Liesel Meminger ainda não se acostumara com a nova onda de pesadelos que a assolava. Mas já estava bem acostumada à sua nova vida. Agora ela era Liesel Hermann. 

Toda noite Ilsa Hermann se sentava ao lado da menina quando esta acordava de seus pesadelos. Então Liesel lembrava-se de seu papai, Hans Hubermann, e de como ele a confortava.

Com Ilsa era a mesma coisa, porém de uma forma diferente. Por mais que gostasse da nova mãe, Liesel não achava que ela se assemelhasse em nada com Rosa. Sentia até saudade dos chingamentos e da forma como era tratada na Rua Himmel, mas não sobrara nada de sua antiga casa. Nada além de entulho, poeira e lembranças. 

Liesel sentia falta de tudo. De seu papai, de sua mamãe, dos Steiner, de Rudy... Ela não sabia o que acontecera à Rudy. Fazia tempo que a guerra acabara e ela não teve mais nenhuma notícia do amigo. Talvez ele até estivesse morto, mas não havia como ela saber... 

Na escola Liesel se tornara conhecida como "a única sobrevivente da Rua Himmel" e também como a "filha do prefeito". Ela não sabia bem se isso era bom ou ruim, mas de qualquer forma, agora as pessoas a respeitavam. 

Na casa do prefeito, Liesel tinha todo o amor de Ilsa. Além disso, tinha também toda aquela coleção de livros da biblioteca, e isso a animava um pouco. Liesel passava horas lendo. Ilsa se preocupava com a menina, mas Liesel sabia que enquanto estivesse lendo, seus problemas sumiriam. 

Mas depois tudo voltava à realidade, e disso não havia como ela fugir. 

Ao menos ela tinha Max Vandenburg, seu amigo judeu. Depois que tudo acabou, Liesel e Max acabaram se aproximando. No começo Ilsa temera uma possível paixão entre os dois. Isso não seria muito certo, sendo que Liesel era apenas uma adolescente e Max quase um adulto. Mas acabou aliviada ao perceber que os dois mantinham uma grande amizade e apenas isso. 

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Rudy Steiner recebeu a notícia com grande pesar. Quando soube que a Rua Himmel havia sido bombardeada, ele quase sofreu um infarto de tanto desespero. 

Além de perder a família, ele também perdera os amigos e vizinhos, dentre eles os Hubermann, Tommy Müller e sua melhor amiga... Liesel! Oh Deus! Liesel! 

Rudy não pode suportar a perda da amiga. Ele teria trocado de lugar com ela se pudesse, mas não havia como... Isso era simplesmente impossível... 

Depois que soube da triste notícia, Rudy se perguntou o que lhe aconteceria dali em diante. Foi então que um casal o adotou: Allina e Audrick Altermann. Eles não podiam ter filhos, por isso resolveram adotar. Rudy ficou bastante feliz de poder ter uma nova família, ficou até animado ao saber que deixariam a Alemanha.

Os três iam morar nos Estados Unidos. Não queriam mais saber de guerras, de mortes e de alemães nazistas. Eles decididamente queriam paz e uma nova vida longe dali.

Rudy sofreu ao deixar o país, mas sabia que era melhor assim. Antes de partir, resolveu dar uma última olhada na Rua Himmel. Lembrou-se do futebol e das ínumeras vezes em que caminhara com Liesel pelas ruas de Molching, de quando começaram a roubar, e quando pedia um beijo a Liesel. Todas essas lembranças invadiram a memória de Rudy Steiner na última vez em que estivera na Himmel.

Era estranho e  nostálgico observar o que um dia fora sua casa e sua rua. Ele quase não teve forças para ver o que restara da casa dos Hubermann... Havia apenas ruínas, pedaços... e um vazio sem fim... 

Nem sequer fora ao funeral de Liesel... Estava na escola quando tudo aconteceu... Era tudo culpa dos homens de sobretudo. Se não o tivessem levado, ele teria morrido... Ele teria morrido e não estaria sofrendo tanto... 

Seus novos pais perguntaram se ele gostaria de ir ao cemitério para ver os túmulos de seus parentes e amigos. Algo dizia que ele não deveria ir. Talvez não suportasse ver o lugar onde Liesel estava morando. Liesel, os Hubermann e os Steiner... Não! Achava que fosse melhor deixa-los em paz. 

O destino estava lhes pregando uma peça. Liesel teve vontade de visitar a rua Himmel, exatamente no mesmo dia e na mesma hora em que Rudy. Mas a chegada de Max à sua casa a fez mudar de ideia.

Tenho certeza de que se Liesel tivesse ido, ela e Rudy se encontrariam. E então tudo seria diferente. Mas o destino não quis. 

Por outro lado, se Rudy tivesse ido ao cemitério, não encontraria o túmulo de Liesel, então saberia que talvez ela estivesse viva. Talvez houvesse esperança. Mas o destino interferiu. Ele mudou tudo. Todo o caminho que ainda havia pela frente... 

Pode ser que o destino estivesse errado, pois uma década depois, ele mudou de ideia. Era com Liesel que Rudy tinha que ficar. E isso era um fato!