Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 28
Dia 14, segunda-feira, 15 de agosto. (parte 1)


Notas iniciais do capítulo

Mais um capítulo, gente. Não matem o Felipe ainda, sério. E eu sei que esse cap é meio chato, mas é só esse, ok? Nos próximos tem muita emoção. Bom, espero que vocês gostem. Boa leitura :)



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   Eram cinco da manhã quando eu finalmente consegui pregar os olhos. Olhos inchados e doloridos, devo ressaltar. É, eu chorei a noite toda. Sem soluçar ou fazer barulho porque, enfim, há um limite para tanto escândalo. Mas eu chorei pra caramba. Mais lágrimas do que pensei que meu organismo fosse capaz de produzir.

   Eu não conseguia parar de pensar em tudo o que mamãe havia dito. Como pude me enganar tanto? Como pude ser tão estúpida? Existe um limite para tanta idiotice numa pessoa só, pelo amor de Deus. Essa foi a maior roubada em que eu já me meti.

   É lógico que eu estava ardendo de ódio da mamãe, do Felipe e de todo mundo. Mas eu estava me odiando muito mais. Sério, se eu não fosse tão babaca, não estaria sofrendo nem metade do que estou sofrendo agora.

   - Lidy – alguém com uma voz muito parecida com a do meu irmão disse. Mas não podia ser o Fred, porque ele nunca me chama de Lidy. – Acorda.

   Abri os olhos e vi que era realmente o Fred, sentado na beira da minha cama, acariciando meus cabelos.

   - Que horas são? – perguntei, fechando os olhos novamente. Aquela luminosidade estava me matando. Quem diabos pensou que abrir a cortina seria uma boa ideia?

   - Seis e meia da manhã, dorminhoca – ele respondeu.

   - Ah, tenha dó – disse, virando para o outro lado e me aconchegando no meu lençol. – Não vou para a aula hoje.

   - Não vai mesmo. Não temos aula hoje.

   - Então por que você está enchendo a porcaria do meu saco às seis e meia da manhã? – perguntei furiosa. – Por que você está acordado, afinal?

   - Bom, querida irmãzinha, não sei se você esqueceu, mas nós temos uma viagem para fazer.

   Sentei de repente.

   Droga, a viagem do último ano.

   Uma semana num acampamento de esqui nas montanhas.

   Uma semana num paraíso de gelo com Felipe.

   - Não vou! – gritei e deitei de novo, enterrando a cabeça no travesseiro.

   - Você não tem escolha, maninha – Fred disse, levantando-se e puxando meu lençol. – Levante-se logo e pegue umas roupas quentes. O ônibus sai às oito e meia.

   - Não quero! – insisti, agarrando meu travesseiro.

   - Lidia – Fred disse com uma voz que eu nunca tinha escutado ele usar antes. – Você não vai querer que Felipe pense que você passou a noite toda chorando por causa dele, não é?

   Pisquei.

   É, Sr. Albert, meu irmão é mais observador do que parece. E eu que pensei que ele não reconheceria uma emoção nem se ela tirasse a roupa na frente dele.

   - Bom, mas foi exatamente o que eu fiz – confessei.

   Fred rolou os olhos.

   - Eu sei, você sabe, o vizinho tarado que fica olhando para o seu quarto toda a noite com uma luneta sabe – disse ele. – Mas Felipe não precisa saber.

   Hm, algo estava muito errado ali. E não era esse papo de vizinho-tarado-me-espiando. Fred estava sendo...legal. Ou quase. Ou tão legal quanto irmãos mais velhos vagabundos podem ser.

   Eu definitivamente estava tendo algum tipo de alucinação esquisita causada por estresse.

   - Fred, por que você se importa? – perguntei.

   - Olha, Lidia. Felipe é meu amigo, mas você é minha irmã. Não sei que merda rolou entre vocês e nem vou me meter entre os dois, mas sei que não gosto de ver você chorar. Gosto menos quando sei que outra pessoa te fez chorar. Então eu só quero que você fique bem. Para eu poder encher o seu saco sem sentir culpa nenhuma.

   Ok, isso me tocou. Eu estava prestes a abrir o berreiro novamente.

   - Então levanta daí e se arruma logo – Fred disse enquanto saía do meu quarto. – Não quero me atrasar.

   Ele estava certo, eu não podia ficar chorando na cama para sempre. Nem podia deixar que Felipe achasse que era por causa dele. Apesar de ser. Total.

   Mas enfim, como disse meu irmão, ele não precisa saber.

   Ok, Sr. Albert, isso é mais fácil falar do que fazer. Só de pensar em ter de olhar para a cara do Felipe depois das coisas que eu descobri...eu não podia. Sou fraca, simplesmente não podia.

   - Esqueça – gritei e novamente me encolhi nas minhas cobertas.

   - Você está me devendo uma, lembra? – ouvi Fred gritar do corredor. – Se você não se levantar e se arrumar agora para a viagem, a escola toda vai ficar sabendo que você passou a noite toda chorando pelo Felipe. Eu mesmo vou espalhar a fofoca.

   É, Fred vai ser sempre Fred. E essa ameaça me fez levantar rapidinho.

   Arrumei minha mala em tempo recorde, depois tomei banho, escovei os dentes e me vesti com uma calça e um moletom bem quentinhos. Mas levaria meu casaco de neve nas mãos.

   Dei uma checada no espelho e decidi que podia ser pior. Roupas de inverno sempre me fazem parecer Moby Dick depois de uma lipoaspiração malsucedida, mas semana passada eu passei tanto tempo sem comer que acho que perdi peso e minha roupa caiu excepcionalmente bem.

   Deixei meu cabelo secar naturalmente (então ele estava um pouquinho revoltado) e passei gloss nos lábios.

   Pela minha aparência ninguém poderia dizer que eu era a garota que chorou a noite toda por causa de um cara e que teve apenas uma hora e meia de sono.

   Mas por dentro meu coração era um quebra-cabeça meio desfalcado.

   Patético.

   Não quis descer para tomar o café-da-manhã porque não estava a fim de um cara-a-cara com a mamãe. E de qualquer maneira, estava sem fome.

   E tinha que fazer uma coisa importante. Uma coisa que eu já tinha que ter feito há muito tempo.

   Ligar para o papai.

   Eu quase não tenho contato com ele, como já deixei claro, já que ele foi embora quando eu era muito pequena. Mas as lembranças que eu tinha dele da minha infância eram boas e, pensando agora, vejo que ele sempre tentou manter contato comigo, mas eu acho que nunca o perdoei por ter abandonado a nossa família. Mas será que ele havia me abandonado mesmo? Era a hora de descobrir e de deixar essas velhas amarguras de lado.

   Peguei o telefone e o número dele que eu havia anotado numa apostila de literatura há séculos. Liguei, mas caiu na caixa postal. Resolvi deixar uma mensagem.

   “Pai” comecei, meio nervosa, fazia mesmo muito tempo que eu não falava com ele. “Sou eu...Lidia, sua filha. Dãã, isso é óbvio. Pois é...eu queria saber se...sabe, as coisas estão meio ruins aqui com a mamãe, então...eu meio que estava pensando em dar um tempo disso aqui e...não sei...se você e a...” inferno, como era mesmo o nome da mulher? “...a...sua esposa não se importarem, eu queria saber se eu podia passar um tempinho com vocês. Só uns meses, se não for atrapalhar...e...e eu posso ajudar com os gêmeos ou coisa assim. Sei lá, me liga. Hm...tchau.”

   Beleza.

   Agora meu pai vai achar que eu sou viciada em crack.

   - Lidia! – Fred gritou do andar de baixo. – Anda logo!

   Levei minhas coisas para baixo e Fred colocou tudo na mala do carro da mamãe.

   - Você vai dirigir? – perguntei.

   - Não. Mamãe vai levar a gente.

   Droga, droga, droga.

   É, Sr. Albert, não quero falar com a mamãe. Sério que ninguém percebeu?

   O senhor também não ia querer falar com a sua mãe logo depois que descobrisse que ela teve um caso com um cara casado que, por acaso, é pai do amor da sua vida.

   Entrei no banco de trás no carro e depois de alguns minutos Fred e mamãe ocuparam os bancos da frente. Eu achei, enquanto estava arrumando minha mala para a viagem, o ipod que o papai havia me mandado no último natal e resolvi colocá-lo na mochila.

   E agora eu sei que fones de ouvido são ótimos quando você quer evitar uma conversa.

   Chegamos à escola (de onde o ônibus ia sair) às oito e quinze. Fred tirou as malas do carro e as levou para o ônibus. Eu estava indo me juntar a ele quando mamãe saltou do carro e me parou.

   - Lidia – ela começou, mas eu não a deixaria terminar.

   - Não, mãe. Olha, vai ficar tudo bem entre a gente. Algum dia. Porque você é minha mãe e não dá pra mudar isso. Mas agora eu preciso de um tempo, ok?

   Saí correndo em direção ao ônibus e vi que os outros estudantes já estavam entrando.

   - Ei Lidia!

   Olhei para trás e vi mamãe indo embora. E Renata correndo na minha direção.

   - O que raios você está fazendo aqui? – perguntei, atônita.

   - Hahá, eu vou viajar também! – Renata cantou.

   - Mas como?

   - Te explico no ônibus, vamos logo!

   O ônibus já ia sair, então entramos rápido. A primeira pessoa que eu vi quando entrei foi Felipe (meus olhos são atraídos para ele, só pode). Ele estava usando um moletom cáqui, seu cabelo estava desarrumado, mas daquele jeito charmoso e ele estava rindo de alguma coisa que aquela loira ao lado dele estava dizendo. Eu já a havia visto algumas vezes na escola e, sem brincadeira Sr. Albert, a saia dela consegue ser mais curta que a minha. E ela era alta e muito magrela. Sinceramente, um vento muito forte a levava embora.

   Mas, ok, não posso negar que a menina era bonita. E isso me deixou...triste. Não posso negar que uma parte de mim ainda tinha esperança de que fosse tudo um mal entendido, que ele realmente gostasse de mim e não estivesse só brincando com os meus sentimentos. Mas vendo como ele me substituía tão facilmente, minhas ilusões foram despedaçadas.

   Felipe mandou um sorrisinho pra mim e eu virei o rosto e continuei andando até o fim do ônibus com Renata atrás de mim. Que inferno, por que as coisas tinham que ser daquele jeito? Por que eu me importava tanto? Eu havia prometido a mim mesma que não ia chorar, não ia me humilhar e nunca, nunca mesmo, ia deixá-lo saber o quanto havia me machucado.

   - Então, Lidia – Renata começou assim que nos sentamos. – O diretor ligou lá para casa ontem e falou com a mamãe. Perguntou se eu podia ir ajudar você na viagem, já que nós somos tão amigas. Ela deixou na hora!

   Pelo menos Renata estava ali comigo.

   - Ainda bem – eu disse. – Não sei como sobreviveria a esta semana sem você.

   - Ai, Lidy – Renata começou, suspirando. – O que houve entre você e Felipe? Eu..

   - Não pergunta nada, por favor Renata. Nós só terminamos e pronto. Mais nada.

   Renata assentiu com a cabeça, mas estava estampado em neon na testa dela que ela não estava acreditando.

   E daí?

   Eu estava olhando para o corredor do ônibus quando a última pessoa entrou e a porta se fechou.

   Ai meu Deus.

   A última pessoa lá dentro era ninguém mais ninguém menos que Leo.

   Eu estava ferrada.

   Assim que me viu, ele abriu um sorriso lindo e franco. Merda, como eu vou dizer pra ele que não pode existir mais nada entre nós? Como a gente diz pra um cara legal, lindo, fofo e romântico que a gente não tá a fim dele? Simplesmente não dá!

   Ele foi até o final do ônibus onde eu e Renata estávamos sentadas e sentou na poltrona na frente da nossa.

   - Olá, garotas – ele disse.

   - Leo! – Renata gritou. – Você voltou!

   Ele abriu ainda mais aquele sorriso lindo dele.

   - É. Como você está? – ele perguntou.

   - Ah, ótima – Renata respondeu.

   Leo então voltou-se para mim, mas antes que alguém dissesse qualquer coisa, um apito soou.

   Obrigada Deus, por criar os monitores de viagem escolar.

   Ok, meu alívio durou pouco.

   Exatamente os três segundos que eu demorei para descobrir quem era o monitor daquela viagem.

   Melhor dizendo, monitora.

   Aquela filha-da-mãe safada e pilantra da professora de educação física da oitava série.

   Marta Borges.

   Que diabos ela estava fazendo aqui?

   - Normalmente – ela começou com aquela voz de homem dela. – O professor de educação física do último ano é quem acompanha vocês, mas ele sofreu um pequeno acidente e não pôde vir, então eu fiquei no lugar dele.

   Onde está o professor de educação física do segundo ano? E o do primeiro? Será que ela matou todos eles para poder viajar com a gente, matar o motorista, nos levar para alguma cidade pobre no México e nos vender como escravos brancos?

   Sr. Albert salve-nos.

   - Relaxa pequena. Ela não vai matar ninguém. – Leo disse numa voz tranquilizadora. Ele sabe o que eu sinto por ela. Que é basicamente a mesma coisa que ela sente por mim.

   Nós nos odiamos.

   Mas veja bem, Sr. Albert, nos odiamos por motivos diferentes. Ela me odeia porque eu fui a única aluna que ela não conseguiu colocar em nenhum dos times de esporte da escola. Porque eu sou simplesmente inútil. E eu a odeio porque ela me fazia fazer flexões.

   Isso aí, FLEXÕES.

   Se isso não é tortura, eu não sei o que é.

   Oh oh.

   Ela me viu.

   Inferno!

   Ela me olhou com aqueles olhos cor de musgo que sempre me lembraram catarro, como se alguém tivesse espirrado nos dois olhos dela. O que, eu sei Sr. Albert, é uma coisa muito nojenta de se dizer sobre alguém, mas...o senhor já deu uma boa olhada naqueles olhos? Eles são nojentos.

   E então ela ficou me lançando olhares de desdém com aqueles olhos catarrentos. Aaaaah, chamem a polícia, ela vai me matar e vender meu fígado no mercado negro!

   Ai, ela disse alguma coisa. Eu não ouvi, e agora? E se ela disse que nós não estamos mais indo para o acampamento e sim para um campo de concentração onde seremos obrigados a fazer flexões doze horas por dia?

   - Calma Lidia – Leo disse, bagunçando meu cabelo. – Ela só disse que vai trocar todo mundo de lugar, pequena.

   - Por que ela vai fazer isso? – perguntei.

   - Para que nós possamos ‘fazer amizades’ com pessoas diferentes. – Renata respondeu. – Mas na verdade ela quer colocar a gente do lado de pessoas com quem normalmente não falamos para nós não fazermos algazarra e ela poder dormir.

   - Deus, com o sono que eu estou eu dormiria mesmo se o Orlando Bloom estivesse fazendo uma strip-tease aqui do meu lado. – disse.

   - É, amiga, nós entendemos, você está com sono. Apenas não diga o nome dele em vão.

   - De quem? Deus?

   - Não, do Orlando Bloom, sua besta!

   Ok, eu nunca disse que meus amigos eram normais.

   - Senhorita Brazzi!

   Ai meu Deus. É a Marta que falou meu nome!

   - Aqui – respondi, rezando para que ela estivesse só fazendo a chamada.

   - Você vai sentar aqui, do lado do Corelli.

   Ai, por que eu tinha que sentar logo do lado de um dos amiguinhos do Felipe? Isso é perseguição, só pode ser!

   Fui andando para meu lugar como se estivesse indo para a forca.

   Drama é meu segundo nome.

   Sentei ao lado do Corelli com uma cara bem fechada, para ele saber logo que eu não estava a fim de papo, mas ele só me abriu um sorriso mostrando todos aqueles dentes impossivelmente brancos que eu tenho certeza que eram trabalho de algum dentista.

   Que seja, nenhuma garota resiste a um sorriso assim, então eu dei um micro sorrisinho para ele. Bem pequenininho.

   Eu já falei que Daniel é um gato? Ele tem, tipo assim, a altura da Muralha da China, cabelos loiros bem lisos e olhos azuis que parecem uma piscina bem limpinha. Isso sem falar que ele tem uma boca muito bonita que eu aposto que seria muito boa de beijar.

   Não que eu esteja pensando em beijar Daniel Corelli, não estou mesmo. Afinal, se eu quisesse beijar alguém, tem um garoto perfeitamente gato ali atrás que arrasta um caminhão por mim e me beijaria inteira se eu pedisse.

   Que fique claro que eu estou falando do Leo.

   E eu não estou pensando em pedir para ele me beijar em inteira.

   Mas eu certamente não faria objeção se Felipe fizesse isso.

   Não! Sem Felipe! Não coloque Felipe nos seus pensamentos pervertidos, Lidia! Ele tem a irritante mania de ficar por lá e não sair mais.

   Depois que todos os lugares foram redistribuídos – Leo sentou com a loira gostosa que estava sentada do lado do Felipe, Fred sentou com Vítor (um amiguinho do Felipe), Renata sentou com Alex (outro amiguinho do Felipe) e Felipe sentou com uma cópia morena daquela loira.

   Onde eles encontram essas garotas? Em lojas de departamento? São todas iguais.

   Ou talvez só seja o ciúme falando mais alto.

   Ciúme? Não sei que ciúme. Não sei de onde me veio essa palavra. Não tenho pra que ter ciúme de ninguém.

   - Então – Daniel começou a falar do meu lado. – Lidia, acho que começamos com o pé esquerdo. Vamos nos apresentar de novo, o que você acha? Oi, meu nome é Daniel Corelli, tenho 18 anos, sou de peixes e adoro comer pizza com a mão.

   - Todo mundo que é normal come pizza com a mão – retruquei.

   - Bom saber, senhorita....

   - Lidia Brazzi. Tenho 15 anos, mas faço 16 na semana que vem –

   - Sério? – ele interrompeu. – Que legal!

   - É. Sou do signo de leão e adoro cheiro de fazenda.

   - Cheiro de fazenda? Nunca estive numa fazenda, como é esse cheiro?

   - Ah, é uma mistura de cheiro de grama, estrume de cavalo e flores silvestres. Parece nojento, mas é muito bom. Na verdade, é o cheiro do perfume que eu estou usando agora.

   - Imagino. – ele disse com uma careta. – Você não disse isso só pra eu calar a boca e me afastar, não é?

   - Na mosca.

   - Ok, vou ficar caladinho agora. Ninguém pode me chamar de mal-educado, eu tentei levar um papo com você.

   - Ninguém está dizendo isso. Tenho certeza que você é o galãzinho da mamãe, mas cala a boca, por favor, que eu estou com uma dor de cabeça dos infernos e só quero dormir, tá bem?

   Dava para ver que ele estava chateado. E, ok, eu estava sentindo um remorsozinho básico, mas que merda, eu dormi pouco mais de uma hora a noite toda! Dá um tempo, tá?

   Além do mais, a ideia de separar a galera era para que a gente fizesse silêncio.

   Bom, pelo menos uma coisa a favor de Marta Borges eu posso dizer. Ela sabe como calar a boca de 40 adolescentes sem nenhuma ameaça de morte.

   O plano dela de separar os grupinhos teria dado um resultado fantástico se não fosse por Fred e Vítor, que engataram numa conversa sussurrada sobre os peitos de alguém, e Felipe e a morena gostosa que conversavam sobre algo que – graças a Deus – eu não conseguia escutar.

   Ah, eles que fossem pro inferno, eu ia dormir o sono dos justos!

   Depois de alguns minutos, que levei para achar uma posição mais confortável na poltrona, finalmente caí no sono.

   Sonhei que estava correndo numa praia. O sol estava maravilhoso, brilhando bem forte e o vento balançava meu cabelo para trás. Primeiro eu estava correndo por prazer, olhando todo aquele espetáculo natural, mas de repente eu comecei a correr mais e mais rápido. Porque alguém estava me perseguindo. Eu continuei a correr, mas essa pessoa me alcançou e então, me jogou para frente.

   - Ah! – gritei.

   - Ei Lidia, se acalme – a pessoa que estava me segurando disse. – O ônibus só deu uma freada brusca, não há razão para gritaria.

   Abri os olhos e percebi que tinha caído da poltrona e que estava nos braços do Daniel.

   Renata e Felipe olhavam para a gente como se nós tivéssemos acabado de cuspir batatas.

   Ah, todo mundo que se dane, hoje eu estou revoltada e não estou nem aí para ninguém.

   - Obrigada, Corelli – disse. – Agora será que você poderia me colocar de volta na minha poltrona?

   - Claro – ele disse com um sorriso, me colocando no lugar. – Sabe, eu realmente não conseguia te enxergar no papel de donzela em perigo, mas até que você pode ser bem frágil quando dorme.

   Frágil é a mãe!

   - Olha aqui, se você tá me passando uma cantada, vai pro –

   - Ei, vamos manter o nível, ok? – ele disse, rindo. – Não, não estou te passando uma cantada, apesar de você ser um pedaço. Eu não entro em batalhas perdidas e não quero problemas, além do mais, eu meio que tô de olho naquela gatinha ali do lado do Alex.

   - A Renata?!

   Ela vai pirar quando souber disso...


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Notas finais do capítulo

Aproveitem que a história está na reta final e mandem reviews pra eu saber o que vocês acharam. Beijos e até amanhã :)