Poseidon estava sentado em um muro do Olimpo com Atena ao seu lado. Qualquer um que passasse ali certamente acharia a cena muito estranha, afinal de contas, era quase impossível ver Atena e Poseidon no mesmo ambiente sem estarem discutindo ou até mesmo, lutando. Mas ali parecia estar tudo bem, os dois não conversavam, mas o silêncio parecia ser confortável. Só parecia mesmo. Porque quem ousasse chegar mais perto, perceberia que o clima ali estava tenso.

          Atena examinava cuidadosamente cada ninfa que passava ali, um trabalho sem sentido, na opinião de Poseidon. O que ela acha que vai conseguir com isso? Porque eu não acho que ela vá conseguir saber se a pessoa é “decente” apenas olhando pra ela, a não ser que agora ela também saiba ler mentes!, Pensava Poseidon, já cansado de tanta “observação”, e o pior é que ela realmente acha que vai conseguir ganhar essa aposta! Como se alguma mulher, em sã consciência iria me dar um fora! Até parece! Eu sou absolutamente irresistível!  Poseidon deixou os pensamentos de lado ao escutar um grito de Atena:

              -Há! Ela! Ali, aquela deusa. Elena, a deusa da tranqüilidade! Você tem que conquistá-la! –Atena olhava pra Poseidon com evidente alegria, certa de que dessa vez, ela tinha armado a estratégia perfeita. Pra ela, Elena era o tipo de pessoa correta, inteligente, decente. O tipo de pessoa que não se deixaria enganar por um galinha como Poseidon.

              Poseidon ignorou o olhar de vitoria antecipada de Atena e se virou para olhar a tal deusa. Era uma mulher com longos cabelos morenos e pele clara, sem muita maquiagem. Ele se lembrava de ter a visto pelo Olimpo algumas vezes, mas nunca a deu muita atenção. Ela usava um vestido azul simples, com mangas compridas, que ia até o joelho. Era bonita, embora não fosse bem o tipo de Poseidon. Ele olhou pra Atena, sorrindo.

                  -Isso é o melhor que pode fazer? Ok, vai ser fácil.

                 -Veremos. Eu conheço Elena e tenho certeza que ela não vai querer nada com alguém como você.

                -Isso tinha que ter vindo de uma virgem inocente mesmo!-Disse ele rindo.

                E dizendo isso, ele pulou do muro e andou em direção a Elena. Quando chegou lá, ele parou ao lado da moça, que olhou pra ele desconfiada. Usando o seu melhor sorrisinho de lado, e jogando todo o charme que conseguia pra cima dela, Poseidon falou:

                -Olá. É Elena, não é?- Ele fingiu não saber o nome dela, só pra ter uma desculpa pra lhe estender a mão. –Eu sou Poseidon.

                -E-eu sei. Todos sabem-disse ela, com uma risadinha. –E sim, eu sou Elena.

                -Hum. Elena, eu estou passando uns dias no Olimpo, mas estou meio perdido com toda essa reforma que a minha querida norinha fez por aqui. –Atena, que estava numa distancia suficiente para ouvir sem ser vista, rangeu os dentes de raiva ao ouvir o “norinha”, sabia que ele tinha feito de propósito. – Então, será que você se incomodaria de me fazer o favor de mostrar o Olimpo?

                -Ham, eu não sei... –Atena sorriu vitoriosa.

                -Ah, vamos, Elena! Você não vai fazer essa desfeita pra mim, vai?-choramingou ele, fazendo um biquinho digno de Oscar.

                -Bom, não. É claro que não. Ok, vamos. –Atena estava irritada. Isso não é justo! Ela só concordou porque ele é um dos três grandes, com certeza!

                Poseidon e Elena seguiram andando pelos caminhos de pedra lado a lado, e Poseidon aproveitou para passar um dos braços pelos ombros de Elena e sorriu ao senti-la estremecer. Com o outro braço, fez um sinal atrás das costas, para Elena não ver, indicando que Atena deveria segui-los.

                Eles andaram por um tempo, em que Elena explicava a Poseidon o que ficava aonde, Poseidon, por sua vez, apenas fingia que ouvia, só para olhar de modo charmoso pra Elena e vê-la corar. Ao chegarem no elevador que marcava o inicio do Olimpo, Elena disse apressadamente:

                -É... é isso. Eu acho... Que eu já vou indo. – Atena já ia comemorar, quando viu Poseidon a puxar pelo pulso, até grudar seu corpo no dele. E disse, com a voz rouca, no modo mais sexy e conquistador que ele conseguia, e isso definitivamente não era pouco:

                -Ham... Elena... Você não vai me deixar aqui, não é?

                -É que, eu tenho... Uma reunião com Lorde Zeus. -Elena tentava se esquivar, desconcertada.

                -Ah! Mas eu tenho certeza que meu irmão não vai ligar se você chegar um pouquinho atrasada.

                Poseidon se aproximava de Elena a cada palavra que dizia, e no fim da frase seus narizes já se encostavam. Ela abriu e fechou a boca, incapaz de dizer qualquer coisa. Poseidon desconcertava qualquer uma! Mas não foi preciso que ela dissesse algo, porque logo Poseidon a tomou nos braços e a beijou. Era um beijo atraente, exigente, e até um pouco vulgar. O beijo certo pra deixar Atena enojada, mas por algum motivo ela não conseguia tirar os olhos deles. Até que Poseidon parou o beijo, e como se não tivesse acontecido nada, virou para Elena e disse:

                -Eu acho melhor você ir pra reunião então. E obrigada pelo passeio.

                Elena parecer ficar chocada com a atitude dele, mas devia conhecer a reputação dele o suficiente para não esperar mais nada, pois apenas se virou e foi embora. Poseidon esperou ela desaparecer para ir até Atena, com uma expressão presunçosa.

                -Sabe, eu poderia ter levado isso adiante, mas não acho que você ia gostar da cena... –Disse ele, quando já estava perto o suficiente pra ela lhe ouvir.

                Atena lhe deu um tapa e começou a subir as escadas. Nunca havia se sentido tão idiota! Não podia acreditar que havia perdido a aposta!

                -Ei! Não vai adiantar fugir de mim!-Poseidon correu para alcançá-la. –Eu ganhei a aposta. E agora eu vou te transformar e você vai ter que aceitar.

                -Eu não vou fazer nada.

                -O que? Você vai sim! Fez uma aposta e agora tem que pagar! 

                -Mas não vou, não vou me submeter as suas loucuras. E, além disso, eu não jurei pelo Estige!- A última frase foi dita com certo alívio por Atena, que estava certa que agora tinha conseguido escapar daquela punição.

                -Ok. Tem razão. Então, não cumpra e viva pela eternidade sabendo que a deusa da sabedoria não cumpriu uma aposta.

                Poseidon começou a andar, deixando uma culpada Atena pra atrás. Ela sabia que não podia fazer isso, mas também não podia cumprir o que Poseidon queria. Demorou um tempo ate Atena decidir o que ia fazer.

                -Poseidon! –gritou ela enquanto corria até ele. –Tudo bem, você venceu. Eu vou fazer a tal da transformação ou sei lá o que.

                Poseidon sorriu e com pose de quem acabará de vencer uma guerra, disse:

                -Ótimo. Te encontro aqui as 10 horas amanhã.