- Vamos, Matt? - não eram nem oito horas da manhã e Roger estava batendo na nossa porta.

 Ele veio buscar o Matt? Ele achava que o Matt iria fugir, por acaso?!... Se bem que eu não o culparia se o fizesse.

 Matt gemeu e abriu a porta, juntando-se a Roger (que me cumprimentou com um único aceno de cabeça) e fechando-a logo em seguida. A última coisa que eu vi foi seu olhar desolado antes de desaparecer atrás da porta de madeira.

 Eu o entendia muito bem. Assim como eu, ele também detestava fazer compras, e fazer compras com o Roger era duplamente torturante. O diretor gostava de fazer as compras da semana ele mesmo (estranho, eu sei), e quem ele arrastava junto sempre servia como um "burro de carga". E isso sempre durava o dia inteiro. Claro que não demoraria tanto se ele não ficasse analisando cada produto por mais de DEZ minutos!

 Sem falar que Matt estava indo como parte do seu castigo, então eu aposto que Roger vai fazer questão de passar em frente ao maior número de lojas de jogos que puder. 

 Estou até com pena do Matt.

 ... 

 Só me pergunto qual foi o castigo dos outros infelizes.

~x~

 Nove horas da noite.

 E Roger e Matt ainda não tinham voltado.

 Acho que esse era o record até agora.

 E eu estou aqui, no maior tédio. Joguei video-game, estudei, peguei um livro qualquer para ler, e agora não tenho mais nada para fazer. Jogar sozinho não tem graça, já cansei de estudar, o livro qualquer que eu peguei foi jogado de volta no canto obscuro da minha cômoda e não estou a fim de assitir nada. Essa seria uma boa hora para o Matt aparecer.

 Virei o rosto e olhei para os meus chocolates suíços colocados com todo o cuidado em cima da escrivaninha. Talvez eu... Não! Eu preciso me controlar, senão meus chocolates vão acabar em questão de segundos... E eles são gostosos demais para acabar rápido assim!

 Joguei-me na cama bufando e fiquei encarando o teto. Fala sério, isso era o cúmulo do tédio! Encarar o teto, francamente. Eu nunca pensei que não ter o Matt por perto durante tanto tempo pudesse ser tão chato. Estranho...

 - Mello? Você está aí? - bateram na porta - Mello?

 - Já vou! - falei alto para quem quer que fosse parar de bater sem parar na madeira.

 Levantei da cama e quando abri a porta, me deparei com um dos monitores do orfanato. Aquele cara era estranho, estava sempre sorrindo, como se se realmente gostassede trabalhar aqui. Mas agora ele não estava sorrindo. Estava sério. Sério demais.

 Não falei nada, só fiquei esperando e encarando ele até que a criatura resolvesse dizer alguma coisa.

- Mello, o direto ligou - ele finalmente falou, e usando u mtom de voz do qual eu não gostei nem um pouco.

 - Eles já estão voltando? - perguntei, tentando ignorar a vozinha na minha cabeça que dizia que algo estava errado, que alguma coisa devia ter acontecido.

 O monitor não respondeu, desviando o olhar para o corredor parcialmente iluminado e se mantedno em silêncio por um tempo irritantemente longo.

 Ou ele acha que uma pausa dramática é legal de se fazer, ou então ele está sem coragem de falar o motivo de Roger ter ligado.

 Qualquer que fosse, eu já estava impaciente.

 - Fala logo!

 - O senhor Roger está no hospital... Com Matt - ele falou hesitante, e eu senti como se um balde de água tivesse sido virado na minah cabeça. Se Roger estava no hospital com Matt, queria dizer que quem estava hospitalizado era Matt e não Roger... Certo?

 - O... O que aconteceu? - tentei fazer minha voz parecer firme. Não sei se consegui.

 - O diretor não deu detalhes - ele parecia um pouco aliviado por eu não ter voado em seu pescoço ou algo assim - Só disse que eles estavam no hospital e que ligará quando tiver novidades. Ele pediu para te avisar e para dizer que você poderá ir até lá amanhã.

 - Amanhã?! Até parece, eu vou pra lá agora! - recuperei meu tom normal de voz.

 - Sem chances, são ordens do diretor.

 Posso dizer que voar no pescoço desse idiota me pareceu uma ideia extremamente tentadora agora.