Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 5
Dia 2, quarta feira, 3 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Taí a segunda parte, espero que agrade *-*



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   - Lidia! – Renata gritou quando eu entrei na sala depois que o sinal tocou. – Felipe Madson proibiu todo mundo de falar com você!

   - Eu já sei – disse, sentando-me na mesa ao seu lado. – Não precisa gritar.

   - O seu irmão te disse isso? Todo mundo ta comentando, mas ninguém tem coragem de falar com você. Vai que a ira demoníaca dele ataca outra pessoa, hein? Tá todo mundo com medo da morte.

   Renata, como sempre, nem um pouco exagerada.

   - É – eu disse, olhando para Luana do outro lado da sala, até ela virar o olhar, constrangida. – Percebi.

   - Eu não acredito nisso! – Renata exclamou. – Você tem de fazer algo a respeito. Sei lá, pede desculpas para ele.

   - Eu já tentei, não funcionou – suspirei. – Não que eu me orgulhe disso, de qualquer maneira.

   Renata me olhou sem acreditar. Seus lábios formaram um “o” perfeito e ela me puxou para mais perto e cochichou:

   - Como assim? Quando você pediu desculpas para Felipe?

   - Não faz nem dez minutos. – respondi. – Você vai acreditar se eu disser que agora Fred Brazzi é da gangue de Felipe Madson?

   - Meu Deus! Me conta isso direito!

   - Quando eu fui ao estacionamento encontrar o Fred, Felipe e os seus comparsas estavam lá. Eles são amigos agora. O próprio Felipe me contou que proibiu todo mundo de falar comigo.

   - Não acredito! – Renata estava pasma.

   - Pois é, eu pedi desculpas e disse para ele me deixar em paz, mas ele queria que eu fizesse uma coisa para  - fiz aspas com os dedos – “me redimir”.

   - E você fez?

   - Não!

   - E por que não?

   - Porque é ridículo e degradante! E esse garoto é um idiota!

   - Lidia, ele é Felipe Madson, se eu fosse você faria qualquer coisa para ele não me odiar!

   - Você até deixaria de falar comigo se ele mandasse? – perguntei.

   - Isso não aconteceu, não é? Teria de pensar no assunto – ela respondeu, depois riu da minha expressão chocada. – É brincadeira, sua louca. Claro que eu nunca deixaria de falar com você. Para tudo tem limite. Mas me fala, o que ele pediu para você fazer?

   - Ele disse que queria que eu trabalhasse para ele, como secretária particular. – disse enojada e então repeti o que Felipe havia dito. – “Você terá que ir para a minha casa todos os dias depois da escola e sairá às oito. É claro que você receberá um salário, o que, de acordo com o que o Fred me disse, ajudará muito a sua família.

   - E você disse NÃO? – Renata parecia à beira de um ataque. – Como você faz isso? Está louca?

   - Você queria que eu aceitasse?! – eu é que ia ter um ataque a qualquer minuto. Sr. Albert, o que aconteceu com a normalidade? – Não acha esse papo de secretária particular super estranho? Não soa meio como prostituta particular?

   - É claro, sua burra! – ela berrou, dando um tapa no meu braço. – É claro que eu aceitaria e é claro que esse papo é estranho! Amiga, se ele quer esse seu corpinho, vai ser a vagabunda dele! Aposto que ele sabe como deixar uma mulher louca!

   É, Sr. Albert, infelizmente eu me misturo com esse tipo de pessoa.

   - Vem cá, onde foi que você bateu a cabeça, Renata? Eu vou ser a vagabunda dele e a minha dignidade, onde fica?

   - Manda a porcaria da dignidade pro inferno! Quem se importa com isso hoje em dia?

   - Eu! – disse no momento em que a professora Fraiha entrou na sala.

   Todos se calaram e tomaram seus lugares.

   Enterrei a cabeça no meu caderno e gemi baixinho. Será que eu fiz a coisa certa ao recusar o emprego de Felipe?

   Ora, mas é claro que sim! Isso não tem o menor cabimento! E mamãe nunca me deixaria trabalhar para um garoto assim, ainda mais se eu precisasse ficar tanto tempo na casa dele. Além do mais, eu não posso simplesmente mandar minha dignidade para o inferno, não é Sr. Albert?

   Até porque, do jeito que as coisas estão, minha dignidade é só o que me resta.

   Mas de uma coisa eu tinha certeza: Felipe iria transformar minha vida num inferno nas próximas semanas.

   Eu acho que sou muito otimista. Felipe não iria transformar minha vida num inferno nas próximas semanas. Não. Ele resolveu começar imediatamente.

   Depois das aulas, teríamos educação física, junto com o segundo e o terceiro ano. Não sei para quê essa arrumação. Só para me trazer mais problemas.

   Renata e eu já tínhamos colocado nossos uniformes de educação física (o senhor sabe, Sr. Albert, aquele shortinho minúsculo preto e aquela blusa branca transparente e, sinceramente, o senhor há de concordar comigo que essa roupa parece mais com uniforme do concurso da camiseta molhada do que com uniforme de educação física) e estávamos esperando a aula começar sentadas na arquibancada da quadra.

   Foi quando as outras turmas começaram a chegar.

   E ele também.

   Felipe, um admirável aluno do terceiro ano, rodeado por seus amigos lindos e por garotas patéticas que pareciam amolecer com um simples olhar dele.

   E eu me pergunto: por que ele não pôde escolher qualquer uma dessas garotas para infernizar ao invés de mim? Aposto que elas teriam adorado.

   - Lidia, - Renata sussurrou apreensiva. – É ele ali!

   - Eu já vi, Renata. – suspirei. – Só espero que ele não nos perceba aqui.

   Seria bom demais.

   Felipe levantou seu belo rosto e seu olhar rapidamente pousou em mim. Seus lábios formaram um sorriso maquiavélico. Senti um arrepio na espinha.

   - Muito bem, gente! – foi gritando o professor de educação física, um cara gostoso que eu sempre esquecia o nome. – Hoje vamos fazer uma coisa especial, por isso todo o ensino médio está reunido.

   Todos se aproximaram para ouvir melhor.

   - Vou dividir vocês em dez equipes – o professor continuou. – E vocês vão ter que fazer um circuito. A equipe que acabar primeiro será a vencedora. Vou chamar o nome de dez alunos, que serão os líderes, e cada um escolherá os membros para sua equipe.

   O professor começou a chamar alguns nomes. Nem me preocupei em ouvir (porque ele nunca chamaria o meu, eu sou péssima em tudo que é atividade física) até que Renata me cutucou.

   - Lidia, ele chamou o Felipe!

   Gelei.

   - E então Felipe, - o professor começou. – Quem você escolhe para a sua equipe?

   - Vítor, Alex, Dan, Laura, Babi, Marcos, Petra e Fred. – Felipe respondeu prontamente. Laura, Babi e Petra eram as garotas patéticas que viviam grudadas nele. Elas que fizessem bom proveito daquele estúpido.

   Renata e eu respiramos aliviadas. Pelo menos não estaríamos na equipe dele.

   - Falta mais um integrante, Felipe – disse o professor.

   Espera um pouco...

   - Lidia Brazzi – anunciou Felipe na mesma hora.

   Ai meu Deus, por quê? Por que o professor não deixou só os nove mesmo? Não, tinha que acabar com a minha vida!

   - Lidia Brazzi! – o professor gritou. – Venha até aqui. Você é da equipe de Felipe Madson.

   Eu já sei, seu corno! (Sr. Albert, só quero esclarecer que eu não tenho nada contra o professor de educação física, e não sei se ele é corno ou não, sabe como é, isso foi apenas uma expressão gerada pelo ódio mortal que eu sentia do mundo inteiro naquele momento).

   Caminhei lentamente até ficar do lado de Felipe. Odiava-o ainda mais quando ele me olhava de cima, mas não podia fazer nada já que só chegava à altura de seus ombros.

   Sempre tive altura mediana, mas do lado daquele demônio, eu era definitivamente baixinha.

   E ser baixinha é uma merda. (Já sei, Sr. Albert, vou lavar minha boca com água sanitária).

   Nenhum de nós disse nada até que todas as equipes foram divididas.

   - Bom – Felipe começou a dizer então. – Apenas façam o que eu mandar.

   Sério que aquele era o plano? A estratégia da nossa equipe era simplesmente virar um monte de escravos robôs sem personalidade e seguir as ordens daquele infeliz do Madson?

   Eu podia ter ficado calada, eu devia ter ficado calada, pro meu próprio bem. Mas aquela voz autoritária dele, a arrogância que lhe escorria pelos poros, não me permitiram. E eu não sei que espírito de porco baixou em mim naquela hora, só sei que eu disse:

   - Por quê?

   Toda a equipe olhou para mim embasbacada – até o meu irmão!

   Não é nem como se eu tivesse xingado o garoto, vamos ter um pouco de senso de realidade aqui, por favor!

   - Porque se eu digo que é para você fazer alguma coisa – Felipe respondeu, parecendo satisfeito de um modo bem diabólico. – Para o seu próprio bem, obedeça.

   - Isso é uma ameaça? – provoquei, mas ele não pôde responder por que nesse exato momento o professor chamou todas as equipes para começar o circuito.

   A primeira parte era se pendurar em uma corda e ir passando de corda em corda que nem um macaco. Fala sério, nem em um milhão de anos eu conseguiria fazer isso.

   - Anda, você é a primeira. – Fred disse, me empurrando para frente e antes que eu pudesse protestar, o apito soou. E o idiota sabe que eu não conseguiria subir numa corda dessa nem pra salvar o meu pescoço.

   Eu tentei, eu juro que eu tentei, mas eu simplesmente não nasci pra isso. Eu consegui me pendurar na primeira corda e quase passei para a segunda quando decidi desistir. Força nos membros superiores? Nula. Mas antes que eu pudesse descer, Felipe, que era o próximo depois de mim, puxou a minha corda (sem ninguém perceber), e eu caí de bunda no chão.

   - Ai!

   Felipe Madson, você é uma criatura demoníaca.

   Todo mundo riu e eu precisei me segurar muito para não xingar a família toda do indivíduo.

   - Professor!- Felipe disse, parecendo perturbadoramente inocente. – Lidia se machucou, eu vou levá-la para a enfermaria!

   E o prêmio do cinismo vai para...você já até sabe, Sr. Albert.

   E antes que eu percebesse, Felipe havia me tacado no colo e estava atravessando a multidão de estudantes até a enfermaria.

   - Pode me soltar agora – disse, depois que saímos da quadra. A sensação de estar nos braços dele era esquisita e eu precisava me lembrar que aquele garoto tinha acabado de atentar contra a minha vida (ok, exagero) e era meu dever odiá-lo até o fim dos dias.

   - Você é realmente uma menina mal-agradecida – ele respondeu ao invés de me largar.

   - Mal agradecida? – ecoei, sem acreditar na cara de pau dele. – E você quer que eu agradeça pelo quê? Por ter praticamente me atirado no chão?

   - Não seja tão dramática.

   Havíamos chegado na enfermaria e Felipe me atirou numa maca.

   - Ah, só para você saber, é isso que acontece quando as pessoas me contrariam – ele disse, antes de ir embora.

   A enfermeira disse que, tirando algumas partes do meu corpo que iriam ficar roxas e doloridas (por motivos óbvios, não irei mencioná-las), eu iria ficar bem. Mas mesmo assim ligou para minha mãe ir me buscar.

   Como mamãe estava no trabalho, eu peguei um táxi (o que acabou com a minha mesada) e fui para casa. Comi um sanduíche (é Sr. Albert, eu vivo de sanduíches) e fiz minha lição.

   Mamãe ainda não chegou em casa e eu não faço idéia de onde Fred esteja. Talvez com aquele crápula do Felipe, talvez fumando em algum beco escuro, quem sabe?

   Tratando-se do meu irmão, ninguém.

   Já não espero que o amanhã seja melhor, porque, bem, eu já sei que não vai ser.


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Notas finais do capítulo

Comentem, né? Estou aberta a dicas, sugestões e críticas :)