Entre a Promessa e a Flor escrita por Nymus


Capítulo 5
5 -Os Segredos Revelados




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/158499/chapter/5

O Druida Vermelho parecia alheio à ameaça que ouvira na voz do mercenário. Olhava para Atrius, seus olhos presos a cota que ele tinha no braço e depois olhava para Vic com um estranho brilho de reconhecimento no olhar. Ele ergueu-se no ar, o manto vermelho sacudiu-se e as pontas sumiam como se transformassem em uma névoa densa de cor ocre. A pele escura tinha inúmeras inscrições mágicas e a cabeça pendia para o lado como se não pudesse se suportar sozinha. As mãos dele lembravam garras e ele as recolheu junto ao corpo, parecendo pouco a vontade.

Lier correu e depois saltou para atacar o Druida. O ser apenas ergueu os olhos para ele, e Lier foi lançado do outro lado da torre sem ao menos ter se aproximado o suficiente dele. Jack guardou a katar e pegou as adagas que ele mantinha embainhadas pelo corpo, e de onde estava, lançou-as com força sobre o Druida. Ele encolheu-se ainda mais e lançou um olhar na direção das adagas. Elas caíram no chão, como se tivessem atingindo uma parede invisível. O olhar fixo do Druida fez Jack ficar paralisado e assim ele permaneceu, abaixado com as mãos nos cabos das adagas que levava nas pernas.

- Relâmpago! - a voz de Zanzar Ten soou tão estrondosa quanto a própria magia que ele conjurava. Um raio surgiu acima da cabeça do Druida e desceu, mas não o acertou, passava por ele como se nem ao menos estivesse ali para acerta-lo. O Druida olhou para ele e gritou.

Um som agudo e estridente rompeu pela sala, e a força empurrou o Bruxo para trás. Vic e Atrius gritaram de agonia quando escutaram o grito, que ecoou por todo o castelo tornando-se sombrio e horripilante. Ele então começou a abrir os braços e uma estranha energia começou a se formar vinda do chão em forma de uma névoa densa, que envolvia os braços dele.

- Abre o portal - disse Vic, que não havia atacado, paralisada com a força que sentia dentro dela. Atrius olhou para ela, como se despertasse e viu no chão o amuleto mágico que Vic sempre carregava consigo rasgado. As letras negras estavam borradas e as pontas do papel parecendo amassadas. - Abre o portal - repetiu ela olhando para ele. Os olhos de Vic estavam escurecidos e ela não tinha mais aquela feição doce e delicada que ele estava acostumado. Era como se de repente fosse outra pessoa ali, uma pessoa que Atrius não conhecia.

Atrius fez como ela pediu e gritou para todos irem embora. Lier e Zanzar levantaram-se lentamente, o corpo dolorido pelo impacto violento. Jack caiu sentado no chão, quando o Druida desviou sua atenção dele, e ergueu-se rapidamente, indo para perto de Atrius e Vic.

Então algo aconteceu.

A cota de Atrius balançou no ar e adquiriu uma coloração dourada apontando para o Druida. Oscilava no ar, como se fosse uma serpente pronta para o bote, espantando até ele mesmo que era seu guardião. Ele fechou os olhos por instantes, simples segundos e foi invadido com idéias sobre o que estava acontecendo e como deveria prosseguir. A cota continuava a oscilar e Atrius teve todo o conhecimento dela, abrindo os olhos verdes e fitando o Druida.

O Druida o olhou diretamente e seus olhos vagos pareciam ler a alma de Atrius nos instantes que ficaram se fitando intensamente. O Druida temia a cota e por isso estava recolhendo energia suficiente para combate-la, e Atrius como portador da cota, sabia bem o que tinha que fazer para que ele e seus amigos pudessem escapar de lá, já que não tinham chances de vencer o Druida, pelo menos não nesse embate.

Florette estremeceu em seus braços e a cabeça dela que estava apoiado no ombro dele, caiu para trás. A olhou notando que o rosto dela tinha perdido totalmente a cor. Os cabelos violetas estavam perdendo a coloração enquanto o Druida mantinha-se concentrado. Era óbvio que ele estava sugando a energia de todas as pessoas que estavam presas em Glast Heim.

Atrius esfregou a gema azul com uma mão e abriu o portal. Os amigos se aproximaram e ele entregou Florette para Lier, que apesar de machucado, pegou a irmã no colo e sem hesitar mais entrou no portal seguido de Zanzar e de Jack. Vic continuava parada, olhando para o Druida, ao lado do portal.

- Lance a cota nele Atrius - disse ela com uma voz fria.

A cota começou a se desenrolar pelo braço de Atrius como se fosse realmente uma serpente e atingiu o chão, aumentando seu tamanho com isso. O Druida começou a se aproximar, a energia fluindo por todo o seu corpo, ao redor dele como um escudo protetor. Atrius enrolou um pedaço da imensa cota no braço e a agitou, como se fosse um chicote, lançando-a contra o Druida. Vendo aquela cota vindo em sua direção, o Druida colocou seus braços para frente para invocar uma magia e a cota prendeu-os junto. Fixando os pés no chão, Atrius impediu do Druida o arremessar para o outro lado da torre, e puxou a cota, fazendo que ela penetrasse na carne escura do Druida.
Começou a caminhar para o portal, e vendo que Vic continuava ali, tirou a mão livre da cota e a empurrou para dentro do portal. Deu uma última olhada no Druida e então, ele também entrou.

A cota partiu-se e suas pedras rolaram douradas pelo chão, voltando a ficar frias e escuras. O Druida arrebentou a cota que prendia seus braços juntos e depois sumiu no ar como se não tivesse estado lá.

Atrius acariciou o rosto pálido de Florette com o nós dos dedos e depois se abaixou para beijar a tez fria, ficando com uma expressão triste no rosto. Sentou-se na cadeira que Lier havia deixado ao lado da cama e ficou observando por longos minutos o rosto de Florette.

Estavam na casa que Lier tinha em Payon, para onde ele havia direcionado seu portal. Quando o criara, tudo o que tinha em mente era poder trazer Florette para um lugar seguro. Ele deixara pessoas presas ao poder daquela criatura maligna somente para salva-la. E era isso que o perturbava. Havia ido para Glast Heim para resolver o problema e no instante seguinte fugira com a amada nos braços, querendo esquecer tudo o que tinha e tudo o que sabia somente para a ver sorrir novamente. Mas isso parecia distante, pois Florette parecia morta, deitada na cama, a respiração fraca, gelada.

Todos os amigos estavam bem e perturbados pelo o que estava acontecendo em Glast Heim. Cada um deles sentia dentro de si um peso por não poder ter feito mais do que fizeram e terem libertado aquelas pessoas. Ficavam aliviados em lembrar que o Alto Sacerdote Dommenicus estivera em Glast Heim e que com a ajuda de noviços iria salvar as pessoas que estavam presas naquela sala.

Dommenicus havia falado a Atrius para tomar cuidado com seus pesadelos. De alguma forma, o sacerdote sabia o que o esperava em Glast Heim. Era claro que era por isso que fora ajudar depois, quando ele descobrisse do que se tratava, os demais podiam ajudar.

Atrius suspirou e apertou a mão de Florette com suavidade. Usara todo o seu conhecimento divino e ela continuava inerte. Aquilo era tão assustador. Havia manchas negras por todo o corpo dela, que se suavizaram depois de toda carga divina exercida por ele. Dera um banho quente nela para ver se adquiria uma coloração saudável e toda aquela frieza abrandasse um pouco, mas assim que a enrolou numa toalha felpuda, o corpo foi lentamente voltando a ficar gelado.

A cota escorregou pelo seu pulso e caiu no chão de madeira, fazendo um barulho oco. Atrius a olhou e encheu-se de raiva. Pegou a cota e a apertou com força.

- Escolha infeliz - disse ele, jogando-a contra a porta. Queria se ver longe daquela cota e de tudo o que ela representava. Fechou os olhos com força, sentindo-se mal. Ajoelhou no chão e escondeu seu rosto na curva do braço gelado de Florette, querendo esquecer tudo. De tudo que estava em sua mente e que toda noite ele relembrava.

Atrius estava na sala do Alto Conselho de Prontera, tinha as mãos as costas e a cabeça estava baixa. O antigo Sumo Sacerdote de Odin olhava para ele com um olhar cético. O sacerdote sentia-se num tribunal, diante dele, de sua autoridade reconhecida. A sala do Alto Conselho tinha um ar de seriedade e devia-se a sua pouca decoração, ao menos tempo que tinha um ar de tranqüilidade, devido a grande iluminação natural que adentrava pelas janelas e pela clarabóia do teto.

O homem mexeu-se na cadeira e Atrius ficou tenso, erguendo um pouco a cabeça para fitar o Sumo Sacerdote. Ele tinha a pele enrugada, os olhos fundos embora dotados de imensa sabedoria, e as mãos grandes estavam sobre a mesa, tocando-se, pois ele não parava de tremer. Problema de idade e controle mental eram o que diziam. Havia uma massa branca sobre a cabeça dele, os últimos cabelos. Ele carregava um símbolo de Odin no peito e no braço sempre estava aquela cota enrolada, com a qual ele sempre era visto. Histórias incríveis já tinham sido contadas a respeito da bravura daquele sacerdote e como com sabedoria Odin o conduziu a liderar seus sacerdotes. Atrius tinha muito respeito ele, era um grande mestre.

Mas desde que chegara naquela sala, aquela admiração tornou-se sufocante. Devia ser o calor da primavera, num daqueles dias abafados em Prontera. A rua fervilhava de mercadores e uma grande feira era realizada perto do castelo. O barulho era tanto que chegava a eles agora como um murmúrio carregado pelo vento, e os pássaros distraiam os sons, cantando.

- Então - começou a Sumo Sacerdote e Atrius o olhou - deitou-se com ela?

Ele ficou corado e respondeu com um aceno de cabeça, para depois dizer: - sim, amei Florette naquela noite, senhor.
- Sabe que as regras de nosso sacerdócio afastam qualquer tipo de contato, não sabe senhor Atrius?
- Estou ciente disso, senhor.
- Não me parece ciente o suficiente.

O silêncio caiu pesado novamente.

Atrius voltou a baixar a cabeça e pensou em Florette. Eles sabiam que as obrigações que ele tanto desejava excluíam o amor que eles sentiam, e de boa vontade eles esqueceram-se disso naquela noite. Fora a três noites atrás, mas Florette parecia impregnada no corpo de Atrius. Ele não conseguia pensar em outra coisa, e estava desconcentrado, somente pensando na noite que tiveram juntos.

Era por isso que estava ali, diante do Sumo Sacerdote, para prestar contas. Ele que tudo via e que tudo sabia graças ao poder de Odin, soubera do que houve com Atrius, que era considerado um grande candidato ao cargo de Sumo Sacerdote em qualquer templo de Odin. Até mesmo ali em Prontera, centro de tudo e de toda a religião.

Ele deveria se envergonhar disso tudo, de ter sua chance jogada fora, de quase por a perder tudo pelo qual lutara durantes anos por uma noite e por uma mulher. Um sorriso saudoso e satisfeito foi aos lábios de Atrius, enquanto pensava na mulher em questão.

- Até mesmo aqui em minha presença, ainda está pensando nisso senhor Atrius?

Corou até a raiz dos cabelos e evitou o olhar do Sumo Sacerdote.

- Perdoe-me senhor.
- Pelo o que afinal?

Atrius o olhou, não entendendo.

- Seguimos regras senhor Atrius, assim alcançamos um contato maior com o divino e Odin se faz a nossa presença. As vezes eu penso que o dia que isso acontecer e Odin vier até nós como dizem as profecias, creio que ele ficara chocado com nosso puritanismo. Se ele que é um Deus faz isso, ama as mulheres, por que nós não o faríamos também?

Atrius não falou nada, chocado.

- Mas regras são regras e elas não se aplicam aos deuses. E o senhor não é um. Quebrou as regras e as conseqüências disso se mostram claras devido sua falta de atenção e preparo para as atividades dos noviços. Eles não podem saber que isso aconteceu, alias ninguém pode saber. Por isso estamos a sós nessa sala.

Ele tinha uma voz rouca, mas falava rápido demais para uma pessoa em sua idade. Os movimentos que faziam com a mão eram suaves mesmo com ela trêmula. Atrius temia pelo seu destino. Ninguém que tinha reunião dessas podia esperar coisas boas, era uma antiga lenda que rondava todas as reuniões com o Alto Conselho.

- Você, senhor Atrius, tem todos os atributos necessários e qualidades insuperáveis que o tornam dignos do que vamos tratar agora. Seu coração é puro e claro, e isso é o que mais desejo em um sacerdote. Admite a mim que ama a mulher, que se deitou com ela e nenhum momento condenou-se verbalmente por isso. Acredito que Florette de Sirene deva ser uma boa mulher para você, se caso não tivesse feito sua escolha pelo sacerdócio. Seu coração e seu amor são impressionantes até mesmo para mim, senhor Atrius, que conheci homens e mulheres que diziam que amavam. Sua total dedicação a essa mulher o torna o candidato ideal.
- Candidato?

Observou o Sumo Sacerdote tirar a cota do pulso vagarosamente.

- Sim, candidato. Existe um poder que somente sacerdotes como nós, apaixonados, podem controlar. Não me olhe assim... quando era mais novo, eu encontrei uma mulher que seria tudo o que eu desejaria além de Odin. Mas eu tinha uma escolha e optei por aquilo que meu coração mais ansiava que era servir Odin. Abandonei-a em Comodo e vim para cumprir meu destino. Da mesma forma que se encontra aqui, com uma escolha. Como eu disse existe um poder que só pode ser controlado pelo coração. Esse poder se manifesta nessa cota, a Cota de Odin. Aqui, o ritmo caloroso de nosso coração dá a cota a energia necessária para agir com poder divino, tornando seu mestre o canal entre o poder de Odin e toda essa terra. Rune-Midgard é grande demais agora para mim, mas não pra você. É jovem e tem o coração cheio do que a cota precisa para aceita-lo como novo mestre e obedecê-lo.

O Sumo Sacerdote parou de falar, para tomar fôlego. Levantou-se da cadeira e vagarosamente veio até Atrius, parando do seu lado, com a cota em mãos.

- Eu tenho desejos e ela também tem. O desejo dela é que o senhor se torne seu novo mestre.
- Senhor, eu...
- Não terminei! - disse o Sumo Sacerdote - Vocês jovens nunca nos deixam terminar? - Atrius abaixou a cabeça - Você é o escolhido para utiliza-la, porque depois que eu me for, não existira ninguém mais capaz e a cota se perdera no tempo. Como guardião dela, não posso deixar que isso aconteça, pois o poder que ela representa ofusca qualquer mal que possa vir a assolar nosso mundo. É uma grande responsabilidade, e um grande poder.
- Não tenho certeza se deve me pertencer tal poder, senhor.
- Posso lhe explicar tudo. Somente se desejar que eu o faça.
- Por favor, me explique.

O Sumo Sacerdote começou a explicar em tom confidencial sobre a Cota de Odin e porque Atrius havia sido escolhido. Ficara fascinado com a descrição, com o poder que representava, com o bem que poderia fazer. Era um visionário. Trocara o amor por uma condição. Fizera uma promessa e não conseguia mantê-la.

Dias depois, Atrius estava nos arredores de Prontera, quando reconheceu Florette vindo em sua direção. Ele teve todas as reações possíveis a presença dela, mas manteve-se oculto sobre uma máscara de indiferença que ferira seu coração ao ver a expressão magoada dela.

- Você foi embora... - disse ela a certa altura da conversa.
- Eu tinha obrigações - ele a corrigiu.
- Ah, claro, suas obrigações... - ela abaixou a cabeça, apertando os olhos com força. - Eu amo você - voltou a olha-lo com os olhos marejados - e espero que não esqueça isso. Eu posso viver com lembranças, mas não com o esquecimento. Você representa tudo para mim, e fico infeliz de saber que não sou... não sou... - afastou uma lágrima com raiva - eu não quero ficar no seu caminho. Eu sei do seu sonho e quero que seja feliz nele, mesmo que isso custe todo o sentimento que tenho por você.
- Flor... você não entendeu... eu tinha obrigações e não pude voltar a falar com você.

Na verdade ele estava com medo de falar com ela e fraquejar. Tinha a cota com ele, e havia feito uma promessa. Estava vivo em sua mente, assim como seu corpo parecia vivo perto de Florette.

- O que há de errado? - perguntou ela, limpando outra lágrima. Ele tinha vontade de abraça-la e dizer que o que estava errado era ele estar longe dela, mas conteve-se apertando a cota entre os dedos. Ela era transparente aos olhos dele.
- Fiz uma promessa, Flor.

E com aquela revelação, ela entendera que a promessa não a incluía e se incluía era pra fora da vida dele. Colocou a mão sobre os lábios trêmulos e não conseguiu deter as lágrimas amargas que rolavam pro seu rosto. Atrius fugiu do olhar dela, mantendo a cabeça baixa, querendo sair dali.

- Por que mesmo agora eu não consigo odiar você? - murmurou Florette. - Ingrato - disse em seguida, querendo se refugiar na raiva para esquecer toda aquela dor.
- Não sou ingrato - olhou para ela, obscurecendo a ternura do seu olhar com indiferença - aquela noite significou muito pra mim. Cada palavra.
- Está mentindo...
- Não estou. Jamais esquecerei o quanto significou pra mim e pra você.
- Mas então porque...
- É uma promessa - ele abaixou a cabeça e ficou com os olhos escurecidos pela sombra do cabelo - não posso quebrar.

Florette ficou em silêncio e não conseguia fazer nada. Tremia tanto que não sabia se ia se suportar ficar em pé e ir embora dali antes que Atrius acabasse de destruir seu coração, ou o que restava dele. Fora feliz encontra-lo e agora estava magoada por vê-lo tão indiferente a seu amor e a tudo. Sentiu que havia perdido Atrius para algo que nem ao menos compreendia, se é que um dia ele foi dela. O pensamento a deixou vazia. Queria saber o que era, como era a tal promessa, mas tinha medo de escutar que era pra ela ficar longe da vida dele.

A raiva que usava como escudo contra aquela dor, sumiu e agora ela sentia uma dor intensa no peito que a impedia de respirar normalmente. Não havia nenhum consolo nas palavras dele, e a forma como ele evitava deliberadamente de olha-la a fazia sentir-se pior. Seu coração tão cheio de amor fora reduzido a frangalhos.

Sem nem mais saber o que fazer, ela levantou-se e cambaleou. Atrius a olhou, uma verdadeira tempestade de emoções cruzava os olhos verdes. Lágrimas corriam pelo rosto de Florette, uma mais pesada que a outra e todas elas acabavam com determinação de Atrius.

Ela virou-se e saiu correndo para trás de uma árvore. O sacerdote levantou-se e sentindo-se um idiota por magoá-la, foi atrás dela e ouviu os soluços que ela tentava abafar. A encontrou sentada entre as raízes da árvore, o rosto coberto pelas mãos delicadas, o corpo sacudido pelos soluços. Ele abaixou-se perto dela e tocou os cabelos macios.

- Vá embora - falou entre soluços - eu já entendi tudo...

Puxou a cota do pulso e a atirou no chão. Foi como se não houvesse nenhuma obrigação, nenhuma promessa, e ele tomou a caçadora nos braços e a consolou, mesmo sendo o causador das lágrimas dela.

- Minha querida - murmurou ele beijando os cabelos violetas. Florette refugiou-se se apertando contra o peito dele e ficou quieta até parar de tremer. Como poucas palavras e uma decisão podiam causar tanto sofrimento, pensou Atrius, acariciando o braço dela. Como ele podia ter feito isso?

- Eu amo você, desde que eu o vi pela primeira vez... - ela confessou e ele sentiu-se o amor que tinha por ela forte em seu peito, sem notar que a cota no chão brilhava em dourado. Ele a apertou, sentindo-se reconfortado com as palavras dela, era como se estivesse com medo de nunca mais poder ouvir isso novamente. E estava. Depois que aceitara a promessa, tinha medo de nunca mais ouvir as palavras doces dela novamente.
- Flor...

E então Atrius procurou os lábios dela e os beijo com amor.

Aquele fora o último contato até Florette aparecer subitamente dias atrás.

Atrius levantou a cabeça e fitou o rosto de Florette. Tinha que aquece-la de alguma forma, e ficando de pé, despiu-se e enfiou-se nos lençóis para abraçar o corpo gélido, e adormecer logo em seguida. De uma forma ou de outra, ele a manteria viva.

O Druida Vermelho olhou pela janela da torre, não vendo nada com seus grandes olhos brancos, sentindo apenas dor em seu braço onde a cota do sacerdote estava presa. Não conseguia remove-la mesmo com o sumiço dele quando foi embora pelo portal. Sua pele escura estava queimada e a cota havia entrado na carne de seu braço.

Olhou para a porta quando o alto sacerdote Dommenicus apareceu.

- Deixou que isso acontecesse - disse ao sacerdote, falando numa linguagem antiga. - A Senhora pretende me enganar de alguma forma.
- Deixou-os escapar - disse o sacerdote não mais com uma voz grossa e rouca, e sim com uma voz feminina e afável. - Deixou minha filha sair daqui.

Ele se aproximou dela, voando, olhando-a com raiva. Observava enquanto o corpo masculino ficava curvilíneo, os cabelos cresciam e cascateavam pelas costas num dourado intenso e as roupas pesadas de sacerdote escorregavam pelo corpo dando lugar a uma outra mais justa e sensual. Ela afastou os trajes com um chute e encarou o Druida, fazendo surgir um imenso cajado em suas mãos. Ele mostrou a ela o ferimento.

- A Cota de Odin - murmurou ela, sem tocar nele.
- Preciso de mais energia - disse ele - não posso combate-los dessa forma.
- Isso não é um problema meu. Eu o invoquei porque tenho certeza que pode com minha filha. Pouco me importo com o que faça com os amigos dela, ou aquela tal de Jack - disse com total desprezo - quero apenas que se livre deles e a traga para mim. Espero não ter que lembra-lo disso a todo instante.
- Não terá mestre.

A bruxa caminhou até a janela que o Druida estivera antes e suspirou.

- Minha filha sabe que eu o invoquei. Ela conhece meu poder, porque o carrega consigo.
- Dói - falou ele olhando para a cota no braço.
- Isso servira para você aprender a não subestimar seus inimigos. Nunca - ela não olhou e um vento gelado soprou pela janela, fazendo os longos cabelos dourados sacudirem no ar. O rosto dela era marcado por sinais mágicos, de um tempo em que as Artes Proibidas ainda tinham lugar na velha Geffenia. Quando foram proibidas por Odin, bruxos foram mortos pelos deuses e ela foi aprisionada em Geffenia pois não poderia morrer. Ergueram Geffen sobre a cidade dos bruxos e fizeram juramento de jamais voltar às demais Artes, e somente trabalhar com as Artes Elementais. Aquela bruxa era especialista em uma Arte há muito esquecida, temida. Ela era o que chamavam de Necromante, e nada mais poderia ser dito. - Lá embaixo a um bando de noviços - olhou para o Druida, os olhos vazios - fortaleça-se que eu mandarei mais pessoas para cá.

Ele sumiu e depois ela escutou os gritos dos noviços ecoarem por Glast Heim. Suspirou novamente. Aquele Druida era o mais poderoso de todos. Poderia muito bem ter dado conta dos amigos de sua filha e ter cuidado dela. Mas como ela poderia saber que a Cota de Odin ainda existia?

Saité sorriu para si mesma. Vyctory não teria que esperar muito para se reencontrar com sua mãe.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre a Promessa e a Flor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.