Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 8
Capítulo 7 - Comensais




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A Travessa do Tranco assemelhava-se a uma ferida incurável nas profundezas do Beco Diagonal. Por mais que se soubesse do grande perigo que acercava o lugar, nada era feito para combatê-lo. Tratava-se de uma ruela suja e escura, onde bruxos das trevas costumavam comprar seus artefatos mágicos, ou então negociavam diversos acordos de "quem mata quem, e por quanto".

Dois jovens rapazes muito elegantes andavam por essa mesma rua, chamando a atenção dos demais pedestres, em função dos escandalosos trajes de alto nível que usavam. Ambos eram louros e altos. O mais novo deles tinha cabelos lisos e esbranquiçados, olhos frios e claros como o gelo. O mais velho mantinha os cabelos presos, revelando cachos dourados amarrados para trás por um cordão.

Há pouco estava chovendo. O céu começara a ficar escuro e a quantidade de pessoas ia diminuindo. Uma figura magra, coberta por uma onerosa capa verde-escura aproximou-se dos dois.

– Lúcio! Sou eu! – disse a refinada voz de Narcisa Black, sem retirar o capuz que lhe cobria quase toda a face.

– Você demorou, Ciça. – respondeu o namorado, dando-lhe um abraço que mais parecia um aperto enlouquecido. – Devemos ir.

Os três jovens caminharam mais alguns passos e pararam em frente a uma grande porta de madeira. Nela havia o desenho talhado de uma serpente, acompanhado de escrituras indecifráveis, semelhantes a hieróglifos egípcios.

– Está tudo bem, Evan? – disse Narcisa a seu primo, percebendo o olhar atordoado do rapaz.

– Tudo perfeito, Ciça. – Evan Rosier sorriu, apontando a varinha para a porta. – Sanguis Domini, Morsmordre!

A porta se abriu lentamente, dando acesso a um lugar obscuro, iluminado por velas esverdeadas. Havia uma enorme cobra esparramada no meio do salão, e em volta estavam sentados cerca de vinte homens vestidos de preto, e apenas uma mulher. Narcisa foi a primeira a fazer uma reverência ao mestre de todos eles, então seguiu apressada até a mulher na cadeira da ponta, sua irmã.

O mestre levantou-se da poltrona maior. Bellatrix levantou-se também, instintivamente.

– Como vão os negócios, Rosier? – disse Lord Voldemort, de modo apreensivo.

– Perfeitamente, Milorde. – respondeu o jovem, sem muito entender o interesse.

– Não tenha tanta certeza, meu caro. Fiquei sabendo que a sua safra de vinho será investigada por suspeitas de envenenamento. Uma pena, já que seu vinho era tão bom assassino de trouxas! – lamentou Lord Voldemort provocando risos dos demais presentes, em seguida olhou para o rapaz mais jovem. – Lúcio! Preciso lhe falar mais tarde. Amanhã quero que me traga o diamante bruto do qual falei semana passada.

Lúcio apenas assentiu com a cabeça e tomou lugar na cadeira ao lado de Narcisa.

– Como podem perceber, meus amigos, a Ordem da Fênix está cada vez mais intrometida! Estão seguindo todos os nossos passos! – Tom Riddle demonstrou fúria e irritação em seu olhar. – Isso me faz pensar algo inusitado! Algo que eu jamais gostaria que acontecesse!

O salão tornou-se ainda mais silencioso. Ninguém ali ousaria fazer qualquer comentário impertinente.

– Alguém da nossa própria linhagem está contra nós, quem diria! – disse o Lord, convicta e calmamente, andando devagar em volta da mesa, encarando um Comensal de cada vez. Quando chegou em Bellatrix, cessou os passos. – Ah, Bella! Você deve saber de quem estou falando.

– A-acho que sei, Milorde. – respondeu Bellatrix, pensando primeiramente em Andrômeda. Mas o que Andrômeda, uma bruxa singela, poderia ter feito contra o maior bruxo de todos os tempos? "Não. Não deve ser ela.", concluiu rapidamente.

Voldemort fez um sinal com a mão para o homem alto e desfigurado no canto da sala. Ele tinha uma barba grossa, e longos cabelos despenteados. Transmitia um cheiro de sangue e suor por cima de suas vestes maltrapilhas. As penumbras que as velas faziam sobre ele davam ainda mais ênfase a sua aparência de lobo.

Greyback! Traga o garoto!

Fenrir Lobo Greyback voltou de uma das salas dos fundos, segurando pelo braço um garoto de aproximadamente 14 anos. Ele usava o uniforme de Hogwarts, assim como Narcisa. Entretanto, Narcisa estava camuflada por uma capa, enquanto que o garoto era facilmente reconhecido pelo emblema da Grifinória em seu peito.

– Ora, vejam se não é Sirius Black! – disse Rodolfo Lestrange, pela primeira vez na noite, empolgado. Lúcio soltou um pequeno riso, mas logo parou quando sentiu os finos dedos de Narcisa lhe beliscarem o ombro.

Sirius estava aparentemente tranqüilo, mesmo na presença do tão temido Lorde das Trevas. Nem ao menos sabia o real motivo pelo qual foi "seqüestrado" ao chegar à estação King's Cross, algumas horas atrás. Já estava tão acostumado a levar sermões, que nem deu importância.

– Olá, Black. Você está mais alto desde a última vez que o vi. – disse Lord Voldemort, aproximando-se lentamente. – Pode ser uma infeliz coincidência, meu jovem, mas ao que vejo, você é o único Black a se envolver pacificamente com Alvo Dumbledore, nosso maior inimigo!

– Ele é o diretor da minha escola. É normal que eu fale com ele. – Sirius começou a mexer no balcão, onde se encontravam pequenos crânios em decomposição. Em seguida, virou-se para os Comensais. – Dumby é bacana. Mas acho que ele não curte muito vocês. Principalmente o senhor, Mi-lor-deee!

– Não seja atrevido, moleque! – disse Rodolfo Lestrange, dando um passo à frente. Seus olhos brilhavam de malícia. Odiava tanto Sirius, que faria de tudo para vê-lo encrencado.

Lord Voldemort forçou uma risada, em seguida fez sinal para que Rodolfo sossegasse.

– Você é muito jovem. Não sabe de nada, menino. – desdenhou o mestre, tentando disfarçar a exaltação. – Esse seu diretor é tão vil e nojento quanto um trouxa! Você deve se sentir muito injustiçado estudando naquela escola, não é? Ora, onde já se viu! Hogwarts sendo dirigida por um porqueiro amante de trouxas! Na minha época isso seria considerado um ultraje!

– Na sua época as pessoas eram mais ignorantes. – Sirius falou firme, já cansado de ouvir Voldemort falar mal do homem que ele mais admirava. – Dumbledore é o melhor diretor que Hogwarts já teve!

Lord Voldemort ergueu a varinha rapidamente. Sirius sentiu um arrepio nas costas, como se a morte estivesse realmente perto. De fato arrependeu-se de ter dito o que disse. Entretanto, não havia como voltar atrás.

– Pensei que você fosse mais esperto, Black. Se utilizasse sua ousadia para o bem, eu ficaria muito satisfeito em recrutá-lo à minha causa. Mas já vi que você prefere o seu velho e porco diretor, como eu sempre suspeitei.

– Eu n-n-unca disse que p-preferia ninguém. Eu só... – disse Sirius, visivelmente amedrontado. Apesar de no fundo odiar o lorde, não queria que ele soubesse disso.

– Acho muito bom que o senhor não esteja revelando nossos planos ao velhote. – disse Lord Voldemort, friamente, apontando a varinha para Sirius. – Vá para casa antes que eu perca a paciência! Se eu não te mato agora mesmo é porque tenho um bom motivo para isso.

Sirius Black engoliu em seco. Por mais corajoso que fosse, sentiu uma maldade tão grande na voz do Lorde que suas pernas fraquejaram. Correu o mais rápido que pôde até a porta, e saiu do local, sem olhar para trás. Os Comensais deram risada, até que Rodolfo fez um insolente, porém significativo, comentário.

– Esse moleque há de nos causar muito incômodo, Milorde! O senhor devia tê-lo matado.

– Não se preocupe, Lestrange. – o rosto de Voldemort tornou-se friamente sereno. – Eu mesmo o matarei se ele não mudar de idéia logo...


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