Abri os olhos.

No começo ficou tudo bem embaçado, aquele típico momento de sonambulismo quando você acaba de acordar.

Bocejei. Olhei para o relógio quando meus olhos já haviam se acostumados e recuperado a visão.

Ainda não era de manhã, me perguntei por que tinha acordado tantas vezes nessa noite.

Me virei na cama. Virei de novo tentando achar uma boa posição. Em uma dessas viradas, percebi que Ittoki ainda estava aqui. Sorri ao ver como ele dormia tranquilamente e fiquei um pouco menos agitada.

Mas ainda não era o bastante, me levantei e fui para a cozinha.

Quando passei pela sala, reparei em alguma coisa diferente, mas não consegui dizer o que. Só quando cheguei à cozinha notei que faltava uma pessoa deitada nos colchões amontoados.

  - Boa noite, Haruka - Masato-san disse docemente e me deu um copo de leite quente

  - Boa noite - falei meio corada, como ele sabia que eu estava acordada?

Talvez meu olhar intrigado o tivesse deixado ler meus pensamentos, mas apesar de saber sobre minha curiosidade, ele virou o rosto e se negou a responder.

  - Então... - mudei de assunto. Tudo bem se ele não quiser falar, uma hora eu sei que ele vai confessar - O que faz acordado?

  - Bem, parece que eu perdi a briga com Ren - admitiu - Prefiro ficar na cozinha e passar a noite em claro do que continuar deitado ao lado dele

Masato sorriu, mas só por educação, dava para ver que ele estava irritado.

Eu ri.

            ~~~~~~~~~~~~~~~~~*~~~~~~~~~~~~~~~~~~

Estava sentada na mesa de madeira que ficava no centro da cozinha, observando silenciosamente o vaso de flores que eu e Tomo-chan havíamos escolhidos para alegrar a casa. Masato estava encostado na parede perto da janela, olhando calmamente a chuva, mas de vez em quando parecia sentir seu olhar em mim, mas não tinha coragem suficiente para confirmar.

No começo, admito que o silêncio foi um pouco perturbador, mas nos acostumamos com isso rapidamente. Achei que se nós dois morássemos juntos no futuro, faríamos um bom par. Masato também era um silencioso.

Tive vontade de bater na minha cabeça, e bateria mesmo se ele não estivesse olhando. Eu já tenho Ittoki e Cecil para me ocupar, não posso ficar pensando em mais garotos. Dois já eram suficientes para me deixar em claro por uma noite, não quero pensar no que aconteceria se Masato também...

  - Nanami – Masato interrompeu meu conflito interno – eu passei no seu quarto.

  - O que? – perguntei virando minha cabeça de lado em confusão

  - Passei no seu quarto essa noite e vi você dormindo... – sua voz foi sumindo no mesmo ritmo que sua cabeça ia baixando de tristeza e vergonha.

Demorei um pouco pra perceber do por que eu precisaria me preocupar com isso. Se ele me viu dormindo, ele provavelmente viu Ittoki também!

  - Ehhhhhh! Sobre isso...! – Me levantei da mesa muito rápido e quase derrubei o vaso que estava admirando – Ittoki foi prá lá por que eu... Ele pediu... Cecil foi... Cecil não! O gato! Quero dizer, Kuppuru! – Pela cara de Masato dava para perceber que ele não estava entendendo nada, claramente se assustou com meu surto repentino. Quer dizer... Meu Deus! O que Cecil tinha a ver com essa história? Eu estava me entregando e contando coisas que não devia.

  - Nanami! Calma! Por que está se desculpando? – Masato se aproximou e pegou minhas mãos que estavam inquietas procurando maneiras de explicar algo que já estava na cara.

  - Não precisa pedir desculpas – Masato falou com um sorriso lindo no rosto, mas não era um sorriso verdadeiro – Afinal, eu não sou seu namorado para dar explicações.

Olhei nos seus olhos, buscando o significado de esconderem tanta tristeza. Não falei nada, momentos como esses não são feitos com palavras, são feitos com olhares, pois os olhos são os únicos que nunca podem mentir.

E com meus olhos que observavam os dele, vi pequenos pontos cintilantes de água.

Masato estava chorando.

Ele encostou a cabeça no meu ombro e senti todo peso que ela carregava. Senti toda a dor que antes só conseguia enxergar. Eu tinha que adivinhar cada movimento de Masato, por que ele era um silencioso, não me contaria nada.

Masato chorava silenciosamente. Se alguém nos visse assim, só conseguiria perceber que ambos chorávamos pela minha blusa molhada.

Ficamos assim até conseguir nos recompor. Quando Masato levantou a cabeça, olhou para mim e sorriu de novo. Ainda triste, mas parecia aliviado.

  - Então, Nanami – ele disse – Você já deve saber do por que me ver nessa situação – ele olhou para o lado

  - Sim, eu sei – falei meio corada – só não sei por que você não me disse nada. Deveria ter parado para me ouvir também. Eu...

  - Eu acordei essa noite não só por Ren, - Masato me interrompeu, provando minha teoria que ele não me ouvia – foi por você também

  - C-como assim?

  - Eu queria te ver, queria te perguntar uma coisa...  Não queria fazer uma coisa, só para confirmar... – Masato se aproximou mais um pouco, mas eu praticamente não percebi, por que dessa vez ele segurava meu olhar

  - Fazer o que? – falei, mas não sei se ele me ouviu, por que apesar dele estar muito perto, minha voz saiu fraca. Ela serviu apenas como indicação de um pequeno tremor no ar que indicava o minúsculo espaço que nos separava.

Quando eles se tocaram (finalmente!) foi muito bom, um momento mágico que eu nunca teria imaginado que aconteceria.

 Parecia que Masato também não estava acreditando. Ele passava a mão delicadamente no meu cabelo, parecia que queria acreditar que aquilo não era um sonho, que era real e que estávamos realmente nos beijando. Para confirmar ainda mais suas perguntas indiretas, abri mais minha boca e aprofundei o beijo, o deixando entrar completamente nela. Eu o senti, tinha gosto e cheiro de leito com biscoitos. Não era de jeito nenhum ruim, era tão bom que não consegui parar, só conseguia abrir mais e mais minha boca para ele entrasse. Sua língua roçava a minha e só parávamos por curtos segundos, retomando a respiração.

Uma dessas paradas foi mais duradoura, para recuperarmos de verdade nossa respiração e absorver o que estávamos fazendo.

Não sei o que Masato pensava sobre o que estava acontecendo. Ele me viu dormindo com Ittoki, então sabia que havia algo entre nós. Apesar de querer saber o que ele achava, não ousei me virar. Estávamos novamente tomados pelo silêncio. Masato foi o primeiro a agir, me abraçando por trás, mas sem dizer uma palavra.

Percebi que teria de novo que ler seus olhos, uma tarefa não muito fácil, afinal, ele era muito bom em esconder seus pensamentos.Mas quando me virei e olhei em seus olhos silênciosos, vi escrito mais claro do que água: Eu amo você.