Esperanto:solfege escrita por Petit Ange


Capítulo 5
Tom VII: Desencontro / Tom VIII: Sehriel




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Voe, voe, passarinho...

Em meio ao caos de uma Tokyo devastada...

Com meu próprio sangue escorrendo de mim...

Sentindo os braços dele me envolvendo tão carinhosamente...

...Você sabe que não pode fugir.

Mais ou menos na tarde do dia 24 de abril...

...Eu morri.

Esperanto:Solfege
Petit Ange

Tom VII: Desencontro.

“Trinta e quatro... Trinta e cinco...”

Sabe quando a pressão do ar parece aumentar umas 10 atmosferas? Acho que é mais ou menos isso que acontece comigo nesses dias.

...Ele tá contando o dinheiro, como sempre.

Depois que faz isso, ele pega boa parte do mesmo e usa pra ele.

“Noventa e um... Noventa e dois...”

O resto serve para pagar as contas, basicamente...

A coisa chata é que meu tio insiste em contar alto o suficiente para que eu ouça. É como se ele estivesse medindo meu valor nessas notas.

Eu odeio isso.

Odeio quando ele começa a contar.

“...Maiko, Maiko.”

A mesma, ao ouvir seu nome naquele tom único de Takuchi Isono sendo repetido nada menos do que duas vezes, sentiu toda sua espinha contrair-se.

“O que é isso, querida?”

E então, ele mostrou-a o dinheiro, jogado em cima da mesa.

“...É o meu salário.”

Maiko baixou a cabeça, mordendo os lábios. Aquele tom era uma coisa só: problemas. Ela sabia muito bem disso. E mesmo assim, não soube como responder de outra forma. Aquele era o fruto de seu esforço, era tudo que conseguia com tão pouco tempo disponível para trabalho.

Depois que se formasse, sem dúvidas arrumaria um emprego pela parte da manhã e tarde também... Sem dúvidas. Mas até lá, era só isso.

“O seu salário...?” – a voz dele, parecendo tão calma, só a fez alarmar-se mais.

A japonesa encolheu-se.

“...Por favor, não faça isso. Himitsu pode voltar.”

Mas ele parecia alheio aos seus apelos. Apenas se aproximava mais, ainda com aquele sorriso torto nos lábios bêbados.

“Ele não vai voltar. Me ligou dizendo que iria passar a noite fora.”

Foi como uma sentença de morte para Maiko.

Himitsu... Se estiver me ouvindo... Por favor, Himitsu...

Papai, mamãe... Qualquer um...

Me ajudem. É só isso que peço. Por favor, me ajudem...

“Como ousa voltar para casa só com essa mixaria?! Mal vai dar para pagar as contas!” – bradou, batendo o punho violentamente na mesa, fazendo a garota retesar-se ainda mais. – “Quer nos matar de fome, é isso?!”

É claro que vai dar para as contas... Não vai dar para a sua bebedeira, seu porco!’, devolveu, mas tudo isso não passou de um pensamento.

“...Por favor, tio. Eu tenho aula amanhã.” – tentou mais uma vez.

“Da próxima, aprenda a não ficar doente antes de receber o salário!”

Maiko sentiu o primeiro impacto. Doeu como o diabo. E veio o segundo, o terceiro, o quarto... Ela teve de perder os sentidos para parar de contar.

Ano de 1290. Final do século XIII.

Cumberland – Inglaterra.

Atravessando os pesados portões do castelo, uma figura pálida se avistava. Os guardas revezavam-se em suas inclinações, os servos em suas reverências.

Os selvagens e longos cabelos castanhos dançavam ao sabor do vento, dando-lhe um ar ainda mais frágil, por mais que quem o conhecesse direito soubesse que aquele rosto crispava-se em raiva com a facilidade do fogo em uma floresta e que aquelas mãos não tinham nenhum traço de piedade ao golpear com uma espada.

Indo pelo salão do castelo, o rapaz não mais via a enormidade dele.

Tudo que ele via era um futuro negro e incerto.

Serás o novo Conde, Richard. Teu pai ficaria orgulhoso, e tu sabes bem disso.

As vestes ainda estavam marcadas de sangue quando ele soube daquilo. Sua própria consciência, ainda enevoada.

Mas só muito tempo depois, naquele cavalgar frenético que antecedia seu lar, o rapaz deu-se conta do que o esperava.

Só então ele percebeu o erro crasso...

...Não podia. Era uma criança. Simplesmente não podia.

Sentando-se na cama que seu pai ocupava naquele castelo, como quem tivesse seu mundo destroçado, ele chamou uma criada. E, passando a mão pelos cabelos, ordenou que trancassem aquele mesmo quarto, assim que se livrassem de qualquer coisa que lembrasse o antigo Conde.

Ele desejou que pudessem também arrancar seu coração.

Mas isso já era impossível.

E então, de pé naquele vai-e-vem das criadas, abarrotadas de coisas do antigo Conde dali, o pai daquele rapaz alto de olhos tão tristes, uma delas se destacou das demais.

De longos e lisos cabelos ruivos e olhos acastanhados, mais parecendo uma delicada tonalidade do cabelo, ela levava os pertences pessoais do Conde para bem longe do jovem herdeiro. Mas seus olhos atreveram-se a rapidamente olhar aquele homem, logo em seguida voltando, envergonhada, a cumprir as tarefas.

“Eleanor!”

Todas as criadas ergueram-se, mas tão logo baixaram os olhos, continuando o serviço. Quando aquele rapaz falava naquele tom de voz, era um acordo tácito entre as mulheres nunca se meterem naquilo.

“Se-senhor...?!” – a criada ruiva respondeu, assustada.

“Todas que não forem a Eleanor, saiam deste quarto agora.” – declarou.

Uma das moças, talvez a mais audaciosa delas por ter-lhe dirigido a palavra, ainda tentou interceder pela pobre garota. – “Ma-mas, senhor, e quanto ao quart...”

“Eu disse que quero a Eleanor aqui. Sumam todas as outras.”

Tão rápido quanto entraram, as mulheres, tensas, algumas dirigindo olhares piedosos à ruiva que ficou parada no mesmo lugar, saíram. E logo, aquele quarto mergulhou no silêncio de morte a que estava confinado antes.

“...Eleanor.”

“Meu senhor...”

Ele sentou-se na cama, tirando parte de sua armadura e deixando que aqueles cabelos castanhos tão preciosos deslizassem mais uma vez pelos músculos bem feitos.

“Não há mais ninguém aqui, Eleanor.”

A ruiva pareceu ponderar por breves momentos. Mas parecia que havia decidido-se muito rápido, pois logo encurtava a distância entre os dois, com passos hesitantes.

“...Richard.” – ela sussurrou, corando.

Ela o abraçou tão logo aproximou-se dele. E o jovem Richard também a envolveu com toda a força que podia, não pensando que talvez pudesse machucá-la com aquele desespero que o consumia naquele carinho.

Por outro lado, a criada Eleanor não pareceu se importar. Pelo contrário, sentindo aquela angústia em seu senhor, envolveu-o ainda mais, da forma mais delicada e maternal que ele jamais recebera em um abraço.

“...Ele morreu, Eleanor. Meu pai morreu.”

“Sim. As notícias sobre sua morte chegaram muito rápido aqui.”

“Não quero ser Conde. Não quero este castelo.”

Eleanor deixou que as quentes lágrimas de seu senhor caíssem em suas roupas puídas, manchando-as com toda aquela dor que ele vertia.

As mãos pálidas dela faziam um suave carinho em seus cabelos, mas ela sabia que não era o suficiente. Seu mestre e senhor estava sofrendo. Seu Richard estava sofrendo.

“Eu não posso fazer muito pelo senhor, Richard.” – ela afastou-se um pouco, tocando-lhe o rosto. – “Tudo o que eu posso fazer... É entregar-lhe tudo que possuo, é dedicar minha vida a você. Eu não posso evitar que se torne o novo Conde.”

Sim, ela tinha razão. Eleanor nunca poderia evitar aquilo.

Nem sequer ser sua esposa de verdade.

“...Só quero que continue me abraçando. É mais do que preciso nesse momento.”

A ruiva sentiu-se feliz. Ninguém mais além dela poderia jamais saber daquilo; do quanto seu senhor era frágil e gentil. Aquele sorriso, aquela entrega genuína, aquelas lágrimas, aquelas mãos que deslizavam pelo seu corpo e distribuía o prazer inebriante... Tudo aquilo era só dela. Ninguém mais poderia tê-lo daquele jeito.

Ela o abraçou. E quando ele tirou as mãos das suas costas, algo em si soube exatamente o que ele queria ver.

Eleanor estendeu as asas majestosas. E milhares de penas delicadas e brilhando em um rosa pálido como os botões da primavera caíram na cama, nos pertences restantes, no chão e até na alma do cavaleiro.

“...Eu a amo, minha Eleanor. Eu a amo muito.” – ele sussurrou. E amava-a com intensidade redobrada quando ela mostrava-lhe aquele par de asas apenas para ele. Aquele segredo somente dos dois.

Tokyo – Japão.

A cada passo que dava, sua maior vontade era desviar da rota da escola e poder visitar mais uma vez aquele apartamento sujo e escuro que tinha cheiro de remédio forte na primeira vez que entrou. Najato disse que Himitsu precisava saber de algumas coisas, e que os primeiros dias eram sempre os mais difíceis e, portanto, ficaria sob a supervisão 24h dele. Maiko sentiu um aperto no peito quando soube disso, mas não pôde dizer não. Só o fato do loiro saber que Irieko ainda estava mal por causa dos ataques que recebeu fazia-o querer mais e mais ser suficientemente confiável para proteger a japonesa.

Maiko não gostava disso. Não mesmo.

Para ela, tudo seria tão mais fácil se ele fosse... Por exemplo, um estudante normal. Tudo bem, podia ficar com asas, mas se não tivessem se envolvido tão à fundo naquele mundo, tudo podia ter ficado bem. Se ela não tivesse sido tão tola recusando-o antes, quando não sabia nada sobre ele...

Agora que ela sabia, mesmo um pouquinho, tinha medo. O tempo inteiro sua vontade era sair correndo do trabalho e ir vê-lo.

Será que estava se alimentando direito? Já teria se machucado? Najato estava sendo um professor tirano ou respeitava os limites dele? Aqueles pensamentos davam a impressão de já tivessem passado muitos meses, mas foram apenas três, quem sabe, quatro dias.

Mas, no instante em que pisou naquela escola, sua prioridade não foi ver se Himitsu tivesse voltado às aulas. Foi exatamente outra.

Desviando da rota habitual, ela dirigiu-se à área mais afastada, aquela que ela sabia que podia procurar quando tinha um problema desses. E quando encontrou um grupo de adolescentes mal encarados, com as palavras certas, ela sabia que eles a ajudariam. Pondo-se em posição de ataque, ela já planejou exatamente como tudo seria.

Um deles descreveu o primeiro soco em seu rosto, e ela sorriu em meio à dor. Em poucos minutos, aquilo já era uma briga com espectadores.

Eu preciso’, pensava o tempo todo.

E ainda em menor tempo, ela já estava pela enésima vez ou até mais naquela sala, a maldita Sala de Advertência. Mais uma vez sendo repreendida por seu comportamento bruto com os outros.

Mais uma vez tendo que fingir algo que não era.

Naquela manhã, como era de praxe, ela chegou pouco antes do professor da segunda aula entrar. Com a pasta displicentemente jogada nas costas, ela foi entrando, com o rosto azedo e a pose de quem não quer conversa, imediatamente afastando qualquer possibilidade de virem lhe perguntar o que era aquilo em seu rosto e corpo.

Era sempre assim. Era exatamente isso que a afastava do convívio com aquelas pessoas. Ou melhor, com qualquer pessoa.

Caminhando distraída até sua classe, ela viu um par de pés no lugar que ficava olhando quando não tinha nada para fazer. Sentindo em suas entranhas um rebuliço estranho, ela ergueu os olhos acastanhados, quase negros, apenas para ter a confirmação: mãos seguravam um livro, e a outra folhava suas páginas. Ela não iria se importar com alguém lendo, se não reconhecesse aquele tom de pele, aquele calor...

Fixou-se, então, no rosto daquela pessoa.

“Himitsu...” – foi o que escapou, então, de seus lábios.

De fato, era ele! Aqueles cabelos loiros perfeitos, os olhos azuis distraídos, concentrados na leitura. O mesmo uniforme escolar que ela viu quando apareceu pela primeira vez na sala, apresentando-se como um Isono, primo dela. Era simplesmente tudo igual. Ela até chegou a querer perguntar o que diabos ele andou fazendo que pareceu não mudar nada.

Mas algo a proibiu de perguntar isso. Talvez porque ela notou alguma coisa.

Não soube dizer com clareza, mas notou...

...E o que importava, droga? Ele havia voltado! Três (ou quatro?) dias fora, e voltou. Para Maiko, porém, ainda parecia um sonho. Ela jurava que iria acordar dentro de poucos instantes e ver que nada daquilo era real.

Que ainda estava em casa, que ainda tinha o corpo dolorido pelo espancamento...

Ainda estava sozinha naquela casa...

“Maiko-chan! É você!...” – ele respondeu, atraindo alguns olhares na direção deles. E só então a japonesa percebeu que não devia fazer mais nada.

Não agora.

“Bom dia, Himitsu.”

“Err... Bom dia...” – ele respondeu, sem jeito.

Maiko sentou-se. Pôs a mão no rosto, entediada, e sentiu uma dor aguda no rosto quando apoiou a maçã do rosto machucada.

E então, notou que havia definitivamente alguma coisa errada.

Acho que... Antigamente... Ele não diria isso. Não faria isso.

E acho que ele também não entenderia isso tão rápido...

“O que você fez com o Himitsu?” – perguntou, numa voz séria.

Sentado no gramado, naquele lugar nos fundos da escola que ela e o loiro sempre usaram para se encontrar com o japonês (afinal, ali ficava a divisória dos colégios), Najato olhou para a ameaçadora figura feminina parada de pé bem na frente dele.

“Bom dia pra você também.” – arqueou uma sobrancelha.

“Não estou brincando. O que você fez com o Himitsu?” – insistiu.

“Não fiz nada, sua louca!” – ele defendeu-se, continuando a comer o lanche que comprara antes de pular as grades de novo. – “Do que está falando, afinal?!”

Ela estava falando daquela... Lavagem cerebral.

Ele não era assim. Alguma coisa estava errada. Em algum lugar, estava errada.

Desde quando o viu na sala, e ficando as aulas inteiras até o recreio pensando nisso, ela tinha de tirar o assunto a limpo. Se Himitsu havia vindo para a aula, era sinal que Najato também. Por isso, a primeira coisa que ela foi fazer não foi falar com o loiro, e sim, com o moreno que havia-o transformado.

“Tô falando daquilo que você fez com...!”

“Maiko-chan! Finalmente te achei! Senti saudades!”

A mesma que teve seu nome chamado virou-se, querendo ver aquele rosto, mas tudo o que viu foi o sol escondido nas sombras que a camisa branca fazia e, em seguida, um par de braços circundando seu corpo, num abraço apertado, daqueles que ela via em filmes quando duas pessoas se reencontram numa estação de trem.

A presença de Himitsu sempre a deixou segura, por mais que dissesse o contrário.

Quando ele estava em casa, nada daquilo que aconteceu naqueles dias de sua ausência acontecia. Seu tio não podia tocar nela. Ninguém podia tocar nela. E sinceramente, ela chegou a abrir a boca para dizer que ele já era perfeito do jeito que estava, que não precisava virar um tal ‘caçador de youkais’ nem nada do tipo para ser a pessoa mais perfeita e forte que a garota já tinha visto.

Ela queria erguer as mãos trêmulas e corresponder àquele abraço. Queria mesmo.

Lembrou-se, repentinamente, do beijo que havia roubado. O rosto dele, inocente e assustado, aqueles cabelos loiros esparramados pelo chão, tentadores e tão perfeitos... Aqueles olhos azuis límpidos que encararam-na como quem busca uma resposta para o ato, e mesmo assim, quando ela não respondeu, ele não insistiu. Ele simplesmente obedeceu-a quando mandou continuar fazendo a trança no cabelo dela... Por Deus, nesse exato instante ela desejou atirá-lo ali mesmo e repetir a dose.

Maiko sentiu os olhos encher-se de lágrimas, e não soube dizer com clareza se era por ele apertá-la tanto e machucar seus ferimentos que o tio causara ou se era porque fazia tempo que desejava estar exatamente assim com ele.

Como podia estar tão diferente e, ao mesmo tempo, tão igual...?

Era o mesmo cheiro... O mesmo calor... E mesmo assim...

“Ei... Vocês pretendem ficar aí nessa cena romântica bem na minha frente até quando?” – a voz entediada do arqueiro Hajaya despertou-a de imediato.

“Perdão, Hajaya-san.” – Himitsu sorriu, largando a garota. – “Veja, Maiko-chan, eu trouxe melonpan pra você. Quer?”

...O que é isso?

“Eu... Sim... Quero sim...” – estendeu, hesitante, a mão, até tocar na sacola. Ela se sentiu conversando com um estranho.

“Alguma coisa errada? Maiko-chan está estranha...” – ele olhou-a preocupado. O mesmo olhar de preocupação que sempre exibia. Merda!

“...Não. Eu tô bem, pode deixar.” – forçou um sorriso. – “Mas tô com fome. Vou pegar o melonpan, tá?” – e foi o que fez.

Sentando-se perto de Najato, ela ficou olhando para Himitsu, que abria seu lanche.

“O que vocês andaram fazendo...?” – em transe.

“Nada demais, acho.” – respondeu.

“Ah! O senhor Najato me explicou muitas coisas. Ele explicou as classificações de youkais, me explicou como funciona o mecanismo das minhas asas... Que mais?” – pareceu pensativo, tentando lembrar de algo. – “Ah sim! Nós até mesmo fizemos rondas pela cidade, e conseguimos eliminar uns youkais que tentavam atacar os civis.”

Sério, o que é isso?

Cadê o Himitsu que eu conheço?

O loiro que ela havia deixado aos cuidados de Najato jamais falava daquele jeito. Ele era cheio de exclamações, de gestos infantis, de olhos brilhantes...

Aquele Himitsu tinha as ações mais contidas, e mesmo com aquele jeito meio inocente que lhe era característico... Ele parecia um adolescente normal. Aqueles olhos não tinham mais algum brilho que antes devia ter. Alguma coisa que ela não sabia classificar não estava mais lá.

E, naquele instante, Maiko desejou ardentemente voltar ao passado.

Desejou retornar àquele momento na casa de Najato e segurar a mão de Himitsu, de responder por ele e dizer o que queria ter dito. ‘Não. O Himitsu não vai pra lugar nenhum. Ele ficará só comigo’. Ela arrependeu-se profundamente disso.

Um arrependimento que brotou lá do fundo de sua alma.

“Que... Que bom, Himitsu...”

“Não é? Eu já consigo liberar umas oito ou nove penas.” – e, surpreendentemente, ele parecia muito feliz de ter se envolvido naquilo. – “Hajaya-san disse que, se eu continuar nesse ritmo, logo vou conseguir chegar ao nível da Irieko-san.”

Era assim que um bebê vai crescendo e se corrompendo?

Não era isso que se chamam de ‘aprendizado’?

Mas... Se ele era assim tão cruel... Como será que uma mãe agüenta ver sua cria crescer e sair de baixo de suas asas? Ela pegou-se pensando que, se fosse com ela, não suportaria. Ali estava a prova clara.

Ela continuava horrorizada com aquele Himitsu que via à sua frente.

Quanto mais eles estendem as asas... Quanto mais lutam e aprendem... Mais eles lembram de sua própria essência’.

Então, aquele era algo muito próximo do verdadeiro Himitsu?

Mas onde estava o Himitsu dela? Aquele que ela conheceu e aprendeu a gostar?

“...E hoje o Hajaya-san disse que vamos sair de novo, Maiko-chan.” – ele sorriu, e por mais que parecesse inocente e infantil, ela já não conseguia mais sentir-se bem. – “Não se preocupe, porque eu vou aprender a protegê-la da maneira adequada, tá?”

Com aquele sorrisinho puro... Como ele ousava...?!

Se queria mesmo protegê-la do jeito que ela precisava, que voltasse para casa e tirasse-a de lá! Que voltasse a ser o Himitsu que ela não via há três dias!

“Eu vou com vocês!” – a boca falou antes do cérebro processar a informação.

“Mas hein?” – já o japonês encarava-a como se ela fosse louca.

“Eu disse que vou com vocês, a partir de agora, nessas rondas. Vou ficar de olho em cada mísero passo que derem.”

E essa era a sua decisão definitiva.

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Petit Ange

Tom VIII: Sehriel.

“Maiko-san... Você sabe o que aconteceu com o Himitsu?”

Ouvir aquela pergunta a fez retesar-se de imediato.

“Co... Como?” – e ela fez o possível para parecer calma, mesmo estando pensando em mil coisas ao mesmo tempo.

“É que ele... Parece meio estranho. E ele não veio aqui há dias. Ficou gripado?”

E no mesmo instante, ouvindo aquela última pergunta, um enorme alívio a invadiu, mesmo que ela tenha sentido uma breve dor no peito por ver que a mudança dele estava assim tão visível.

“Si... Sim. Ele ficou meio resfriado, mas foi só alarme falso, ainda bem...” – forçou um sorriso. – “Desculpe ele não ter podido me acompanhar esses dias, Tanaka-san...”

“Que nada, querida. Até parece que nossa economia depende dele...” – (mas, de certa forma, ele era tão lindo que trazia muita gente comprando coisas apenas para ficar olhando-o um pouco mais). – “Eu só fiquei preocupada um pouco...”

“Desculpe incomodá-la. Eu irei brigar com ele depois.” – a japonesa sorriu.

“Ahaha, isso mesmo, diga para ele que as titias estavam com muita saudade.” – e isso Maiko viu de longe. As outras funcionárias ficaram tão tristes quando não o viram na loja lendo as revistas, como sempre.

Ainda com a vassoura que, até a pouco estava limpando os arredores do balcão, Maiko não pôde conter a sua já clássica virada de pescoço para encarar o rapaz que lia alguma coisa na parte das revistas.

Mexendo em seu cabelo amarrado e jogado por sobre o ombro, ela pegou-se admirando-o e pensando. Mais uma vez.

...Isso já estava ficando cansativo. Mas era inevitável.

Ela tinha vontade de ir até Himitsu, aquela figura de costas e cabelos até abaixo do pescoço, e sacudi-lo até que ele tivesse um problema mental e voltasse a ser o garotinho tolo que ela conheceu. Porque, antes, por mais que ele fosse tentador, ela o via como um ‘menino’. Mas agora, algo em si não conseguia mais concebê-lo daquela forma.

Maiko tentou desesperadamente agarrar-se às memórias anteriores àquele Himitsu, mas como pôde concluir, era impossível. Ele sempre parecia o mesmo de sempre, mas aqueles pequenos gestos indicavam que ele já não era mais puramente o loiro. A tal “essência” da qual Najato falava estava, realmente, se manifestando.

Como eu fui retardada, droga...

Antes, eu achava que ele era um perigo. Tinha medo dos seus segredos.

Sem sequer me lembrar que ele próprio é um ‘Segredo’.

...E agora, aqui estou, como uma idiota.

Procurando qualquer traço daquele tolo por quem me apaixonei.

Era meio triste perceber que ele estava “crescendo”. E tão solitário quanto. É claro que Himitsu foi gentil com ela o tempo todo, brincou e sorriu, e parecia até mesmo mais unido à ela que antes...

Mas, mesmo assim, ela pegava-se relembrando seus motivos.

Najato disse que, se ele se envolvesse neste submundo de lutas e de monstros, muito provavelmente sua essência iria voltar mais rápido e ele teria muito mais condições de protegê-la. Mas de que adiantava a proteção se a verdadeira missão dele, aquela que também Najato quem lhe disse de que os tais ‘anjos’ vieram para fazerem seus “Deuses” felizes, estava falhando no instante em que ela já não o sentia o mesmo?

E, além disso, ela quase havia esquecido... Havia o tal youkai (ou era hanyou? [1]) que feriu Irieko. Algo lhe dizia que as chances de encontrá-lo eram incrivelmente grandes. E isso a assustava. E se ele se ferisse?

Provavelmente, não haveria muito o que fazer. Ela era só uma humana.

Com uma força bruta, mas humana.

Talvez, pensando assim, tenha sido meio que um erro se prontificar a checar as tais ‘rondas’ de Najato e Himitsu. E se o loiro ficasse que nem Irieko?! Ela ainda nem havia se recuperado totalmente!

“Quer ajuda, Maiko-chan?!”

Acordando de seu devaneio, brutalmente tirada dos mesmos, ela conteve uma exclamação surpresa ao ver justamente o rapaz alto e loiro ao seu lado.

“AH! É você, Himitsu!” – ela tocou no peito, escutando seu coração bater descompassado (por muitos motivos). – “O que houve?”

“Ia perguntar a mesma coisa, Maiko-chan. Algum problema? Quer ajuda?”

Maldito sorriso...

...Por um momento, ele me faz pensar que Himitsu ainda é o mesmo.

Maldito, mil vezes maldito.

“N-não, eu estou bem, obrigada. Só estava distraída... Brigada por me avisar antes que alguém me visse, Himitsu.” – forçou um sorriso.

“Maiko-chan está muito estranha. Tem certeza de que está bem...?” – inclinou-se um pouco, tocando na testa dela, como se procurando algum sinal de febre.

“Claro que eu tô! Pode deixar.” – afastou-se dele no mesmo instante, sentindo o coração despedaçar-se. – “Agora, eu vou limpar lá atrás e daqui a uns quinze minutos, vai estar na minha hora de saída. Aí, a gente encontra o Najato no local combinado e vamos começar essa ronda, ok?”

“Sim! Vou estar esperando a Maiko-chan no lugar de sempre. Posso, né?” – sorriu.

“Não fique me pedindo essas coisas... É claro que pode.” – ela forçou um sorriso ainda maior. Mais uma vez, seu coração doía (o que ela tinha, hein? Era princípio de infarto, isso de ficar com o peito apertado toda hora?!).

Maiko virou-se, indo ocupar-se do outro lado da loja.

Discretamente, secou uma possível lágrima que ia começar a cair.

“Tem certeza que esse é o ponto de encontro...?”

“...Errr, te-tenho quase certeza...” – o rapaz mexeu num papel no bolso do uniforme e leu o que estava escrito. – “Err... O endereço está certo, Maiko-chan...”

“Não acredito que o Najato tá aqui...”

Maiko olhava torto para a construção a sua frente. Himitsu só lia e relia o papel, tentando procurar qualquer espécie de erro no endereço.

Diante daquela multidão na parte agitada de Tokyo, os dois estudantes (ainda de uniforme! O que as pessoas que passavam iam pensar?!) ficaram estáticos, procurando qualquer traço de coragem para entrar ali. O prédio era alto e muitíssimo iluminado, do tipo capaz de ofuscar o mais forte dos olhos.

Lá de dentro, as batidas eletrônicas das músicas era ouvido à distância, fazendo os ouvidos dos dois retumbarem dolorosamente. Só se pensar que teria de se aventurar naquela selva, Maiko sentiu-se enojada.

Mas, muito mais do que isso, lembrou que Himitsu era um idiota que nunca havia estado numa boate, nem numa ‘balada’.

“Himitsu...” – chamou.

“Sim, Maiko-chan?” – sorriu.

“Qualquer que seja a coisa que você veja lá dentro, não ligue. Exclua tudo da sua memória imediatamente, entendeu?” – gota enorme na cabeça.

“S-sim! Vou lembrar disso!” – mais um pouco, e ele ia bater continência para ela. E pensando nisso, não pôde deixar de rir.

Mas não era hora de ficar de brincadeira. Quanto mais cedo terminassem essa droga, mais cedo voltariam para casa! E dessa vez, Himitsu voltaria, não iria mais ficar um dia sequer fora do apartamento!

Envolvendo o braço dele, ela puxou-o para dentro.

Quem os visse de longe, diria que eles pareciam mesmo um casal de namorados caipiras, porque a garota agarrava seu braço e conduzia-o, emburrada, enquanto o loiro parecia estar num misto de êxtase e puro susto a cada nova luz que deslizava pela pista, a cada novo odor de suor ou álcool.

De fato, o uniforme escolar que eles usavam chamaram mais a atenção do que esperava, e numa certa hora, Maiko teve que cerrar os dentes para não mandar alguém à merda e cuidar da sua vida.

Desnorteado, olhando para todos os lados, Himitsu não percebeu que devia se desviar e acabou batendo no ombro de uma moça loira que era arrastada por uma adolescente menor que ela.

“A-ah... Me... Me desculpe, senhorita...!” – ele pediu, mas arrastado também por Maiko, já estava se afastando e a música estava alta demais para que ele não acabasse quase que gritando aquela frase.

A japonesa já estava quase desistindo, quando encontra alguém abanando numa mesa e, de pronto, reconhece o rapaz de cabelos negros.

“Graças a Kami-sama! Lá está o Najato!”

Ainda segurando (e muito bem) Himitsu de encontro a si, ela foi abrindo espaço por entre as pessoas até chegar na mesa do outro. E sua surpresa foi vê-lo deveras relaxado, sem nenhuma arma (possivelmente, ele havia guardado ela em outro lugar), mas tomando um suco e vestido de forma totalmente informal (FATO! Sequer parecia o Najato Hajaya que ela conhecia!).

“Adivinhem? Senti um youki [2] agorinha há pouco!”

“Sério? Youki não é a tal energia dos monstros?!” – mais uma vez, a morena se sentiu jogada num daqueles tipos de RPG estranhos.

Maiko virou-se para ver o que Himitsu achava, e só o viu fazer uma coisa; olhar de um lado para o outro, como quem procura algo que o deixou realmente alvoroçado. Uma atitude bem comum naqueles programas sobre a vida animal selvagem, na qual uma gazela pressente a proximidade de um leão.

“O que foi, Himitsu?” – perguntou.

“A... Acho melhor irmos embora, né...” – ele pediu.

“Bom, embora nós vamos, mas por que não se sentam e descansam um pouco antes? A Ma-chan tava trabalhando até agora, né?” – Najato apontou mais duas cadeiras naquela mesma mesa.

“Como acha que eu descansaria nessa pocilga barulhenta e infernal?” – gota.

“Mas... Eu realmente acho melhor irmos embora...” – insistiu, e dessa vez, Maiko sentiu que ele a puxava mais para si, num daqueles atos protetores de herói de romance. Ela chegou a corar, mas graças à pouca iluminação, ninguém percebeu isso.

“Najato, vamos embora.” – ela cedeu. – “Quanto mais cedo começarmos a ronda, mais cedo termina...”

Os três notaram uma estranha agitação na boate, com pessoas deixando o lugar.

“Pois não, o que aconteceu?” – perguntou, então, para uma moça que ia passando.

“Parece que uma funcionária está morta...” – ela disse, apontando o balcão onde se servem bebidas. – “Mas acho que ninguém sabe como aconteceu...”

“Mo... Morta...?” – Himitsu chocou-se. – “Va-vamos sair logo daqui, Maiko-chan... Por favor, vamos embora...” – ele puxava-a, como uma criança quando quer que a mãe deixe logo de fazer o que está fazendo e atenda-a.

“T-tá, vamos embora sim...” – ela ia indo, mas percebeu que Najato permanecia no mesmo lugar. – “Ô Najato, vambora antes que viremos testemunhas oculares!”

“...Aquele moleque tá lá.”

A garota virou o olhar para onde o outro parecia encarar, e viu um garoto perto do balcão, encarando a funcionária morta. Ele não parecia mais velho que eles, talvez tivesse uns 14 anos. Tinha os cabelos mais negros que já vira em alguém, até mais escuros que os dela, e os olhos eram igualmente pretos. Ele vestia também uma roupa inteiramente preta, o que fazia dele quase uma aparição de filme de terror.

“O que tem ele? Vamos embora!” – insistiu.

“Aquele é o moleque que machucou a Irieko.” – Najato ergueu-se e foi atrás dele, esquecendo-se dos apelos de Maiko.

A sorte de Najato é que, quando o menino enxergou-o, fugiu depressa pelo exato lugar onde havia deixado suas armas. Como estavam escondidas, ele possivelmente não as veria e poderia pegá-las antes de voltar a correr atrás dele.

Logo atrás, Maiko e Himitsu o seguiam. O loiro pediu para eles não irem por aí, mas não explicou o porquê quando a outra pediu. Então, ela deu de ombros e continuou atrás do japonês. A última coisa que precisava era de problemas, mas parecia que era exatamente o que ia acontecer!

“NAJATO, PERAÍ!” – berrou, tentando-o fazer parar (o desgraçado corria rápido demais, droga!).

Antes, porém, que ela berrasse mais um pouco, sentiu um par de braços  circundarem sua cintura e puxá-la na direção de um corpo. Ela reconheceu-o de imediato pelo calor e aquele cheiro, mas ainda sim, o susto foi grande.

“Aie! Himitsu!...” – surpresa, também não evitou o rosto vermelho.

Com a garota no colo, o loiro sorriu.

“...Me permite fazer algo para irmos mais rápido?”

Que... Déjà-vécu... [3]

Engolfada pelo ar de fora novamente, a primeira coisa que sentiu foi a chuva torrencial que caía sobre suas cabeças (que terror, quanto tempo ficaram naquela porcaria?). E, saída de um ar abafado àquele ali, ela sentiu frio. Segurando-se melhor nos ombros de Himitsu, ela viu a silhueta de Najato sumir pela esquerda, e chamou o loiro.

“O idiota está lá!” – apontou.

“Ah! Obrigado, Maiko-chan.” – sorriu ainda mais, correndo de novo, com aquela mesma rapidez daquele dia em que foram para a escola atrasados.

Era estranho...

Ela tinha essas impressões de que ele ainda continuava o mesmo, e ao mesmo tempo, notava a olhos nus a nova mudança.

Podia parecer desesperador, mas por um momento, ela o aceitou daquele jeito novo.

Mas logo tratou de tirar esses pensamentos da cabeça. Isso quando viu Najato parar e Himitsu também, por tabelinha, encarando todos um par de gêmeos. Um que parara de correr e o outro que estendia uma aljava e um arco.

“...São seus, né? Pode pegar. Eu não gosto muito de arco-e-flecha.” – disse o menino, exibindo um sorriso cínico, porém cordial.

Najato retesou o corpo e cerrou os dentes, impotente.

“Pode pegar, senhor Hajaya. Não pretendo atacá-lo enquanto se aproxima.” – continuou insistindo. – “Posso ser um meio-youkai, mas nunca mataria um caçador que está  me fazendo um grande favor.”

...Um favor?

O dito caçador, ignorando qualquer possível dúvida que pudesse ter, deu um primeiro passo hesitante. E outro. E mais outro.

A tensão, por mais que a chuva gelada caísse, era visível. Quase podia ser tocada e sentida. E quando finalmente o rapaz tocou no arco, pegando-o nas mãos, e se afastando devagar, Maiko pôde sentir o tamanho do ódio de cada um deles. Por motivos diferentes, mas era um mesmo ódio opressivo em comum.

“Boa noite, senhores.” – o garoto se apresentou. – “Perdoem a má-criação do meu irmão. Ele só é meio curioso... Ah sim, eu me chamo Mashiro Himeno e esse é o meu irmão gêmeo mais novo, Shiho Himeno.”

...Meu Deus, eles são iguais!

Dã! Eram gêmeos, mas ainda sim, a semelhança era assustadoramente bizarra! Se possível, eles estavam até com a mesma roupa. Tudo o que mudava é que um deles, aquele que eles viram na boate, estava agora atrás do outro irmão, aquele de sorriso cínico e tranqüilo, que apresentava-os como se fosse a coisa mais natural do mundo.

Puxando de imediato uma flecha e apontando a arma pronta para ser usada no garoto pálido que dizia-se ser meio-youkai, Najato encarou-o.

“Foi esse seu irmão que machucou a Irieko, não é?” – perguntou, sério. – “Apesar do youki que eu senti lá foi meio seu, meio do outro que fez essa bagunça toda, não foi você quem deixou a Irieko assim.”

“De fato, foi meu irmão.”

O moreno parou de pensar em qualquer coisa, como se de repente visse que tinha uma missão bem maior a cumprir.

A voz de seu pai dançou mais uma vez em sua mente.

“Não sinto nenhuma espécie de youki vindo de você.” – disse para Shiho, que atacara a garota dos cabelos verdes. – “Mas de você...” – agora, apontando a flecha para Mashiro. – “...Eu sinto uma grande emanação.”

Ele sorriu e cruzou os braços, inclinando a cabeça como quem não entende.

“Mas não desejo lutar contra você, senhor Hajaya. Você está sem seu ‘Ensis’ [4]. É covarde atacar alguém sem ‘Ensis’.”

“Por isso, na falta de Iriel, não desejamos atacá-lo.” – Shiho respondeu.

Saindo de trás de Mashiro, ele suspirou e liberou suas asas. Eram um belo exemplar de asas negras e majestosas, semelhantes à de um corvo ou algum pássaro sinistro semelhante. Aquela já conhecida chuva de penas cálidas iniciou-se.

O gêmeo desviou sua atenção do caçador preparado para matá-los para outro lugar.

“Se Iriel estivesse aqui, claro, tudo seria muito mais interessante...” – Mashiro concordou, de braços cruzados.

“...Mas se Iriel não está, nos contentamos em começar com você, Sehriel.”

O gêmeo de negras asas, então, começou a encurtar a distância entre ele e Himitsu.

...Eu sabia. Algo lá no fundo do meu coração me alertava disso desde o início.

Se Himitsu se envolvesse demais nesse mundo...

Um dia, algo assim ia acontecer...

[1] Literalmente, ‘metade monstro’. É a designação japonesa para “meio-youkai”.

[2] Significa “Energia Sinistra”, e é escrito originalmente (妖気), com o mesmo kanji YOU de Youkai.

[3] É um tipo de déjà-vu, mas ao contrário de um normal, este tipo também evoca os mesmos sentimentos que se pareceu ter sentido da outra vez.

[4] Literalmente, ‘espada’, ‘relativo à combate’ em latim.


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