Eram dez e quinze da manhã. Atena estava no lugar marcado, ela tinha chegado lá cinco minutos antes do horário marcado, de forma que já estava o esperando há vinte minutos. Ela tentava sorrir e parecer simpática, mas não parecia estar fazendo isso muito bem, julgando o modo como todas as ninfas pareciam querer passar o mais longe possível dela. Ela estava com raiva, mas não era pelo atraso, porque embora odiasse atrasos, ela não esperava algo muito diferente vindo de Poseidon. O que realmente a irritava a sensação de estar na mão de Poseidon, de ter que aceitar o que quer que seja que impusesse. Isso realmente a irritava, Atena gostava de ter o controle de tudo, principalmente de si mesma e de suas decisões. E por isso, o fato de ter que acatar o que ele decidisse era pra ela, decididamente repugnante.

                -Ela é pontual! Que bonitinho!

                Poseidon havia chegado. E só pra variar, com o seu habitual ar debochado.

                -Diferente de você, pelo que posso ver.

                -Nossa! Por que está tão irritada? Eu fiz alguma coisa?- Ele perguntou fazendo uma péssima cara de inocente.

                -Ah, eu não sei... Vejamos... Será que teria alguma coisa a ver com o fato de você ter me deixado esperando por vinte minutos?

                -Quinze minutos, se você chegou aqui mais cedo a culpa não é minha.  E olha, vamos tentar olhar pelo lado positivo. Você teve que esperar aqui, mas estava esperando por mim.

                -Ta. E pode me dizer o lado positivo agora?

                -Muito engraçadinha. O lado positivo é exatamente esse. Você estava esperando, mas estava esperando para passar uma semana comigo. Quantas pessoas não gostariam de estar no seu lugar, hein? Devia se considerar uma mulher de sorte.

                -Ah sim! Eu, uma deusa casta, vou passar uma semana com o deus mais galinha e tarado do Olimpo. Quanta sorte!

                -Pois é, eu também acho. –Respondeu ele, ignorando a ironia na voz da deusa. –Agora vamos, temos muito o que fazer.

                O sorrisinho que ele deu ao falar isso realmente a assustou.

                Eles andaram por boa parte do Olimpo, e a repentina proximidade dos deuses, fez muitos olhos se voltarem pra eles. Alguns olhares transpareciam apenas surpresa, já outros eram completamente assustados, como se aquilo fosse um sinal do fim do mundo. Atena apenas seguia Poseidon, enquanto olhava ao redor, tentando adivinhar pra onde estavam indo. Ela notou que estavam entrando na área onde ficavam os palácios dos doze deuses olimpianos.

                Os palácios era lindos, seguiam a mesma ordem dos chalés no acampamento e cada um tinha o estilo do deus que era seu dono. O de Zeus era o maior, feito todo em mármore branco, e parecia exalar autoridade. O de Hera seguia o estilo do de Zeus, mas era mais delicado, com pequenos e lindos desenhos no mármore. O de Poseidon, assim como o de Hades (que tinha ganhado um trono, um chalé e um palácio depois da guerra) era raramente habitado, já que os dois deuses viviam em seus próprios reinos. Mas isso não tirava sua beleza, o palácio tinha partes em mármore, mas tinha também matérias do mar, como pérolas e conchas que davam ao palácio uma beleza diferente. O de Hades era em mármore negro e, embora sombrio, continuava incrivelmente lindo.  

                No de Deméter não era possível ver as paredes, pois essas estão escondidas por lindas flores e plantas que se estendem por todo o palácio. O de Ares era um tanto mais bruto do que os outros, com detalhes em vermelho e cenas de guerras esculpidas nas paredes. Depois vinha o de Atena que ela simplesmente amava, era todo prata e cheio de detalhes, como corujas esculpidas na porta. Era um dos lugares favoritos da deusa. O de Apolo era todo, todinho feito em ouro. Chegava a doer os olhos, mas depois de se acostumar, você via o quando era bonito. O de Artemis, era assim como de Atena, de prata, mas era mais simples e de noite, adquiria um lindo brilho, exatamente como a lua.

                O de Hefesto era de metal, mas ao contrario do que se pode pensar, não era uma visão pesada, e sim realmente bonita. O trabalho de metalurgia era tão perfeito que qualquer um podia ver que tinha sido feito pelo próprio Hefesto. O de Afrodite era... Bem, era digno de Afrodite! Parecia a materialização do romantismo, com rosas na entrada e cortina brancas nas janelas. O de Hermes era simples, prático. Perfeito pro deus que vive correndo. Por fim, o de Dionísio era cheio de cachos de uvas e fazia qualquer um se sentir em um vinhedo.

                Atena não percebeu que havia se distraído observando os palácios e assim, não percebeu que Poseidon a observava, notando, ainda que meio que sem querer, como seu cabelo loiro ficava absurdamente lindo na luz do sol e em como seu olhos acinzentados brilhavam ao examinar a arquitetura. Droga Poseidon! Por que você está pensando nisso?,  se perguntou o deus. Oras, porque ela é linda. Mas é só! Só isso! E nada mais!

                -Atena, vamos. Nós vamos fazer isso no meu palácio, porque aqui não seremos incomodados.  

                Atena saiu rapidamente de seus pensamentos, e seguiu o deus, entrando no palácio. La dentro a decoração seguia o estilo do lado de fora. Tudo em tons suaves, onde o azul dominava, móveis de bom gosto e um cheiro de brisa marina finalizava a decoração.

                Eles seguiram ate um quarto, que Atena supôs ser o de visitas, onde Poseidon abriu um armário, que pra surpresa de Atena, estava cheio de roupas. Roupas de mulher.

                -O que significa isso?

                -Simples, minha querida Atena. Isso significa que você já tem seu primeiro... hum, desafio. Melhor, isso é a sua primeira lição.

                -O que? - Atena foi em direção ao armário. –Ah não! Não, não e não! Eu não vou vestir isso!

                As roupas eram... bem, digamos que não eram roupas apropriadas para uma deusa casta. Eram curtas, justas e decotadas, tudo que Atena não aceita em uma roupa.

                -Poseidon, eu vou falar bem devagar pra você poder entender. EU NÃO VOU VESTIR ISSO!

                -Atena, eu vou falar bem devagar pra você poder entender. VOCÊ VAI VESTIR SIM! E SABE POR QUÊ? PORQUE VOCÊ PERDEU A APOSTA E TEM QUE FAZER O QUE EU MANDAR!