Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 5
Capítulo 4 - A Fuga




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O casarão estava silencioso. Cygnus, sentado na cadeira do quintal, esperava pela chegada da filha mais nova, enquanto tentava arranjar alguma explicação sobre o sumiço de Andrômeda. Exatamente à meia-noite, uma onerosa carruagem verde-escura, puxada por quatro testrálios, pousou em frente ao grande portão dos Black. De dentro dela saíram dois jovens muito louros, ambos com roupas elegantes.

– Tenha uma boa noite, Ciça. – Lúcio Malfoy beijou a mão da namorada, e então acenou para Cygnus, que lhe retribuiu o cumprimento da mesma maneira. O rapaz voltou à carruagem, e com um gesto de sua varinha, fez com que ela voltasse tornar-se invisível.

Narcisa entrou na casa procurando por Bellatrix, a fim de lhe mostrar as inúmeras jóias que ganhara de Lúcio naquela noite. Cygnus entrou logo em seguida, explicando o porquê de Bella não estar presente, e o motivo pelo qual ele estava tão preocupado. Narcisa ficou chocada durante alguns segundos, em seguida sorriu, como se nada de grave tivesse ocorrido.

– Andie deve estar na casa de alguma amiga... Ou amigo, não sei...

Amigo?

– Ah, pai! Você sabe do que estou falando! Não me faça explicar uma coisa dessas, por favor né...

– E você sabe quem é esse rapaz, Ciça? – Cygnus entendeu do que se tratava, pelo modo como a filha falou, cogitando a idéia de Andrômeda ter saído com um "namorado". Era nessas horas em que ele mais sofria por ter apenas filhas mulheres. – Rabastan Lestrange?

– Não faço idéia de quem possa ser. Mas Rabastan é que não é, pois eu soube que partiu de viajem para a Rússia com os pais.

Passaram-se cerca de trinta minutos, e Andrômeda chegou em casa. Segurava em uma das mãos uma mochila marrom e na outra a sua varinha. Cygnus sentiu um alívio, mas ainda assim estava irritado e até mesmo desconfiado de algo muito ruim.

– Onde você esteve? – Cygnus bufou de raiva. – Hoje você quase fez com que Bella fosse para Azkaban, sua irresponsável!

– Mas eu não fiz nada!

– Exatamente. Você não estava aqui para avisar que os aurores estavam a caminho! – Cygnus estava tão furioso pelo fato de Bellatrix quase ter sido presa, que mal controlava sua voz.

Narcisa, ainda com um sorriso de satisfação no rosto por ver sua odiada irmã levar um bronca, interferiu:

– O que tem na mochila, Andie? Não vá me dizer que comprou de novo um daqueles livros do mundo trouxa que freqüentemente difamam nosso povo!

– São só algumas rou-roupas que busquei na casa do... na casa da Marlene... Estive com ela esta tarde...

– Não quero que me explique nada, ordinária! Você não podia ter saído de casa hoje! O seu lugar é aqui! Desde que sua mãe morreu você tem sido tão ingrata, tão estúpida! – Cygnus apontou a varinha para a filha. – Se Bella fosse pega hoje, eu nem sei, eu... eu seria capaz de... matar alguém.

Andrômeda sentiu vontade de dizer tudo o que estava sentindo, mas não o fez. Apenas subiu as escadas e trancafiou-se em seu quarto. Narcisa deu uma risada aguda, como se o sofrimento da irmã a fizesse bem.

– Narcisinha do pai... – Cygnus deu uma pequena sacola com galeões para a garota, e lhe mostrou um pedaço de pergaminho contendo o nome de uma substância. – Preciso que amanhã você e Lúcio vão até a Borgin & Burkes e me tragam este veneno aqui...

– Aquele lugar é horrível! Por que o senhor mesmo não pode ir, pai?

– Eu poderia ser interrogado caso me vissem lá novamente. Semana passada quase fui pego por assassin... – Cygnus cessou, então acariciou os longos fios dourados de Narcisa, que pareceu nem ter ouvido a última palavra, pois sorria ingenuamente. – Sem mais perguntas, filha. Vá até lá somente na presença de Lúcio, ou então de seu primo, Rosier. Seja discreta. Se você estiver com um dos dois, não ousarão lhe perguntar para que fim você quer o veneno, está bem?

Narcisa concordou com a cabeça e logo subiu as escadas, quase saltitando de empolgação. Gastaria o ouro que seu pai lhe deu com bolsas, jóias ou sapatos. O dinheiro para a compra do veneno viria de outra pessoa. "Lucinho cuida dessa parte.", pensou.

A noite seguinte chegou mais rápido do que o normal. Andrômeda olhava a cada cinco minutos para o relógio pendurado na parede do quarto. Não suportava mais viver naquela casa, presa como um bicho, subordinada até mesmo à irmã mais nova. Logo Ted chegaria para buscá-la daquele inferno. Faltava pouco.

– Acordada ainda, filha? – a voz fria de Cygnus soou por detrás da porta, fazendo com que Andrômeda levasse um susto. Em questão de segundos, o pai já estava no aposento, segurando uma xícara de chá. – Tome um pouquinho, sim? Este é especial...

Andrômeda pegou a xícara e simplesmente a deixou em cima do balcão, com o intuito de despistar o pai. Cygnus insistiu, desta vez firme.

– Beba, filha, beba. Irá se sentir melhor. Beba!

– Tudo bem. – Andrômeda encostou a xícara nos lábios e fingiu engolir o chá. Suspeitava de algo horrível desde que mencionou seu espanto ao saber que os Black apoiavam os assassinatos em massa causados pelo conhecido Lord das Trevas. Mas não poderia entregar suas reais emoções por enquanto. Temia por algo tão odioso, que sequer tinha forças para acreditar que tudo aquilo realmente estivesse ocorrendo.

Cygnus deu boa noite e se retirou. Passados alguns segundos Andrômeda deu um suspiro de aflição, e logo apontou sua varinha ao suposto chá de ervas:

Revelio!

Uma fumaça negra saiu da xícara de porcelana. O cheiro que antes era de hortelã, transformou-se em cheiro de enxofre. Andie derrubou o objeto no chão, de modo que a substância se espalhasse por todo o tapete. Era veneno, e dos bons. Chamava-se Mortem Silentium. Um veneno tão discreto, tão eficaz, que uma única gota mata em cerca de segundos sem deixar qualquer indício de luta por parte da vítima. Mas como, e por que, Cygnus planejou a morte da própria filha? Cygnus Black, ou Cyg, como era chamado pelos irmãos, sempre foi um homem frio, de poucos sorrisos. Mas o que ele quase fez foi terrível demais. Mais do que uma filha poderia suportar.

2h da madrugada. Andie estava de mala pronta, contendo todos os seus pertences pessoais. Ouviu o som de uma pedrinha batendo na janela. Quando a abriu, visualizou Ted Tonks do lado de fora do portão, montado em uma bicicleta comum. Fazendo o mínimo barulho possível, saiu de dentro da casa e foi ao seu encontro.

– O que aconteceu, amor? – disse o rapaz, percebendo como o rosto de Andrômeda estava inchado, após ter chorado durante horas.

– Neste momento meu pai está lá dormindo tranquilamente, acreditando que estou morta! – Andrômeda tornou a sessão de lágrimas nos ombros do namorado. – Como pode alguém ser assim? O que foi que eu fiz pra merecer tudo isso?

– Conte-me tudo quando chegarmos, está bem? – Ted abraçou a bruxa com afeição e a olhou nos olhos. – Temos que ir logo, ou perderemos essa chance!

Todo o terreno aos arredores da casa estava bloqueado para aparatação, devido às investigações. A família Black estava na lista ministerial das famílias em constante vigília por suspeitas de envolvimento com as Artes Negras. Tendo dois membros desta linhagem, comprovadamente incriminados como Comensais da Morte, era mais do que necessário manter esta precaução.

Andrômeda subiu na garupa da bicicleta, com certa dificuldade. O casal aos poucos ia desaparecendo na estrada de terra. "Adeus, pai, adeus, Ciça... Adeus, Bella!", pensou a garota, olhando para o casarão onde viveu sua vida toda. Era inacreditável a sensação de liberdade aumentando a cada metro em que se distanciava do local. Sair de lá foi um alívio. Uma bênção. 

Quando a manhã chegou, um tanto ensolarada, Cygnus acordou renovado. O que faltava era um sorriso, para combinar com o seu rosto sereno, suave, como se tivesse finalmente se livrado de um peso nos ombros. Mas como ele poderia sorrir depois de ter usado um Mortem Silentium contra a própria filha? Sorrir não. Sorrir seria falso demais, até mesmo para ele.

– Onde você está?! – berrou Cygnus, quando viu o quarto de Andie vazio. – Andrômedaaaaaaaaaaaa! Por que não morreu?


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