A deusa levantou o pulso, lançando um olhar ao relógio que repousava ali. Oito horas. Sua aula com Poseidon seria as dez, como de costume. Ela soltou um suspiro. Por mais que tentasse, não conseguia evitar que ficasse mais ansiosa a cada minuto que se passava. Jamais admitiria isso pra alguém, mas a verdade era que queria que o tempo passasse mais rápido, que a aula com Poseidon chegasse logo.

Ela se encontrava deitada na cama de seu quarto, os olhos acinzentados miravam o teto, com um ar de distração. Sem querer, os pensamentos da deusa se voltaram às aulas que tinha tido nos dias anteriores e, consequentemente, ao deus dos mares. Era tudo muito diferente pra Atena. Tudo muito novo. Ela nunca havia se sentido daquela maneira, aquela que sentira enquanto cumpria sua última “lição”. Os olhares que recebera de quem passava na rua, até mesmo os mais indiscretos, haviam feito com que ela se sentisse estranhamente bem. Não, ela não era aquele tipo de mulher que se satisfazia ou gostava de provocar os homens, pelo simples prazer de saber que iria povoar os pensamentos deles. Não, ela não era assim. Pelo contrario, nunca aprovara tal atitude. Mas talvez fosse exatamente por não aprovar que havia gostado tanto. Afinal, nunca havia permitido que nenhum homem a visse de forma mais sensual. Havia tomado providencias para que isso não acontecesse. Havia negado a companhia dos homens, havia feito uma promessa. Mas tudo na vida tem prós e contras. Sua escolha fez, mesmo que ela negasse até pra si mesma, com que a deusa se tornasse um tanto carente. Por isso, a sensação boa que toda aquela atenção tinha lhe proporcionado.

Pensar aquilo tudo acabou fazendo com que a mente de Atena para outras lembranças, outros dias...

Flashback On

                -Atena! Como você pôde fazer isso?–Gritava uma descontrolada Afrodite, andando de um lado para o outro, fazendo com que o longo vestido grego arrastasse pelo chão de mármore.

                -Ah, foi bem simples, na verdade. Sabe você só precisa dizer umas palavrinhas, tipo, juro pelo Estige e coisa e tal, e pronto. Super fácil. –Retrucou Atena, irônica. A deusa da sabedoria estava sentada numa poltrona, lendo um livro.

                Afrodite bufou.

                -Não se faça de boba! Você entendeu o que eu quis dizer!

                Atena rolou levemente os olhos, fechando o livro e o repousando em uma mesinha ao lado de onde estava sentada. Então, ela se levantou e olhou Afrodite, encarando a deusa do amor pela primeira vez desde que haviam iniciado aquela conversa.

                -Sim, eu entendi o que você quis dizer. Só não conseguir entender o que você acha que vai conseguir com toda essa conversa!

                -Bem, eu tenho esperança que você note a burrada que acabou de fazer.

                -Então, pode perder as esperanças. Eu tomei uma decisão e nada que você dizer vai mudá-la.

                -Uma decisão ridícula!

                -Não diga isso! Você sabe o por quê...

                -Sei! E é isso que mais me irrita, Atena! Pra deusa da sabedoria, você está sendo muito burra! Você não devia fazer uma escolhe tão séria com base num motivo tão ridículo! Acredite, você ainda vai se arrepender disso, Atena!

                E com essa profecia, Afrodite se retirou, deixando pra trás uma Atena descrente.

                Flashback Off

                -Hoje em dia, não tão descrente assim... –Murmurou Atena pra si mesma, pensando em Poseidon.

Atena ainda sentia os pelos de sua nuca se eriçaram ao lembrar-se de sua voz sussurrando em seu ouvido no fim da aula. “Acho que sua aula está terminada por hoje. Já aprendeu sua lição. Muito bem, por sinal. Até amanhã, Atena”, ela relembrou a frase do deus. Talvez fosse aquele “Até amanhã” que estava fazendo com que ela ficasse tão ansiosa.

A deusa da sabedoria tinha que admitir que, dessa vez, ela não entendia. Não entendia porque se sentia tão diferente quando estava com Poseidon. Não entendia o motivo para que, de uma hora pra outra, ela passasse a notar como os olhos do deus eram hipnotizantes, ou como o cabelo dele era incrivelmente lindo, ou ainda, como seus braços era fortes. Ela nunca havia sentido nada assim, nem costumava reparar em coisas como essas. Então, por que ela reparava tudo isso quando se tratava de Poseidon?

A deusa se levantou rapidamente, sentando na cama. Havia lhe ocorrido um louco pensamento. Ela não entendia, mas talvez alguém pudesse ajudá-la a entender. Alguém que fosse acostumada a lidar com esses tipos de sensações e sentimentos, e que certamente saberia dizer a Atena o que estava ocorrendo com ela.

Ainda não acreditando no que estava prestes a fazer, Atena se ergueu e saiu do quarto. Ela foi rapidamente em direção a porta do palácio, e saiu pelas ruas do Olimpo. Só parou ao ver o romântico palácio a sua frente. Bateu na grande porta de entrada e foi atendida por uma criada.

-Lady Atena, posso ajudá-la?

-Sim. Afrodite está?

-Ela está no quarto. Eu irei avisá-la que a senhora está aqui.

                A criada se retirou e Atena olhou ao seu redor. Dando uma risadinha, ela percebeu como tudo naquele palácio era tão... Afrodite! As paredes eram claras, os móveis de madeira trabalhada, formando desenhos. Haviam vasos com flores repousados em varias mesinhas, e cortinas brancas completavam o ambiente. Era tudo extremamente romântico.

                -Lady Afrodite pediu para a senhora subir até seu quarto. - Anunciou a criada, voltando ao cômodo.

                -Ah, obrigada. Eu vou lá então.

                Atena subiu as escadas e se dirigiu ao quarto de Afrodite. A porta estava entreaberta, portanto ela apenas a empurrou levemente.

                -Afrodite?

                -Atena, minha querida! Quase não acreditei que era você quando a criada veio aqui me avisar. Afinal, você nunca vem me visitar! Vive enterrada naqueles livros...

                Atena apenas rolou os olhos. Afrodite adorava criticar o hábito de leitura de Atena.

                -Bem, sou eu. Eu preciso falar com você, Afrodite.

                A deusa do amor pareceu entender que o assunto era sério, então, se sentou no sofá que tinha no quarto e fez sinal para Atena a acompanhar.

                -Ok, vamos conversar... Mas pode me dizer logo do que se trata?

                -Ahn... Bem...

                -Fala logo, Atena. Está me deixando curiosa!

                -É sobre Poseidon.