Entre a Promessa e a Flor escrita por Nymus


Capítulo 2
2 - Sentimentos Mútuos




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Dias passaram-se e nenhum deles se viu novamente. Florette recusava-se a demonstrar sua tristeza e Atrius que estava com ela em seus pensamentos. Os demais amigos notaram que havia algo errado com eles, quando iam visitá-los, mas nada falaram, pensando se tratar de outros problemas, que não fossem aquele amor que sentiam. Para todos, estava claro que ambos haviam desistido de alimentar o sentimento que em nada resultaria.

Caçando dokebis, Florette sentou-se a sombra de uma árvore para descansar e olhou para o arco. A carta Múmia que estava nele havia sido presente de Atrius, quando eles foram a Pirâmide de Morroc, certa vez. Lembrava de vê-lo abaixar o cetro e pegar um objeto entre as faixas apodrecidas. Mostrou a carta a ela e sorriu.

- Uma carta - disse, indo até ela e entregando-a - fiquei com você. Pode precisar mais do que eu.
- Atrius... - ela suspirou, pegando a carta e sentindo ele tocar a mão dela com carinho. - Obrigada - aproximou-se dele e beijou nos lábios.

Ele ficara corado e sem jeito, e rira sem graça pelo gesto dela. Depois segurara na mão dela e sorrindo, a levou para caçarem mais múmias.

- Florette?

Ouvindo o chamado de Vyctory, Florette despertou e olhou para a guerreira.

- O que foi? Por que está olhando tanto para seu arco?
- Por nada... Só estou olhando.
- O que houve? - Vic sentou-se ao lado dela e a olhou - Você anda muito triste.
- Não tenho nada...
- Claro que tem! O que foi?
- Eu não consigo esquece-lo - murmurou e fechou os olhos, sabendo que Vic sempre fora contra esse relacionamento que todos sabiam que em nada daria. - Toda vez que fecho os olhos, é ele que eu vejo.
- Ora - Vic bagunçou o cabelo dela - você vai superar isso... Você vai ver!
- Vou? Mal posso esperar - a voz quase não saiu.
- Venha, você precisa melhorar... além do mais, acho que eu vi Bill por aqui - piscou maliciosa.





Prontera estava cheia de mercadores. Alguns itens utilizados por aventureiros estavam com preços acessíveis e agora a cidade estava com excesso de pessoas. Fora dos portões altos e seguros, havia uma batalha, e as energias e interesses, tentavam mais uma vez ganhar uma da outra. Eram cinco horas da tarde e os sinos tocaram da catedral, avisando a todos que a noite cairia silenciosa e que aqueles que compartilhassem a fé em Odin poderiam rezar.

O Sacerdote Atrius olhava-se no espelho tosco que tinha no seu quarto. O cabelo verde estava molhado e grudava no rosto dele, escorrendo água. Estava nu, pois havia acabado de sair da tina de água quente e iria se trocar para fazer suas orações. Mas algo o atraiu para o espelho e raramente ele se olhava. Tinha medo de se ver com os olhos tristes, ou sem vida. Não queria registrar uma imagem sua dessa forma. Jamais poderia se concentrar novamente se o fizesse.

Agora, tudo o que via não o assustava. Os olhos verdes não tinham mais brilho e eram frios. Não havia tristeza neles, pois preferia um olhar frio a mostrar sua tristeza. Afastou o cabelo e depois, riu sozinho. Parecia um bobo olhando-se, como se pudesse fazer algo para mudar sua expressão apática e a vida em seus olhos.

Afastou-se do espelho.

Tinha certeza que se falasse o nome dela, seu rosto teria vida. Ele mesmo se sentiria feliz. "Ah, tenho que parar com isso" pensou, enquanto passava a tolha felpuda pelos cabelos. Agora sabia que ela não viria mais atrás dele, não depois da forma que terminaram há dias atrás.

Sentia-se terrivelmente culpado... Mas muito, muito feliz. Não devia, pois sua profissão exigia o controle total de seus pensamentos e que tipo de controle teria se não conseguisse deixar de pensar nela? Tinha que orar e Odin a tiraria de sua cabeça e com sorte, Freya de seu coração. Seria melhor para os dois. Tinham caminhos diferentes a seguir e não havia possibilidade de ficarem unidos.

Vestiu uma túnica rústica e foi até a varanda de seu quarto. Os ventos de fim de tarde o atingiram, suaves e perfumados com as especiarias de Morroc. Ele debruçou-se sobre o parapeito e observou o movimento da cidade que nunca parava ao longe. Mercadores sempre visitavam Prontera e o mercado de armas nunca descansava. Sem poder evitar, ele buscava-a entre os presentes, na esperança de vê-la ao menos mais uma vez.

Quando ela partiu, quase correra atrás dela. Não sabia se era covarde ou se a promessa ainda estava de pé. Não fora atrás dela, embora tenha ficado de pé e vê-la sumir na multidão. Havia gritado por ela, mas não tinha sido escutado.

Estava pensando nela novamente.

Voltou para o quarto e terminou de arrumar suas coisas. Saiu e pediu que alguém fosse tirar a água da tina do seu quarto. Dirigiu-se ao santuário e começou a orar. Tinha muito o que fazer e muito a tirar de sua mente.

Quando despertou, levantou-se e viu a Campeã de Tyr, que tinha o nome mortal de Beauty, sentada em um banco do corredor, esperando por ele. Foi até ela e sorriu, segurando as mãos suaves entre as suas.

- Beauty, estou feliz em vê-la.
- Posso dizer o mesmo - ela falou, sorrindo enquanto Atrius sentava-se a seu lado.
- No que posso ajuda-la?
- Noviços tem enganando aventureiros, abrindo portais para Glast Heim, dizendo se tratar de portais para as localidades pedidas. Todos sabemos que Glast Heim é um lugar perigoso e assombrado. Não é certo enviar essas pessoas para lá.
- Sim, tem razão. Vou falar com o Alto Conselho de Prontera e ver a posição deles quanto a isso.
- Sabia que podia contar com você. Não deixaria que essa situação piorasse.
- Não devemos deixar que piore. Prometo que vou falar com eles... Se me concederem uma audiência.
- Certamente que conseguirá.
- Vamos ver se consigo agora - ele se levantou, e Beauty o seguiu. Passaram por dois prédios, até chegarem a um jardim para depois entrarem em um outro prédio mais baixo.

Ela nunca tinha estado ali, e ao que parecia, Atrius conhecia bem caminho.

No grande hall aberto e florido, ele solicitou uma audiência para uma Kafra e ela sorrindo, atravessou a porta dupla levando a solicitação dele entre os dedos. Atrius olhou para Beauty e lembrou-se que a Campeã não podia ser vista pela assistente.

Enquanto aguardava sua solicitação, Atrius colocou as mãos nas costas e varreu o lugar com os olhos, nunca cansando da beleza verde que aquele lugar possuía e a forma que todos os moveis estavam dispostos fazendo o ambiente amplo e calmo. Olhou distraído para as flores coloridas, que saiam dos vasos dispostos por toda a sala. A cor violeta o atraia, e delicadamente tocou uma pétala, sentindo sua suavidade. Admirava a cor que elas exibiam, a mesma cor do cabelo dela.

- Senhor Atrius?

O sacerdote o chamou, tinha acabado de vir pela porta dupla. Aproximou-se e tocou-lhe o ombro.

- Senhor Atrius? - repetiu.

Atrius pareceu acordar, afastando as mãos rapidamente das flores violetas e as colocando para trás.

- Distraído não? - disse o sacerdote o encarando.
- Um pouco - respondeu evasivo.
- O senhor sabe da importância de manter seus pensamentos em total controle em prol daquilo que quer? - perguntou, seco.

Ele abaixou os olhos, sentindo-se envergonhado e culpado por ter sido flagrado num momento como aquele. No momento que pensava em Florette. Sabia que estava perdendo o rumo dos pensamentos, e se talvez nunca mais a tivesse visto, ou tocado ou a beijado, tudo estaria melhor. Tudo tinha que voltar ao controle, não podia continuar assim.

- Sei sim senhor. Apenas distração - falou, olhando seriamente para o homem.
- O que o traz até o Alto Conselho?
- Solicito uma audiência com os Grandes Sacerdotes.
- Sim eu sei. Qual é o problema?
- Jovens noviços tem aberto portais para a cidade esquecida de Glast Heim, em troca de dinheiro.
- Ora, isso não é tão sério! - o sacerdote colocou as mãos para trás e olhou para Atrius - todos sabemos que existem aventureiros que arriscam suas vidas naquele lugar. Nada mais natural que pedirem portais para lá.
- Não seria grave senhor, se os noviços não estivessem enganando as pessoas. Abrem portais para Glast Heim e os vende como se fossem para qualquer cidade habitada.
- O que está dizendo? Que há enganadores entre os noviços?
- Sim senhor, é o que estou dizendo. Acredito que seja algo que somente o Alto Conselho possa resolver.
- Oh entendo - o sacerdote coçou o queixo e então olhou para a janela, vendo que a noite caíra em Prontera. Voltou a encarar Atrius. - Falarei pessoalmente desse problema com os professores e com o Alto Conselho. Será notificado do processo, senhor Atrius.
- Agradeço sua preocupação com o caso.
- Não há o que agradecer. Qualquer coisa que manche a imagem dos noviços e sacerdotes deve ser informada imediatamente. Se notar algo errado, não hesite em me contar.
- Certamente.
- Tenha um bom descanso, Atrius.
- O mesmo para o senhor.

Ele observou quando o sacerdote foi embora pela porta dupla e então se virou para Beauty, que se mantinha alheia a conversa deles, apenas o olhando com sua presença sobrenatural. Ele já estava acostumado as visitas de Beauty, uma vez que quando humana, Beauty seguiria pelo caminho da fé, até ser escolhida por Tyr.

- E então?
- O Alto Conselho será avisado.
- Agradeço-lhe tanto!

Atrius apenas sorriu. Beauty o acompanhou pelo jardim, seguindo para o salão de refeições.

- Como descobriu isso sobre os noviços? - perguntou Atrius, depois que ambos estavam sentados as mesas compridas, apreciando a comida oferecida. - Certamente alguém te falou, não acredito que possa precisar de portais.
- Sim, Sancho me falou - ela sorriu - foi enganado três vezes, por noviços diferentes em lugares diferentes. Aqui mesmo em Prontera, em Morroc e em Geffen.
- É uma pena que alguns de nós abusem dos poderes concedidos pelos deuses.
- Sim, é vergonhoso.

Ficaram em silêncio durante algum tempo jantando e ouvindo os comentários dos noviços que estavam também jantando no mesmo salão. Falavam das aulas e da forma dura que algum deles eram tratados, e de como sentiam falta dos amigos quando eram colocados em reclusão por algum motivo que não agradasse ao Alto Conselho de Prontera. Os dois não poderiam deixar de dar razão em alguns dos aspectos apresentados pelos noviços. Eles mesmo sabiam que a doutrina exigia muito deles. Atrius era exorcista, e quando viva, Beauty treinava para a academia de monges. Eles eram diferentes entre eles, mas tiveram a mesma educação no santuário de Prontera, que quase não mudava mesmo passado tantos anos.

- Você sempre é tão reservado... - comentou Beauty do nada - e se distrai tão facilmente. Aquele sacerdote notou isso apenas de olha-lo.
- Eu sei - murmurou ele - mas estou bem. Nada que não possa controlar...
- Ou superar...

Atrius a olhou surpreso pelas palavras usadas e pela certeza imposta nelas, mas escondeu-se atrás de uma máscara de indiferença invejável. Não devia se sentir surpreso tinha que manter seus pensamentos no lugar.

- Não há nada a superar - respondeu ele, um pouco frio e distante.
- Achei que pudesse existir algo...
- Mas não há.

Naquela noite, Atrius soprou as velas que iluminavam seus aposentos e na escuridão sentiu-se triste.

- Vai ser melhor assim - disse ele para si mesmo - Você vai superar e aprender a esquecer.





Em Payon, Florette abraçava seus joelhos, e olhava a lua no céu escuro. Estava infeliz, mas sabia que não existia futuro. Ela poderia prometer, mas sempre fora péssima para cumprir suas próprias promessas.

Haveria de esquecê-lo de uma forma ou de outra. Sentiria-se melhor assim que tudo passasse.


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