.-  Aonde você estava nessa época? Numa caverna?

-Ah, me desculpe se eu não pude ficar completamente a par da sua vida amorosa, por estar muito ocupada, sei lá, ajudando a planejar uma guerra!- rebateu Atena irritada. Era incrível como Poseidon tinha o dom de fazer a deusa da sabedoria se sentir absolutamente idiota.

-Uau, desculpe, também não precisa ficar emburrada. E de qualquer maneira, o importante é, não, essas roupas não são de Anfitrite. Quando nos separamos, ela levou quase tudo que lhe pertencia, e o que sobrou, bom, eu queimei.

-Você o que? Por quê?                                                                                  

-Bom, digamos apenas que não foi umas das separações mais amigáveis do mundo. Mas agora pare de me distrair, eu preciso escolher uma roupa... -Poseidon voltou a olhar dentro do armário e Atena ficou pensando o que teria acontecido para a separação dele e de Anfitrite não ser “uma das mais amigáveis do mundo”, até que o ouvir exclamar. – Há! Achei! Esse vai servir!

Atena esperou ele se virar e mostrar o vestido, mas ele simplesmente saiu do quarto e foi em direção a outra porta, que Atena imaginou ser o banheiro. Só o que Atena conseguiu vislumbrar foi um tecido vermelho em suas mãos.

Poseidon deixou o vestido na bancada do banheiro e voltou ao corredor. Puxou Atena pelo braço, levando pro banheiro, enquanto dizia:

-Muito bem, sem chiliques, por favor. O vestido nem é tão ruim assim, acredite em mim, eu poderia ter escolhido um bem pior.

E dizendo isso, ele empurrou Atena pro banheiro e fechou a porta. Ali dentro, Atena se dirigiu ao vestido, com medo. E assim que o esticou em frente aos olhos, ela entendeu porque Poseidon não deixou que ela visse antes o que ele tinha escolhido. Porque ele sabia que se ela visse, ela se recusaria a ir até ali vestir aquilo. Mas agora, Atena não tinha outra opção, principalmente porque Poseidon estava do outro lado da porta, e sem duvida, não a deixaria sair daquele maldito banheiro sem que estivesse vestida com... Aquela coisa.

++++++++++++++++++++++++++++

Poseidon estava irritado. Havia se passado mais de dez minutos desde que Atena tinha entrado no banheiro. Ele sabia que ela não ia gostar de vestir aquela roupa, mas isso não era motivo pra ficar trancada no banheiro por um século.

-Atena! Você está ai? Atena, você morreu ai dentro?-Gritou Poseidon.

-Hum, Poseidon, se essas roupas não são de Anfitrite, aonde você as arranjou?

-Com Afrodite. Eu disse que você tinha perdido uma aposta pra mim, e ela riu e me emprestou as roupas. Por quê?

-Não, nada. É que eu realmente estava suspeitando dela...

Atena saiu do banheiro e tudo que Poseidon pode fazer se segurar pra não babar. É claro, ele sabia que Atena era bonita, mas não sabia que era tão... Maravilhosa. O vestido era um tomara que caia vermelho justo e curto, que realçava o tom de pele da deusa e suas curvas perfeitas. Deixava a mostra boa parte de suas pernas, onde, por sinal, o olhar de Poseidon estava pregado. O cabelo loiro caia sobre os ombros nus, dando a deusa um ar sexy e ao mesmo tempo inocente.

-Poseidon? –chamou Atena num tom baixinho, já incomodada com o olhar do deus em suas pernas.

Poseidon pareceu ser tirado de um transe e olhou rapidamente pro rosto de Atena, que já estava vermelho.

-Bom, então, vamos lá! Primeira lição. Esse vestido é um exemplo perfeito do tipo de roupa que você deve usar. Justa e curta.

Atena ficou quieta. Achou melhor não responder, pra não dizer o que não devia.

-Mas... ta faltando alguma coisa... Ah sim! O sapato! Acho que Afrodite mandou uns junto com as roupas. –Continuou Poseidon, voltando ao quarto e novamente abrindo o armário. –Sim, está aqui. Esse deve servir, toma.

                Ele jogou na direção de Atena um par de sapatos preto com saltos altíssimos.

                -Como você acha que eu vou conseguir andar com um troço desses?!-berrou Atena.

                -Não sei e não quero saber. Dá um jeito!-rebateu Poseidon rudemente.

                -Afinal de contas, o que esse sapato tem de tão especial?-A deusa simplesmente não conseguia ver nada de mais no sapato. Era um scarpin de bico arredondado, preto e com saltos agulha muito atos. Embora não fosse o tipo de sapato que Atena usava, já que ela preferia as sapatilhas e sandálias rasteiras, não tinha nada de especial. Não na visão da deusa.

                -O que tem de especial?! É muito simples, é preto e de salto, em outras palavras, é sexy. –Disse Poseidon, como se aquilo fosse a coisa mais obvia do mundo.

                -Sexy?! É só um sapato!                                                                                               

                -Um sapato sexy, muito sexy. E você não tem direito de discutir! Só use!

                Atena rolou os olhos, mas substituiu as sapatilhas beges pelo scarpin preto. E se olhou no espelho mais próximo. Por Zeus! Eu estou parecendo uma... Uma... Ai, melhor nem pensar!

                -Ok, já vesti esse maldito vestido, já coloquei esse sapato horrendo, e agora?

                -Agora nada. Agora você já viu que roupas você deve usar.

                -Então eu já posso tirar essas coisas? –Perguntou a deusa sorrindo esperançosa.

                -Bom, poder você pode. Mas não vai adiantar muito...

                -Como assim?

                -Bom, eu tenho uma semana pra te transformar. Mas não vai adiantar nada se eu te ensinar como agir se você não puser nada em prática...

                -Como assim?-repetiu Atena, pressentindo alguma notícia ruim.

                -Bom, com base nesse pensamento, eu tomei a liberdade de substituir as suas roupas chatas e sem graça por algumas mais hum, apropriadas pra semana.

                -O QUE?- gritou a deusa, mas era tarde demais, Poseidon já se dirigia a porta, rindo abertamente do desespero de Atena.

                -Nos vemos amanhã, aqui na frente dos palácios dos deuses, às dez horas da manhã. –Gritou ele, já saindo do palácio.

                E Atena ficou ali, absolutamente estática, sem acreditar que aquilo realmente estava acontecendo por ela. Por que, deuses? Por que comigo?