Entre a Promessa e a Flor escrita por Nymus


Capítulo 8
8 - O Corvo Reluzente e a Luz de Odin




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"... E uma lenda se torna mito quando um Deus faz sua escolha. Poucos são os mitos, pois os Deuses apadrinham os lendários, mas pouco fazem por eles. Quando escolhido, você pode contar com o fator surpresa da ajuda deles. Mas há algo que deve ser lembrado sempre, um Escolhido tem obrigações e elas devem ser cumpridas. Sempre..." - murmurado pela Grande Dama do Lago, Serena Mayfair, enquanto contava essa história para sua filha Wendy-Yin Mayfair.

Atrius, o sacerdote de Odin, olhou para Glast Heim a sua frente. O lugar encontrava-se deserto aquela hora da noite, e pudera, quem iria pra lá? Os seres noturnos escapavam dos olhos do grupo, produzindo seus sons e sumindo na escuridão que cercava os jardins-labirinto do castelo. O luar iluminava o caminho, quando não sumia, engolfado por nuvens espessas e escuras, carregadas com uma fúria que iluminava os céus cruzando em clarões repentinos que chegavam ao chão produzindo um som ensurdecedor.

- Se continuarmos aqui, seremos atingidos - disse Zanzar Ten com uma voz séria, tomando a liderança do grupo, seguindo com o seu cajado em punho e aquele livro flutuante a seu lado. Zanzar parecia perturbado. Ninguém se atreveu a falar nada, embora estivessem curiosos a respeito. Passara parte da tarde com Florette, "procurando por ela", fora o que dissera.

Era difícil vê-lo naquele estado, quando parecia são e focado no que queria. Geralmente era visto como alguém que não tinha todas as propriedades mentais em ordem. Diziam que era a magia... a magia de Geffen que o deixara assim. Na verdade, ninguém sabia o que havia com ele e estavam habituados a suas constantes mudanças de humor e suas decisões mágicas que explodiam inimigos a distâncias invejáveis.

- Ele está certo - comentou Vic, ainda aborrecida - já que não puderam esperar, que entremos logo para resolver a situação.

Seguiu o bruxo com sua pose militar altiva, a reluzente capa de veludo vermelho as costas, uma cota de malha sobre os cabelos loiros, uma armadura completa de cor vermelha escura. Carregava duas espadas a bainha, uma de cada lado do corpo. Uma delas era sua espada flamejante, a outra eles desconheciam. Atrius havia notado que Vic parecia inquieta e que evitava olha-lo nos olhos. Talvez tivesse brava por eles terem aparecido em sua casa e ordenando que fossem logo a Glast Heim.

O sacerdote seguiu-os, e os dois mercenários vieram atrás, mas graças a agilidade com que se moviam, tomaram a frente do grupo e passaram pelo jardim, achando a porta que levava ao salão do castelo. Lier olhou para a katar presa a seu braço, a lâmina negra, as runas escritas nela detalhadamente talhadas. A arma não pesava nada e ele jamais tinha visto um trabalho como aquele em arma alguma. Jack Diovanni parecendo compartilhar da mesma admiração do amigo, mostrou a ele as trezes adagas de lâminas negras que Vic havia emprestado para a jornada. Havia as mesmas runas, o mesmo brilho. Para sua segurança, Jack carregava presa ao braço uma katar que ele esperava não usar.

Zanzar Ten abriu a porta dupla com força, fazendo um estrondo que ecoou por todo o castelo. Se haviam pensado em elemento surpresa, este já não mais existia. Não se importou com os olhares lançados pelos amigos e avançou em direção a escada que ficava escondida a sombra das pedras. As velas de Glast Heim estavam acesas, e todos os castiçais e lustres sempre mantinham as chamas das velas eternamente acesas.

- O Bruxo quer se matar - murmurou Lier irritado, seguindo Zanzar de perto. Assim que chegaram ao andar, o bruxo manifestou sua arte mágica e criou uma armadura para si, olhando para Lier com superioridade e extremamente ansioso. - agora que ele sabe que estamos aqui, por que não vamos com cautela?
- Ele já sabia que estávamos aqui - disse Vic. - Vamos procura-lo e acabar logo com isso.

Atrius assentiu com a cabeça, sem ao menos notar que quando Vic passou por ele, a cota em seu braço adquirira um brilho dourado, antes de voltar ao normal.

Procuraram pelo andar, indo até a torre onde Florette estava presa. A maga e Alice continuavam ali presas na magia. Não havia ninguém, e o silêncio de Glast Heim era interrompido pelos passos deles, o farfalhar das roupas e pelo vento que uivava pelas janelas anunciando a tempestade.

Desceram e procuraram no outro andar, chegando a sala onde os noviços apareceram para ajudar, eles ficaram estarrecidos ao vê-los presos a parede. Estavam desacordados e as cabeças tombadas davam sinais daquele frio que todos presos por ali pareciam sentir. Enquanto todos examinavam os noviços, Vic dava passos em direção ao centro do salão, olhando para todos os lados, a espada flamejante em punho.

Ela parou e encarou o Druida Vermelho escondido dos olhos dos outros. O ser tinha aquela aparência repugnante e um glorioso sorriso nos lábios finos e cortados. Antes que Vic pudesse avisa-los, o Druida passou por ela e avançou escondido para atacar seus amigos. Ele segurou Lier e Jack pelos ombros e os lançou para trás num único golpe. Mostrando-se aos olhos deles, Zanzar defendeu o ataque mexendo o cajado no ar, atraindo uma chama de uma das velas do lustres e criou uma barreira de fogo e fugiu para o lado. Atrius ergueu a mão e tocou as vestes do Druida.

- Cura!

A divina magia de Odin fez o Druida gritar de dor e ficar desnorteado por breves segundos. Suficientes para que os mercenários levantassem e o atacassem. As lâminas negras passavam por ele sem feri-lo. O Druida virou-se e gritou, aquele grito emitindo uma onda que os empurrou para trás novamente.

Daquela vez ele estava mais poderoso e preparado. As marcas feita pela cota em sua mão ficaram visíveis, quando ele segurou Atrius pelo pescoço, ameaçando enforca-lo. Os pés já não tocavam o chão e Atrius estava ficando sem ar, segurando as garras do Druida que envolviam seu pescoço, tentando abri-las. A Cota brilhou e ficando dourada, agiu sozinha, atacando o Druida fazendo-o soltar o sacerdote que caiu sentado no chão.

Ele voou pelo ar, afastando-se. O manto voltou a sacudir como na primeira vez que eles se encontraram e os olhos vagos do ser tornaram-se vermelhos. Vic sentiu o chão estremecer e percebeu o que ele ia fazer.

Jack querendo impedir que o Druida carregasse sua magia, levantou-se e lançou-se sobre ele com velocidade. Conseguiu cravar as adagas na pele dele e ficou pendurado no ar, forçando a arma a entrar na carne. O Druida urrou de dor, e sacudiu-se, atirando o mercenário na direção que Zanzar estava. Caindo ao lado do Bruxo, Jack o olhou.

- Faça alguma coisa!

Zanzar colocou o cajado a sua frente e o livro grosso que o seguia, abriu-se, buscando sozinho a página que o bruxo queria. Calmamente, ele começou a ler alguma coisa sem dar importância ao que o mercenário tinha falado ou o fato de estarem no meio de uma batalha.

- Zanzar? Zanzar?

Era obviamente ignorado. Jack se pos de pé ao ver uma imensa marca mágica aparecer, tendo Zanzar no centro.

- Zanzar? - murmurou.
- Você pode calar a boca? - Zanzar olhou para ele bravo e Jack deu-lhe as costas e voltou a batalha.

Uma explosão de luz se deu onde estava o Druida. Fragmentos vermelhos cruzaram a sala como lâminas, indo em todas as direções. Atrius levantou um escudo sagrado em sua frente com um gesto de mão, Lier desviou dos objetos com saltos e manobras ágeis, Jack usou suas adagas para desviar e quebrar os que foram em sua direção, Vic abaixou-se e cobriu-se com a capa, e Zanzar nem os viu, os objetos passaram por ele sem atingi-lo. Uma poeira avermelhada pairou sobre o chão e o Druida ergueu-se novamente no ar com um zumbido agudo.

Lier correu até ele e saltou. Cravou a katar nas costas dele e utilizando o peso do corpo, rasgou o manto e a pele do Druida, caindo no chão com cuidado. O Druida virou-se num golpe violento e o atingiu com suas garras, lançando Lier para trás.

Concentrado no mercenário, o Druida não viu quando Atrius surgiu ao seu lado e o tocou. A magia divina de Odin fora convertida em uma poderosa arma, e passou ao corpo sem vida numa corrente elétrica poderosa suficiente para sacudi-lo, o brilho esverdeando o deixando zonzo. Quando acabou, Atrius ainda o segurava para aplicar novamente a "cura", e não conseguiu escapar quando a mão imensa do Druida segurou-lhe a cabeça. A pressão foi intensa, a dor aguda.

Atrius nem sentiu quando o Druida o empurrou para trás, ocupado agora com um ataque de Vic. O corpo do sacerdote caiu no chão, a consciência perdia nas sombras.

"Atrius?", a voz suave o chamava. Ele abriu os olhos e encarou Florette. Estava num campo de Aloés com ela, sua cabeça deitada no colo dela, aquele sorriso iluminando os lábios dela. Acariciava seus cabelos com carinho e embora não abrisse a boca, Atrius escutava bem a voz dela. "Acorde!".

- Flor... - ele murmurou.

Ela parecia diferente. Os cabelos violetas pareciam leves e suaves, dançando com o vento perfumado. A pele alva parecia ainda mais delicada e fina, as feições levemente alteradas, para uma face longa e olhos afilados, de pestanas longas, desenhos escuros marcando o canto da face, como marcas de um guerreiro. Ela usava uma roupa azul de tecido transparente, onde se via com perfeição o corpo dela. As mãos eram longas e de dedos compridos, assim como as orelhas, levemente pontudas e altas demais para um ser humano. Estava tão diferente, como se nem ao menos fosse a Florette que ele estava acostumado a ver. Ainda assim, ele estava feliz.

"Você tem que acordar" ouviu ela falar "tem que ajudar a todos nós".

- Não quero acordar. Quero ficar aqui com você.

Ele virou-se e beijou a barriga sobre o tecido transparente. Procurou as mãos dela e notou outras marcas desenhadas nos dedos longos. Beijou a palma da mão e as deixou contra seu rosto.

Ela sorriu. "Tem que acordar e nós ajudar. Você pode prender esses espíritos. Pode ajudar nossos amigos a acabar com esse sofrimento" a voz melódica dela fez Atrius lembrar-se dos enigmáticos seres que viviam nas florestas para protege-las. Seres que tinham o nome de elfos.

- Nunca devia ter ido embora - ele murmurou - nunca devia te-la deixado.

Atrius fechou os olhos, quando os dedos dela tocaram-lhe os lábios. Quando voltou a abri-los, sentiu que flutuava no ar. Florette estava de pé, uma estranha armadura sobre seu corpo, um elmo com a forma de um falcão na cabeça, e delicadas asas de cisnes as suas costas. Carregava num imenso arco dourado e uma aljava estava caída a seu lado.

- Não vá embora - ele pediu.

"A muito negara o pedido de Odin. Mas dentro de seu coração, ficou semeado o poder de justiça que ele infligiu e suas ordens. Não havia como negar que você tivesse o mesmo direito que foi dado a eles, o direito de poder cumprir as ordens de Odin. Mesmo não pertencendo a esse seleto grupo, o poder de Odin flui em você, pois é sacerdote de sua ordem", Florette olhou para ele parecendo triste "Não ignore as ordens que sente dentro de você. Tem que voltar e sabe disso", então, ao lado dela, a imagem de cada um dos companheiros dele foi surgindo, vestindo roupas de tecidos leves e brilhantes, armaduras reluzentes. As mulheres apareceram ao lado de Florette, usando armaduras parecidas com a dela, com elmos diferentes, as mesmas asas. O contraste era incrível. Realmente Florette parecia um elfo e não um humano. "Volte agora, pois ainda é um Seguidor de Odin, e nenhum Seguidor de Odin desiste tão facilmente".

Longe de Glast Heim, em Prontera, uma reunião de emergência fora marcada pelo Alto Conselho. Os Altos Sacerdotes da Ordem de Odin estavam alarmados com o assassinato de Dommenicus dentro de suas instalações, fato que não acontecia há anos. E o pior, se Dommenicus estava morto, quem era que estava com eles durante todo esse tempo?

O Sumo Sacerdote acompanhava os passos vigorosos de Angus Pendragon, que fora chamado as pressas, com certa dificuldade. O General não era mais moço, mas ainda assim tinha um físico de invejar qualquer um. Munido de uma espada longa e uma alabarda na outra mão, Angus olhava de vez em quando para trás, para ter certeza que o Sumo Sacerdote estava de fato o seguindo.

- Senhor General - pediu o velho cansado - podemos ir mais devagar?

Angus fez um aceno com a cabeça e diminui a marcha, postando-se do lado do homem.

- Perdoe-me senhor.
- Não há nada com o que se desculpar... são essas minhas velhas pernas. Oh senhor Angus, estou tão triste pelo incidente com Dommenicus!
- É realmente lamentável, senhor. Ainda mais que tenha ocorrido em Prontera, a capital do reino, o lugar mais seguro que se conhece.
- Sim... o rei já sabe?
- Sim, eu o colocarei a par dos acontecimentos assim que a reunião do Conselho terminar.
- Tem sido um bom homem para nós senhor Angus. Todos esses anos tem trabalhado muito para que Prontera seja o que é hoje e devemos muito ao senhor. Odin lhe recompensara muito em Valhalla por sua lealdade e coragem.

Angus voltou a acenar com a cabeça. Valhalla? Não, ele não acreditava que tinha futuro em Valhalla. Havia libertado uma das mais poderosas inimigas de Odin. Quem poderia quere-lo? Ao ver o quarto, soube que era ela. Blood Raven era seu nome, o sangue que ela tinha nas mãos fazia sua magia, e o ódio em seu coração sua força. E porque ele ainda insistia em amá-la? Tinha Angela, não precisava de mais nada. Mas não conseguia esquece-la e a simples idéia de poder vê-la, o enchia de uma tola esperança, que ele vinha a anos tentando sufocar.

- Senhor Angus... tenho medo do que seja Blood Raven!
- Senhor - Angus começou devagar - se for quem acham que é, o mal já está feito. De alguma forma Bloody Raven pode ser aprisionada novamente e de alguma forma, alguém tem o poder para isso.

O Sumo Sacerdote o olhou de relance, um olhar estranho e desconfiado. Mas nada disse. Logo Angus o deixou na porta do e ali ficou postado como um soldado e não o general que era. Naquele caso, ele não se importava, a segurança de Prontera estava em jogo. E enquanto esperava, podia armar o quebra cabeça de pistas que tinha em sua mente e entender como Vyctory podia saber quem era o Portador da Cota e não o teme-lo. Angus tinha medo que sua filha já tivesse se entregado sem ao menos lutar. Talvez o fardo dela fosse maior do que ele supunha...

Glast Heim fora a capital de Rune Midgard há muitos anos atrás. Mas algo aconteceu e então todo aquele luxo e evolução foram transformados em sombras e maldade. As almas que vagavam por aquele imenso castelo viviam da vitalidade dos que ali iam para afugenta-las. Agora, nem mesmo essas almas perdidas caminhavam por Glast Heim. Algo maior e mais sombrio dominava o lugar, invocado pela única necromante de Rune Midgard. Uma criatura que tinha em mente se apoderar da energia dos que ali habitavam.

Essa criatura, um terrível ser chamado Druida Vermelho. Aquele que fora condenado por fazer sacrifícios em nome de uma das mais famosas lendas de Rune Midgard. Condenado as sombras, ele somente poderia ser invocado por outra criatura condenada. Ela existia, e todos a temiam, o nome de Blood Raven foi sussurrado pelos anos e agora ela era uma ameaça real a todos.

Enfrentando a temível criatura estavam um grupo de amigos liderados por um sacerdote de Odin, que em busca de cumprir a missão que lhe foi dada, sabia que o Druida Vermelho estava com a alma daquela que ele amava. Com ele estavam um poderoso Bruxo, uma valiosa guerreira e dois ágeis e espertos mercenários.

O fogo da espada de Vic deixava um rastro brilhante no ar e quando atingiu o Druida, atravessou a sua carne num corte cirúrgico. Ela ainda o atacou duas vezes enquanto ele somente se defendia. Afastou-se voado para trás, e tirou de dentro de seu manto esfarrapado uma adaga de lâmina torta e vermelha. Foi para cima dela e duelando, conseguiu atingi-la no braço. O corte queimava e toda a região foi tomada por uma ardência louca, fazendo o corpo sacudir-se num espasmo de dor. Ela soltou a espada e tocou o ferimento, sentindo as lágrimas vindo aos olhos.

- Prove do seu próprio veneno, filha de Raven - murmurou o Druida, aproximando-se dela. Vic ficou paralisada e não pode defender-se quando ele tocou o rosto e um sorriso pálido pairava nos lábios cortados. - Uma virgem - ele parecia fareja-la e seus olhos adquiriram um brilho cruel.
- Eu vou acabar com você - ela murmurou em resposta, corada.
- Tente - o Druida endireitou-se e ficou de costas a ela, lançando novamente aqueles projeteis na direção de Lier e Jack. Os dois conseguiram desviar, e seguindo para o fundo do salão, bateram numa barreira invisível que parecia isolar Zanzar Ten.

Não havia forma de distrair o Bruxo, e ele calmamente concentrava-se para um grande feito. Zanzar Ten era dado a mistérios e pouco falava de suas intenções em uma batalha. Geralmente lutava com ferocidade, mas naquela em especial, ele parecia mais preocupado em concentrar-se do que se atirar no meio dela com suas poderosas magias. Quem o visse bem, veria sua expressão serena, os olhos atentos, estava com o corpo relaxado e a mente vagava por regiões onde somente ele poderia estar.

Então algo aconteceu.

Glast Heim tremeu.

Um solavanco fez o lustre balançar, os dois mercenários caírem sentados no chão, o Druida olhar em todas as direções e depois fixar o pior dos olhares na direção do Bruxo. Lascas de pedra soltaram das paredes e as pedras do chão ajeitaram-se melhor. Agora, Zanzar o encarava e sorria maliciosamente.

Girou o cajado e o colocou em pé na sua frente. Seus lábios moveram-se num murmúrio, e ele fechou a mão livre, para depois abri-la com uma pequena chama flutuante na palma. Aproximou-a do cristal do cajado e a luz penetrou nele, e começou a ficar cada vez mais brilhante. Ele alargou o sorriso e mirou sua concentração mágica sobre o Druida. Um círculo vermelho surgiu debaixo dele, caindo pelo ar como uma poeira mágica incômoda, afetando-lhe a vista e deixando o ar com cheiro de sândalo.

Jack e Lier ficaram de pé e olharam para Zanzar, felizes. Finalmente o Bruxo ia fazer alguma coisa. E eles esperavam que fosse algo bom, porque aquele inimigo estava difícil de vencer. Nunca em suas vidas haviam se deparado com um inimigo tão forte e violento como aquele.

Atrius despertou com o cheiro de sândalo, lamentando-se por não estar mais com Florette. Sentou-se e observou como as coisas estavam. Usou sua magia divina em Vic e depois nele próprio. Sentiu-se infinitamente melhor e levantou-se animado para a batalha. Apontou a mão para Zanzar quando notou que ele estava concentrando uma magia e o abençoou com o poder de Odin, que o Bruxo como seguidor dele, certamente ficaria ainda mais poderoso. Foi até Vic com rapidez e a ajudou a ficar de pé, a guerreira sem forças, tomada por uma dor intensa no braço, que a fazia lacrimejar.

O ar dentro da sala ficou estático, e carregado da energia mágica que emanava do corpo do bruxo como uma corrente de ar, perfumada e perigosamente instável. Os olhos de Zanzar haviam adquirido aquele brilho sagaz, o cabelo e o manto começaram a se sacudir cada vez com mais força. Ele apontou o cajado na direção do Druida, que vinha para ataca-lo e os mercenários meteram-se na frente, impedindo que ele alcançasse o Bruxo e o fizesse perder sua concentração. Com a mão livre, Zanzar fez um gesto no ar e trouxe o grimório para seu lado. Começou a murmurar frases de incrível rima, tornando-se um cântico letárgico e maravilhoso de se ouvir.

- Luz de Odin!

A magia o envolveu e ele fechou os olhos por um instante, sentindo que seu corpo não tocava mais o chão ou fazia parte daquele mundo por poucos segundos. Abriu os olhos e eles brilhavam de forma intensa. Apontou o cajado novamente na direção do Druida. Um estrondo correu pela sala e um imenso raio saiu do cristal e atingiu o Druida com violência, envolvendo-o em uma luz forte. Lier, Jack, Atrius e Vic olharam fascinados enquanto aquela magia atingia o Druida em vários pontos, sua luz o cegava, e o empurrava para trás com força. Então acabou, a luz das velas voltando a iluminar a sala, o som da tempestade do lado de fora batendo com força contra as paredes do castelo. Zanzar abaixou o cajado e observou com gosto o que tinha feito.

Sua gargalhada rompeu os instantes de silêncio que se seguiram depois, enquanto eles esperavam pela reação do Druida. O ser estava caído no canto do salão e mal conseguia se por de pé. Eles três olharam para Zanzar, enquanto ele gargalhava, parecendo feliz ao mesmo tempo que ria da desgraça do inimigo.

- Trovão de Júpiter!

Lier ignorou o ataque mágico de Zanzar Ten, e foi para cima do Druida, a katar de lâmina negra brilhante a parca luz. Uma energia vermelha envolveu o Druida e ele levantou-se, parecendo muito irritado e bem mais forte. Lier desviou dos ataques dele, e investiu com sua katar nos mantos, rasgando os tecidos e imaginando onde estava a carne suja daquele inimigo que ele tinha atingido. O Druida por fim, acertou-lhe o rosto e ele foi arremessado para trás com grande velocidade. Assim que atingiu o chão, Atrius o curou e olhou para o Druida, com as palavras de Florette na cabeça.

- Vamos acabar logo com isso - murmurou Vic erguendo-se num esforço, e cambaleante, ficando de pé sozinha.

Atrius ainda tinha a imagem de Florette em sua mente, aquela imagem estranha dela, como se ela fosse alguma espécie de elfo da floresta. Nem soube quando a Cota ficou dourada e cresceu muitos centímetros, ficando a seus pés como se tivesse vida própria. Ele recolheu-a e a sacudiu no ar como um chicote.

- Lance-a Atrius - disse Vic, o olhando com um rosto cansado de dor.

O Druida o olhou e avançou voando, sacando novamente a adaga.

- Barreira de Fogo! - Zanzar utilizou sua magia e criou uma muralha de fogo entre o Druida e Atrius. O Druida tentou avançar, e acabou incendiando-se com aquele fogo mágico. Era a chance que Atrius precisava, ele sacudiu a Cota e a lançou na direção do ser maligno.A Cota o envolveu e brilhante, começou a queimar a pele dele, enquanto movia-se sem ter fim, enrolando-o e apertando com força.

Jack aproximou-se e começou a desferir golpes rápido e violentos nele, Lier chegou logo depois e fez a mesma coisa. Agora as lâminas acertavam a carne dele, arrancando um sangue escuro e de cheiro forte. Vic, cambaleante, aproximou-se, e utilizando o braço ferido, sacou a espada que levava na bainha com as duas mãos. Zanzar invocou raios, puxando energia da tempestade, deixando o Druida enfraquecido.

- Mande lembranças a Hel - murmurou Atrius, intensificando com a mente o poder da Cota, fazendo que ela apertasse cada vez mais o ser.

Vic aproximou-se dele e com um único golpe, cortou a cabeça do Druida. A lâmina brilhante fez suas inscrições acenderem-se como o pavio de uma vela. A Cota recuou para o pulso de Atrius e os amigos olharam espantados com a precisão dela. O corpo caiu no chão e Vic caiu para trás, sentindo-se fraca demais para ficar em pé. Atrius e Jack correram para ajuda-la, enquanto Lier observava Zanzar aproximar-se com o grimório debaixo do braço.

Glast Heim tremeu novamente e o corpo do Druida começou a zumbir, uma energia fúnebre tomou conta do lugar em segundos. O ar pesado causava-lhe enjôo e o cheiro de sangue ficou pungente. Uma energia poderosa saiu do corpo do Druida e atingiu Vic com força, fazendo Jack e Atrius serem atirados para trás. Uma a uma, as almas começaram a fugir do corpo do ser, vagando como fantasmas por Glast Heim. Vic estava envolvida numa energia poderosa demais, e sem forças para resistir, a absorveu, recuperando-se dos ferimentos e ficando encantada por aquele poder.

Atrius ficou de pé, quando a Cota brilhou em dourado e olhando Vic, ele entendeu. Ela era parte de sua Promessa.

"Quando chegar a hora você saberá o que fazer".

A voz do antigo Sumo Sacerdote rodopiava na cabeça de Atrius e ele não tinha a menor idéia do que fazer. Saberia se sua Promessa não fosse sua amiga. Observando-a, viu Vic erguer-se do solo e levitar a centímetros dele. As almas que libertadas do Druida Vermelha rodopiavam pela sala, agora rodopiavam a volta dela, como se a protegessem da ameaça que ele representava.

"Mestre espere", Atrius quase corria atrás do Sumo Sacerdote, que com passos rápidos dirigia-se para a Biblioteca dos Sábios em Prontera.

Olhando-a de olhos fechados, Atrius sabia que ela estava sendo manipulada. Como especialista naquela Arte Divina, sentia uma outra força agindo e também a força de Vic nisso tudo. Mal podia acreditar que Vic era Bloody Raven. Aquilo que lhe parecia tão distante era quase um sonho, depois de tantos anos de treinamento e de ter abdicado de seu grande amor, ele se via incapaz de agir contra ela. Mesmo sabendo que essa era sua missão e seu dever.

"Niflheim, a Terra da Neblina, é onde mora Hel, a Grande Deusa da Morte. Ela alimenta-se com doenças, fome e a velhice. É delas as almas não escolhidas pelas Valkirias e por Freya. É dela e tudo é sofrimento em seu reino gelado. Antes pior fosse ir para seus braços... mas há algo pior, muito pior. Chama-se Blood Raven, o Corvo Sangrento que alimenta seu mana com os espíritos perdidos. É dela todos os piores males que alguém pode causar a uma alma. É ela, que você tem que impedir", disse o Sumo Sacerdote a Atrius.

- Impeça-a - ouviu Zanzar Ten gritar por causa da lamúria alta dos espíritos. Olhou surpreso para o bruxo. - Impeça-a - ele repetiu - antes que seja tarde.

- O que vai fazer?

Atrius olhou para Jack que segurou seu braço com força. Encarando os olhos azuis viu a preocupação de Jack com tudo aquilo. Ficara tão claro o amor que ele sentia por aquela mulher, que agora era uma evidente ameaça a todos.

"Escuta Atrius, escuta minhas palavras... cada alma perdida a Blood Raven é uma alma que nunca encontrara a paz".

- Faça o que tem que fazer - disse Zanzar com uma voz firme - é o Portador da Cota de Odin. Sabe o que fazer não?

Olhando novamente para o Bruxo, Atrius não entendeu como ele sabia da Cota. Ficara claro a todos que Atrius carregava uma Cota com poderes divinos, não muito diferente das demais cotas carregadas por outros sacerdotes. A cada pedra da Cota tinha uma runa de Odin, feitas por ele mesmo, segundo dizia a lenda. Como Portador da Cota, Atrius tinha obrigações e como parte da promessa que fizera, era aprisionar a geração de Bloody Raven, a bruxa imortal. Mas como poderia faze-lo se era sua amiga? Como poderia enfrenta-la, tendo em mente todos os bons momentos que passara com ela? Aquilo de certa forma não parecia justo, porque mesmo Vic sendo sua amiga, ela agora estava com o controle da alma de Florette.

"Utilize o poder do amor, oras! Que tipo de pergunta é essa? Não lhe disse que a Cota se move por esse poder? É triste, talvez doloroso, mas necessário. Grave minhas palavras, seu avoado! Pra onde está olhando afinal?".

- Do que estão falando?

- Vamos homem, não hesite! - falou Zanzar com uma voz forte.

Indiferente a tudo, Lier tinha os olhos cravados na safira que tinha nas mãos. Ela cairia do corpo do Druida Vermelho logo após ele ter perdido a cabeça. Era uma Safira de Odin. O azul único da gema parecia encanta-lo, da mesma forma que o fazia lembrar de seu lar, tão distante daquelas terras. Agora sentia que estava mais próximo de casa e a cada safira ele tinha a chance de poder voltar. O azul refletia tão forte quanto o vermelho escarlate do seu anel, e olhando para o Olho de Astarte, ele lembrou-se que ali em RuneMidgard ele estava a salvo das maldições que perseguiam sua alma e mesmo carregando aquele anel que era o sinal maior de todas as maldições, ele estava livre delas. Com bom grado, Lier teria tirado o anel do dedo, se ele saísse.

Ergueu os olhos quando viu Vic o olhar. Os olhos vermelhos dela lembraram de uma maldade que ele conhecia. E sem poder desviar do ataque, foi lançado para o outro lado da sala pelos espíritos que a circundavam.

- Barreira de Fogo!

Zanzar Ten invocou a barreira antes que os espíritos os atacassem. Deu um passo para trás sabendo que aquela magia não os seguraria por muito tempo. Não sabia o que Atrius estava esperando para segurar Vic, mas sentia que de alguma forma aquilo era errado.

Atrius por fim pareceu acordar e deu um passo a frente.

- Blood Raven - chamou-a num grito e Vic o olhou com escárnio. - Liberte essas almas!

Jack não se moveu, tomado por um horror imenso. Ela era Blood Raven? Mas... em nome de Odin, o que estava acontecendo? Zanzar Ten havia reconhecido o nome logo que fora pronunciado, e um ato rápido espalmou a mão sobre seu grimório e o livro abriu-se sozinho e folhou-se em busca de uma página. Nela um inusitado desenhado de uma mulher, a Bruxa Imortal. Aquele desenho não batia com a descrição de Vic, mas Zanzar nunca havia se encontrado com ela. Jamais poderia saber.

- Saia da minha frente, sacerdote - a voz de Vic soou, poderosa como um trovão e tão distorcida quanto.

- Não! Irá devolver essas almas! E o fará agora!

Lançando a Cota de Odin no ar, ela voou passando pelo escudo de espíritos até enroscar-se no braço de Vic. A principio nada mais do que isso. Depois, ela brilhou em dourado e como uma cobra, começou a comprimir a armadura vermelha de Vic. Ela trincou e então começou a cair esmigalhada, deixando a mostra o braço de Vic. Seu rosto mostrava sua dor, e sua raiva. Com a outra mão livre, ela segurou a Cota e puxou Atrius na direção dela. Uma disputa de poderes foi formada, e Atrius sentia-se arrastado na direção dela.

A força acabou quando Vic rompeu a Cota com um gesto poderoso no mesmo momento que era atacada pelo Trovão de Júpiter invocado por Zanzar Ten. O raio caiu sobre ela e o grito de dor ecoou tão alto quanto o som dos espíritos e Jack desesperou-se.

- Atrius! - lançou-se sobre o sacerdote, para impedi-lo de machucar Vic, no momento que os espíritos formavam um novo ataque. Foi atingido nas costas e caiu no chão quase morto. Atrius nada sofrera e a Cota espatifada rolava pelo chão. Nunca vira ninguém romper a Cota e ela conseguira. Num único gesto!

- Rajada Congelante! - Zanzar não desistia do ataque, mesmo tendo consciência da situação. A magia congelante percorreu o solo e surgiu debaixo de Vic, a congelando por um instante, antes que ela rompesse com a luz avermelhada de sua armadura.

- Maldito seja - bradou ela, a voz monstruosa não tendo nada da meiga Vic - Filho do Leste!

- Barreira de Fogo! - criou uma barreira para impedir de ser atacado diretamente - Atrius, rompa o Corvo Reluzente!

Atrius olhou para ele e depois para a cota.

"Falhar? Não, impossível! Só existe uma única chance e é dela que fazemos nossas oportunidades. A Cota só acabara se o amor que existe dentro de você se extinguir. Você é melhor qualificado do que eu, jovem Atrius. Ama tanto essa mulher que daria sua vida por ela. Infelizmente eu sou egoísta e... sim, você tem razão. Talvez eu nunca tenha amado de verdade".

A imagem de Florette surgiu na mente de Atrius tão forte como se ele tivesse acabado de vê-la. Aquela armadura e aquelas asas, aquele olhar apaixonado e triste, sua incrível semelhança com os seres encantados da noite. Como poderia viver sem saber se ela estava bem? Como poderia viver sabendo que condenara a alma dela? Que Vyctory pudesse lhe perdoar depois, pois agora ele não a perdoaria.

Ele levantou-se rápido e invocou Cura sobre Jack. A cota despedaçada renovou-se com a força que emanava de seu Portador. E mesmo sem estar junta, ergue-se no ar, ao redor dele como pequenas esferas brilhantes.

Vic cessou seu ataque a Zanzar Ten e encarou Atrius com ódio renovado. Ele abriu os braços e invocando alguma prece rápida, fez as esferas a atacarem, cruzando seu escudo de almas e atingindo sua armadura, quebrando-a onde era tocada.

- Tempestade de Relâmpagos - ela falou e uma magia formou-se sobre Atrius e o atingiu com precisão. Erguendo a mão no ar, a espada mágica voou até ela, com a mão livre ela lançou um surpreso Zanzar Ten para o outro lado da sala junto Lier. Ela moveu-se com a espada em punho na direção de Atrius.
- Vic... Vic espere!

A voz fraca de Jack saiu como um apelo, quase não ouvida pela fúria dela. Como mágica ela estacou e o olhou, parecendo surpresa. Ele tentou ficar de pé, e tudo o que conseguiu fazer foi virar o rosto e olhar para ela. O poder do olhar dele fez algo com ela, fez ela revoltar-se contra aquela dominação desejosa. Ela soltou a espada assim que seus pés tocaram o chão, e o Corvo Reluzente perdeu seu brilho, quando ela abaixou-se ao lado dele.

Como se hesitasse, ela tentou tocar o rosto dele, e então desistiu. Os olhos azuis encheram-se de lágrimas e Jack continuava mantendo-a cativa em seu olhar, sem dizer uma única palavra.

- Não... - ela murmurou a voz saindo fraca e dolorosa. - Você não...
- Luz Divina - Atrius invocou apreciando o momento de distração dela. Vic foi atingida e sua linda armadura trincou inteira. As almas que a rodeavam se dispersaram e começaram a voltar para seus corpos, abandonando a invocadora.

Ela ficou de pé olhando sempre para Jack e depois desviou o olhar e observou Atrius com o rosto banhado em lágrimas. Tirou o elmo e o jogou no chão.

- Vyctory Pendragon, como autoridade de Odin e Portador da Cota, devo dizer que terá que me acompanhar. Ou melhor, a obrigo a me acompanhar Blood Raven.
- Não sou Blood Raven - respondeu ela baixinho - eu nunca quis ser.
- O que está dizendo?
- Que sou... desculpe-me Atrius por tudo o que eu fiz e pelo o que vou fazer.

Vic correu até a janela e saltou por ela, Atrius correu atrás e o que viu foi ela caindo com os braços abertos, as pernas flexionadas, e tão calmamente transformou-se num corvo vermelho e sumiu nas brumas misteriosas que envolviam Glast Heim. Ele entendeu que ela estava possuída por alguma força, pois Vic era uma guerreira e não uma bruxa, e soube que deveria avisar a família dela sobre esse incidente.

... e os corações solitários
O amor uniu
A donzela da floresta e do rio
O senhor do fogo e do céu.

Florette despertou do pesadelo, acordando em sua macia cama em Payon. Olhou em volta para ter certeza que estava acordada e viu tudo em seu lugar, e aquela bela voz élfica cantando uma famosa música de Astor, sua terra. Com frio, ela cobriu-se e olhou para a janela, onde Raposa estava sentada com um alaúde em mãos, os olhos fechados, cantando docemente.

O Primeiro Grande Dragão
Por uma mortal se apaixonou
E em sua forma humana
A amada enganou

Glast Heim parecia longe agora. Terrivelmente longe. Hórus estava sentado no galho e abriu as asas quando a viu despertar. Apertando as cobertas contra o corpo, Florette voltou a deitar, estremecendo de frio. Sua mente vagava pelos horrores vividos, pela a tortura de sua alma, pelo medo que sentira. Não, ela sabia que Odin não a abandonaria. Ela tinha um acordo com ele, havia se tornado filha dele, nunca seria abandonada. De alguma forma ele a salvara...

Nos braços da senhora das matas
Ele se encontrou
E de todo o carinho que sentiam
A Escolhida nasceu.

Florette olhou para Raposa, e ela parecia concentrada demais naquela canção para notar que ela despertara. Ela continuava cantando tão magnificamente bem quanto Florette podia se lembrar, a voz cristalina e apaixonada, pois Raposa sempre gostara dessas baladas e sabia cantar uma porção delas. Quando vieram para Rune Midgard, ela perdera o gosto pelas baladas até conhecer as dessa terra e voltar a cantar quando estivesse distraída. E raramente era encontrada distraída. Ela não costumava pensar muito em Raposa, pois mal a via, já que a outra nunca parava em lugar algum.

Sentiu-se bem por estar em casa e com a meia irmã ali. Era como se estivesse em casa, ouvindo uma música tão típica de sua terra natal, na companhia de elfos.

Linda e dourada
Litan era seu nome
A grande guerreira amada
Draguen era a sua alma

Raposa parou de cantar e abriu os olhos, fitando Florette. Saiu da janela e aproximou-se da cama, trazendo o alaúde nas mãos com delicadeza.

- Então eles conseguiram... - murmurou ela.
- Padma...

A ladina sentou-se na cadeira que fora ocupada por Paganini, que agora estava dormindo a dois quartos dali, e olhou bem nos olhos de Florette. Não havia nada que pudesse ser lido nos olhos brilhantes de Raposa, nada. Ela era um mistério depois do que houvera com seu marido em sua festa de casamento. Raposa não era mais a mesma, e talvez nunca mais seria. Aquela elfa feliz fora substituída por uma casca de vingança e ódio.

- Estou tão feliz que esteja aqui - Florette segurou a mão livre dela com força e Raposa apenas ergueu uma sobrancelha para o gesto, sem afastar a mão ou retribuir o gesto. - Não queria acordar sozinha... estava com tanto medo.
- Medo? Do quê?
- De nunca sair de lá.
- Não seja tola Florette. Era certo que seus amigos iam te resgatar. Ou acha que ele ficaria aqui contemplando sua morte lenta?

Ele!
Atrius!

Ele então esteve ali. Ela encheu-se de alegria, desejando poder vê-lo novamente. Mas só de saber que ele esteve ali, ela ficou cheia de animação, e imaginou se ele teria cuidado dela. Era claro que havia sido ele que a tirara de Glast Heim. Como o amava! A simples menção do nome fazia o corpo dela reagir instantaneamente, como se a qualquer minuto ele fosse entrar naquele quarto e a tomar nos braços. Como desejava isso!

- Vejo que ainda gosta do sacerdote...

A voz de Padma era desprovida de carinho. Parecia um golem falando. Florette arrepiou-se com o olhar gelado dela, sentindo que todo aquele calor que a envolvera, sumira levado por uma forte nevasca.

- Não percebe que é perda de tempo? Você abandonou nossa causa por ele...
- Não Padma, não diga isso!
- Digo o que eu vejo. E desde que se apaixonou por esse mortal, esqueceu-se completamente que não somos desse lugar e que vagamos como espíritos por aqui. O que será Florette? O que será quando você o ver envelhecer? Ainda vai amá-lo? Ele nem ao menos pertence a nossa casta, nem ao menos sabe o que é um Vanir!

Florette nada disse. Sabia que Padma nunca aceitara Atrius ou Beauty. Ela não gostava de sacerdotes de qualquer espécie, tanto porque fora um que atravessara a Espada Sentimentus no marido. E ela o vira morrer agoniante a sua frente, enquanto a magia divina do clérigo a segurava contra a parede.

- Padma - Florette murmurou cheia de carinho.

Ela levantou-se rápido, como aquele murmúrio a tivesse acordado de seu ódio. Ela olhou para o chão e depois para a irmã mais velha. Talvez outra pessoa já estivesse em lágrimas naquele instante, mas ela não.

- Avise a Sun que quero a Safira. Pouco me importo quem está com ela. Quero que Sun a traga para mim.

Dizendo isso, saiu do quarto em silêncio, deixando Florette triste.

Angus estava guardando a porta do Alto Conselho quando um noviço apareceu, viera correndo e estava todo vermelho e desarrumado. Ao encontrar os olhos sérios do general, ele parou e tomou ar, antes de entrar com postura e olhar para ele.

- O que houve?
- Vim dar um recado, enviado de Glast Heim, pelo sacerdote Atrius.
- Fale logo garoto.
- Senhor Atriu manda avisar que... o Druida Vermelho foi destruído e as pessoas presas estão sendo resgatadas por noviços.
- Fico aliviado em saber - disse Angus que nada disso sentia. - Vou avisar o Alto Conselho.
- E tem um recado para o senhor... - Angus olhou para o noviço e ele encolheu-se diante do olhar - ele manda dizer que sua filha sumiu.


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