Sangue Puro escrita por Shanda Cavich
A grandiosa mansão em Wiltshire, sul da Inglaterra, assemelhava-se a um castelo monarca. Arquitetura clássica, janelas colossais e paredes rígidas cobertas por imagens de ancestrais da família Malfoy, aperfeiçoavam ainda mais a construção sombria cercada por pavões albinos. Bruto Malfoy, bruxo das Trevas nascido no século XVII, ficou conhecido como "Senhor do Sangue", devido a seu famoso periódico anti-trouxa, Feitiçaria Aguerrida, escrito e publicado em todo o país.
"Isto podemos afirmar com segurança: qualquer bruxo que demonstre apreciar a sociedade dos trouxas tem uma fraca inteligência e uma mágica tão débil e digna de pena que ele só pode se sentir superior quando se cerca de porqueiros trouxas. Nada é um sinal mais infalível de mágica ineficaz do que a fraqueza para conviver com não-mágicos."
Malfoy, etimologicamente falando, quer dizer Malefício, Malícia ou Ma fé. Um sobrenome reconhecido há mais de dez gerações, tende a ser no mínimo importante. O mais novo deles até então, Lúcio, parecia cumprir a finco os ideais da família. Enquanto conversava com o pai no salão de visitas, não poderia perder a oportunidade para comentar seus trabalhos de Comensal da Morte "Mor", do qual tanto se gabava.
– Filho, você me orgulha tanto... – disse Abraxas, ascendendo um cachimbo que soltava uma fumaça verde, adotando formatos de serpente. – Então quer dizer que o Lord das Trevas lhe confiou algo importante, foi?
– Exatamente. Ainda por cima nomeou-me líder das missões mais importantes. – Lúcio sussurrou, olhando para trás, para se certificar de que ninguém o espionava. – E, como todos sabem, consegui este fardo sem ajuda.
– Muito bem, Lúcio. Sua mãe ficaria muito contente com tudo isso, se estivesse viva. – Abraxas tragou o cachimbo novamente, formando uma nova serpente esverdeada a sair por sua boca. – Você faz muito bem em seguir o Lorde, filho. Só mesmo um Lorde para acabar com essa escória maldita de sangues-ruins!
– Não apenas sangues ruins, pai. Traidores do Sangue também morrerão, é só uma questão de tempo. Milorde disse que devemos provocar o quanto antes a morte de um deles, para gerar repercussão. E por mim... Torço pra ser o Weasley!
O ódio e a demência, aos poucos, iam tomando conta das duas mentes moradoras da grande mansão. Lúcio, com apenas dezoito anos de existência, já cometera mais de uma vez a atrocidade de matar. Por mais que a morte alheia resolvesse boa parte de seus problemas, não era bem essa a sua maior habilidade. Lúcio gostava de usar tudo o que tinha contra quem não tinha nada. Adorava rebaixar ainda mais as criaturas inferiores, e erguer a varinha principalmente contra os que jamais teriam a chance de enfrentá-lo.
Enquanto o garoto caminhava em direção ao salão principal, um magro e sofrido elfo doméstico aproximou-se, segurando um pedaço de pano branco.
– Dobby veio limpar sua varinha, senhor. Dobby finalmente aprendeu como ilustrar varinhas de Olmo da maneira certa...
Lúcio bateu com o cajado na nuca do elfo, demonstrando despeito. Em seguida deu uma risada exageradamente alta, como se o que acabara de ouvir fosse um absurdo.
– Achou mesmo que eu deixaria você encostar suas patas imundas em minha varinha? Elfo estúpido! Deveria castigá-lo por tamanha ousadia!
– Dobby só quis ajudar... Dobby vive para servi-lo, senhor!
– Já chega! – Lúcio retirou a varinha do cajado, exatamente como um cavaleiro medieval sacaria sua espada. – Crucio!
O elfo doméstico soltou um grito agudo de dor, mas foi interrompido por um barulho ainda mais alto vindo do lado de fora. Lúcio tomou um susto. Foi até a janela, e notou dois aurores por detrás do portão, que anulavam os feitiços de segurança da mansão, a fim de chegar até a porta.
– Vá abrir a porta, Dobby! – Malfoy chutou o elfo, fazendo com que ele saltasse até o hall de entrada. – Malditos aurores!
Lúcio ajeitou sua capa e encaixou a varinha novamente ao cajado. Dobby abriu a porta, sendo possível perceber o frio que vinha de fora. Alastor Moody e John Mckinnon estavam realmente sérios. Ou até mesmo ansiosos, pelo modo como olhavam para o jovem bruxo à frente.
– Boa tarde, Sr. Malfoy.
– Se vieram aqui para investigar os contratos que meu pai assinou há dois meses com o Sr. Borgin...
– Não viemos por este motivo. – interrompeu Moody, impaciente. – Até onde sabemos, seu pai não cometeu nenhuma ilegalidade.
– Então por que vieram?
– Ontem recebemos uma denúncia a seu respeito, Sr. Malfoy. – disse Mckinnon, sorrindo com o canto da boca. – O senhor foi acusado por compra ilegal de objetos mágicos fora do país, e participação ativa nos assassinatos do mês passado.
– MERLIN! Quanta mentira! – Lúcio suspirou, crispando os dentes. – De onde veio essa acusação absurda? Veio daquele cão sarnento amante dos trouxas, chamado Weasley? Foi ele quem disse essa bobagem? Só me faltava essa!
Alastor Moody limpou a garganta com uma tosse forçada. Mckinnon riu.
– Não estamos aqui para ouvir suas reclamações, Sr. Malfoy, mas sim para interrogá-lo.
– Interrogar-me? Como ousam! – os olhos de Lúcio tornaram-se fendas frias e cinzentas.
– Então, o que vai ser? Vai nos convidar para entrar ou não?
– Isso só pode ser piada! Não existem provas contra mim. Vocês não têm esse direito! – Malfoy segurou o trinco da porta, com a intenção de fechá-la. Moody colocou o pé entre ela, impedindo o fechamento.
– Sr. Malfoy, perdoe-nos... Mas este é o nosso trabalho. Somos pagos para isso. – Mckinnon disse, tentando parecer razoável.
– Ah sim, agora entendo. – Lúcio sentiu um alívio, sorrindo levemente. Colocou a mão para dentro de seu casaco e tirou do bolso um embrulho contendo considerável quantia de ouro bruxo. – Podem ficar com isto. Exijo apenas que sejam discretos ao mencionar o meu sobrenome no ministério. Sabem... Os Malfoys são os principais doadores do Hospital St. Mungus e reconhecidos em todo o país pela generosidade e honestidade.
Os olhos de John Mckinnon brilharam de cobiça pela oferta de Lúcio, e uma de suas mãos fez um breve movimento em direção ao ouro. Rapidamente se deu conta do que quase fez e se recompôs, envergonhado. Moody cuspiu no chão.
– Não queremos o seu maldito dinheiro, Malfoy! – disse Alastor, visivelmente aborrecido. – Eis aqui mais um crime cometido pelo senhor! Suborno de autoridade!
Lúcio surpreendeu-se pela rejeição dos aurores. Utilizou seu dinheiro muitas outras vezes, e sempre deu certo até então. Tendo amigos influentes dentro e fora da Grã-Bretanha, e possuindo fortuna de aproximadamente 5% de todo o ouro de Gringotes, Lúcio acreditava que jamais poderia ser preso sem provas, ainda mais se a acusação viesse de alguém considerado "inferior".
– Já podem ir embora, senhores. – disse Lúcio, calmamente. – Não vejo motivos para que continuem a me importunar com tolices. Já disse que nada sei sobre tais acusações.
– Mas o senhorzinho é muito cínico, mesmo! – disse Moody, sacando a varinha do bolso. – Tenho vontade de acabar com o senhor agora mesmo!
– O senhor não se atreveria a cometer tamanha imprudência. – Lúcio sorriu friamente, se incomodando até mesmo com as vestes maltrapilhas dos aurores. – Afinal, sou um homem de bem. O meu pai é amigo do supremo juiz, e minha madrinha é subsecretária sênior na Câmara Judicial do Ministério.
– Tem razão, Sr. Malfoy, nós não conseguiremos prendê-lo e nem levá-lo a julgamento desta forma. – disse Moody, enquanto Mckinnon ficava apenas quieto. – Mas chegará o dia em que o senhor será pego no flagra! E nada nem ninguém poderá salvá-lo.
Lúcio deu uma risada estridente, lembrando-se do bruxo a quem mantinha lealdade. Lord Voldemort era a sua segurança, o seu respeito. Os dois aurores apenas deram meia-volta, e aparataram, murmurando xingamentos. Dobby, que até agora estava encolhido no canto, foi até o dono.
– Dobby teme pelo senhor. Dobby acredita que não o deixarão em paz tão cedo.
– Não pedi a sua opinião, elfo imundo. – Lúcio olhou para o anel contendo o brasão da família Malfoy. – Eles não podem com o meu nome.
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