Gilbert era incrível demais para ficar com medo. Mesmo naquele dia, ele se negava a demonstrar o mínimo de nervosismo. Triste, olhava para toda aquela neve enquanto a fila de soviéticos se formava para receber os alimentos. Ele não podia ficar com medo, pois não podia compartilhar isso com ninguém.

Tanta coisa ele queria dizer...

Se sentia só como nunca. Na verdade tinha se sentido assim desde que os nazistas tomaram suas terras, mas não era tão ruim porque pelo menos estava na companhia de seu irmão e de Roderich.

Roderich...

Queria muito ouvir a melodia daquele piano povamente, mesmo que fosse uma melodia triste. O albino sempre soube que o austríaco se expressava por meio da música, e as músicas que ele tocava na casa de Alemanha eram as mais deprimentes possíveis. Isso irritava o prussiano e sempre que podia, interrompia o som para importunar Áustria.

Mas na verdade queria que o moreno tocasse algo para animá-lo também.

Prússia fechou os olhos. Naquele medo - sim, porque no fundo estava realmente com medo - buscou uma das melodias do piano para reconfortá-lo.

Lituânia abriu a janela e viu o albino de pé, no meio da neve. Aquilo feriu seu coração. Ivan, igualmente ressentido, tocou o ombro de Toris e ficou olhando a mesma cena. O russo também não queria perturbar o prussiano.

Todos estavam receosos. Afinal, todos eram nações e la no fundo todos sentiam a mesma dor.

Os políticos se preparavam para a formalização do acontecimento. Os jornais anunciariam a notícia. Todos testemunhariam àquela mudança.

A hora chegou.

O coração de Gilbert bateu mais rápido. O albino engoliu em seco, apertou os olhos e as mãos. Ele não estava com medo. Não estava.

Mas estava sozinho.

"Nesse ano de 1947, os representantes dos quatro países que ocupam a Prússia declaram-na oficialmente abolida"

Ao ouvir aquela notícia no rádio, as lágrimas de Roderich escorregaram sem que ele percebesse. Em suas mãos, Gilbird soltou um pio longo e triste.

Queria se convencer de que não sentiria a falta dele, de que não sentiria falta das risadas escandalosas, dos xingamentos sobre sua música e das provocações. Além disso, Prússia era seu maior rival então no final das contas Áustria o superou. O mundo era pequeno demais para os dois. Só poderia haver um vitorioso.

Mesmo assim, Roderich murmurou com voz trêmula de choro:

"Gil..."