Trabalho Escolar: Diário de Lidia Brazzi escrita por Juliiet


Capítulo 27
Dia 13, domingo, 14 de agosto. (parte 2)


Notas iniciais do capítulo

Pois é, aqui está a segunda parte. É meio tenso, mas as coisas não vão ficar desse jeito, sério :) Enfim, depois desse ficam faltando só mais 3 capítulos pra história acabar e as notas finais (apesar de eu estar tendo um bloqueio criativo pra escrever o último capítulo =/). Espero que gostem :)



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   Não dava mais. Eu precisava sair de lá. Soltei-me de Felipe e saí correndo pelo corredor, até chegar ao quarto que tinha sido meu.

   Entrei e tranquei a porta. Ouvi os passos de Felipe me acompanharem, mas ele apenas parou em frente ao meu quarto. Não bateu, não disse nada, nem pediu para entrar.

   Agradeci mentalmente a ele por isso.

   Mas depois me peguei pensando: o que ele estava achando disso tudo? Será que ele sabia? Ou estava tão surpreso quanto eu?

   Não queria saber. Estava cansada de tanta confusão. Isso não acontece na vida de uma garota comum. Não, não acontece, Sr. Albert. Eu devo estar contando a história errada, só pode. Isso não tem como estar acontecendo comigo!

   Estava na hora daquilo acabar. Eu não queria mais drama. Já havia tido o suficiente por uma vida. Eu não sou protagonista de uma novela mexicana, pelo amor de Deus.

   Liguei para o meu irmão.

   - Fred, preciso de ajuda – disse, assim que ele atendeu.

   - Olá para você também, maninha.

   - É sério. Você pode vir me pegar aqui?

   - Na casa do Felipe?

   - É.

   - Por quê?

   - Eu quero ir embora daqui.

   - Ele fez alguma coisa com você, Lidia? – Era a primeira vez que eu realmente ouvia preocupação na voz dele em algo que tinha a ver comigo.

   Quase disse “fez sim, ele arrancou meu coração, jogou ele no triturador, fez suquinho, congelou e me entregou de volta”. Mas o Fred não entenderia mesmo, então eu só disse:

   - Não, não é nada disso. Não se preocupe. Eu só estou com saudades de casa.

   - Hm, se eu me lembro bem, mamãe meio que te expulsou de casa.

   - Ela vai me receber.

   - Como você tem tanta certeza? Ela ainda anda com raiva de você.

   - É melhor eu nem dizer como estou me sentindo em relação a ela – na verdade eu queria dizer que descobri todos os podres dela, mas achei melhor não fazer fofoca sobre o que eu sabia. Como dizem, a palavra é prata, mas o silêncio é ouro.

   - Bom, se você tem certeza...

   - Eu tenho.

   - Tudo bem, eu vou aí te pegar. Mas nem pensa que isso vai sair de graça, ok?

   - Já estava achando até estranho você fazer alguma coisa pra mim sem pedir nada em troca. O que é?

   - Vou decidir depois.

   Depois de desligar, comecei a arrumar as poucas coisas que eu tinha ali. Tirei a camisa do Leo e a guardei junto com as minhas coisas. Resolvi vestir um dos vestidos de Paula, já que eu não tinha nenhuma roupa minha mesmo. Estava me segurando para não correr até Felipe e chorar até que não restasse mais uma única gota de água no meu corpo.

   Mas é óbvio que não fiz isso.

   Estou cansada de me humilhar.

   Quando já estava com tudo pronto, destranquei a porta e a abri. Lógico que Felipe não estava mais lá.

   Eu sabia onde era o quarto dele e fui até lá. Respirei fundo uma vez, duas vezes. Bati na porta.

   - Entre – ouvi Felipe dizer.

   Foi o que fiz. Ele estava deitado na cama, com os joelhos dobrados e um livro nas mãos. Permaneceu na mesma posição enquanto eu fechava a porta e olhava para ele.

   - Eu estou indo embora – disse de uma vez – Pra valer.

   - Eu sei – ele disse, ainda do mesmo jeito, totalmente indiferente. – Ouvi você conversando com Fred.

   - Bom, eu só queria pedir desculpas por... –

   - Não se desculpe por nada – ele me interrompeu, largando o livro e sentando na cama. Seus olhos continuavam nublados e fitavam-me diretamente. – Você não tem nada a ver com isso – então ele sabia? Ou só estava sendo maduro em relação a toda essa situação? – Venha cá, Lidia.

   - Isso é para ser um adeus – eu disse, tremendo, mas não conseguindo controlar minhas pernas que insistiam em ir até ele.

   - Eu sei – ele disse e suspirou. Não consegui ler o lampejo que passou nos seus olhos. Era algo completamente novo para mim.  – Não concorda que temos que ter uma despedida decente?

   - É...acho que sim – respondi.

   - Então venha aqui.

   Fui até ele.

   Ele continuava sentado na cama. Pegou minhas mãos e me puxou mais até ele, até que nossos corpos estivessem muito próximos. Felipe pôs suas mãos nas minhas costas e me fez sentar em cima dele. Senti sua respiração no meu pescoço e me arrepiei toda. Não conseguia pensar em mais nada, só nele.

   Era isso que eu não sentia com Leo. Essa força que se apoderava de mim quando estava com Felipe, que me impelia para ele, que fazia meu corpo agir sem o consentimento da razão. Essa necessidade que eu tinha de que ele me abraçasse cada vez mais forte. Um arrepio que eu sentia da cabeça aos pés.

   Agarrei a nuca de Felipe e o puxei mais para mim. Ele roçou os lábios nos meus, mas sem me beijar, me fazendo pirar. “Me beija logo!” eu quis gritar, mas não pude porque ele deve ter ouvido meus pensamentos e se apossou de uma vez dos meus lábios. Eu os entreabri e o beijo se tornou mais profundo. A boca dele era quente e úmida e tinha um gosto delicioso que era só dele. Apenas Felipe era capaz de me fazer esquecer tudo com apenas um beijo.

   Segurei-me nele como se fosse a única coisa em que eu pudesse me agarrar na vida, como se eu fosse cair num precipício se o soltasse. Senti suas mãos em minhas pernas e depois em minha cintura. Ele também se segurava em mim com desespero. Minhas mãos estavam entrelaçadas no cabelo dele. De repente ele me jogou de costas na cama, não parando de me beijar por nem um segundo, e se pôs em cima de mim. Abri os olhos e fitei aquele verde jade dos olhos dele, ele me olhava tão intensamente que me fez arder. Como eu o queria! Como eu o amava!

   Meu celular começou a tocar. Nós ficamos petrificados por um instante, até Felipe se desvencilhar de mim e ficar de pé. Ele estendeu a mão para me ajudar a levantar, mas tinha o rosto virado para o outro lado. Eu aceitei a ajuda e levantei, ajeitando a roupa e o cabelo. Peguei o telefone e atendi. Era Fred, avisando que já estava na frente da casa do Felipe.

   - Eu já vou – disse a Felipe depois que desliguei o telefone.

   - Eu te acompanho até a porta.

   Apenas assenti e o segui até a porta. Não se ouvia nada do ringue (cozinha) o que queria dizer que a briga entre os pais do Felipe tinha acabado. De repente eu percebi como aquilo deveria estar sendo ruim para ele, quer dizer, ter os pais brigando daquele jeito. E bom, saber que a minha mãe...que a minha mãe...ah não consigo nem pensar nisso, Sr. Albert,mas você sabe.

   Parei e segurei a manga da camisa de Felipe antes que perdesse a coragem.

   - Eu sei como é – disse, olhando para meus sapatos. – Meus pais também não foram um exemplo de felicidade conjugal. Isso de alguma forma acaba respingando na gente, mas, acredite, passa. Eu, pelo menos, acabei descobrindo que eu sou uma pessoa totalmente diferente dos meus pais. Não preciso necessariamente cometer os mesmos erros.

   Ele não disse nada, apenas segurou meu braço e me fez continuar a andar.

   Quando chegamos À porta, ele finalmente disse:

   - Eu vou sentir sua falta, Lidia.

   Abaixei o rosto, porque as lágrimas começaram a escorrer dos meus olhos. Não disse nada e fui embora, sem olhar para trás.

   Depois, Sr. Albert, o Fred me perguntou por que o Felipe parecia estar tão desolado. Mas talvez a luz tenha pregado uma peça no meu irmão. Felipe nunca ficaria mal por minha causa, afinal, ele não me ama.

   Fui para casa com Fred e ele pelo menos teve a decência de não fazer nenhuma piadinha sobre meu estado semi catatônico de garota que acabou de ter seu coração arrancado, fatiado e servido de comida para hienas.

   Quando chegamos em casa, Fred disse que tinha umas coisas para fazer (com certeza ele ia fumar uma maconha, Sr. Albert, eu conheço o irmão que tenho) e me deixou lá sozinha. Mas foi até melhor, porque aí eu ia poder ter minha conversinha com a mamãe sem platéia.

   Mamãe não estava em casa. Tomei banho, coloquei um velho moletom e fiquei esperando na sala. Parecia que eu tinha ficado anos afastada daquela casa, não apenas alguns poucos dias.

   Eu estava comendo cereal em uma tigela quando mamãe chegou. Ela olhou para mim como se nunca tivesse me visto antes, depois soltou:

   - O que você está fazendo aqui? Você não tem nada para fazer aqui, volte para a casa do seu amante!

   Não mostrei que me abalava com aquela recepção. Caramba, Sr Albert, eu podia estar morrendo de raiva dela, mas ela ainda era minha mãe!

   - Pelo visto não é apenas a casa do meu amante, mas também do seu.

   Mamãe vacilou. Parecia que eu ela não ficaria mais surpresa se eu cuspisse moedas de ouro. Mas ela rapidamente se recuperou.

   - Como você ficou sabendo? – perguntou rispidamente.

   - Mamãe, como você pôde? Ele é um homem casado, tem filhos! – perguntei, ignorando a pergunta dela.

   - Não ouse me julgar! Você é bem pior que eu! Por sua culpa, Heitor terminou tudo comigo e ainda fez com que me despedissem do meu emprego!

   Espera um pouco. O que estava acontecendo ali?

   - O que a senhora quer dizer com isso? – perguntei, com medo da resposta.

   - Não finja que não sabe! O seu namoradinho estava cansado das suas negativas, então arrumou um jeito fácil de conseguir você. – começou ela, com um ódio que eu nunca tinha visto antes. - Convenceu Heitor a me despedir, assim ele me ofereceria dinheiro por você e sabia que eu não recusaria, naquela situação. Ainda mais depois que Heitor me abandonou.

   - Não! Não acredito nisso! – não podia ser verdade, Sr. Albert! Felipe nunca faria isso comigo...

   - Pode acreditar, filhinha – mamãe retorquiu, ácida. – Bom, mas aí Heitor percebeu que Felipe estava deixando as coisas irem longe demais e ele não podia correr o risco de ter seu filho envolvido seriamente com uma menina como você, com a filha da amante dele!

   Não sei em que altura do discurso da mamãe meus soluços começaram, mas eles agora estavam tão altos que eu mal podia escutá-la. Não dava para acreditar...Por que Felipe fez isso comigo? Por que ele resolveu me destruir total e completamente? Por que foi tão cruel? Por que fez com que eu o amasse tanto se sabia desde o início de toda aquela sujeira?

   Eu não conseguia mais escutar as palavras da mamãe. Elas estavam me ferindo, me matando. Corri para o quarto e me enfiei debaixo das cobertas, as lágrimas não cessavam e os soluços ficavam cada vez mais fortes.

   Eu acreditei que Felipe gostasse de mim pelo menos um pouco. Achava que ele tinha algum carinho por mim. Achava que ele ao menos me respeitava.

   Mas tudo foi um jogo. Desde o início. E tudo porque eu havia dito não para ele.

   Eu queria tanto, tanto odiá-lo!

   Mas não posso. Não posso porque esse meu coração traiçoeiro ainda é dele, ainda bate por ele, ainda o ama.

   Se o intento de Felipe era brincar comigo...

   Ele conseguiu.

   E muito mais.

   Ele me destroçou.


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Notas finais do capítulo

Não esqueçam de mandar reviews me dizendo o que acharam, ok? Beijos :*