Quando olhei para trás, Gerard estava preso com um pé de um lado e o outro do outro lado do muro. Típico. Fui ajudar.

- Gerard, calma, é só passar o pé pro lado de cá.

- Mas eu vou cair, Frank, não dá.

- Então volta com o pé para o seu lado.

- Como seu eu fosse flexível assim.

- Cara, é fácil. Não precisa ser do Circo de Solei para pular um muro de um metro e meio.

- Não consigo, não dá. Liga para os bombeiros, vai.

- Calma, vou tentar te tirar daí. Me dá a mão.

- Não, não! Tá maluco, eu vou cair!

- Ok, escandalosa, então o que você quer que eu faça?

- Primeiro, vai lá e procura pela Lindsey. Fala para ela vir aqui falar comigo.

- Na boa, você quer mesmo que ela te veja assim? Se bem que ela até vai dar umas risadas. Quem sabe ela tem mesmo uma queda por caras em cima do muro. HAHAHA Queda. Muro. Entendeu? HAHAHA Muito boa essa, tenho que contar para o Ray!

- Chega de palhaçada, Frank. Já que você consegue pular muros e fazer piadas vai de uma vez pro Circo de Solei, vai. – e só não me bateu porque estava, hmm, impossibilitado no momento. Corri para o quintal dos fundos.

Primeiro fiquei observando o que acontecia. Kitty estava tocando bateria e perto dela, um cara gordinho de cachecol tocava guitarra. Lindsey estava em pé tocando seu baixo, com uma botinha azul no pé. Tinha um cara magro, com cabelo espetado e roupas cor de rosa cantando. O som deles era muito legal. Fiquei alguns minutos lá curtindo. Era um rock eletrônico, meio metal, não consigo explicar. Quando a música acabou, me distraí e comecei a aplaudir. Todos me encararam na mesma hora. Fodeu. Lindsey assim que me viu, foi sentar em uma mesa mais afastada, com se eu não tivesse notado sua presença. O cara de cabelo espetado veio até mim.

- Quem você pensa que é para invadir minha casa? Hein, hein? Quem é você? Seu filho da mãe estúpido. Eu estou falando rápido demais? Responde. Estou? Estou?

- Calma, Jimmy. – disse a Kitty – Eu conheço ele, é amigo do Bob.

- Ah, mil desculpas. Espera, filho da mãe estúpido, você ainda não explicou por que invadiu minha casa. Filho da mãe estúpido. Estúpido filho da mãe. Stupid Motherfucker! Caralho, Steve, isso dá uma música. Vamos, eu preciso, eu tenho, eu preciso escrever. Tchau, desculpa, amigo do Bob. – e nisso, sentou na mesa onde Lindsey estava, para escrever a música.

- Não se assuste, Frank. Ele é assim mesmo. Mas então, o que você veio fazer aqui?

- Ah, é que eu e o Gerard fomos na casa da Lindsey e o pai dela nos mandou para cá. Ela está? – falei, ignorando totalmente o fato dela estar há alguns metros de nós.

- Está sim... Eh, naquela mesa, provavelmente descansando o pé. Ela faz isso entre uma música e outra.

- Ok, então... vou lá falar com ela. Obrigado e desculpa invadir a casa do seu amigo...

- Hehe, tá, deixa para lá. Ele vai te agradecer depois pela inspiração que você deu a ele agora.

Fui andando até a mesa e realmente Lindsey estava mexendo na botinha. Ela estava distraída, só me notou quando eu a cutuquei.

- Frank? Oi, o que você está fazendo aqui?

- Ah, na verdade seu pai nos disse que você estava aqui. O Gerard queria falar com você e, sabe como é, ele não consegue esperar.

- Ele está ai com você? Por que ele não entra?

- Sim... O problema é que ele ficou preso em cima do muro.

- Muro, vocês pularam o muro? É isso? É? – falou Jimmy virando a cadeira para a nossa conversa

- Mas espera, ele está preso? – Steve também se virou para nós

- É, ele não consegue descer. Lyn, você vai ter que ir lá falar com ele.

- Vamos lá, Jimmy, pra ajudar o garoto.

- O garoto que está invadindo a minha casa? Ok, vamos lá.

Gerard estava agarrado ao muro, com os pés cada um de um lado ainda. Fez uma cara de dúvida quando viu dois caras e a namorada dele me acompanhando.

- Ei, garoto, vai chegando mais pra frente, até o portão. Vou te ajudar a descer.

- Vou buscar a escada, Jimmy. Não é melhor?

- Não, Steve, não é. Deixa comigo. – Gerard obedecia calado e assustado.

- Cuidado, Gerd! Vai com calma!– Lindsey gritou

- Tá, Lyn, eu to tentando! Não, eu não sei se vou conseguir!

- Deixa de ser fresco, vai fazendo o que eu falei. Se arrasta pro portão que eu te ajudo.

- Tá... Eu acho que... eu to conseguindo.

- Isso, vai, mais rápido!

- Vai Gerard, vai! Vai Gerard, vai! – comecei a puxar um grito de torcida. Lindsey me acompanhou.

- Calma que eu to indo. Merda, eu vou cair! Socorro!

- Garoto, olha, você já está quase no portão. Agora põe o pé na maçaneta que eu te seguro.

- Não, não dá, não dá!

- Gerard, confia no Jimmy!

- Jimmy?! Então esse é o cara que foi te ver no hospital. Sai daqui, seu idiota, a Lindsey é minha e ela toca com a gente!

- Olha, eu vou fingir que não ouvi isso, garoto. Vai, coloca logo o pé nessa porra de maçaneta. – Gerard olhou para o chão, para Lindsey e para a mão de Jimmy.

- Ok, então. Mas depois nós precisamos conversar, viu?

- Vai logo!

Sendo assim, Gerard colocou o pé na maçaneta e Jimmy o segurou pela cintura, enquanto Steve fez uma “escadinha” com as mãos para ele colocar o outro pé. Gerard se apoiou nas mãos de Steve e perdeu o equilíbrio, caindo assim por cima de Jimmy. Eu e Lindsey corremos.

- Gerard, você tá bem? Ai, seu doido, de quem foi essa brilhante ideia, hein?

- Nem olhe para mim. Ele que deu a deixa...

- Eu já te salvei, criança, agora pode tirar sua pessoa de cima de mim?

- Tá, já to levantando. Eh... valeu, hm, Jimmy.

- Só fiz isso porque não queria ninguém morrendo em cima do meu muro. Mas, por nada, eh... seu nome é?

- Gerard! Eu sou vocalista do My Chemical Romance, a banda da Lindsey. – frisou essa última parte – agora, podemos conversar a sós, Lindsey?

- Claro. Jimmy, a gente pode ficar na sala?

- Qual seu conceito de ficar?

- Ah, para, haha! – ela deu um tapinha no braço dele e Gerard ficou sério

- Vão, lá, vão.

Gerard e Lindsey foram para sala e eu fiquei lá fora conversando com o Jimmy, o Steve e a Kitty. Descobri que eles tinham uma banda, chamada Mindless Self Indulgence, que ia tocar no baile, junto com a nossa, a Flogging Bears e o Dia Verde.

Papo vai, papo vem, Gerard saiu de lá meio cabisbaixo, mas parecia satisfeito. Lindsey veio logo em seguida. Ela sim estava desanimada, mas tentava disfarçar sorrindo. Eu e Gerard nos despedimos de todos e Lindsey avisou que ia com a gente. Pegamos o ônibus em silêncio. Me sentei na cadeira perto da janela atrás das cadeiras do Gerard e da Lyn. Um pouco antes do ponto em que a Lindsey sairia o Gerard resolveu falar alguma coisa.

- Frank, quer vir com a gente?

- Mas eu não vou atrapalhar, não?

- Não, não vai – ele disse.

- Tá.. – falei enquanto eu voltava a minha atenção para a janela. Olhei para a Lindsey pelo espaço entre a cadeira e a janela, ela estava com a cabeça encostada no vidro, olhando por ali e enxugou uma lágrima com as costas da mão. – Lyn, tá tudo bem? O que houve?

- Quando a gente chegar eu explico – disse Gerard.