Entre a Promessa e a Flor escrita por Nymus


Capítulo 1
1 - Reencontro




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Florette deslizava os dedos pelas penas do seu falcão, que descansava em seu antebraço. Ao ouvir passos vindos da capela a sua frente, ela lançou o falcão ao ar, e estremeceu de ansiedade. Seu coração parecia que ia saltar pela boca a qualquer minuto, e ela torceu as mãos no colo, nervosa.

A luz do sol matinal fez iluminar a figura de um sacerdote de cabelos verdes e olhos ainda mais verdes, brilhantes como duas esmeraldas. Ele vinha segurando um rosário nas mãos e deixou cair a peça assim que viu Florette sentada.

Ficaram alguns minutos se olhando, como se não acreditassem no que viam, e então, ele abaixou o olhar e pegou o rosário caído. Apertando-o com força, foi na direção da caçadora sem ao menos saber o que falar, ou se devia falar alguma coisa. Seu coração batia tão rápido que ele estava com falta de ar, mas não demonstraria isso para ela. Tinha que ser indiferente, ou tentar ao menos ser.

- Flor... - murmurou ele, odiando-se por adorar pronunciar o nome dela.
- Atrius - ela ficou de pé, e sem jeito, colocou as mãos para trás, inevitavelmente procurando os olhos dele. Decepcionou-se ao encontrar um olhar desprovido daquele brilho apaixonado que ela tanto amava. Abaixou o olhar e considerou se fora uma boa idéia ter ido atrás dele. Devia ter deixado como havia acabado da última vez que se viram.

Os lábios ainda queimavam com a paixão do último beijo trocado entre eles e a pele do braço ainda formigava quando se lembrava da carícia dispensada por ele. Era uma tola apaixonada, e devia ir embora, na verdade, nem deveria ter aparecido.

- Desculpe-me - murmurou ela - não devia estar aqui.
- Por que veio aqui? - ele perguntou suave.
- Queria ver você... ouvir sua voz - ela o olhou, sem saber porque estava piorando a situação.
- Flor... - ele voltou a murmurar.
- Vou embora, foi bobagem ter vindo. Adeus...
- Espere - ele segurou o braço dela, e soltou rápido, como se tivesse se machucado com o gesto - espere Flor. Eu... eu... posso te pagar alguma coisa? - perguntou, querendo ficar mais algum tempo na companhia dela. - Faz tanto tempo que não nós vemos, que queria saber de todos - disse ele, quando o que queria era saber dela.
- Tudo bem - ela murmurou.

Atrius ficou ao lado dela, e enrolou o rosário o pulso, parecendo distraído. Caminharam em silêncio, e foram até o centro de Prontera. Em um mercador, ele comprou dois biscoitos de gengibre e depois foram até um banco para conversarem. Sentaram-se numa distância segura e Florette começou a falar dos amigos com os quais antigamente eles viveram muitas aventuras.

Ele a ouvia em silêncio, contemplando cada expressão que Florette fazia e como os lábios dela moviam-se com suavidade para relembrar todas as histórias. E logo ele estava se sentindo a vontade por ela vê-la novamente. Quando achava que nunca mais seria possível vê-la novamente depois de tudo o que haviam dito um por outro e de como aquilo que sentiam não poderia ser correspondido, uma vez que aquele sentimento não era nem pra existir.

Observando quando ela pendeu levemente a cabeça para o lado, como os longos cabelos violetas deslizavam por seus ombros e pareciam brilhantes ao sol daquele dia e macios. Ele sentiu-se tentado a toca-los para lembrar-se da sua suavidade. Fixou os olhos no pescoço alvo e conteve um suspiro ao pensar no que ela faria se ele depositasse um beijo ali. O que ela falaria se a tomasse nos braços.

- ... E eles não sabem que estou aqui.
- Veio me ver escondida?
- Não. Na verdade não - ela abaixou o olhar.
- Você anda triste Flor... é por causa de... nós?

Ela não respondeu, virando o rosto e olhando em outra direção. Atrius se aproximou dela e tocou suavemente o queixo dela, fazendo-a encara-lo. O brilho apaixonado nos olhos dela mesclava-se com a tristeza e o fizeram ficar segundos olhando os olhos azuis dela, como se pudesse ler a alma dela, como fazia antigamente.

Tantas coisas passavam por sua cabeça, tantas lembranças e promessas. Ele queria esquecer tudo e beija-la. Mas era um homem de palavra e havia jurado que jamais faria isso novamente. Não porque não gostasse de Florette, mas porque não podia ter seus pensamentos perdidos pelo sentimento que tinha por ela. Sua função exigia que ele tivesse os pensamentos livres para executar a magia sagrada de Odin.

Sorriu triste por seu destino. Ainda a amava e talvez mais do antes.

- Eu não peço nada - ela falou baixo.
- Eu sei.
- Sei que você jurou... Que ganhou os poderes sagrados de Odin. Eu sei de tudo... Eu só... Não sei o que eu queria vindo até aqui. Acho que apenas vê-lo novamente.

Uma mecha do cabelo violeta caiu sobre o rosto dela e Atrius a afastou gentilmente, colocando-a atrás da orelha de Florette. Não conseguia tirar os olhos do rosto dela e muito menos parar de desejar sentir os lábios dela, nem que fossem por uma última vez.

- Odin me abençoou com seu poder, se eu for fiel ao que jurei. Você lembra Flor, quando eu ficava orando para que ele me visse como um de seus escolhidos? Lembra de como ficava comigo e orava para que ele me notasse?
- Eu orava para que ele fizesse que você me notasse.
- Não precisava. Eu sempre a notei, talvez até mais do que devesse... Zanzar Ten e Lier me aconselharam a ter olhos apenas para o que queria, Jack disse que se eu gostava de você, que te falasse isso.
- Atrius - ela suspirou. Sem poder se conter, lançou-se nos braços dele e ficou com a cabeça escondida no peito dele. Ele a acolheu, apoiou sua cabeça na dela e ficou em silêncio.
- A Vic e o Anakin ameaçaram-me, dizendo que se eu te magoasse, eles me matariam. Eu nunca duvidei de nada, sabia que eles me fariam pagar por cada lágrima, cada soluço - acariciou o cabelo dela. - Eu espero não ter te magoado.
- Não fez isso...
- Não mesmo? - ele afastou-a o suficiente para olha-la nos olhos e saber a verdade.
- Não. Eu sabia que isso era um sonho... eu sempre soube. Odin não somente me ouviu, como mandou Freya vir lançar seu poder sobre mim e me fazer amar somente você.
- Flor... Que Odin me perdoe - murmurou ele, antes de beija-la.

Sentindo os lábios dele sobre os seus, Florette mergulhou num mundo de sentimentos que somente ele despertava nela. E cada coisa em Rune Midgard tornava-se mais bela e tudo calcava mais um degrau para a perfeição. Aquilo era mais do que ela esperava dele e ainda assim parecia um gesto pequeno perto do amor que lia nos olhos dele. Sentiu-se bem, amada e acolhida nos braços dele, sentindo que ali era seu devido lugar e que nada poderia lhe afastar essa certeza.

Talvez tivesse ido até ali somente para ter certeza que ele ainda a amava, da mesma forma intensa que o amava. E a cada suspiro entre cada beijo, ela tinha cada vez mais certeza. Ele segurava a cabeça dela, para que não pudesse vê-la afastar-se sem beija-la o quanto fosse suficiente. Quando ficou sem fôlego afastou-se dela, o corpo vibrante de amor e alegria, a mente pesada de remorso.

- Minha promessa... - ele murmurou.

Florette sentiu-se culpada por isso, e afastou-se dele o mais rápido que conseguiu. Atrius continuava sentado, com a cabeça baixa como se lamentasse o que havia feito. Ela sentiu os olhos cheios de lágrimas e a culpa aflorada em seus sentidos. Sem olhar para trás, disparou pelas ruas de Prontera, esbarrando em aventureiros e pet's. Empurrava tudo com as mãos para lhe darem passagem, alheia aos comentários que a perseguiam.

Alcançou as entradas da cidade e saiu, refugiando-se em algum lugar para recuperar sua coragem e voltar para a sua casa em Payon.


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