Domingo a tarde fui andando pra casa da Jamia. Eu estava meio ansioso, ou nervoso, não sei. Eu me lembrava da noite passada e dos meus estranhos pensamentos. Não sei por que eu pensava aquelas coisas. Não aconteceu nada de mais. Eu só fui ao cinema com uma amiga, mas foi tão... feliz. Uma sensação de liberdade. Realmente, não sei o que está acontecendo comigo, mas eu me sinto bem, sei lá, meio bobo. Tenho rido de qualquer coisa. Isso tudo é muito confuso. Muitos pensamentos pra pouco Frank!

Pronto, eu estava na porta da casa dela. Toquei a campainha.

- Frankie!

- Oie, Jamiaa! - Ficamos naquele momento tenso de abraça ou não abraça, mas no final a gente só deu aquele tchauzinho estranho com a mão.

A casa da Jamia não era muito grande, mas era toda arrumadinha. Tinha dois andares e uma escada caracol. Ela morava com os pais, mas eles tinham saído.

- Fica a vontade, Frank. Vou lá na cozinha pegar uma coisa pra gente beber e já volto. Você toma coca cola, né?

- Na verdade, eu tenho tentado evitar a coca, hehe. Mas, tudo bem, pode ser.

- Falou.

Sentei no sofá. Fiquei observando as paredes, a escada, os quadros. Os cachorros da Jamia estavam numa gradezinha no canto da sala, dormindo. Tinham duas bonecas jogadas no sofá, perto de uma caixa de coisas para doar, pelo que eu li. Peguei as bonecas pra ver.

- Frank, você brinca de boneca? – momento poker face

- Eh... não eu tava só olhando. Você vai doar essas coisas? Que bonitinho.

- Ah, vou, hehe... Menos essas duas. A Cherry e a Lilly. Eram as minhas preferidas.

- Que gracinha, Cherry e Lilly. Eu sempre gostei desses nomes.

- Eu também. – A gente sorriu um pro outro.

Dei um gole na minha coca enquanto observava Jamia tirar as coisas da mesa para o trabalho. A mesa estava cheia de malas e umas caixas. Ela tentou carregar tudo de uma vez, mas as coisas caíram no chão. Eu soltei uma risada alta pra caramba. Como já disse, eu estava rindo de qualquer coisa. É a coca cola... Só pode ser...

- HAHAHAHA, desculpa, Jamia! Você quer ajuda ai?

- Não precisa, eu faço sozinha... – ela ficou meio zangada...

Quando finalmente terminou de arrumar, sentamos na mesa e ela me mostrou uns papéis e tintas.

- Olha, Frank. Esse é o material pro nosso caminhão de coca cola da tabela periódica. Só falta...

- O isopor? Desculpa, eu sei que era pra eu ter trazido, mas acabei esquecendo de comprar, sabe, na pressa de sair de casa...

- Tudo bem, a gente vai lá na papelaria e compra agora.

- Ta, mas é justo que eu pague.

- Tudo bem.

E fomos pra papelaria. Andamos em silêncio. Durante o caminho, eu olhava disfarçadamente pra Jamia. Seu olhar estava voltado para o céu, as vezes para o chão, até que ela virou o rosto para mim. Eu rapidamente desviei o olhar. Ela também. Estava um clima muito estranho...