Universe escrita por Yumi Oni


Capítulo 3
Agony


Notas iniciais do capítulo

Oi gente! Finalmente acabaram minhas provas! Mas infelizmente meu projeto tá dando problema então vou continuar ocupada até a apresentação (de três dias ¬¬) MAS não se preocupem tanto pq eu já tenho alguns caps escritos aki. Enfim, boa leitura!



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“O que você espera de mim?

É a última cena do desespero?

Responda... Eu não quero morrer.

O grito da insônia. É o próximo, o meu turno?

O que é uma arma letal?”

Eu estava sentado na praça quando uma senhora se aproximou.

-Oe menino, por que está aí sozinho?

Por quê? Talvez, porque ninguém me queira por perto. Não, não é por isso. É porque tenho medo. Medo deles.

-Nee, você ficou sabendo do que aconteceu?

-O quê?

-Aquele garoto dos Uke queimou o braço e ninguém sabe como.

-Essa criança me dá arrepios.

-Fala baixo ou ele pode ouvir.

-Parem.

-Você ouviu? Parece que a filha dos Uke quase se afogou.

-Mesmo? Como foi isso?

-Não sei os detalhes mas parece que a culpa é do irmão dela.

-Esse garoto não é normal, tentar afogar a própria irmã, que terrível.

-Pode ter sido um acidente.

-Nada com aquele garoto é um acidente.

-Parem!

-Esse monstro incendiou a escola, por sua culpa meu filho está no hospital! Se vocês que são os pais não podem controla-lo que o leve pra longe daqui antes que mate alguém!

-Eu não queria isso, me perdoa.

-Monstro! Nunca mais se aproxime do meu filho!

-Desculpa, me desculpa, eu juro que não-

-Você devia morrer demônio!

-Seria melhor se nunca tivesse nascido.

-Mas podemos dar um jeito nisso. Peguem ele!

-Parem por favor! Por que estão me machucando? Eu não queria fazer mal. Não foi de propósito. Já tem muito sangue aqui, não estão satisfeitos? Ah! Minha cabeça! Se continuar assim eu vou... eu vou...

Não! Eu não quero morrer! Eu não quero morrer! EU NÃO QUERO MORRER!

-KAI, ACORDA! – abri os olhos e apesar de não estar enxergando muito bem pude notar Aoi e Uruha sentados na minha cama, me olhando preocupados.

Eu estava soando, tremendo, algo quente escorria por meu rosto mas não tinha certeza do que era.

-Você teve um pesadelo. – Aoi me explicou.

Pesadelo. Me pareceu real demais. Especialmente porque boa parte dele aconteceu.

-Se acalma Kai, não precisa chorar já passou. – então era isso que escorria por meu rosto, lágrimas.

 Meus olhos prenderam no teto, não parecia ter nada de imediato, mas eu vi. Olhos prateados e ao seu lado aquele par de olhos cor de fogo que eu jamais iria esquecer. Eu gritei e só o que saiu foi um gemido esganiçado. Perfeito, nada melhor do que acordar sem voz justamente quando um maníaco resolve invadir o seu quarto.

Pensei em Miyavi, ele poderia tirar os dois dali e manter Kouyou e Yuu seguros.

-Kai, você tá me ouvindo? Bebe uma água, vai te ajudar. – Não, eu preciso tirá-los daqui primeiro, mas o que eu faço?

 Aoi acendeu a luz e eu olhei novamente pro teto, não tinha nada lá.

Kou me ofereceu o copo com água que aceitei de imediato. Ainda estava agitado, assustado. Podia sentir meu corpo doer e arder onde eu fora atingido no pesadelo, em especial minha cabeça, que parecia querer explodir.

-Kai, você está bem? – neguei tentando falar novamente sem sucesso – Não consegue falar? – assenti.

-Também, depois daqueles gritos. Me surpreende que não tenham vindo aqui saber se não estavam tentando te matar. – gritos? O que eu falei? O que eu falei? Lembrei do que eu estava gritando no sonho antes de acordar, eu disse isso? Em voz alta? Ótimo começo de uma quarta-feira. – Não acha melhor tomar um banho? Você não me parece nem um pouco disposto a voltar a dormir. – concordei com Yuu eu precisava mesmo de um banho.

 Não queria lembrar daquelas coisas, não queria ver aquela queimadura nem as outras cicatrizes que eu tinha pelo corpo. Mas querer não é poder. Por isso que apesar de na maior parte do tempo eu conseguir fingir que tinha superado, minha mente me prega peças, como se eu estivesse passando por tudo aquilo outra vez.

Depois disso fiquei praticamente duas horas ouvindo Uruha e Aoi conversando já que eu não podia participar muito (só alguns acenos e alguns comentários escritos). Eles sabiam que eu não ia dormir de novo e resolveram me acompanhar mesmo estando cansados (eu podia ver os bocejos disfarçados e a constante movimentação para se manterem acordados).

 Acho que pela primeira vez posso dizer que encontrei bons amigos. Pelo menos enquanto eles não souberem sobre as cicatrizes ou sobre todas as coisas bizarras com as quais eu convivo.

De qualquer forma eles conseguiram me distrair, tanto que eu quase não notei que já era hora de me arrumar pro café da manhã.

 Estranhamente Miyavi não estava no refeitório e nem apareceu com uma daquelas suas entradas de parar o trânsito. Também não estava presente nas primeiras aulas do dia. Era como se tivesse evaporado.

-Kai se continuar procurando o Miyavi com tanto afinco vou achar que ficou obcecado. – Kou disse rindo do provável bico que eu fiz pelo comentário. – Tudo bem, já não está aqui quem falou.

-Até por que você não precisa mais procurar. – Yuu disse indicando a entrada do refeitório que apesar de lotado por ser hora do intervalo pareceu parar apenas para vê-lo entrar. E não estou exagerando quando digo isso.

Ele veio até nossa mesa fazendo uma reverência rápida e se dirigindo a mim.

-Preciso falar com você, é urgente. – ele parecia extremamente incomodado com algo que eu não soube identificar.

 Concordei indicando que minha garganta estava ruim e me despedi dos outros. Eu e Miyavi andamos por um bom tempo até uma sala que pelo que me lembro não era mais utilizada. Ele abriu a porta e fez sinal pra que eu entrasse.

Eu estava preparado pra qualquer coisa menos pra encontrar aquela pessoa ali, acompanhado daquele ruivo e um ser de olhos prateados com uma estranha faixa no rosto.

-Kai, quanto tempo. Você cresceu bastante. – meu avô. O que ele fazia aqui? E por que estava do lado daqueles dois?

 Foram poucas as vezes que estive com meu avô já que ele estava sempre viajando mas nas poucas vezes que estivemos juntos ele sempre me contava histórias sobre youkais, bruxos, feiticeiros e coisas do gênero. Talvez não fossem só simples histórias como eu achei que fossem.

-Oras, o gato comeu sua língua Kai?

-Ele amanheceu com a garganta ruim, não está podendo falar. – Miyavi respondeu quase que num rosnado. Por que diabos ele estava irritado mesmo? E por que eu sentia que ele estava com medo?

-Acalme-se raposa, eu já disse que o Ruki e o Reita não são inimigos. – peraí, ele disse raposa? Ele conhece aqueles dois? – Kai, pedi ao seu consorte que o trouxesse aqui por que chegou a hora de esclarecermos algumas coisas.

Consorte? O Miyavi é meu consorte? Eu preciso da minha voz de volta pra perguntar o que está acontecendo aqui! Onde raios se tem um papel quando se precisa de um?

-Eu sei que você deve estar se perguntando várias coisas mas me deixe primeiro contar os fatos do começo.

Concordei e sentei numa cadeira próximo a Miyavi e bem longe daqueles dois.

-Na idade média, quando samurais lutavam por suas terras, encontraram um vilarejo habitado por sacerdotes com dons assustadores que poderiam ser muito bem usados em batalha. Esses sacerdotes controlavam o fogo, a água, a terra, o vento.

E alguns deles, que eram da família principal que fundou o vilarejo, podiam ver coisas que ninguém mais via, falar com elas e até pedir ajuda delas em batalha se firmassem um pacto. Essas coisas eram o que chamamos de youkais. Por séculos os youkais fizeram pactos com os humanos descendentes daqueles sacerdotes em troca de algo que eles haviam perdido, sua humanidade.

 Dessa ligação além de uma forte amizade entre humanos e youkais surgiu também a ambição. Muitos pensando que se fosse poderosos, controlando os youkais, poderiam controlar outros feiticeiros como nós e daí para controlar o resto do mundo seria só um passo. Foi assim que os feiticeiros e os bruxos passaram a ser inimigos. Os feiticeiros buscando a paz e os bruxos buscando poder.

Foi nessa época que nasceu o primeiro Mectro-lux. Considerado por muitos o feiticeiro mais poderoso que existiu ele passou a ser disputado pelos dois lados. Suas habilidades eram totalmente diferentes das dos demais, não haviam limites para o que ele podia fazer. As mais incríveis magias de ataque, defesa e de cura foi ele quem criou e só feiticeiros de alto nível conseguem usá-las. Inclusive, ele foi o primeiro a conseguir um pacto com uma kitsune.

 Como você deve imaginar raposas são muito difíceis de encontrar. Mal posso imaginar que espécie de pacto ele fez. Só as kitsunes sabem sobre isso e como elas só confiam em si mesmas jamais falaram a respeito com bruxos ou feiticeiros que não foram previamente escolhidos como você.

É por isso que tanto bruxos quanto feiticeiros querem você, além das habilidades únicas você também possui o pacto que ninguém além dos primeiros Mectro-lux tiveram o privilégio de ter. E não é só isso, você tem uma energia muito forte que mesmo incompleta como está já chama bastante atenção, foi por causa dela que você quase morreu hoje mais cedo.

-Do que você está falando velho, não aconteceu nada hoje de manhã. – Miyavi disse levemente desconfiado mas eu sabia exatamente do que ele estava falando. Foi aquele pesadelo.

 Aqueles olhos que eu vi no teto não eram do Ruki ou desse tal de Reita, era outra coisa.

-Mas que consorte é esse que nem nota um ataque tão evidente contra seu amo! Você acha mesmo que ele amanheceu com um simples problema de garganta raposa? Isso é obra de um youkai, provavelmente um ilusionista capaz de manipular os sonhos. Acho que devo parabenizar sua força de vontade Kai, você conseguiu fingir que estava tudo bem ao ponto de seu consorte, aquele que devia notar até a mais insignificante mudança de comportamento, não perceber que algo havia acontecido de fato. Ou será que essa raposa ficou tão abalada na presença de um inu que não notou o risco que seu amo corria?

Eu podia sentir que Miyavi estava irritado, muito mais do que antes. Meio que sem pensar eu segurei sua mão vendo-o relaxar um pouco. Eram informações demais e ainda assim minha prioridade era mantê-lo calmo. Eu sabia muito bem o quanto meu avô podia ser insolente quando queria.

 Ruki me encarava atônito, afinal pelo que ele sabia eu era o tipo de pessoa que entraria em desespero e choraria pelos cantos depois de descobrir algo assim, ainda mais tendo sofrido um atentado. O que ele não sabia é que esse não era o primeiro atentado que eu sofria, claro que ele me deu uma queimadura de presente, mas não foi uma tentativa de assassinato, por que se fosse eu não estaria aqui.

Olhei meu avô com cara de poucos amigos. Não me agradava vê-lo encurralar Miyavi dessa forma. Se fosse para culpar alguém que culpasse a mim. Eu sabia muito bem que se quisesse Miyavi teria ido até meu quarto e resolvido o problema mas eu não fui rápido o bastante. Fosse como fosse ele não tinha o direito de falar do meu consorte.

-Você tem uma expressão interessante Kai, quem dera poder ouvir o que está pensando agora. – ele comentou rindo provavelmente tendo em mente que não era algo amigável. – De qualquer forma vim mais para avisar que devem tomar mais cuidado daqui pra frente e para deixar Ruki e Reita sob seus cuidados. Os anciões ainda não confiam neles por isso vão ficar em observação, passo essa tarefa pra vocês. Até a próxima. – dito isso ele simplesmente sumiu como se fosse um daqueles hologramas que vemos nos filmes de ficção. Posso dizer que nem me surpreendi tanto.

Ficamos longos minutos nos encarando sem ter o que dizer até que ouvi o sinal bater indicando o fim do intervalo. Me levantei e por meio de gestos tentei explicar a Miyavi que tínhamos aula (mesmo que ele não se importasse muito) e que eles viriam conosco (porque querendo ou não estavam sob nossa responsabilidade). De alguma forma ele entendeu e se voltou pros outros dois.

-Vocês foram matriculados? – Reita assentiu.

-Estamos na mesma sala que vocês. – a careta mal disfarçada de Miyavi ficou ainda mais evidente.

-Então vamos, temos aula agora.

 Caminhamos pelos corredores sem trocar mais nenhuma palavra até nos separarmos finalmente na sala onde eu e Miyavi nos sentamos perto de Aoi e Uruha que me encaravam com uma pergunta muda sobre os outros dois enquanto estes se apresentavam pra turma.

Depois disso as aulas foram relativamente normais tirando o desconforto que eu podia sentir vindo de Miyavi, talvez pela presença daquele tal Reita, pelo que eu entendi ele era um youkai originalmente na forma de cachorro e pelo pouco que sabia raposas e cachorros não se davam muito bem.

 Quando finalmente acabou a última aula Kou e Yuu me atacaram com as mais diversas perguntas mas eu não estava ouvindo realmente. Estava mais preocupado com outros três seres que se encaravam um pouco mais afastados. Aquilo não era nada bom, eu sabia que Miyvai não precisava nem de meio motivo pra avançar naqueles dois no nível de stress em que se encontrava. Fui até os três olhando pra cada um tentando passar que uma briga ali não mudaria nada e trouxe minha raposa enfezada comigo depois de me despedir rapidamente dos outros dois.

 Fomos pro refeitório com Miyavi tendo que inventar desculpas tanto pra ele quanto pra mim sobre o “sequestro” repentino e a aparição dos dois R’s. Mas logo o assunto foi esquecido e eles conversavam animadamente. Myv parecia mais calmo e totalmente a vontade, tão a vontade que não se importou com o fato de eu ter segurado sua mão durante todo o trajeto e durante a conversa, também não se importou quando por vezes fuzilei as atiradas que praticamente o comiam com os olhos.

Eu estava me tornando possessivo e isso por que nem estamos juntos, não quero nem imaginar quando estivermos... Oh meu Kami-sama eu estou apaixonado! Não! Não deve ser isso. Provavelmente eu só estou ficando paranoico com essa história de amo e consorte, é, deve ser isso, tem de ser isso.

 Depois da batalha interna que fiquei travando durante todo o almoço e depois dos mais variados xingamentos que dirigi a meus amigos nada discretos, finalmente me vi sozinho com Miyavi. Não que eu estivesse esperando por isso ou qualquer coisa assim! Mas dava pra sentir que ele tinha algo a me dizer em particular e minha curiosidade já estava me matando.

Acabamos em seu quarto de novo e me perguntei se aquilo estava se tornando um hábito.

-Por que não me chamou? – ele me pareceu magoado, como se eu não confiasse o bastante nele pra me proteger, o que era mentira, provavelmente ele era o único que eu confiava o bastante pra isso mesmo não o conhecendo direito.

 Escrevi num papel aquilo que pensei mais cedo.

“Não queria incomodar.”

-Incomodar? Você corria risco de vida! – praticamente gritou socando a parede que ficou com um buraco grande o bastante para se ver todo o espelho do banheiro.

“Não é a primeira vez que acontece e diferente de agora eu nunca tive a quem pedir ajuda, não pode me culpar se eu fiz o que estava acostumado a fazer!”

-Mas quando o Ruki apareceu você me chamou. Por que não dessa vez?

“Eu achei que era só um pesadelo.”

-Você o viu não é? – ele se referia ao youkai que me colocou a ilusão. Confirmei já cansado daquela conversa. – Então você sabia muito bem que não era só um pesadelo.

“Ok Miyavi, eu sabia que tinha algo a mais e até pensei em te chamar mas ele sumiu tudo bem? Sumiu antes mesmo de eu pensar direito.”

-É um youkai poderoso, só quero saber como ele entrou sem que eu notasse. – decidi alfinetar mesmo sabendo que eu podia acabar igualzinho aquela parede.

“Vai ver você ficou realmente abalado na presença do inugami. Passou todas as aulas olhando pra ele.”

-Mas o que? Kai você é quem está vendo demais.

“Ah, claro! Acha que eu não notei toda a sua inquietação?”

-É uma reação natural já que ele é um maldito cachorro mais velho e mais experiente do que eu e que fez o favor de sentar fora do meu campo de visão. Como se sentiria se o Ruki tivesse feito o mesmo?

“Teria ignorado como fiz a aula inteira.”

-Mentira! Você ficou de olho nele o tempo todo!

“Obvio que não! Eu estava prestando atenção na aula.”

-E eu sou o papai noel.

“Por que estamos discutindo? Você por acaso se importa com quem eu olho ou deixo de olhar?”

-Você não é o único possessivo aqui.

“Então me diz que raios de relação é a nossa por que eu não sei definir!”

 Ele parou um tempo pra pensar.

-Acho que só o natural entre amo e consorte.

“O que você chama de natural?”

-A preocupação um com o outro, a afinidade, o tesão, o ciúme. Imagino que isso tudo faça parte.

“E você só sente isso?”

Perguntei meio decepcionado com a possibilidade de tudo o que eu estava sentindo ser apenas resultado daquele pacto que eu nem fazia ideia de como havia sido feito.

-Você sente algo mais?

 Por algum motivo lembrei do nosso beijo. Tinha um sentimento diferente nele. Só não sabia dizer se ele sentiu o mesmo.

“Não.”

Respondi categórico. Era isso o que eu queria certo? Que fossem só efeitos desse tal pacto e não meus sentimentos. Então, por que eu sentia essa vontade intensa de chorar?

 Um silêncio incômodo se instalou e eu decidi que era melhor ir pro meu quarto. Levantei prestes a me despedir mas fui surpreendido por suas mãos em minha cintura, me puxando pra ele, e pela segunda vez pude provar daquela boca. Uma parte de mim queria empurrá-lo e sair dali mas só o que eu fiz foi trazê-lo mais pra perto, aprofundando aquele contato.

O sentimento que eu não sabia identificar ainda estava ali no seu toque, no seu beijo. Não era só eu, ele também sentia. Minhas pernas estavam bambas, meu coração descompassado e quando nos separamos eu vi aquele brilho nos seus olhos que por algum motivo me pareceram tristes. Como se pedissem desculpas.

 Miyavi me beijou de novo. Um beijo completamente diferente dos de antes.

Era sensual, excitante mas não tinha aquele cuidado ou o carinho. Suas mãos apertaram minhas coxas e foi aí que eu acordei. Era bom mas não era o que eu queria.

 Tentei empurrá-lo mas ele nem se moveu, suas mãos continuavam subindo e descendo, seus lábios começaram a machucar, eu tentei de novo e de novo até que quando dei por mim estava chorando, implorando pra que ele parasse.

Ele me soltou e minha primeira reação foi um tapa que com certeza doeu mais em mim do que nele. Corri pra fora dali, pra longe dele, pra longe das minhas doces ilusões.

O que ele queria afinal? Me enlouquecer? Além de todos os problemas que eu já tinha agora vou ter que lidar com mais essa. Será que alguém pode me ensinar como se ignora os sentimentos? Melhor ainda, como eu me livro deles?

Não vou ser hipócrita dizendo estar perdidamente apaixonado por ele. Mas eu sinto alguma coisa e machuca pensar que eu posso ser um simples passatempo.

 Aliás eu nem sei por que machuca tanto.

Caminhei pelos corredores, ganhando tempo pra me acalmar antes de voltar pro meu quarto. Eu não precisava que mais alguém me visse assim.

 Chega a ser engraçado. Eu pensei que quando viesse pra faculdade poderia finalmente esquecer dos meus antigos problemas, faria amizades, teria um emprego de meio período e deixaria de me preocupar com o meu dom.

Tá bom Kai como se a vida fosse te dar uma moleza dessas.

 Mas dizem que não custa sonhar certo? Ok, pra mim até sonhar custa.

Que eu me lembre nunca tinha visto um youkai antes de vir pra cá. Claro, eu vi o Miyavi e o Reita mas só na forma humana. Se for assim posso ter visto milhares deles que nunca saberia diferenciar.

 Esse ilusionista como disse meu avô, é um youkai poderoso certo? Então ele pode virar humano também imagino eu.

Andava tão distraído que não notei quando o corredor ficou vazio, muito menos que eu estava andando a tempo demais pra não ter chegado em meu quarto.

 Quando notei esses fatos eu parei. O corredor era estreito demais para ser o da faculdade, haviam portas demais ali para ser o dormitório e estava escuro demais pro horário. Pelo que me lembrava ainda era de tarde certo?

Um grito ecoou, vinha do quarto à minha esquerda. Eu não sabia se entrava ou se saía dali como um bom covarde mas pra onde eu iria? Não conseguia ver o fim do corredor muito menos o caminho por onde vim. Sendo mais objetivo, a única coisa que eu conseguia enxergar naquela penumbra era a porta do quarto.

 Mais uma vez um grito. Mas dessa vez eu reconheci, era o meu grito.

Abri a porta.

 Eu estava lá, mais pálido que o normal, sem roupas, chorando, com as costas em carne viva, sentado em uma poça de sangue, olhando fixamente uma parede branca.

-Foi sua culpa. – ele disse sem me encarar.

O cheiro nauseante de algo podre me fez prender a respiração e procurar de onde vinha.

-Foi sua culpa. – ele repetiu se levantando – Você se descontrolou de novo e veja no que deu.

 Um corpo caiu do teto, totalmente carbonizado, irreconhecível. Olhei pra cima e tinham vários deles presos uns nos outros por algo aparentemente invisível.

-Não os reconhece certo? Mas você sabe quem são. Seus avós, seus pais, sua irmã, seus amigos e até aquela raposa maldita estão aqui. Você achou que podia se controlar, que nunca os machucaria mas veja só, você até que caprichou. Pena que não conseguiu se matar no final. Um bastardo como você devia mesmo morrer. – ele dizia vindo na minha direção cambaleante, com um sorriso sarcástico nos lábios cortados. Quando faltavam mais alguns passos eu fechei a porta.

Nada daquilo era real, era uma ilusão, não era real!

-Claro que é real Kai. Eu sou você e vice e versa. Você já me conhece. Fui eu que te mostrei como se usava seu ódio. – ele gritava do lado de dentro do quarto tentando abrir a porta que eu ainda segurava – Você tentou fingir que eu não existia, mas as coisas não funcionam assim. Eu continuei tentando tomar o controle até que aqueles idiotas me selaram. Um maldito selo que me deixou fraco ao ponto de não influenciar seus pensamentos ou ações. E em troca eu passei a sugar sua vida, afinal se eu não posso reinar que não haja mais reino.

 Ele socou a porta fazendo-a quebrar e eu me pus a correr.

Por não enxergar bati em diversas coisas que eu não soube identificar só sentia os cortes. Caí várias vezes e a cada vez parecia mais difícil levantar até que eu bati em algo duro e cair de novo.

 Uma luz surgiu do teto e reconheci o objeto como um espelho mais ou menos do meu tamanho, agora com uma rachadura pelo choque.

No reflexo vi minha decadência, os cabelos bagunçados, o suor escorrendo pelo rosto, a camisa reduzida a trapos, diversos cortes por todo o corpo, a calça também rasgada em algumas partes me permitiu ver um corte mais profundo que eu nem ao menos tinha sentido até aquele momento.

 Minha avaliação foi interrompida quando ouvi um barulho. Levantei depressa a tempo de ver uma faca voar na direção do espelho.

Voltei a correr tentando me livrar de alguns cacos que me acertaram.

 Eu tinha que sair dali o mais rápido o possível.

Tropecei e mais uma vez o chão não foi meu amigo já que caí num paralelepípedo onde quebrei uma costela. A dor era tão grande que mal conseguia respirar.

 Ouvi o som de um salto alto um pouco mais a frente, se aproximando sem pressa.

A luz acendeu novamente mas tudo o que eu conseguia ver daquela altura eram os babados de um vestido branco. Ela se abaixou, sentando às minhas costas antes de me ajeitar em seu colo. A dor pareceu nem existir quando seus olhos amendoados me fitaram.

 Ela se abaixou segurando meu rosto e me beijou.

Depois disso eu não senti mais nada.

“Arma letal são os lábios. Sua afeição me viola. (...)

Você não consegue escutar meus gritos?

De novo... até que a raiva vá embora.

Não me toque!

Não toque o coração!

Não mostre essa face!

Eu não quero morrer.”


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Notas finais do capítulo

Eu de novo. Bem, esse cap era pra ser mais explicativo do que outra coisa (oq realmente acabou sendo) mas como sempre eu só me toquei do q estava escrevendo quando já tinha acabado (oq por um acaso foi muito bom, agora teremos mais personagens e futuros motivos de preocupação extra rs').
Anyway beijokas e não desistam de mim (reviews?). (^.^)



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