Capítulo 47 – Narrado por Elena, Stefan e Damon Salvatore

Parte 1 – Elena Salvatore

Nós estávamos a viver um inferno, literalmente. Os empregados já tinham comentado, e tinham comentado com os empregados das outras casas, e agora todos nos olhavam de lado nas ruas.

Eu já não suportava mais aquilo. Não que eu me importasse com o que os outros pensavam, mas aquilo era demais. Os olhares de lado, os bons dias ignorados, alguns até atravessam a estrada para o outro lado como se fosse uma doença contagiosa.

Damon não estava muito melhor. Ele estava a viver um inferno na Faculdade. Havia alguns estudantes de Mystic Falls no campus, e faziam piadas sem graça. Ele até já tinha andado á luta, não para defender o pai, porque ele nem falava com ele, mas por causa da minha honra. Os erros da minha mãe não eram os meus, mas as pessoas achavam que sim.

Stefan e Katherine tinham chegado no dia anterior, mas já era muito tarde, e então eles foram logo dormir. Ora aí estava uma coisa que eu não fazia em muito tempo: dormir. Não pensem outras coisas, eu e Damon estávamos muito bem nesse ramo, mas o que não me deixava dormir eram os problemas. E sempre que conseguia dormir um pouco, acordava com Damon a abanar-me porque estava a gritar.

Eu já tinha sido a traidora, a odiada e a coitada ao longo da minha vida, já tinha levado com aqueles olhares de desprezo, mas tinha sido por uma coisa infantil (o meu desentendimento com Katherine por causa de Matt), e agora que era oficialmente uma adulta casada, as coisas mudavam para um nível muito superior. Acho que era por isso que me afetava tanto: porque afetava a minha família. Afetava-me, afetava o meu marido, a minha irmã e o meu cunhado.

-Elena, tenta dormir – a voz de Damon soou rouca, fazendo-me voltar ao presente e não aos olhares de desprezo dos empregados e das pessoas de Mystic Falls.

Ele continuava com os olhos fechados e estava a fazer um beicinho mesmo fofo.

-Não consigo.

-É por causa do casamento de Caroline?

Pois, também havia isso. A mãe de Caroline proibiu-me claramente de aparecer na casa dela, e muito menos no casamento da filha. E o pior de tudo era que o grande dia para Caroline e Klaus seria dentro de uma semana. Se eu não fizesse algo bem rápido, Car teria como damas de honor Jules e Rebekah. As três nunca se deram, e uma paz entre as três jamais iria acontecer.

-Não é só isso. Dorme, Damon. Amanhã conversamos melhor – murmurei, mas já era tarde demais. Ele ligou a luz da mesa-de-cabeceira dele.

-Conta-me.

Suspirei, sentindo-me terrivelmente cansada com toda aquela situação.

-Eu não sei por quanto mais irei suportar isto.

Ele sorriu, mas não atingiu os olhos azuis cristalinos.

-É uma situação temporária.

-O meu pai ainda não respondeu, Damon. Duvido que irá responder – admiti. Aquilo era um problema deles, mas também era uma parte meu porque eu era filha deles.

-Fazemos assim: assim que acabarem as aulas do primeiro semestre, vamos para Inglaterra.

Arregalei os olhos.

-Enlouqueceste?

-Não suporto ver-te assim, Elena! – exclamou ele, e eu vi o quanto aquilo o afetava também. – Começaremos do zero, num lugar onde ninguém nos conhece.

-E Katherine e Stefan?

-Eles ficaram encantados com Itália. Katherine achou aquilo mágico, e para onde ela for, Stefan vai. Deixamos esta pequena cidade e exploramos o mundo!

Um nó cresceu na minha garganta. Aquilo era demasiado para mim, eu não estava preparada, mas Damon era meu marido, e eu não podia abandoná-lo.

-Damon…

-Pensa, Elena. Não precisas de me dar uma resposta já. Temos a vida toda para pensares no assunto – ele deu-me um beijo na testa, mas isso não me fez relaxar, ou abrandar o meu raciocínio.

Parte 2 – Stefan Salvatore

A Faculdade tinha sido um inferno, o que vale é que tinha Kol e Matt (os meus melhores amigos) ao meu lado. Damon tinha razão: todos nos olhavam de lado, como se tivéssemos cometido adultério, e não o nosso pai. Nunca pensei que as pessoas fossem tão conservadoras. O desejo de pegar em Katherine e sair dali era demasiado forte para eu o esquecer.

Ele não devia de ter feito aquilo. Primeiro de tudo, por causa da minha mãe, e depois porque Isobel era mãe delas e era casada. O que ele tinha feito jamais seria perdoável.

Matt e Kol explicaram-me as consequências que aquilo estava a ter: Elena e Katherine tinham sido proibidas de colocar os pés no casamento de Caroline e Klaus, assim como de qualquer lugar sagrado, ou até mesmo da praça de Mystic Falls! Apesar de ninguém as poder impedir pela lei de passearem pelo centro da cidade, não seria aconselhável, já que havia muitas mulheres de família que estavam desejosas de lhes atirar algumas verdades à cara. E elas não tinham a culpa, assim como eu e o meu irmão não tínhamos.

Kol estava impedido de me ver, mas desde quando é que ele ligava ao que o pai e a mãe lhe diziam? Ele era o filho rebelde, sem qualquer responsabilidade. Ele só queria saber de bebida e muitas jovens inocentes para as deflorar.

Com Matt acontecia a mesma coisa, mas eu estava somente impedido de entrar em casa dele. Os pais deles não eram assim tão conservadores, e sabiam que eu não tinha a culpa, no entanto, jamais deixariam que o nome deles se juntasse com os dos Salvatore e Pierce para a lama.

O nosso nome estava arruinado, não havia nada que pudéssemos fazer.

Mal cheguei a casa, Katherine correu para os meus braços. Eu prendi-a contra o meu corpo, desejando largá-la nunca.

-O meu pai chegou. Estão todos a falar na biblioteca.

-E Elena? – indagou Damon.

-Está lá dentro com eles. Eu estava, até ouvir a carruagem.

-Então vamos – Damon avançou com passos determinados e cheios de raiva até à biblioteca. Escancarou a porta, e eu e Katherine seguimo-lo.

-Damon. Stefan – proferiu o nosso pai.

Isobel estava em lágrimas, e John estava fora de si, podia ver isso através dos seus olhos arregalados e postura tensa.

-Por favor, saiam. Deixem os adultos tratar disto.

-Eu não saio daqui porque isto é um assunto de família – afirmei e o meu pai ficou surpreendido. Eu nunca o tinha enfrentado na vida, mas naquele momento eu tinha uma esposa para proteger de tudo e de todos.

-Stefan! – exclamou ele. – Como ousas falar nesse tom comigo?

-Como ousa deitar o nosso nome para a lama? – comecei a levantar a voz, perdendo o controle daquilo que estava a dizer. – Como ousa fazer isto com a mãe da minha esposa, com a minha mãe?

-Stefan… - murmurou Isobel, mas eu interrompi-a.

-Diga-me! Como!?

Pareceu que ele ia ter um ataque cardíaco a qualquer momento, mas ficou calado.

-Não tenho outra forma de fazer isto, Isobel – murmurou John, olhando para esposa dele.

-Não, por favor… - implorou ela.

-Irei deserdar-te e não serás mais a minha mulher.

-John, por favor! Eu amo-te!

-Não digas isso! – ela encolheu-se perante o tom de voz dele. – Se me amasses não te tinhas metido com ele.

-John, por favor, perdoa-me!

-Não – afirmou ele, sem pestanejar. – Isso não é possível. Não só por respeito a Stefan e Damon, que viram quem o pai deles é realmente, como por respeito às nossas filhas que viram isto acontecer no início das suas vidas, como pelas nossas famílias.

-John…

Ele saiu da biblioteca, e ouvimos a porta da entrada bater com um enorme estrondo. Katherine pegou na minha mão e eu entrelacei os nossos dedos.

-Podem deixar-me a sós com o meu pai? Há coisas que temos que discutir.

Katherine olhou-me com súplica nos olhos, mas foi-se embora. Elena e Isobel seguiram-lhe o exemplo.

Ficámos só nós os três na biblioteca.

-Agora vamos falar – disse, e sentei-me. Tentei controlar a raiva e a desilusão que tinha por ele. Não podia deitar tudo a perder agora, o que estava feito, feito estava, mas eu tinha que obter respostas que só ele mas poderia dar.

Parte 3 – Damon Salvatore

-Amaste a nossa mãe? – perguntou Stefan.

-Muito. Ainda a amo – o meu pai estava com um rosto derrotado, mas os seus olhos tinham uma determinação digna do nosso apelido. Apesar de isso já de nada valer.

-Então porquê fazer isto? – Stefan estava profundamente desiludido com o nosso pai. Ele era o seu ídolo, nunca tinha questionado as suas ações e aquilo tinha sido um golpe muito baixo para o meu irmão.

-Eu sou homem, Stefan – respondeu ele, e eu nem queria acreditar no que ele tinha dito. – E Isobel sentia-se tão sozinha como eu. Desde a perda da vossa mãe que eu não tive olhos para outra pessoa, mas depois apareceu Isobel, e ela mostrou-me que a vida pode ter cor.

-Ela é mãe das nossas esposas! – exclamei. – Isso não contou?

-Sei o que estás a pensar, Damon, mas um dia verás que nem tudo é preto no branco.

-Ela era casada! – disse Stefan.

-Uma decisão dela, não minha. Foi ela que tomou a iniciativa, e quem sou eu para a julgar? John só vive para o trabalho, raramente para em casa, e Isobel merece saber que é amada!

-Vocês os dois merecem-se! – exclamei e levantei-me.

Saí da biblioteca, não aguentava ouvir mais o meu pai dizer que amava uma mulher casada, e que por causa disso deixou o nosso nome em maus lençóis.

-Não lhe posso contar agora, Katherine!

Escondi-me atrás de um pilar da sala de estar. Elena e Katherine estavam num sofá, a conversar.

-Seria a melhor notícia que lhe podias dar! – falou Katherine. – Tens que fazer isso. Ele também faz parte disso.

-Eu sei, mas… ultimamente só tem havido problemas, e eu não quero apressar as coisas. Pode não ser nada, pode ser só do nervosismo…

-Elena Pierce Salvatore, desde quando é que te atrasas seis semanas?

Elena fungou.

-Nunca.

-E quando é que foi a vossa lua-de-mel?

-Seis semanas atrás – respondeu Elena.

-Mana, tu estás grávida – afirmou Katherine, sorrindo angelicalmente.

Elena estava grávida? Eu era o pai?

©AnaTheresaC