Era uma das primeiras noites que eu consegui dormir tranquilo. Sem se preocupar com o teste, sem problemas com a Jamia, sem problemas com o Gerard, sem trabalhos na escola... O mais importante era que a gente ia tocar no baile. Eu nem estava muito pilhado com o prêmio, mas eu fiquei imaginando o que poderia ser enquanto me recusava a levantar de manhã. Muito lentamente, fui levantando, me arrumando, comendo, tudo isso ouvindo aquela música nova do Red Hot. O ritmo era bom para relaxar. Estava com sono. O dia anterior tinha sido agitado.

Cheguei na escola e todos estavam lá, ocupando o nosso banquinho inteiro. Jamia e Christa conversavam animadamente, enquanto Mikey deixava sua poker face de lado para falar com Alicia. Ray estava contando piadas para Gerard e rindo sozinho, enquanto Gerd o encarava.

- Oi, gente!

- Frank Iero, você sabe o que o cavalo foi fazer no orelhão?

- Sei lá, Ray...

- Ignora, Frank, ignora...

- Ele foi passar trote! HAHAHAHAHA!

- HAHAHA não teve graça, Raymond... – disse Gerd antes que eu dissesse qualquer coisa

- Então vou contar aquela do boi verde!

- Não, essa de novo não!

- Ui, Gerard só está assim porque a namorada faltou e não atende o celular. Falo logo.

- Cala a boca, Ray! Ela deve estar em casa descansando o pé e ainda não acordou, só isso...

- Fala sério, você ainda não engoliu aquela história do amigo da Kitty que visitou ela, né? – Gerard deu um tapa no braço de Ray

- Mais uma dessas e eu corto seu cabelo a noite.

- Que medo, ok, parei... Vou ali falar com o Bob, no espaço de música, antes que o sinal toque. Tchau pra vocês.

- Tchau, Ray. – disse, me apossando do lugar dele no banquinho

- Tchau. Ah, depois eu conto a piada do boi verde!

Gerard quase partiu pra cima do Ray, mas eu o segurei. Estava rindo da situação, mas o Gerd parecia bem incomodado.

 - O que houve, hein? O senhor estava tão animado ontem de pijama na espagueteria...

- Pois é, foi muito legal ontem a noite, que eu me esqueci completamente do cara que eu vi no hospital, visitando a Lyn com a Kitty...

- E por que você não pergunta para a Kitty quem é ele?

- Eu não sei, vai ficar estranho... Por que você não fala com o Bob?

- Eu?! Não me meta nisso. Ela faz aula de bateria. Deve ser só mais um amigo músico deles...

- Vamos, Frank! Depois de tudo que eu fiz para te alertar sobre o Pete! – modo “drama queen” ativado

- Ah... Tá bom, tá bom...

O sinal tocou e subimos para a sala. Ray chegou um pouco depois, muito em cima da hora. Os três primeiros tempos passaram muito lentamente. O dia todo estava assim. Jamia me disse que ela e Christa iam escolher um vestido para amanhã hoje a tarde, e no recreio, iriam convidar Alicia para ir junto. Não contei a ela meus planos para o recreio, pois eu sabia que ela iria me repreender por estar investigando a vida da Lyn com o Gerard. E ela estaria certa.

Descemos ao toque do sinal e Gerard foi me puxando para o espaço de música. Bob estava lá catando baquetas do chão. Ele não percebeu nossa presença, então Gerard me deu um toque para começar a falar.

- Eh... oi, Bob!

- Frank, Gerard? Oi, gente! E então?

- Ah, por acaso a Kitty está ai? É que o Gerard queria saber da Lindsey, por que ela faltou e talvez a Kitty tivesse alguma notícia dela. – Gerard me encarou com cara de dúvida.

- Não, não é bem isso que a gente veio perguntar, não é, Frank?

- É... tem certeza? – quase gaguejei

- Tenho. É o seguite Bob, quem é o amigo da Kitty e que raios ele estava fazendo no hospital visitando a Lyn? – Bob estava assustado, mas sua expressão se quebrou em uma leve risada.

- É o vocalista da banda dela. Eles estavam precisando de baixista e foram pedir uma ajuda a Lindsey, provavelmente. Não sei se é isso mesmo, mas elas acabaram de sair daqui. A Lyn veio só para fazer o teste para tocar no baile e pelo visto, a banda foi aprovada. Mas vocês chegaram tarde, elas foram embora há uns 10 minutos...

- Entendi. Obrigado, Bob. Vamos, Frank. – e me puxou de novo

Saí do espaço de música puxado por Gerard, até o banheiro. Eu estava muito confuso devido a reação do meu amigo. Ele estava sorridente, meio frio e calado. Ele esperou que o lugar ficasse totalmente vazio. Assim que o último garoto saiu, sua expressão mudou.

- MERDA! Por que a Lindsey não me contou? Ela é a nossa baixista e ela não pode tocar. O pé dela tá enfaixado! E ela nem me falou sobre isso quando eu perguntei. O que mais ela está me escondendo? Será que esse cara é mais que um vocalista para ela? Isso de novo não! Será que...

- Calma, por favor! – interrompi-o – Olha, se a Lindsey não te contou, é porque ela sabia que você ia ficar pilhado desse jeito. Agora, você precisa falar com ela, eu tenho certeza de que ela ia te contar tudo. Só não pira, por favor. Você não faz ideia de como essa menina era louca por você, ela jamais faria isso contigo. – Gerard estava de costas, para eu não ver as suas lágrimas. Mais que depressa, virou-se e me abraçou.

- Valeu, Frank. Você tem razão, vou ligar para ela. Obrigado.

- Que isso, Gerard... Agora, me larga, isso tá muito gay.

Ele deu uma risadinha, enxugou as lágrimas e saímos dali.

Os três últimos tempos também passaram devagar. Gerard estava ansioso para sair e ir para casa de Lindsey, passar aquilo a limpo e levar a matéria para ela. Ele me chamou para ir junto, já que hoje Jamia tinha programas de caráter feminino para fazer.

Gerard tocou a campainha. Um homem veio abrir. Era o pai dela. Ele disse que ela tinha ido para a casa de uma amiga e nos deu o endereço. Provavelmente era a casa da Kitty. Pegamos um ônibus e fomos lá. O papel nos levava para a casa número 415 daquela rua, mas ouvimos um barulho de bateria vindo do quintal da casa vizinha, a 417. Nos aproximamos. Olhei para o muro e olhei para o Gerard. Gerard olhou para o muro e olhou para mim. O muro olhava para mim e para Gerard.

Gerard começou. Colocou um pé por cima do muro. Compreendi o que ele ia fazer e pulei a parede de cimento também. No que ia andando para o quintal dos fundos, de onde vinha o barulho, percebi que Gerard não estava me acompanhando. Parei e olhei para trás.