Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 6
Dia 3, quinta-feira, 4 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Normalmente eu posto à noite, mas hoje vou precisar estudar pra uma prova f..de filosofia, então resolvi postar agora. Espero que gostem :)



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Sr. Albert, tenho o prazer de lhe informar que hoje eu não acordei atrasada. Mas também não acordei de uma maneira agradável, se é que o senhor me entende.

   - Acorda Lidia! – Fred gritou puxando meu edredom e praticamente me arrancando da cama. – Mamãe já foi para o trabalho e a gente não pode se atrasar hoje.

   - Como é que é? – perguntei confusa, assim que consegui espantar um pouco o sono. – Você acordado há essa hora? Eu devo estar sonhando.

   - Se está sonhando é melhor que acorde, - ele disse. – Porque nós vamos pegar uma carona para ir para a escola hoje. – e saiu do quarto.

   Suspirei e fui me arrumar. Tomei banho, sequei o cabelo e me vesti calmamente. Mas quando fui tomar o café da manhã...

   - Não dá tempo! – Fred gritou, me puxando da mesa da cozinha. – Eles já estão aqui na frente.

   Sério, existe algum problema em me deixar comer de manhã, pra variar?

   - Eles quem? – perguntei enquanto Fred me empurrava para a porta da frente da nossa casa.

   - Uns amigos meus. Eles vão nos dar uma carona.

   Assenti e peguei minha mochila. Estava fazendo muito frio, por isso também coloquei mais uma blusa por cima da que eu estava vestindo e peguei meu agasalho. Tirei o celular do bolso e disquei o número da Renata enquanto fechava a casa. Fred já tinha ido na frente.

   - Rê – disse quando ela atendeu. – Sou eu, Lidia.

   - Eu sei. – ela respondeu. – O que foi?

   - Nada, eu só liguei para avisar que não vou apanhar o ônibus hoje. Vou pegar carona com uns amigos do Fred.

   - Ok, te vejo na escola então.

   Desliguei e corri para o carro parado na porta de casa. Era um carro enorme, preto, e parecia familiar. E ainda tinha aquelas janelas com película, por isso eu não podia ver nada por dentro. Eu sabia já tê-lo visto em algum lugar, mas não lembrava onde.

   Entrei no banco de trás ao lado de Fred.

   - Bom di- parei no meio do cumprimento.

   Os tais amigos de Fred eram ninguém menos que Felipe, Vítor e Daniel. Mas nem sinal do Alex.

   - Bom dia, Lidia – disse Daniel, que estava sentado no banco do passageiro, ao lado de Felipe, que dirigia. – Tudo bem?

   Como eu não imaginei isso?! Sério, qual o meu problema, retardo matinal? Uns amigos, sei! Fred ainda ia me pagar por isso. Por isso estava achando o carro familiar, era o carro daquele riquinho metido a besta.

   - Lidia, - Fred disse, irritado. – Estão falando com –

   - Comigo, eu sei. – cortei-o. – Bom dia para você também Daniel. Eu estou ótima, obrigada por perguntar. – disse com sarcasmo.

   Daniel sorriu. Ele tinha um sorriso muito bonito, com aqueles dentes brancos-ofuscantes-de-propaganda-de-clareamento-dental e covinhas nas bochechas, além de ter os olhos mais azuis que eu já vi. Mas eu não me esquecia daquele dia da poça – eu sei, Sr. Albert, sou rancorosa – e tinha vontade de arrancar aquele sorriso da boca do idiota a pauladas.

   Vítor também me deu bom dia, mas Felipe não falou nada. Apenas arrancou com o carro e começou a dirigir numa velocidade alarmante.

   - Você não acha que está indo rápido demais? – perguntei, começando a me preocupar com a minha vida, que estava certamente em risco com aquele doido dirigindo daquele jeito.

   Como uma pessoa com um sério problema na cabeça consegue tirar a carteira de motorista? Deve ter sido à base de propina, aposto.

   - Relaxa, Lidia – Daniel disse, tentando me confortar. – Felipe sempre dirige assim.

   Vi pelo retrovisor Felipe sorrir, cínico.

   Tentei respirar fundo e ficar calma, mas não pude. Quando Felipe fechou um carro e quase bateu em outro, eu entrei em pânico.

   - Para! – gritei, quase histérica. – Felipe, ou você dirige mais devagar ou eu desço deste carro!

   Felipe parou no meio da rua, e não, eu não estou brincando, Sr. Albert. Os carros atrás de nós começaram a buzinar, o trânsito ficou todo parado, um caos.

   - Desce – Felipe disse virando-se para mim, parecendo nem se importar com os carros atrás de nós.

   - O quê? – falei, incrédula. – Você não pode estar falando sério!

   - Eu pareço estar brincando?

   Eu não estava acreditando, mas o desgraçado estava mesmo falando sério. Seus incríveis olhos verdes me fitavam com raiva e seus lábios estavam apertados.

   - Mas – gaguejei. – Você não pode...

   Ele não podia fazer isso comigo, não é? Ele não ia matar o que restava do cavalheirismo, não, ele não podia...

   - Eu posso sim. Mandei descer. Saia!

   Virei para Fred em busca de ajuda.

   - Fred!

   - Não adianta, Lidia, - ele apenas disse, sem olhar para mim, parecia até estar se divertindo, o maldito. – A culpa é só sua por ficar enchendo o saco.

   Não pude acreditar. Eu tinha sido traída por meu próprio irmão!

   Juntei os cacos da minha dignidade e, sem dizer nada, desci do carro. Mal fechei a porta Felipe saiu a toda velocidade, me deixando no meio da rua. E, tudo bem, confesso que isso me chocou. Um pedacinho de mim ainda esperava que fosse tudo uma brincadeira de mau gosto e que aquela trupe de comediantes fracassados fosse dizer para eu parar de dramatizar e entrar no carro de novo.

   Ainda faltava muito para chegar na escola e eu teria que ir andando. Era hoje que eu ia me atrasar pra valer (Sr. Albert, veja bem, a culpa não foi minha, eu fui chutada para fora do carro só por me preocupar com a segurança de todos. Tá, tudo bem, com a minha segurança, mas mesmo assim, ia acabar beneficiando todo mundo).

   Fui andando vagarosamente (ia me atrasar de qualquer jeito). Estava fazendo muito frio mesmo. Apertei mais meu agasalho. Como eu detesto aqueles garotos, principalmente Felipe e Fred! Felipe por ser a mente maligna por trás de tudo e Fred por ser sangue do meu sangue e não me defender. Foi impossível caminhar nas ruas e não imaginar vários acidentes trágicos causados pela falta de bom senso do Madson no trânsito.

   Não sou uma pessoa má, Sr. Albert, mas confesso que imaginar aquele garoto lindo todo enfiado nos destroços daquele carro estúpido dele me dava uma satisfação enorme.

   Cheguei na escola muito tempo depois do sinal ter tocado e fui mandada diretinho para a coordenação.

   Mundo injusto.

   - Muito bem, - começou Klaus Orsi, o coordenador mais chato do mundo (Sr. Albert, eu só quero deixar claro que quando eu chamo o coordenador de chato eu só estou exercendo o meu direito de expressar minha opinião e não posso ser punida por isso, certo? Certo?) – Senhorita...

   - Brazzi – disse. Ele sempre esquecia meu nome, mesmo eu tendo passado boa parte do semestre passado lá por (adivinha?) chegar atrasada na aula.

   - Brazzi – ele repetiu, passando os dedos roliços por aquele bigode gorduroso e nojento. – Bom, como a senhorita deve saber, a conduta com relação aos horários é muito rígida nessa escola. E como seu histórico de atrasos do semestre passado é extenso, teremos de tomar uma medida mais enérgica com relação a você.

   Fiquei calada. O que eu poderia dizer? “Ah Sr. Orsi, muito obrigada, eu mereço mesmo o castigo que o senhor vai me dar só porque eu tenho amor à minha vida e acabei sendo expulsa do carro do Felipe Madson, que só para o senhor saber, é um péssimo motorista.” Acho que não.

   - Você ficará a semana toda de detenção e...- ele parecia estar pensando num castigo bem ruim. – Já sei! Terá que ajudar os alunos do 3° ano na viagem de inverno.

   - Como assim? Isso quer dizer que eu vou para a viagem? – perguntei, surpresa com esse castigo. Fred falava dessa viagem há meses. Todo o 3° ano iria passar uma semana numa estação de esqui, na terceira semana de aulas depois das férias para comemorar o último semestre de escola. Os outros alunos do ensino médio não teriam aula durante essa semana porque alguns professores também iriam para essa viagem para supervisionar os alunos.

   Mesmo com o bônus de ficar uma semana sem aula, eu estava morrendo de inveja de Fred, porque eu sempre quis esquiar. Apesar disso, sabia que Renata e eu nos divertiríamos muito na sessão cinema que havíamos programado. Ou não. O gosto de Renata para filmes é, no mínimo, duvidoso.

   - É – Sr. Orsi respondeu. – Direi para o representante do 3° ano ir falar com você no intervalo e lhe explicar tudo o que terá de fazer. Também mandarei um bilhete para a sua mãe.

   - Mas – comecei, mas o Sr. Orsi me interrompeu.

   - Nada de mas. Agradeça que eu lhe passei um castigo leve, diria que até bom. Agora saia daqui e vá para a sala. Aqui está seu passe.

   Só tenho uma coisa a declarar. Felipe é do terceiro ano. O Sr. Orsi não tinha a menor idéia que era o pior castigo que poderia ter dado.

   Saí da sala meio tonta. Então quer dizer que eu iria na viagem do terceiro ano. Por mais que eu quisesse esquiar, sabia que eu iria como castigo, o que quer dizer: nada de diversão. Além disso, havia Felipe e seus amigos...

   - Essa viagem vai ser um pesadelo! – suspirei antes de pedir licença para o professor e entrar na sala.


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Notas finais do capítulo

Muito obrigada as leitoras que comentam, vocês me motivam muito, sério :)