Os Gêmeos Bouvier - A Resistência escrita por That Crazy Lady


Capítulo 19
Decotes reveladores


Notas iniciais do capítulo

Putz, esse me deu trabalho.Contemplem a quinta versão monstro de Frankenstein resultado de juntar um monte de trechos das quatro tentativas anteriores de capítulo num só. Tentei ao máximo consertar as pequenas partes dando ponto pra não deixar sequela, mas, caso alguma parte soe esquisita, você encontrou uma cicatriz, heh.Enjoy ouo



Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/161252/chapter/19

Eu já estava me preparando para me isolar num quarto trancado bem longe de Vince e seu maldito cheiro cafeinado quando descobri que tínhamos visitas. Parei de braços cruzados pouco depois da soleira da porta, encarando a figura na sala com alguma incompreensão.

Perdoem minha falta de reação. É só que eu duvidava muito que Áurea saísse fazendo visitas sociais em casas isoladas no meio do nada.

A não ser que ela e Vince estivessem tendo um caso.

... Ok, isso seria muito estranho.

Vince parou logo ao meu lado, ainda tirando a jaqueta. Provavelmente estava tentando entender por que eu estava empacada no meio do corredor como um dois de paus, e então viu a ruiva no sofá. Suas sobrancelhas se ergueram com algum horror e ele justificou rapidamente:

– Eu disse que precisaria de um prazo maior para arranjar o seu dinheiro, mas r-relaxa, vai chegar pra mim no fim do mês.

Áurea se virou, finalmente percebendo nossa presença, e arregalou os olhos para nós. Encarei Vince apenas pelos instantes necessários para lhe dar um tapa talvez um pouco mais forte do que eu deveria na cabeça.

– Existe alguém pra quem você não esteja devendo, Vincent? – ralhei. Observei Áurea. – O que você quer aqui? Pode dizer ao seu pai que eu estou de férias, se é esse o problema.

Ajeitei a mochila no ombro enquanto falava e a ignorei completamente ao avançar pela sala. Meu plano era me fechar no quarto e deixar Vince se virar com a vaca porque, convenhamos, eu não converso com parentes de bovinos. Mas ela me parou no meio do caminho ao segurar meu pulso com força, impedindo-me de continuar fingindo que ela era invisível. Fechei as mãos em punhos e já ia esmurra-la gentilmente até que ela me soltasse ao perceber a forma como eu estava sendo observada.

– Ell – Áurea soltou com os olhos cheios de água. Fiquei completamente paralisada. Mas que diabos? – Ah Deus, você está bem. Está bem.

A ruiva se ergueu do sofá e me puxou para um abraço apertado, ao que eu apenas continuei tentando entender que merda era aquela. Procurei o olhar de Vince, mas ele parecia saber menos do que eu e deu de ombros quando indiquei Áurea com o olhar. Tivemos uma discussão silenciosa sobre o que fazer até ele gesticular violentamente para ela. Não entendi se eu tinha que esmagar sua cabeça com uma cadeira na cozinha ou sentá-la lá, então resolvi optar pela alternativa menos sangrenta.

– É, eu, uhm, estou bem. – Limpei a garganta e dei tapinhas hesitantes em suas costas. – Por que você não se senta aqui e me conta o que aconteceu, Áurea?

Tentei fazê-la se mover, mas seus pés continuaram duros no chão. Arqueei as sobrancelhas para Vince e ele correu para pegar a cadeira. Baixei Áurea com cuidado e precisei desenlaçar seus braços de meu pescoço antes de conseguir me erguer. Ela se encolheu e escondeu o rosto entre as mãos.

– Meu pai falou que não ia procurar por vocês – ela disse em um tom abafado –, então eu resolvi procurar por mim mesma. Achei que o Vince talvez pudesse ajudar porque ele te conhecia melhor. – Áurea ergueu o rosto e observou nós dois por alguns instantes. – Mas não achei que você já estivesse aqui. Onde está o seu irmão?

Apoiei-me com força no sofá.

– Vou buscar ele assim que amanhecer – disse no tom mais leve que consegui.

Ela assentiu.

– Eu vou com você.

Vince e eu nos entreolhamos.

– Áurea, não é nada pessoal, mas você não sabe, tipo, como pegar numa arma – comentei com cuidado. – Se as coisas derem errado, não vamos poder ficar de babá. Sem ofensas.

Ela nem piscou.

– Eu quero ajudar. Eu vou.

– Não – retomei firmemente –, você não vai.

Áurea me observou com força, fazendo-me sustentar seu olhar com alguma dificuldade; meus olhos começaram a lacrimejar, mas não os desviei. Se ela queria usar magiazinha barata de vampiro em cima de mim, que usasse. Eu não reconhecia aquela, especificamente, mas tudo bem.

– E isso é minha palavra final – continuei com o mesmo tom.

A garota ficou parada por alguns segundos. Eu pensei, nossa, foi mais fácil do que eu imaginava.

HAHA. Por que eu ainda penso essas coisas, mesmo?

Totalmente de repente, ela pulou no meu pescoço e me jogou no chão, apertando minha traquéia com força. Foi algo impossível de prever. Não houve aviso. Não houve uma mudança na postura, no olhar, nem um mísero ranger de dentes. Apenas movimento, e dos rápidos. Honestamente, eu não tive a menor chance.

Tentei arranhar suas mãos, desequilibrar seu corpo de cima de mim e até cuspir em seu rosto, mas Áurea permaneceu impassível. Dizer “o que mais me assustou” sobre a situação é quase piada de mau gosto, mas fiquei completamente aterrorizada com o brilho tresloucado em seus olhos. Aquilo não estava certo, não estava... Não encaixava. Áurea não tinha olhares tresloucados, Áurea era Áurea, metida, rica e sã. E essa mesma Áurea estava a dois segundos de quebrar meu pescoço quando Vince a pegou pelos ombros e a jogou do outro lado da sala.

Ouvi sons de coisas sendo esmagadas e um grunhido em meio ao turbilhão de cores que era minha visão. Senti meu corpo virar de lado e começar um ataque de tosse incontrolável, e isso para não falar do que um dia fora minha garganta, porque agora devia se parecer mais com tomate esmagado de fim de feira. Caí praticamente de cara no chão, incapaz de me segurar direito com a cabeça erguida, e engasguei com a poeira e os restos de coisas que jaziam no carpete, a tosse só aumentando em uma busca desenfreada por ar. Quando finalmente consegui me localizar o suficiente para procurar por Vince, meus ouvidos me alertaram para o caos que estava o local que Áurea havia aterrissado, com gritos agudos e palavrões em italiano.

Pisquei, tentando fazer o mundo parar de rodar, e ergui o corpo desajeitadamente para ir atrás dos dois. Minha garganta queimava, mas engatinhei até lá do mesmo jeito. Vince tinha prendido Áurea no chão em uma chave de braço das boas, e a garota dava berros agudos de dor enquanto tentava inutilmente se soltar.

– Sai de mim! Sai! Sai! – exclamava ela em um tom que fez minha cabeça doer. Senti meus tímpanos momentaneamente perfurados enquanto ela se agitava e Vince a apertava mais forte, até um ponto em que pensei que ele fosse arrancar o braço da ruiva. Por fim, muito lentamente, Áurea foi parando de lutar até se imobilizar com a respiração irregular.

– Me solta – exigiu.

– Se eu te soltar – disse Vince, ele próprio com o tom meio abafado –, você vai tentar matar a Ell de novo?

Tentei dizer que ele podia soltá-la porque se ela fosse estúpida a esse ponto ia ganhar um chute descomunal na bunda, mas uma crise de tosse interrompeu minha frase no meio e não soou tão bem quanto eu queria que tivesse soado.

– Não – disse ela. Não achei que fosse uma garantia das melhores, mas Vince a soltou rapidamente do mesmo jeito; descobri por que em alguns segundos, ao ver seu braço sangrando em dez cortes finos e bem feios. Áurea devia tê-lo arranhado. Tentei não pensar no assunto, mas foi legal ele ter continuado segurando-a mesmo assim.

Ela se ajeitou no chão, o cabelo normalmente arrumado todo cheio de frizz e desengonçado, e me lançou um olhar ligeiramente magoado.

– Desculpe por ter te atacado – disse. Fez careta para Vince, agora nos observando por cima do ombro no canto da sala enquanto tratava dos cortes. – Eu só queria ajudar.

– Você tem um... – acesso de tosse – um conceito engraçado de ajudar.

– Eu já pedi desculpas! – Seu tom de voz subitamente aumentado chamou a atenção de Vince, que se aproximou. Áurea encolheu-se ligeiramente. – Desculpe. Desculpe. Mas vocês precisam me levar junto!

Tentei não dar uma risadinha sarcástica porque isso recomeçaria a tosse.

– Não vamos te levar junto – eu disse secamente.

Ela cheirava engraçado.

– Escuta aqui – começou ela, obviamente lutando para manter o tom razoável. Ergueu o corpo para frente, apoiando-se nos braços para ficar mais próxima de mim. O ato fez com que o decote em sua blusa escura aparecesse mais em meu ângulo de visão, e foi aí que eu vi.

Atingiu-me como um tiro.

Agarrei sua gola em um movimento rápido que me fez tossir algumas vezes, mas minha mente estava além disso.

– Que merda... Que merda é essa? – exclamei em um tom histérico, e foi aí que Vincent veio correndo, metade da gaze arrastando-se pelo chão. Áurea pareceu perceber seu erro e recuou, fazendo o tecido escapar brutalmente de meus dedos. Em dois segundos, ela estava do outro lado da sala. Em três segundos, Vince estava lá também.

– O que ela fez? – perguntou ele, e percebi que agora segurava alguma coisa brilhando prateado nas mãos. Áurea recuou daquilo, também.

– No seio direito dela – expliquei, eu própria erguendo-me e indo até lá o mais rápido que podia. Tudo se juntava na minha mente, como se um monte de peças espalhadas de um quebra-cabeça finalmente começassem a fazer sentido. – Lince.

Ele me olhou como se eu tivesse enlouquecido, mas, como quem sabia o que estava fazendo, arrancou a blusa de Áurea, deixando o sutiã preto com babados à mostra. E, logo acima da borda do bojo, um delta vermelho escuro tatuado na pele.

– Você fez uma ligação com ele – acusei sem ar.

Ela tentou cobrir a evidência com as mãos, mas já era tarde demais.

Era por isso que ele não tinha voltado para casa depois da festa. Ele sabia que eu sentiria o cheiro de Áurea que estaria impregnado em seus poros, que brigaria com ele, que o forçaria a desfazer aquela aberração.

Por quê? Por que ele arriscaria a própria vida daquele jeito?

Quando se faz uma ligação, os dois envolvidos não podem se afastar fisicamente demais um do outro. Precisam ter contato freqüente para manter a ligação saudável, ou ela começa a se desintegrar e, como um membro com gangrena, espalha-se para o resto do corpo. E, se um dos lados da ligação morre, o outro está condenado. É preciso os dois para formar, é preciso os dois para desfazer.

É um feitiço idiota que ninguém usa mais porque não tem custo-benefício suficiente. E, ainda assim, Lince a tinha arrastado nisso.

Áurea parecia à beira de uma crise de choro.

– Ele me enganou! Eu... Eu não sabia o que estava fazendo – tentou explicar-se desesperadamente. Só então percebi que a observava como se quisesse jogá-la barranco abaixo. Ou ordenar Vince que a jogasse barranco abaixo. Tentei parar. – Ele disse que ia ser legal, que... Que... Mentira! Ele sumiu, e agora eu não consigo me concentrar em nada, e fico irritada com as coisas, e de repente me dá um branco, e estou em algum lugar e não sei como cheguei lá. – Um soluço interrompeu sua fala. – Vocês precisam me ajudar! Ela dói, ela dói muito e fica mais escura a cada dia!

Apertou a marca com as unhas compridas, como se quisesse arrancá-la da pele.

– Eu li que dá pra desfazer isso, mas pra isso preciso encontrar o Coron – continuou. – Mas meu pai não queria fazer nada pra ajudar.

– Você contou para ele? – perguntei abruptamente.

– N-Não – ela respondeu com um soluço. – Ele me mataria.

Apoiei-me pesadamente na parede. Vince queria parecer vir ajudar, mas sabia que isso não cairia bem na frente de Áurea e apenas se remexeu desconfortavelmente a meu lado.

– Por favor – ela pediu. – Vocês precisam me ajudar. Eu não quero morrer.

Balancei a cabeça.

– Você vem com a gente, mas não por sua causa. – Afastei-me da parede e a observei. – É por causa de Lince. – Apanhei a mochila no sofá e a coloquei por sobre o ombro novamente. – E vê se se comporta. Vince vai ficar de olho em você pra ter certeza de que você não vai fazer nada idiota.

Ele me observava como quem transmitia um milhão de mensagens. Não estava no clima para interpretar todas. Desviei os olhos, andando pesado até o quarto, e me tranquei lá dentro.

O que você estava tramando, Lince?


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!


Notas finais do capítulo

Erros, sentenças estranhas ou similares podem ser avisados por review. (Porque eu sou lerda e provavelmente não iria achar sozinha.) ♥



Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Os Gêmeos Bouvier - A Resistência" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.