Entre a Promessa e a Flor escrita por Nymus


Capítulo 4
4 - Os Horrores de Glast Heim




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/158499/chapter/4


Zanzar Ten procurou Florette com os olhos e não havia sinal dela e muito menos de Hórus. Ficou segurando a mensagem na mão e olhando para a direção onde ela estava, até ver um portal se abrir e um jovem noviço pular dele, ensangüentado. Aproximou dele, junto com a multidão que se formava a sua volta, e o rapaz gritava apavorado.

Uma sacerdotisa surgiu, abrindo espaço na multidão, seguida por um cavaleiro. Ela vestia roupas claras, diferentes das roupas de viagem que as sacerdotisas costumavam a usar. Havia um martelo desenhado em suas roupas, e Zanzar soube que se trata de uma Alta Sacerdotisa do deus Thor.

- Pra onde as levou? - fez a pergunta direta e o bruxo prestou atenção. Elas? Rezou para que Florette não fosse uma delas. - Responda - inquiriu, a voz dura.

O noviço caído no chão olhou para ela, com lágrimas caindo dos olhos e lavando o sangue que pintava seu rosto.

- Ele disse... ela falou que ia soltar a minha família... ele me obrigou!
- Ele quem? - perguntou dessa vez o cavaleiro, fazendo com que sua presença fosse notada pela armadura brilhante e a longa espada que carregava na cintura.
- O Druida... - o noviço choramingou. - ele me mandou fazer isso...

A sacerdotisa olhou para o cavaleiro e eles trocaram olhares, se comunicando por eles.

- Glast Heim? - perguntou ela, olhando novamente para o noviço.
- Sim...

E para Zanzar Tem tudo fez sentido. Dias atrás, Sancho havia dito que estivera em Glast Heim, por ter comprado um portal de um jovem noviço em Geffen. Mas a habilidade com a katar o tirara de lá com vida por três vezes, as três que fora enganado. Zanzar não sabia se Florette podia suportar tanto tempo naquele lugar.

- Quem ele mandou para lá? - Zanzar se viu perguntando a Sacerdotisa.
- Uma maga e uma caçadora. Foi pouco antes de agirmos - disse ela, lamentando. A voz dela, melodiosa e calma flutuava na mente dele, com a palavra: caçadora...
- Abre portal pra Prontera - pediu a ela.
- O que vai fazer bruxo?
- Ir buscar ajuda e tirar minha amiga de lá.

Sem precisar de nenhuma gema, a sacerdotisa estendeu a mão e criou o portal, atrás as roda de curiosos que se formara em torno do noviço choroso. Ele empurrou a multidão e entrou no portal, saindo na praça central de Prontera.

Prontera estava nunca estivera tão alvoroçada. Pessoas corriam e gritava sobre Andarilhos, e a trombeta que anunciava a cavalaria de Prontera soava alto por toda a cidade. Teve tempo de desviar de cavaleiros em Peco Pecos, que passaram por ele com lanças em punho indo para os portões. Ouviu gritos e choros, pessoas falando que três Andarilhos haviam massacrado simples mercadores que estavam as portas da cidade, fazendo suas boas vindas a todos que chegavam para visitar a capital.

Zanzar afastou-se por uma rua pouco movimentada, saindo da confusão antes que acabasse bem no meio dela. Foi procurar Atrius perto da funcionária Kafra com a qual ele habitualmente tratava, e o encontrou sentado num banco, olhando para baixo como se estivesse preocupado com alguma coisa. Logo avistou Lier, Vyctory e Jack Diovanni com ele. Pareciam que estavam se preparando.

- Zanzar! - Lier o cumprimentou, parecendo feliz por ver o bruxo.

Atrius ergueu os olhos verdes e fitou o rosto de Zanzar por longos minutos. O bruxo desviou do olhar sondador e cumprimentou a cavaleira e o outro mercenário.

- A Florette não estava com você? - perguntou Jack buscando a caçadora entre as pessoas que passavam atrás de Zanzar. - Ela avisou que iria para Geffen.
- Bruxo egoísta! Deve ter comprado um portal e deixou a minha irmã lá - comentou Lier, cruzando os braços e olhando para ele.

Zanzar ficou nervoso. Ele não fazia idéia de onde estava Florette, embora tivesse uma "quase" certeza que ela estava em Glast Heim. Mas o que ia falar? Não sabia o que dizer, e sabia que o irmão dela e Atrius, acima de todos, ficariam desesperados quando ele revelasse suas desconfianças. Nem ele mesmo queria acreditar que sua amiga pudesse estar sozinha num lugar tão tenebroso como aquele. Olhou para Atrius, e ele ainda o olhava com muito interesse, apertando as cotas do colar que sempre levava ao braço, mostrando-se tenso.

De alguma forma, ele sabia. Podia se ver nos olhos dele, um brilho estranho e perturbador. E Zanzar se deu conta que o que havia visto no último Festival de Munak e Bongun não fora imaginação de sua mente, o agora sacerdote havia tomado a caçadora para si e repetira vezes seguidas que sempre saberia o que havia com ela, porque agora tinham um laço.
Aquilo era constrangedor, e ele ficou corado por saber de tamanha particularidade.

- Onde está Florette? - Atrius perguntou, ficando de pé. O olhou, despertando do passado e recuperando sua postura.
- Bem... acho que ela está em Glast Heim!
- Glast Heim? - Lier quase gritou - O que minha irmã está fazendo lá?
- Um noviço... abriu portal para lá, e acredito que a Flor foi pra lá.
- Como? - Atrius perguntando, deixando aa cota cair de suas mãos, ficando pálido.
- Eu não sei o que aconteceu. Eu fui responder sua mensagem e quando voltei, ela havia sumido.

Uma cavalaria passou por eles, seguindo pela rua em direção ao portão sul, onde os Andarilhos continuavam fazendo vitimas. Eles poderiam ajudar, mas ao verem Atrius sério, tirando uma gema azul da algibeira, souberam que ele havia decidido por todos. Abriu um portal para o castelo mal-assombrado e todos entraram nele.

- Glast Heim é tão sombrio - comentou Vic, sacando a espada e olhando para a edificação a sua frente que se erguia majestosamente entre as brumas.

Haviam surgido na porta do castelo, e olhando em volta, viram-se sozinhos naquele lugar maldito. Não havia som algum, que não fosse a respiração acelerada de Jack e a magia de proteção que Zanzar usara nele mesmo. Atrius olhou para o castelo, imaginando onde Florette poderia estar. Ele sabia que ela estava lá, em algum lugar e não conseguia deixar de se preocupar, mesmo sabendo que ela era uma ótima caçadora e que Hórus nunca deixaria de lutar ao lado dela, mesmo assim... aquele lugar era maldito. Fez uma prece rápida pedindo pela segurança dela e que Odin o abençoasse com sua imensa sabedoria, antes de tomar a liderança do grupo e empurrar a imensa porta dupla. Dentro de Atrius havia um misto de agonia e preocupação, que piorou quando um vento gelado soprou de dentro do castelo, fazendo-os estremecer. Nem sabia o que faria se encontrasse Florette ferida...

Entrou no castelo, atento as sons para que soubesse onde sua Florette poderia estar. Seguiram pelos corredores pouco iluminados sem encontrar nenhum inimigo. Passaram pelas escadarias e exploraram o primeiro andar sem muito sucesso de descobrir o que estava acontecendo por ali. Até mesmo as criaturas que viviam em Glast Heim não haviam aparecido.

Optaram pelas escadas e subiram para o outro andar. Passaram por um corredor, notando as estranhas formas das paredes, quase saltadas para fora, mas não tiveram tempo de ver direito do que se tratava, pois duas armaduras que não protegiam nada que fosse visível, presos as paredes, atiraram neles.

Lier e Jack, que haviam erguido os panos que levavam ao pescoço para esconderem seus rostos, como mandava a tradição da guilda dos mercenários, saltaram ágeis para destruir os inimigos presos. Não tiveram dificuldades, e logo os arcos caíram no chão e as armaduras foram totalmente absorvidas pela parede.

Zanzar Ten ergueu a mão e tocou a estranha parede sem medo, seus olhos brilhando e a ponta de seu poderoso cajado iluminando o corredor. Afastou-se, ainda olhando para a parede e olhou para os companheiros de grupo.

- Magia! - disse ele - Ira da Terra. As coisas presas a essa parede não sairão daí, ao menos que o invocador seja morto.

Continuaram andando, cada um com pensamentos sombrios sobre o que estava acontecendo por ali, afinal, até mesmo as criaturas que viviam ali estavam sendo afetadas por alguma espécie de magia poderosa e que ignorava quem seria afetado. Zanzar como poderoso bruxo que era, nunca vira a magia ser usada para esses fins e nem sabia como aquilo estava acontecendo.

Chegaram a um grande salão, com tapeçarias puídas nas paredes e os longos vitrais sujos, onde uma luz colorida iluminava o chão. Não havia nada naquele lugar, somente um pesado e estranho cheiro de sangue. Adentraram a sala, atentos a qualquer movimentação suspeita, até ouvirem Vic gritar. Apavorada, ela apontou pro chão com a sua espada flamejante.

- Mas o quê...? - Jack afastou-se para notar que o chão de toda a sala era quase transparente, como se andassem por sobre blocos de gelo. Abaixo do piso que imitava pedras como as das demais salas, havia aventureiros presos, com expressões de horror em seus rostos contorcidos. Os corpos pareciam frágeis, cercados por uma pedra marrom, que cercava os corpos em posições terríveis. Era a coisa mais horrível que ele tinha visto em toda a sua vida. - O que é isso?

Ninguém respondeu, olhando quando ele se ajoelhou e enfiou sua katar entre as pedras, tentando remover uma. Quando conseguiu, um cheiro pútrido invadiu a sala, e ele cobriu o rosto com a pano que levava ao pescoço, sem se incomodar e continuou removendo as pedras. O aventureiro parecia morto a seus olhos, mas ele não desistiria até tira-lo totalmente de lá. A cada pedra tirada do lugar, o ar da sala ficava ainda mais pesado e quase insuportável. Assim que terminou, arrebentou a pedra que cercava o espadachim e o puxou para cima.

O corpo dele estava coberto por manchas enegrecidas, sangue pisado e o rosto estava pálido. A pele estava gelada e um pouco mais que isso, ele juraria que se tocasse no aventureiro poderia partir seu corpo em pedaços. Olhou para Atrius, que estava olhando para cima, como se soubesse de algo que estava lá, mas então o sacerdote o olhou, e balançou a cabeça.

- Cura! - Atrius ergueu a mão na direção do espadachim e uma energia verde surgiu no ar e runas brilharam, fazendo com que ela caísse como uma cascata sobre o corpo ferido. Ele despertou, e um grito abafado saiu de sua boca de lábios secos e arroxeados. Tentou se levantar e Jack o impediu.
- Calma... calma - pediu.

O espadachim se sacudia no chão, o corpo movido por espasmos, as mãos de dedos contorcidos erguiam-se e os dedos mantinham-se parados na mesma posição. Abriu os olhos, e estes não tinham vida, cobertos por uma capa branca sobre a íris.

Vic afastou-se, com a mão no ventre e foi até uma janela. Usando sua espada, partiu um vitral e uma brisa entrou no salão, afastando um pouco o cheiro pesado dela. Ela manteve a cabeça para fora, querendo tomar ar e esperando que aquela sensação desagradável passasse.

- Tira... tira... - o espadachim murmurou apavorado - lá - apontou para o teto com as mãos. Jack não tirou os olhos dele, enquanto Atrius e Lier olhavam para a direção apontada. O teto era alto, feito com madeira e pedras. Não havia nada além disso.
- Mais um andar? - perguntou Lier.
- Não vi escadas... - Atrius respondeu e então olhou para a direção por onde haviam vindo - preciso encontrar Florette - murmurou.
- E quanto a ele? - Jack levantou, quando o espadachim voltou a desmaiar - Não podemos...
- Preciso achar Florette - Atrius olhou para Jack, e estremeceu, tomando todos de surpresa, inclusive ele. O olhar dele perdeu-se e então voltando a si, olhou para os amigos - ela sabe que eu estou aqui - disse com tanta certeza que Lier e Jack ficaram abismados.
- Não podemos - repetiu Jack.
- Atrius tem razão - disse Vic, aproximando-se deles - Florette pode ficar como eles senão a acharmos. E Zanzar disse que a magia pode ser removida se o invocador for morto. Temos que encontra-lo.
- E se a Flor estiver aqui? - perguntou Jack - como saber que ela não está?
- Ela não está aqui - respondeu Atrius, abaixando a cabeça. O cabelo verde cobriu o rosto dele, fazendo sua expressão parecer misteriosa. Abençoou cada um deles e os deixou mais rápidos - desculpem-me - murmurou, antes de sumir.
- Pra onde ele foi?
- Ele foi atrás da Florette - respondeu Lier com uma voz profunda.
- Ah, o amor... olha o que ele faz com aas pessoas - resmungou Zanzar Ten.

Atrius surgiu no hall de entrada do castelo, e buscou por uma escada que levasse ao outro andar. Encontrou-a escondida, sua forma igual a parede onde estava presa. Alcançou os degraus e subiu, pegando seu colar de cotas do pulso, furioso porque sabia que Florette estava ferida. Ouvia as vozes dos amigos ao longe e mesmo assim, não se sentia com remorso por tê-los abandonado e ido atrás dela. Eles não poderiam entender o que havia entre eles, ninguém poderia.

Chegando ao outro andar olhou pelo corredor, e viu um Druida Maligno passando por entre os salões, como se não o tivesse visto ali. Apertou com força a cota que tinha nas mãos, e foi na direção dele, bem atento. Ao encontra-lo, não demorou muito até que usasse sua magia divina e expulsasse a criatura para um lugar onde ela jamais poderia perturbar os habitantes de Rune Midgard novamente. Em seu caminho por aquele andar, ele encontrou mais três Druidas, e com a mesma facilidade, os mandou embora.

Ele chegou a uma escadaria que havia no final do corredor. Havia ignorado portas e salões, sabendo que Florette estava no final daqueles degraus. Sem mais hesitar, ele subiu para o que seria uma espécie de torre e ao final da escadaria, a porta estava entre aberta. Espiou por ela, e seu coração disparou ao ver Florette aprisionada em uma pedra, a cabeça tombada, os cabelos violeta ao vento forte que soprava de alguma janela por onde também entrava a claridade da sala. Ao lado dela havia uma maga também aprisionada e ficou surpreso por encontrar Alice, uma das habitantes daquele lugar maldito presa a parede, como as armaduras que encontrara na porta.

Sem mais demorar, entrou no aposento vazio e foi até ela.

Vic girava a espada com incrível habilidade e ganhava força para atacar as novas névoas que surgiam. Os mercenários estavam atacando Druidas que haviam aparecido, provavelmente atraídos com as vozes, e Zanzar Ten criava muralhas de fogo, impedindo o acumulo de inimigos sobre eles.

A nevoa se desfez diante de Vic, e ela correu para atacar outra que vinha pelo corredor. Com a agilidade ainda alterada por causa da benção de Atrius, ela saltou e sua espada flamejante deixou um rastro de luz quando passou pelo ar indo na direção a nevoa. Parecia uma dança, com sua rapidez mortal, a espada flamejante, os cabelos dourados como raios de sol e a armadura brilhante e intacta. Com a luz colorida dos vitrais, Vic dançava entre as nevoas, acabando com elas com incrível rapidez.

Quando já não havia mais inimigos naquele salão, um portal surgiu, e Vic olhou para ele, com a espada em punho. Noviços apareceram, seguidos por um sacerdote.

Ele deu um passo a frente e mostrou-se arrogante ao observa-los como se fossem meros aprendizes naquele lugar. Então olhou em volta e não pareceu surpreso com o que encontrara ali.

- Onde está Atrius? - ele perguntou, a insolência na voz, atingindo o grupo como um soco.
- Quem é você? - perguntou Lier.
- Sou do Alto Conselho de Prontera. Exijo saber onde está o senhor Atrius.
- Vamos embora - disse Lier, dando as costas ao sacerdote. - Nosso amigo precisa de nós, e não ele - falou se referindo ao sacerdote com ironia.
- Senhor, se é mesmo Alto Sacerdote, faça algo por essas pessoas - pediu Jack - viemos ajudar Atrius e é isso que vamos fazer.

O sacerdote lançou um olhar gelado a eles, quase cruel. Os observou se afastarem, e então deu instruções aos noviços em como tirar aqueles aventureiros daquela armadilha. Depois, voltou a Prontera, usando um portal.

Voltaram ao hall de entrada e acharam a escada escondida. Ouvindo gemidos, apressaram-se. Seguindo os gemidos, eles entraram num outro salão e lá ficaram abismados.

Parte da parede ruíra e ventos maliciosos sopravam com força. O chão ruíra também naquele canto do salão, mas essa falha não era percebida por quem olhasse o salão no andar debaixo. Ao que parecia, aquela parte que desaparecera era a saída para um solar aberto, embora ele também já não mais existisse. As tapeçarias balançavam na parede, e o vento uivava entre as inúmeras pedras que aprisionavam aventureiros pela sala. Pareciam esculturas altas, onde aventureiros jaziam desmaiados dentro delas.

- Grande Thor - murmurou Vic, baixando a espada e passando entre as pedras, observando os aventureiros. Estavam da mesma forma que o espadachim que Jack havia soltado, a pele do rosto pálida, os lábios roxos, machas enegrecidas pelas partes do corpo que eram visíveis.

Lier aproximou-se de uma pedra que prendia uma mercadora. Tocou-a, sentindo a pele gelada. Os braços estavam para trás, presos a pedras. A cabeça dela estava tombada pra frente, e ela estaria caída no chão se não fosse as mãos prendidas. Aos pés dela, havia um esporo morto, usando uma saia havaiana.

- Faz tempo que estão aqui - comentou ele - o pet está morto.
- Seja lá o que estiver fazendo isso, é tenebroso.
- Vamos ver se minha irmã está por aqui - disse Lier, iniciando uma busca entre as pedras. - Fiquem de olhos bem abertos.

Vic assentiu com a cabeça, e junto com os demais, iniciou a busca. Procurou e nenhuma delas era Florette. O vento soprou pela parte ruída fustigando os cabelos dela e pro curiosidade, ela se aproximou para olhar. Daria uma bela vista senão fosse pela bruma densa que cobria Glast Heim.

O vento soprou novamente e o aviso de Jack perdeu-se nele.

Sentiu que alguém vinha correndo em sua direção, e seus sentidos alertas, a fizeram virar e ver um Jakk abrindo os braços. As garras que eram as mãos dele vinham para feri-la, embora carregasse uma bengala em uma das mãos. A cabeça de abóbora tinha um aspecto maligno, com um sorriso maldoso - se é que ele sorria. Suas intenções eram claras e Vic não teve reação quando ele lançou-se sobre ela, e a empurrou rumo a falha que ela observava.

O chão desmoronou aos pés dela, devido ao peso extra, e Vic sentiu o corpo indo para trás, lançada aos ares. Ergueu a mão livre numa última tentativa para se segurar em algo, mas as pedras escaparam de seus dedos. Achou que seria o fim, até ver a mão de Jack surgir e a segurar pelo pulso.

A velocidade com a qual Jack se movia, às vezes assustava até os amigos. Ele vira Jakk surgir das sombras projetadas pelas pedras e gritara. Sabendo que Vic não ouvira, pulara sobre as pedras em grande velocidade e alcançara o lugar onde ela estava em segundos. Pulara e agora a segurava pelo pulso.

A parada brusca fez Jakk escorregar pela armadura de Vic e cair. Habilidoso, usou a bengala com a ponta curva e a prendeu na bota da cavaleira. Ficou pendurada nela e começou a gargalhar.

Vic ficou presa no olhar seguro que Jack a lançava, desejando que ele a olhasse assim em outras situações e não naquela. Ela escorregou e ele forçou a pressão no pulso dela. Olhou para baixo e viu o Jakk preso a ela.

- Não faça movimentos bruscos! - ele a instruiu, ouvindo o som de uma batalha a suas costas. Os amigos ficaram ocupados com algum habitante do castelo, deixando a ele a missão de resgatar Vic.

Ela escorregou mais um pouco.

- Me solta Jack, ou caíra comigo - gritou ela a pleno pulmões.
- Não posso fazer isso! Não posso deixa-la cair, ou minha vida não terá mais sentido! Se cair, eu pulo atrás de você!

Era uma situação inusitada!

Assim como o pai de Vic dissera quando ela era apenas uma aprendiz, ela virá que suas palavras eram sábias. Ele dissera que as pessoas que tem medo de amar ou de se entregar a qualquer sentimento que acabe em amor, admitem que amam as outras em situações inusitadas. Aquela era uma delas.

Pendurada a muitos metros do chão, Vic não se importou em cair, não agora que ouvira aquilo. Mas então uma outra força tomou conta dela e agora que reconhecia o brilho apaixonado no olhar do mercenário pensou que deveria lutar apenas para ter aquela certeza. Olhou para o Jakk pendurado em sua bota e lançou sua espada flamejante nele, mesmo sabendo que tinha poucas chances que a lâmina mágica fizesse algo nele. A espada atravessou o corpo dele com facilidade e o cabo chocou-se nele, e ele escorregou, sendo envolvido pela bruma juntamente com sua espada. Voltou a olhar para o mercenário e ele tinha aquele sorriso carinhoso nos lábios.

Com a ajuda dela, Jack conseguiu traze-la para cima. Sentou no chão e abraçou, cercando-a com as pernas. Vic ficou encolhida junto ao peito dele e não ousou se mexer, para que aquele momento tão especial não se desfizesse.

- Está tudo bem? - perguntou ele suavemente, tocando os cabelos dela com os lábios para um beijo.
Ela fez que sim com a cabeça - Você realmente pularia atrás de mim?
- Claro que não! Acha que eu sou louco? - Jack Diovanni deu uma gargalhada.

Vic debateu-se nos braços dele, magoada. Jack a acalmou e então segurando o rosto dela com as duas mãos, sorriu.

- Eu não a deixaria cair minha querida... tenha certeza disso.

Mesmo a contragosto, ela teve certeza.

Lier guardou a katar e olhando para Jack e Vic naquela posição tão intima, ficou sem jeito sobre o que fazer. Já Zanzar, não. Aproximou-se dele e pigarreou alto, os acordando. O som de asas veio pela janela, e Jack ajudou Vic a se levantar. Eles ficaram prontos pelo o que viria, quando viram Hórus surgir, carregando a espada flamejante de Vic nas garras.

- Hórus! - Lier o chamou, fazendo um movimento com o braço para que a ave pousasse nele. Hórus soltou a espada e pousou com cuidado. Lier olhou para os amigos - ele pode-nos dizer exatamente onde está Florette.

Atrius segurou o corpo gelado de Florette assim que conseguiu soltá-lo da pedra. Ela caiu em seus braços, desmaiada e seminua. Ele abaixou-se e a deitou sobre uma de suas pernas, e a virou. A cabeça dela tombou para o lado e ele observou a extensão de machucados no corpo dela. Ela estremeceu e ele acabou por toma-las nos braços e deixa-la protegida entre seu corpo e seu casaco longo.

- Flor... acorda - ele tocou o rosto dela, onde uma macha negra tomara conta do queixo. Os lábios roxos pareciam ainda mais delicados e a expressão que ela tinha no rosto o deixava aflito. - Cura! - soltou a magia sobre ela, para poder acorda-la.

Ela estremeceu novamente e sua mão segurou o braço dele com uma força fora do comum. Abriu os olhos, mostrando-os iguais ao do espadachim, e seus lábios pronunciaram alguma coisa embora não houvesse som algum.

Ele a abraçou com força querendo aquece-la. Sentiu um grande vazio começar a dominar seu corpo. Fechou os olhos, retendo as lágrimas por ver Florette dessa forma, sentindo-se culpado de alguma forma por não estar com ela no momento. Jamais teria deixado que algo como isso acontecesse. Abriu os olhos marejados, e Florette ainda estava acordada.

- Querida... meu amor... - ele murmurou - vou te levar daqui e cuidar de você.
- Atrius? - ela falou tão baixo que ele teve que aproximar o ouvido dos lábios dela. - ... com medo... me abraça... favor...

Abraçou-a com força, desejando que ela pudesse sentir seu toque. Ela ficara inerte em seus braços, agora desmaiada novamente. Ficou apavorado quando a olhou ela parecendo morta em seus braços, enregelada, a ponta dos dedos roxos, a pele machucada por cortes e manchas.

Ele se ergueu e tirou a capa, cobrindo o corpo da caçadora e a pegando no colo depois. Nesse momento, Hórus entrou no lugar, trazendo os amigos dele consigo.

- Flor? - Lier se aproximou de Atrius e viu a irmã desmaiada.
- Vamos embora daqui - disse Atrius, furioso. - Vou cuidar dela e depois volto para acabar com quem tenha se atrevido a fazer isso a ela.
- Pegaram até Alice - comentou Zanzar. Atrius tirou uma gema azul do bolso e quando foi usar, olhou para a sombra que se movimentava num canto do aposento. O enorme Druida Vermelho se mostrou, um estranho sorriso satisfeito no rosto dele. Os cabelos vermelhos e ele tinha um forte cheiro de sangue. Eles se espantaram com a forma do Druida, dificilmente acreditando que se tratasse de um druida normal, algo como o que eles já havia enfrentado antes.

- Foi você!

Ele riu, uma risada diabólica espalhando-se no ar.

- Vou acabar com ele por ter feito isso a minha irmã! - disse Lier, sacando a katar com agilidade.
- Não Lier, espere - Atrius tentou avisa-lo, mas era tarde. Lier pulou para atacar o Druida e os demais, fizeram o mesmo.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!




Hey! Que tal deixar um comentário na história?
Por não receberem novos comentários em suas histórias, muitos autores desanimam e param de postar. Não deixe a história "Entre a Promessa e a Flor" morrer!
Para comentar e incentivar o autor, cadastre-se ou entre em sua conta.