Durante dez anos, a vida de Rudy e Liesel pareceu não ter sentido. Ela morando em Molching. Ele morando em Nova York. Um não sabia que o outro estava vivo. Ambos tendo pesadelos. Ambos sofrendo... 

Aqueles dez anos passaram muito devagar para Liesel. Ela ia levando uma vida normal e chata: ia à escola, estudava em casa, lia no Amper ou em sua biblioteca... Às vezes saía com "mamãe" e "papai", outras vezes preferia ficar em casa... 

Ilsa achara que com o tempo, Liesel não teria mais pesadelos. Mas ela estava completamente enganada. Os pesadelos iam aumentando gradualmente com o passar do tempo. Havia dias que Liesel acordava aos gritos, e dias em que não se concentrava na aula porque não havia dormido bem durante a noite. 

Quando Liesel fez dezoito anos, Ilsa ficou preocupada com o futuro da filha. Era uma menina inteligente, mas os pesadelos e o passado sofrível faziam com que Liesel não tivesse mais vontade de viver. Ela não se preocupava muito com o futuro. Era rica! Mesmo que seu pai deixasse de ser prefeito algum dia, ela continuaria rica. Mas se caso viesse a empobrecer algum dia, não se importaria de morrer de fome... 

Liesel não era mais uma roubadora de livros. Na verdade, ela agora pensava em montar uma livraria. Os livros eram sua grande paixão, por isso ela decidiu que viveria por eles. 

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Rudy passara aqueles dez anos como Liesel: indo à escola, estudando e saindo com seus pais. Era uma vida sem graça, já que ele não tinha nenhuma grande amiga como Liesel. 

Tal como Liesel, os pesadelos de Rudy impediam que ele tivesse uma vida normal. Mesmo com toda a sua inteligência, ele não achava que fosse ser grande coisa no futuro. Como poderia, se ainda estava preso ao passado? 

Rudy não tinha muita certeza do que queria da vida. Se um dia estivera muito interessado em ser o Jesse Owens, agora ele queria salvar vidas. Talvez essa fosse a solução: salvar pessoas, assim como ele gostaria de ter salvado Liesel. Mas como ele faria isso?

Foi com dezessete anos que Rudy decidiu se tornar médico. Os pais apoiaram a decisão, é claro! Ter um médico na família era um orgulho para os dois, por isso decidiram fazer o possível e o impossível para que Rudy se tornasse um excelente doutor.

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O destino reservara coisas diferentes para Rudy e Liesel. Quando eles finalmente colocaram em práticas as suas ideias, perceberam que se sentiam bem melhores. Simplesmente porque estavam fazendo o que gostavam: Rudy salvaria vidas, enquanto que Liesel distribuiria palavras.

Quando Liesel fez vinte e dois anos, o sonho de ter uma livraria finalmente se realizou. Chamava-se Livraria Himmel. Uma homenagem à rua na qual ela conhecera o amor, a amizade e a leitura.

Liesel sentia-se muito grata por Hans tê-la ensinado a ler. Quando a saudade falava mais alto, Liesel pegava um livro e começava a ler, imaginando que era seu papai que estava lendo pra ela. Então ela fechava os olhos. Escutava o som do acordeão, sentia o cheiro da sopa de ervilha que sua mamãe preparava, e sentia a textura do cabelo de plumas de Max. Ela podia até escutar a voz de Rudy chamando-a de "Saumensch".

As coisas iam bem na livraria. Max era braço direito de Liesel, e juntos os dois despertavam a atenção das pessoas para a livraria. Claro que o fato de Liesel ser filha do prefeito ajudava muito. 

Liesel pensava em escrever um livro sobre a sua história, já que ela havia perdido o outro no bombardeio. Ultimamente ela sentia que devia investir em todo o seu talento. Talvez ela fizesse sucesso se publicasse um livro. Ela ainda tinhas esperanças de que um dia Rudy aparecesse. Ela procurara em vários lugares, inclusive na escola em que Rudy fora estudar quando os homens de sobretudo vieram busca-lo, mas não achara nenhuma pista do amigo.

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Enquanto isso, Rudy estudava Medicina. Ele estava mesmo disposto a cuidar de pessoas, por isso deu tudo de si: estudou mais do que o necessário. 

Ao completar vinte e quatro anos, Rudy já estava quase se formando em Medicina, quando decidiu que voltaria à Alemanha. Gostaria de visitar os túmulos de seus pais e irmãos, o de Liesel, dos Hubermann, e de qualquer outro conhecido. 

Seria difícil relembrar tudo aquilo, mas ele não poderia fugir... Durante dez anos se culpara de não ter visitado Liesel quando podia. Agora era a hora! Ele reveria o túmulo de sua amada Saumensch...