Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 7
Dia 3, quinta-feira, 4 de agosto. (parte 2)




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   Sentei no meu lugar e rapidamente escrevi um bilhetinho para Renata.

   Você não vai acreditar no que eu tenho para te falar.

   Ela pegou o bilhete e leu, em seguida escreveu alguma coisa e o jogou de volta para mim.

   O que aconteceu dessa vez? Ei, por que você está chegando agora? Eu vi o Fred no corredor antes do sinal tocar, você não ia pegar carona com uns amigos dele?

   Eu vim andando, te explico tudo no intervalo.

Escrevi e passei para ela. Vi ela arregalar os olhos e então olhar para mim interrogativamente.

   Tentei prestar atenção na aula de física, mas não foi muito fácil. Toda hora meu pensamento se desviava para aquele porco do Felipe, para o traidor do meu irmão e para a terrível viagem em que, infelizmente, iríamos juntos.

   Fiquei tão desligada que nem percebi que o sinal do intervalo havia tocado até que Renata me chamou:

   - Lidia! Vamos, você disse que ia me falar o que aconteceu!

   Levantei e nós duas saímos da sala. As pessoas continuavam a não falar comigo, mas eu nem ligava mais. Não preciso mesmo de um bando de covardes sem personalidade.

   Renata e eu encontramos um lugar vazio para conversar no canto mais afastado do pátio da escola.

   - Agora – Renata disse com a excitação de quem está para ouvir uma boa fofoca. – Me conte tudo.

   - Certo – disse.

   Nos sentamos em um banco e eu comecei a falar. Desde a hora em que eu entrei no carro do Felipe até quando o Sr. Orsi disse que eu teria de viajar com o 3° ano.

   - Não acredito – ela ficou repetindo.

   - É – eu disse, suspirando. – Eu sei.

   - Não acredito que Felipe te colocou para fora do carro e te fez vir a pé e não acredito que você vai para a viagem do 3° ano!

   - Pois é.

   - Não sei dizer se você é a maior sortuda ou a maior azarada.

   - A segunda opção, com certeza.

   Comemos o nosso lanche em silêncio até que avistei Felipe vindo sozinho (um milagre Sr. Albert, Felipe sem seus guarda-costas!) em nossa direção.

   - Eu preciso falar com você – ele disse para mim, do alto da sua arrogância.

   Inacreditável. O demônio queria falar comigo depois de tudo o que me fez passar. Sr. Albert, me responda uma coisa, qual a punição neste colégio para homicídio?

   Ignorei-o e levantei do banco, levando uma Renata completamente surpresa comigo. E fui andando para a sala.

   - É sobre a viagem do terceiro ano – ele disse, sem mover um músculo para me parar. – O Sr. Orsi disse para eu falar com você.

   Parei e me virei para ele. Tem que ser brincadeira...

   - Você não é o representante do 3° ano! – falei, enfurecida.

   - Agora sou – ele respondeu com um sorriso torto. – Digamos que o antigo representante pediu demissão do cargo.

   Por quê? Por que ele tinha que me perseguir desse jeito? Por que ele não me deixava em paz? Tinha até pena do antigo representante, sabe-se lá o que aquele mafioso tinha feito para conseguir o cargo. Não me surpreenderia se ele tivesse despachado o cara pro além.

   - Agora não dá mais tempo – ele continuou, antes que eu pudesse falar qualquer coisa. – Mas depois da aula nós vamos conversar sobre o seu trabalho na viagem.

   - Eu tenho detenção depois da aula – por sua causa, quis emendar, mas segurei.

   - Eu te espero. – disse na maior calma e foi embora.

   Bati o pé.

   - Como eu o odeio! – disse para Renata.

   Ela deu uns tapinhas no meu ombro e nós voltamos para a sala.

   Passei o resto da aula roendo as unhas de tanto nervosismo. Renata parecia bem preocupada comigo. Perguntou se eu estava bem três vezes. E eu respondi que estava, mas não era verdade. Novamente eu não consegui prestar atenção em nenhum professor. (Sr. Albert, eu sei o que o senhor deve estar pensando e não, eu não sou uma aluna vagabunda que vive inventando desculpa esfarrapada para não prestar atenção na aula).

   Quando o sinal bateu, fui para a detenção e Renata foi pegar o ônibus.

   - Agora é sério Lidy – ela disse antes de ir. – Assim que você chegar em casa, me liga!

   - Está bem – eu respondi. – Não vou esquecer dessa vez.

   Cinquenta minutos de tortura. Sr. Albert, não tínhamos falado sobre isso?

   A detenção foi um saco, como sempre, nem preciso dizer.

   Mas o pior veio depois.

   - Você demorou – Felipe disse, encostado em seu carro, assim que me viu saindo da escola. – Eu não tenho todo o tempo do mundo para gastar com você.

   - Para começar – eu disse me aproximando dele. – Foi por sua culpa que eu fiquei na detenção.

   Ele riu.

   - Bom, vamos direto ao ponto. – ele disse abrindo a porta do passageiro para mim. – Entre.

   O quê? Ele pirou?

   - Nem louca eu entro em um carro com você dirigindo de novo! – eu anunciei. – Eu gosto de viver, obrigada.

   Ele suspirou e rolou os olhos.

   - Eu vou te deixar em casa, nós conversamos no caminho. – ele disse. Vendo minha resistência, completou. – E eu vou dirigir devagar.

   - Sério mesmo? – perguntei para ter certeza.

   - Sério.

   Sr. Albert, antes que o senhor condene a minha atitude, eu vou falar. Eu estava cansada de ficar brigando com Felipe e eu realmente não queria voltar para casa andando. Principalmente porque parecia que ia começar a chover.

   Então eu entrei mesmo no carro dele!

   Sozinha!

   Mas confesso que essa não foi a decisão mais inteligente que tomei na vida.

   - Você não viajará com a gente para se divertir – Felipe foi dizendo enquanto dirigia devagar, mas não tão devagar como eu gostaria. – Você irá para trabalhar como castigo por ter chegado atrasada.

   - Porque você me fez ir até a escola andando! – teimei.

   - Porque você ficou reclamando pelo modo como eu dirijo!

   - Porque você inventou de levar meu irmão e eu para a escola!

   Felipe acelerou, irritado.

   - E você ainda é mal-agradecida.

   - Dá pra olhar pra porcaria do trânsito?! – gritei, porque ele estava olhando para mim.

   E Felipe fez o que eu pedi (surpreso, Sr. Albert? Eu também) e foi falando sem parar. Um monte de baboseiras sobre como eu teria que ajudar a organizar os passeios, a arrumar os quartos, a cozinhar, a acordar as pessoas de manhã....resumindo, eu serei uma babá.

   Ele me deixou em casa, eu almocei (sanduíche de novo Sr. Albert, é, eu também não sei como não sou uma baleia. É que mamãe até agora não chegou em casa, ela tem chegado muito tarde todos os dias). Troquei de roupa e tentei fazer minha lição.

   A única coisa que não fiz foi ligar para Renata. Por que eu sabia que se eu ligasse para ela, ia acabar contando o que aconteceu quando Felipe parou seu carro na porta da minha casa.

   E, acredite, eu não estava pronta para isso.

   Acho que vou ter de lhe contar, Sr. Albert, porque o senhor disse que neste diário temos que relatar tudo o que acontecer com a gente. Só, por favor, não conte para ninguém! É muita humilhação para uma pessoa só. E até agora eu não estou acreditando na minha estupidez.

   Quando Felipe estacionou em frente à minha casa e eu já estava saindo do carro – muito furiosa, diga-se de passagem -, ele me segurou pelo braço e me virou para ele. E ele foi se aproximando de mim cada vez mais e mais e mais...

   Sr. Albert, por favor entenda que o único motivo de eu não ter feito nada para impedi-lo de se aproximar era que eu...eu...eu estava completamente envolvida e fascinada por aqueles lindos olhos verdes.

   Pronto, eu disse.

   O que, eu sei, é uma coisa completamente estúpida. Mas eu não pude evitar! O senhor nunca ficou fascinado por nenhum cara lindo com olhos verdes hipnotizantes?

   Hum. Visto que o senhor é casado com a professora de espanhol e tem três filhos...É. Acho que não.

   Mas falando de mim. Eu fiquei lá, estática, enquanto Felipe me segurava, sentindo o cheiro do seu perfume caro e o calor do seu corpo forte. (Não Sr. Albert, eu nem sou tarada nem leio livros de romance adultos, mas é que eu só estou falando a verdade, oras!)

   E então ele disse, baixinho, no meu ouvido:

   - Você quer sair comigo amanhã?

   E eu...

   Eu acho que eu respondi que sim.

   Ai Sr. Albert, o que eu fiz?!

   Obs.: riscar os últimos parágrafos antes de entregar este diário ao Sr. Albert. Ninguém precisa ficar sabendo do seu momento de fraqueza, Lidy.


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Notas finais do capítulo

Amanhã eu posto o próximo capítulo, ok?