Duas semanas se passaram desde a nossa volta à Hogwarts. No quesito aulas, eu estou ótima, e arrisco dizer que Fred também. Ron e Harry ficaram muito satisfeitos ao juntarem estudos com namoro e Lilá e Ginny ficaram animadas com isso. Tudo estava bem – pelo menos por enquanto –, mas havia uma coisa me incomodando... Essa semana inteira, Fred deu sumiços na parte da tarde. E quando dei por mim, notei que não era só ele... Eram todos os garotos.

Os sumiços de Fred eram exatamente na mesma hora que eu notava que Angelina estava estudando sozinha, Ginny conversando com Lilá e às vezes via até Luna andando sozinha pelo castelo – o que era raro depois de ter começado a namorar Neville. Isso me incomodou, mas incomodou tanto, que mandei um pergaminho pra todas elas, marcando uma reunião no banheiro da murta.

- Isso realmente é estranho. – Ginny foi a primeira a dizer. – Tudo bem que Harry precisa de liberdade e eu não ligo de passar algumas horas do dia longe dele, mas agora que você falou... Realmente todos eles somem na mesma hora.

- Eu também já tinha reparado os sumiços de Ron. – Lilá deu os ombros. – Eu realmente não estava preocupada com isso... Até porque eu aproveitei pra fazer mais amizade com a minha cunhada.

Ginny deu um sorriso e eu não pude evitar sorrir também.

- Eu sei que não há problemas em terem um tempo pra eles. – Revirei os olhos. – Não gosto de ser grudenta e acho ótimo que Fred se divirta um pouco por aí... Mas acho estranho o fato de sumirem juntos... Isso me leva a pensar que estão aprontando.

- O tempo todo que Neville some... – Luna falou pela primeira vez no dia. – A marca queima e me incomoda muito...

- Agora que você tocou no assunto... A minha também. Ela fica insuportavelmente dolorida quando George some. – Angelina revirou os olhos. – Acho que tem algum problema com ela.

- Não, não tem. – Ri. – E se tiver, a minha também tem.

- E a minha também. – Ginny deu um sorriso de canto. – Ultimamente ela tem queimado o tempo todo... Principalmente quando Harry está longe.

- Eu preciso dizer que a minha também? – Lilá sorriu.

- Acho que não. – Ri. – Mas precisamos descobrir o que esses garotos estão aprontando...

- Tenho um plano. – O “sorriso Weasley” brotou no rosto de Ginny e eu me arrepiei.

- Conta... – Dissemos todas quase em uníssono, virando a atenção pra ruiva.

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Então era isso. Naquele mesmo dia, Ginny “pegou emprestado sem pedir” o mapa do maroto. No outro dia, esperamos eles começarem a sumir e vimos pra onde eles iam. No tempo que estavam sumidos, todos eles se metiam na sala precisa e ficavam lá por uma ou duas horas. Depois voltavam como se nada tivesse acontecido, e cada um dava uma desculpa diferente. Isso me intrigou e me deixou louca de ódio. “Porque é que eles estão inventando tantas coisas?”

Uma semana se passou do dia em que descobrimos as tardes dos garotos na sala precisa. Eu e Fred estávamos jogados no sofá do salão comunal. Faltavam poucos minutos pra começar as aulas de sexta.

- O que você acha de matarmos as aulas de hoje? – Ele perguntou com um sorriso. – Tem algo que eu preciso te mostrar.

- Matar aulas? – Perguntei como se fosse uma ofensa.

- Então quer dizer que a “antiga Granger” está de volta? – Perguntou com um sorriso torto.

- Onde a gente vai matar aula? – Perguntei e ele se levantou num salto.

- Você vem comigo. – Ele sorriu. – Mas com os olhos vendados.

- Como? – Perguntei com uma gargalhada.

- Não confia em mim? – Riu.

- Confiaria minha vida a você, querido. – Sorri.

- Então venha. – Ele abriu os braços e o abracei. – Feche os olhos.

Fechei os olhos e senti uma venda tampá-los.

- Está vendo alguma coisa? – Sussurrou a voz de Fred no meu ouvido.

- Nada. – Suspirei. – E isso me deixa nervosa.

- Confie em mim. – Riu e me pegou no colo. – Vamos ter que ser rápidos, antes que algum professor nos descubra.

- Então vamos! – Gritei depois de uma risada. – Está esperando o que?

Passei os braços pelo pescoço de Fred e fiquei acompanhando o movimento que fazíamos juntos enquanto ele corria. Seu cheiro me inebriava e me fazia querer respirar cada vez mais fundo. Aquele cheiro...

- Você quer que eu arranque meu braço? – Escutei sua voz baixa e divertida.

- Não... Por quê? – Perguntei confusa.

- A marca não pára de queimar. – Ele reclamou. – Ela nunca tinha queimado tanto assim.

- Você devia ficar feliz. – Sussurrei. – Isso quer dizer que...

- Que você é louca. – Ele gargalhou.

- Cada dia mais louca por você.

Fred me colocou no chão delicadamente – tão delicadamente que eu fiquei com a bunda dolorida e xinguei todos os palavrões que conhecia. Sua gargalhada soava alta e até ecoava.

- Você ainda me paga. – Gritei nervosa.

- Pago sim. – Escutei sua voz mais uma vez junto do meu ouvido. – Pago quantas vezes quiser.

- Porque você fez isso? – Perguntei ainda irritada.

- Desculpa, princesa. – Ele me abraçou. – Foi sem querer.

- Sei... – Revirei os olhos, mesmo sabendo que ninguém poderia ver. – Desculpado... Agora, quer acabar com esse suspense todo?

- Tudo bem. – Ele riu e eu escutei barulho de uma porta sendo aberta. – Três passos pra frente, conte até dez e pode tirar a venda.

- Tudo bem. – Fiz o que ele disse.

Contei até dez e tirei a venda. Vi uma sala pequena, com paredes coloridas e sem nada dentro. Não tinha cama, sofá, nem nada. Se eu tivesse dado mais um passo, teria pisado em carpetes felpudos que me chamavam pra tocá-los e me deitar em cima deles. Os tais carpetes cobrem o chão todo – obviamente –, exceto os três passos porta adentro. Senti os braços firmes de Fred envolvendo minha cintura.

- O que achou? – Sua voz soou hesitante.

- Aconchegante. – Respondi e dei um sorriso.

- Tire os sapatos. – Ele sorriu.

Antes que eu pudesse pensar em alguma coisa, Fred já tinha se jogado no carpete, bem a minha frente. Gargalhando, ele me chamou com a mão. Tirei meus sapatos com cuidado e me joguei ao lado dele, mergulhando no carpete fofo.

- Alguma idéia brilhante pra me trazer a essa sala magnífica? – Ri enquanto passava a mão sob seus cabelos desgrenhados.

- É claro que tenho. – Ele revirou os olhos e se sentou de frente pra mim. – Ou acha que sumi por duas semanas à-toa?

Arregalei os olhos.

- Eu sei que você percebeu. – Ele riu. – Sabia que seria a primeira a notar... Mas também sabia que não iria invadir nossa privacidade.

- Realmente, eu não faria isso. – Sorri. – O que ficavam fazendo aqui na sala precisa?

- Vínhamos todos pra cá, cultivar uma idéia que inicialmente foi do Neville. – Ele sorriu.

- Idéia do Neville? – Fiquei mais assustada ainda. – Estou começando a ficar com medo.

- Não precisa ter medo. – Revirou os olhos. – Eu também fiquei meio assustado no começo, mas confesso que a idéia foi brilhante.

Fiquei em silêncio, convidando-o a continuar.

- Neville é meio tímido... Até mesmo com a Luna, ele tem dificuldades de se comunicar... Então um dia, ele me chamou. – Pausa. – Eu fui o primeiro á saber!

Ele deu um sorriso convencido e eu não consegui evitar a risada.

- A idéia dele me pareceu estranha no começo. – Ele revirou os olhos. – Ele veio com uma conversa sobre musicas trouxas...

- Brilhante. – Sussurrei.

- Ele não sabia como falar de sentimentos, então teve uma idéia quando se lembrou das musicas trouxas que havia escutado nas férias. – Fred abriu um sorriso. – Como sou um cara brilhante, eu consegui quebrar algumas regras e distribuir aparelhos de som bem pequenos entre nós... Então, nós escutávamos algumas musicas que nós mesmos selecionávamos e ficávamos trancados aqui, ouvindo-as e planejando uma grande declaração musical pra vocês.

- Uma declaração com musicas trouxas? – Ri. – Surpreendente.

- Os trouxas devem fazer muito isso. – Ele balançou os ombros. – Mas pra nós é novo, então não repare meu jeito atrapalhado de escolher musicas, ok?

Ri.

- Tudo bem. – Revirei os olhos. – Já escolheu suas musicas?

- Ah... Claro. – Puxou o aparelho de som. – Na verdade, eu já estava querendo ouvir músicas trouxas desde o começo do ano. A idéia de Neville só foi algo brilhante que me impulsionou mais ainda.

- Entendo. – Sorri. – Posso saber quais musicas o senhor escolheu?

- Deve. – Ele revirou os olhos.

- Você sabe pelo menos uma que cada um dos meninos escolheu? – Perguntei com os olhos brilhando.

- Conto pra você, se prometer que não conta pras meninas! – Ele disse parecendo tentado.

- Fechado. – Apertei sua mão. – Agora me diz! Pelo menos uma!

- O George escolheu uma música chamada “Hot”. – Ele riu. – Bem a cara dele e de Angelina. Típico de George.

Gargalhei.

- O Harry escolheu uma que... Eu até gostei do fato de ser cunhado dele. – Gargalhou. – Se chama “Grenade”. Acho que depois disso, me sinto mais tranqüilo em deixá-los namorar em paz.

Gargalhei de novo.

- Ron escolheu uma que se chama “Love you like a love song”. – Sorriu. – É bonitinha, mas não descreveria meu sentimento por você nem se fosse tocada vinte vezes.

Ri mais ainda. “Como ele é dramático.”

- E Neville... Bom... – Ele parou.

Um sorriso brincava em seus lábios e a curiosidade tomava conta de mim.

- Ele escolheu uma musica em outra língua. – Ele revirou os olhos. – Confesso que a letra é magnífica, mas as minhas são todas em inglês.

- Em que língua é? – Perguntei rindo.

- Português. – Fred deu os ombros. – De um cantor da América do sul. Brasil.

- Nome da musica?

- “Pra você guardei o amor”... Bem a cara dele. – Riu.

- Que fofo. – Dei um sorriso. – Parece que eles estão ótimos.

- Parece mesmo. – Revirou os olhos. – Ele fica reclamando da marca o tempo todo.

- Ela também. – Ri. – Mas então... E a minha musica?

- Eu vou te mostrar uma por dia. – Deu um sorriso. – E pra entrada, uma música chamada “Everything”.

Fred puxou o aparelho pra mais perto, me lançou um olhar divertido e apertou o play.

Me encontre aqui,

E fale pra mim

Eu quero te sentir

Eu preciso te ouvir

Você é a luz

Que está me guiando para o lugar

Onde encontrarei paz... novamente

 Ele movia os lábios junto com a música e eu já sentia as lágrimas se formando nos meus olhos. “Como ele consegue ser tão perfeito, Merlin?”

Você é a força

Que me faz andar

Você é a esperança

Que me faz confiar

Você é a vida

Para a minha alma

Você é meu propósito

Você é tudo

 Não conseguia mais pensar direito. Não sei se foi a letra, ou se foi Fred ali, dublando-a pra mim... Sei que as lágrimas começaram a rolar – sem tirar meu sorriso do rosto.

E como eu poderia ficar aqui com você

E não me comover com você?

Me diga, como isso poderia ficar melhor?

 Meu sorriso parecia não caber mais no rosto... A cada frase que eu escutava e observava-o dublar, era mais motivo de lágrimas rolarem.

Você acalma as tempestades

E você me dá repouso

Você me segura em suas mãos

Você não vai me deixar cair

Você roubou meu coração

E me deixou sem fôlego

Você vai me receber?

Vai me atrair mais ainda?

 A essa altura, nem sabia mais o que fazer pra parar de chorar. Claro que ainda sorria, mas as lágrimas pareciam ser mais teimosas e insistentes, molhando minha blusa – e o carpete embaixo de mim.

Pois você é tudo que eu quero

Você é tudo que eu preciso

Você é tudo, tudo

Você é tudo que eu quero

Você é tudo que eu preciso

Você é tudo, tudo

 Fred se aproximou quando as repetições mostraram que a musica já estava pra acabar e secou as lágrimas que molhavam meu rosto. Sorriu e me abraçou.

Ficamos alguns minutos assim. Não conseguia processar direito ainda. Eu não sabia se levava a letra na brincadeira ou se levava a sério... “É claro que é uma brincadeira.” Minha consciência deu sinais de que ainda existia.

- Você é tudo. – Ele sussurrou. – Meu tudo.

Mais lágrimas rolaram minhas bochechas e Fred sorriu novamente.

- Você é perfeita, sabia? – Perguntou enquanto tirava uma mecha do meu cabelo do rosto. – Perfeita pra mim.

- Pára com isso Fred. – Disse com a voz chorosa.

- Por quê? – Perguntou beijando minha bochecha. – Você não gostou?

- Não é isso. – Revirei os olhos. – É perfeito. Eu não merecia tanto.

- Você está ficando louca? – Arregalou os olhos. – Você merece muito mais.

- Pára. – Minhas bochechas queimavam. – Você me deixa sem graça.

- Acostume-se. – Riu. – Você é perfeita e eu pretendo te dizer isso todos os dias.

- Já te disse que sou a pessoa mais sortuda do mundo? – Perguntei mordendo o lábio inferior.

- Não. – Ele riu malicioso. – Você é?

- É claro que sou. – Fingi-me de ofendida. – Com um namorado desses, qualquer uma seria.

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Todos os dias, Fred me aparecia com uma musica nova. Uma mais linda que a outra – e às vezes algumas que me faziam rir. Eu sou realmente uma manteiga derretida e não agüentava nem o primeiro verso das musicas sem chorar. As escolhas de Fred foram magníficas, entre elas “Cinderella Stay Awhile”, que me colocou um sorriso enorme no rosto, depois “Say, say, say”, que me fez gargalhar em algumas partes, depois veio “Someone Put Your Hand Out” e eu quase chorei, mas consegui me segurar. Depois disso veio a parte safada de Fred com “The Way You Make Me Feel” e “You Rock My World”... Depois disso veio a parte “crítica” do dia... Quase morri de tanto chorar escutando “You Are My Life” e “You Are Not Alone”. Acho que Fred ficou orgulhoso do resultado, porque passou a me mimar depois das declarações.

Numa sexta, depois da aula de Snape, ele me puxou pra sala precisa sem me deixar respirar. Antes que eu pudesse pensar, a musica calma e envolvente já estava tocando.

Quando cansado

Me diga se você vai me segurar

Quando errado, você vai me guiar?

Quando perdido, você vai me achar?

 A musica era linda, e Fred sorria cada vez mais aberto enquanto a música tocava. Ele realmente sabe como me agradar.

No nosso momento mais sombrio

No meu pior desespero

Você ainda vai se importar?

Você estará lá?

Nas minhas provações e minhas tribulações

Pelas nossas dúvidas e frustrações

Na minha violência

Na minha turbulência

Pelo meu medo e minhas confissões

Na minha angústia e minha dor

Pela minha alegria e minha tristeza

Na promessa de um outro amanhã

Nunca deixarei você partir

Pois você está para sempre no meu coração

 Sinceramente, foi uma das coisas mais bonitas que já ouvi. Mesmo sendo entre os versos de uma música trouxa, eu não agüentei muito tempo sem chorar... As declarações de Fred ficavam a cada dia mais profundas, e eu estava a cada dia mais apaixonada por ele.

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Era impossível não notar o tanto que essas “declarações” estavam fazendo bem a todos nós. Ron e Lilá estavam cada dia melhor, assim como Harry e Ginny, Ange e George e principalmente Luna e Neville. [N/A: autora apaixonada por Luneville detectada] A única coisa que tem me incomodado, é o comportamento de Snape. Ele está estranho demais ultimamente e tem alguma coisa errada. Ah... Outra coisa que também reparei, é no comportamento estranho da Doninha Malfoy. Mas enfim, isso não me interessa. A única vez que ele se referiu a mim sem me insultar, foi no dia em que Ginny me arrumou, e depois disso nunca mais trocamos sequer um olhar sem deixar faíscas de ódio onde quer que fosse.

E o tempo foi passando... Mesmo quando a minha vontade era que parasse, ele voou.