O dia começava como qualquer outro, era mais uma manhã comum para Okumura Yukio - Levantar, tomar café, acordar o irmão mais velho para que não se atrasasse. Mas algo diferente estava acontecendo naquela manhã: Rin não estava dormindo, nem estava pelo alojamento. Ele sentiu certa apreensão, até normal para alguém que tinha um irmão como aquele, que, apesar de ser o mais velho, era muito mais infantil, irresponsável e impulsivo que o mais novo, o que sempre preocupava o rapaz de óculos.

– Nii-san, onde você se meteu? – Ele disse, suspirando, para si mesmo – Você não tem jeito mesmo! Só espero que não se atrase para a escola...

– Eu não vou! – Respondeu a voz zombeteira do mais velho no ouvido do irmão – Yukio, você se preocupa demais.

– N-N-NII-SAN! – Gritou Yukio, assustado e corado, pulando para trás de susto – De o-onde você saiu?

– Do banheiro – Ele disse, apontando para trás – Me deu uma dor de barriga hoje mais cedo. Me lembre de não comprar mais salmão vagabundo, sim?

– Ce-Certo – Ele respirou fundo – Vamos para a aula, agor--

A fala de Yukio foi interrompida por Rin, que se aproximou de seu rosto o suficiente para que seu irmão pudesse sentir sua respiração. E colocando a mão em sua testa, perguntou:

– Yukio, o que você tem, hein? – Ele encostou a bochecha no rosto do irmão, fazendo-o corar ainda mais – Você está vermelho, e quente. Está com febre?

– N-Não, eu estou bem, Nii-san! – Disse, afastando o mais velho com as mãos – Eu só estou um pouco cansado...

O moreno então levantou o rosto do mais novo à altura do seu com as duas mãos, de modo a fazê-lo olhar em seus olhos.

– Pegue leve consigo mesmo – Ele sorriu – Ou você ficará doente, e aí, quem irá cuidar de mim caso eu me machuque?

O rapaz de óculos assentiu, corado. “Qua-Quando foi que eu passei a me sentir assim perto do Nii-san...?” Ele pensou. Afastou os pensamentos rapidamente e seguiu para as aulas do colégio Seijuuji.

Na aula de exorcismo, Yukio estava visivelmente alterado. Estava confundindo coisas, esquecendo nomes, encarava Rin e acabava ficando mudo e corado sem motivo. Até Shiemi, que era meio tapadinha, percebeu que havia algo errado. Ao final da aula, os alunos preocupados perguntaram se estava tudo bem, mas o professor que tinha a mesma idade que todos ali apenas respondia que sim. Sem aparentemente nada para se fazer em relação a isso, um a um os alunos saíram, com exceção de Okumura, que sabia que seu irmão não estava bem e tinha seus métodos de descobrir o que estava errado. Levantou de repente.

– Ei quatro-olhos, vai me dizer o que aconteceu, agora – Ele disse sério – Eu sou seu irmão, confie em mim.

– Não é nada Nii-san, é s-sério – Gaguejou.

O mais velho chegou mais perto, agarrando Yukio pela camisa, exigindo satisfações.

– Não tente me enganar, Yukio – Ele rangeu os dentes pontudos – Eu sou tudo, menos otário. Não sou igual o resto da turma que me contento com um ‘está tudo bem’. Eu sei que não está.

– Me-me coloque no chão Nii-san – Gemeu Yukio, que estava sendo sufocado pela força demoníaca do irmão – E-eu te conto, mas me solte, por favor...

Rin não deu ouvidos ao mais novo, estava nervoso com o irmão que escondia a verdade dele, e sem perceber, suas chamas azuis tomavam conta de seu corpo, até que então uma espada foi lançada contra a parede ao lado deles.

– Oye, largue o quatro-olhos medroso, Okumura! – Disse a voz largada da professora irresponsável, Shura, que atirou a espada contra eles – Temos um assunto de exorcistas de verdade para resolver, vocês podem continuar a viadagem depois ~

– Shu-Shura-san! Que palavreado! – Protestou Yukio. Que termo mais chulo! Aquela mulher não tinha modos mesmo – Nii-san, desculpe por isso, eu...

– Não se preocupe Yukio, dividimos o mesmo quarto – Ele disse, com um lampejo de ódio no olhar – De hoje você não escapa.

– UI! – Gritou a moça - VAI ROLAR SACANAGEM HOJE A NOITE YUKIO!  ADOROOO ~

O irmão mais novo saiu sendo puxado pelo braço pela moça que ainda gritava obscenidades pelo corredor, enquanto Rin acompanhava os dois com o olhar, com certa raiva de Shura, que interrompera os dois. Podia não parecer, mas o semi-demônio se importava muito com o irmão mais novo, e por isso não conseguia conter a ansiedade de conseguir falar com ele mais tarde.

 – Tadaima! – Gritou o rapaz de óculos quando entrou no alojamento masculino da escola, ocupado apenas pelos dois irmãos – Nii-san, eu comprei salmão decente hoje! Kuro, acho que você vai gostar disso também e...

Ele não conseguiu mais falar. Se deparou com o filho de Satã o encarando fixamente do batente da porta, e não demonstrando nenhum interesse na comida que ele comprara.

– Yukio, pro quarto, agora – Disse o moreno, os olhos sérios e penetrantes mirando no mais novo, antes de se virar e rumar para a escada.

Ele não respondeu. Engoliu em seco, colocou as compras sobre a mesa da cozinha e subiu atrás do irmão. Quando entrou no quarto, Rin esperava encostado na parede, o olhar ainda sério.

– Então. Pode me dizer o que tem?

– Nii-san... – Yukio estava apreensivo. Seu coração começou a acelerar e ele pode sentir o rosto esquentando e o ar se esvaindo, junto com sua fala – E-Eu... Eu...

– Pare de gaguejar Yukio! – Ele aumentou o tom de voz – Para de fazer charminho e me conta logo o que foi! Isso me irrita, e você sabe disso.

– E-eu não quero te irritar, eu só não sei como dizer, e, e...

O irmão mais velho não disse nada e apenas se aproximou, e então tirou os óculos do rosto do mais novo, e começou a rir.

– Nii-san, o que isso tem a ver com a situação? – Ele disse, tentando alcançar em vão as mãos do irmão gêmeo não-idêntico – Devolva meus óculos!

– Não – Ele sorriu – É engraçado ver você tentando pegá-los. Na verdade, isso é só mais um meio de extrair toda a verdade de você, ahaha ~

– Não tem graça, Rin! – Yukio também aumentou o tom de voz – Eu fico com dores de cabeça horríveis sem meus óculos. Devolva-os!

– Vem pegar! ~

O mais novo se irritou, e se aproximando do irmão como se fosse pegar os óculos, mudou de direção e puxou com toda sua força a cauda do irmão.

– YUKIO! – Ele gritou – Isso dói, seu cretino! Larga a minha cauda!

– Não enquanto não devolver meus óculos – Ele disse, nervoso, então dando mais um puxão – Devolva, Nii-san!

– Ahn – Rin gemeu com o puxão – Não faz isso, seu nerd maldito, larga minha cauda ou eu não devolvo seus óculos!

– Se não devolver, farei pior do que só puxar! – Ele disse, antes de puxar a cauda para perto da sua boca e dar uma mordida

– AAAH, AHH, AI – Gritou o semi-demônio, que perdeu o equilíbrio e caiu por cima do irmão, sem forças – Yu... Yukio... Largue, sério. Aqui seus óculos...

O mais novo pegou os óculos e os colocou, só então enxergando totalmente, deu-se conta da posição em que estavam, e corou instantaneamente.

– Nii-san... P-Por favor, saia de cima de mim, é constrangedor – Ele disse, virando o rosto para o lado, para não ter que encarar o irmão. Não deu certo.

– Não dá... Estou sem forças... Alguém MORDEU minha cauda e... – Ele ofegava. Então, pegou o rosto do irmão gêmeo e segurou com as mãos de frente para o dele,para poderem conversar – Agora que eu vou ter que ficar aqui... Me diga... O que está acontecendo, Yukio...?

O mais novo fechou os olhos, corado, tomou algum fôlego e coragem para conseguir falar.

– Nii-san, e-eu... Estou gostando de uma pessoa! – Ele disse, vermelho como um tomate, ainda de olhos fechados.

– Gostando... De alguém...? – Ele disse, respirando vagarosamente e ainda tentando processar a informação – É da Shura-san...? Ou é da Shiemi...? – Ele riu – Se relacionar com alunos é muito tabu, você sabe né...

– N-não Nii-san, não é delas – Ele encarou o irmão, ainda corado – É-é... É de v... Você...