Sangue Puro escrita por Shanda Cavich


Capítulo 20
Capítulo 19 - A quase última missão




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Aquele lugar era tão terrível quanto o bruxo sentado na poltrona aveludada. Lord Voldemort conversava com sua cobra de estimação, Nagini, sobre um assunto recente. Um assassinato recente, o que fez a cobra fazer parte dele, e ele dela. As paredes de madeira estavam desgastadas, como se houvesse água suja escorrendo através do teto. As duas únicas janelas estavam empoeiradas e lacradas por um feitiço, ainda cobertas por uma cortina rasgada. Se aquele lugar não fosse a antiga casa de seu avô, jamais pisaria ali, naquele vilarejo trouxa.

O Lord olhou para suas mãos. Em seu dedo indicador esquerdo estava o anel de Servolo Gaunt, formado por uma grande pedra Ônix com formato de losango, envolta por ouro. Aquele era um de seus poucos bens materiais que poderiam valer vários galeões. Preferia o poder. Quem tem poder não precisa de ouro para conseguir o que quer.

Um estrondo de quem acaba de surgir através de uma aparatação foi ouvido na varanda da velha casa. Duas vozes discutiam alguma coisa, ferozmente. Uma das vozes era tão facilmente reconhecida, que Voldemort chegou a emanar um discreto sorriso. A outra voz era desagradável e esganiçada, semelhante a um estalido de algum roedor.

– Milorde? – a voz inconfundível de Bellatrix soou por detrás da porta. – O senhor está disponível para falar comigo agora?

– Com você sim, Bella. Estou mesmo precisando falar-lhe a sós. – em seguida, Voldemort fez um gesto com a varinha, fazendo com que a porta se abrisse rapidamente. – Quanto a você, Rabicho, espere aí fora.

A porta se fechou novamente assim que Bella adentrou a casa, saltitante. Vestia uma longa capa preta, por cima de um vestido também preto e elegante.

– Antes que diga qualquer coisa, Bella, você fez o que mandei?

– Sim, milorde. Entreguei ontem mesmo nas mãos de Lúcio. – a jovem bruxa mantinha um olhar fixo, de pálpebras pesadas. – Disse ele que vai guardar muito bem. Mandou perguntar se era necessário mantê-lo no cofre Malfoy, em Gringotes.

– Lúcio é um moleque muito extravagante, francamente!  – bufou o mestre. – Diga que a minha resposta foi obviamente não. Levantaria suspeitas demais para um simples diário, não acha?

– Eu disse pra ele, Tom... – Bellatrix deu uma pausa, constrangida. – Milorde. Mas Lúcio não leva nada do que eu falo a sério.

– Pois da próxima vez que o ver, diga que de agora em diante ele deve obedecer a você também, garota. Parece que você é a única de meus Comensais que tem a cabeça no lugar.

Os olhos de Bellatrix Lestrange brilharam. Sentia tremendo orgulho de ser a mais confiável partidária do Lord das Trevas. Ao mesmo tempo em que isso significava maior perseguição por parte das autoridades, também significava maior poder. Assim como seu mestre, ela prestigiava o poder mais do que tudo.

– Agora me diga pra que veio aqui, e por que Rabicho veio junto, aquele verme! – prosseguiu Voldemort, em uma voz tão fria quanto o clima do lado de fora da casa.

– Milorde... – a voz de Bella soou baixa. – Rabicho veio lhe contar onde os Potter estão escondidos.

– Ora, mas que boa notícia! – Voldemort sorriu, levantando-se da poltrona.

– Mas espere... – a jovem chegou mais perto, e instintivamente direcionou sua mão para o braço do lord, mas logo o recolheu para dentro na capa. – Pode ser uma armadilha.

– Tolice, Bella. Rabicho não possui tamanha ousadia. E se ele quisesse mesmo me matar, eu já teria descoberto. A cabeça dele é mais vazia do que um poço seco.

– Não me refiro a ele, Milorde, e sim aos outros. O velho e seu grupo de traidores do sangue. – Bellatrix sussurrou agudamente, então começou a andar em volta de seu mestre, que a perseguia com o olhar. – Godric's Hollow! Parece tão óbvio!

– Godric's Hollow? Esse é o lugar onde a criança está?

– Sim. – finalizou Bellatrix, parando em frente a ele. – Eu o fiz contar. Mas não se preocupe, Milorde. Ninguém mais sabe.

Lord Voldemort não disse nada. Fez apenas com que a porta se abrisse e lá estava ele, Pedro Pettigrew, com um olhar confuso e aborrecido no rosto. Entrou na pequena casa, fez uma reverência ao mestre, então transmitiu um olhar furioso a Bella.

– Milorde, a criança que o senhor procura está em Godric's Hollow, na casa da montanha.

– Ah sim. Bella se adiantou nessa parte, Rabicho. – Voldemort cruzou os braços. – Dumbledore, como o velho caduco que é, pode ter armado algo contra mim, não acha?

– Impossível, milorde. – pela primeira vez, a voz de Pedro saiu alta e determinada. – Fui o fiel do segredo dos Potter. Apenas eles mesmos e eu sabemos a localização do esconderijo. Dumbledore nada sabe.

Voldemort sorriu, desta vez serenamente, como raras vezes fazia.

– Viu só, Bella? Está tudo bem.

Bellatrix e Rabicho se entreolharam.

– Fico contente com a sua lealdade, rapaz. – o mestre voltou à seriedade. – Contudo, acho imprudente que continue falando com aquela gente.

– Mas, Milorde, é deste modo que consigo informações, eu...

– Algum problema com o que eu disse, Rabicho?

– De maneira alguma, mi-milorde.

Bellatrix soltou algo parecido com um rosno de cão, como se quisesse morder algo ou alguém. Estava se sentindo preocupada com alguma coisa futura. Jamais gostou de Rabicho, mesmo quando ele decidiu tornar-se um Comensal da Morte. E o fato de ele ter conseguido realizar uma importante missão a deixava de certa forma com ciúme.

Voldemort mandou que Pedro fosse embora. Era um final de tarde, e aos poucos começava a escurecer.

– Bella, a última geração de sua família é um tanto problemática, não acha? – disse o mestre, ainda mais sério do que antes.

– O senhor se refere a Sirius e Andrômeda, Milorde? – Bellatrix enrubesceu, nervosamente. – Pois saiba que não os considero meus parentes.

– Sirius, realmente, é um caso que se perdeu. Irá morrer em breve, acredito. Depois do filho dos Potter, ele será o próximo. – Voldemort sorriu para a serva, que brevemente pareceu assustada. – Galhos podres devem ser cortados para que uma árvore cresça forte e bonita, não é? E seria realmente uma pena se uma árvore tão lendária como a Black decaísse pela infestação de traidores do sangue!

– O senhor diz o certo, Milorde. Sempre.

– Mas, sabe... – o mestre começou a olhar ao redor. – Existe outro de sua família que me traiu gravemente, Bella. Um rapaz tão jovem!

No mesmo instante em que Voldemort acabou de falar, o coração de Bellatrix acelerou. Por mais que estivesse acostumada com traidores em sua família, desta vez sentiu um tremor. O garoto o qual Lord Voldemort se referia era alguém querido. Apesar de distante, era querido e até mesmo admirável.

– Régulo Arcthurus Black. – a voz de Tom Riddle soou sibilante.

– Meu primo. – Bellatrix tentava esconder o fato de ter ficado triste em ter a certeza de que seu jovem primo seria morto em breve. – O que ele fez, Milorde?

– Se trata do que ele não fez. Não comentarei mais a respeito. Apenas exijo que ele seja morto dentro dos próximos dias.

– Sim, milorde.

Os olhos vermelhos do bruxo estavam transmitindo uma espécie de má energia. Era como se o ódio tomasse o lugar de qualquer outra emoção que pudesse sentir. Bellatrix permaneceu séria, e por um instante achou que devia encerrar a conversa e ir embora. Mas ao invés disso, resolveu fazer uma ousada e fátua pergunta.

– Eu posso ir com o senhor até Godric's Hollow?

– O que diz?

– Eu adoraria ir com o senhor, quer dizer... Adoraria vê-lo matar o garoto, milorde.

– Bella, Bella... – Voldemort cruzou os braços e comprimiu os olhos de cobra, admirado. – Nada me espanta o que se passa na sua mente neste exato momento.

– Lembra-se que sou oclumente? Milorde! – Bellatrix elevou levemente o tom de voz, irritada.

– Ótima oclumente, por sinal. – Voldemort deu uma risada tranquila. – Não é preciso usar legilimência para saber o que você está sentindo, Bella.

– Então o senhor sabe que estou com medo.

– Isso está claro. Mas você não devia sentir medo. Devia saber que sou superior a qualquer coisa que tenha pretensão em me atacar.

– Que o senhor é superior eu não tenho dúvidas. – Bellatrix olhou pela janela, cuja cortina deixava uma fresta de luz entrar no ambiente. – É como uma intuição. Uma intuição que indica algo muito errado.

Lord Voldemort retirou a varinha das vestes e analisou-a. Com um gesto, fez as velas se ascenderem. A noite chegara, e uma garoa começara a cair sobre o gramado espesso.

– Como todos os procedentes da nobre casa de Salazar Slytherin, você tem o dom da destreza, ambição, da arte exata das poções, da legilimência, e também, intuição. – Voldemort se aproximou da garota, com olhar firme. – Portanto, acredito que sua intuição é verdadeira. Realmente posso estar correndo algum tipo de risco. Mas sabe... Eu não tenho escolha. Devo matar o garoto, correndo perigo ou não.

– Então posso ir junto com o senhor? – os olhos pesados da bruxa passaram de preocupados para esperançosos.

– Não, Bella. Irei até lá, e sozinho. – Voldemort ajeitou sua capa preta. – Se vou correr algum perigo, é melhor que seja só eu, não é mesmo? Espere-me em frente ao lago pela manhã. O lugar de sempre.

O bruxo das trevas aparatou, deixando na velha casa de Servolo Gaunt uma cobra e uma jovem, esperando reencontrar as duas em breve, assim que desse um fim no menino chamado Harry.


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Notas finais do capítulo

Enfim, mais um cap! Espero que tenham, gostado (: