Janela escrita por o_arquiduque
- Vai começar á ser minha correspondente agora? – Alfredo sorri gentilmente ao pegar as folhas que Luiza estava lhe entregando.
A tarde estava terminando, mas ela não poderia deixar de entregar o texto que produzira àquela manhã, por isso pausou um pouco sua produção artística e correu até o jornal de seu amigo, afinal, enviar correspondências não era mais seguro, para nenhum dos dois.
- Possivelmente. Depois do que está acontecendo, não poderia ficar calada!
- Seu pseudônimo vai ser Carmelita Rodrigues?
- Sim.
- Ótimo, com isso eu dou a nova edição por encerrada e amanhã as pessoas já poderão ler um pouco de verdade.
- Você já está de saída?
Ele confirmou positivamente, enquanto terminava de organizar alguns papéis e entregar à Matilde. Depois pegou o casaco, a gravata mais uma vez ficou na mão mesmo, bateu a camisa e estava pronto:
- Vamos que eu te acompanho!
Os dois se despediram da assistente do editor e então saíram para a rua que começava à ficar escura, ganhando alguns poucos pontos de luz derivada da energia elétrica, ainda pouco aproveitada.
- Então quer dizer que Otto não possui as cartas... – Alfredo repete para entender certinho.
- Sim. E nem nós. Mas, juro, revirei meu jardim, hoje, dezenas de vezes! E principalmente perto da janela do ateliê! A carta não está lá! Se estivesse eu já teria achado! Conseguiu falar com Délia?
- Tentei encontrá-la em seu prédio, mas não tive sucesso! Enviei uma carta para o ultimo endereço de onde recebi uma correspondência dela... Mas provavelmente a carta nem vai chegar!
Enquanto os dois conversavam, as horas iam passando de forma que beirava à meia noite quando chegaram na casa da artista, uma construção grande, larga, com muito metal pintado de branco ao invés de madeira e árvores à frente, depois do portão alto.
- Eu vou indo, ou do contrário dormirei muito tarde!
- Claro. Vou aguardar ansiosa pelas notícias reais no seu jornal... e... – Antes que ela continuasse a frase, um menino a interrompe, fadigado de tanto correr.
- Dona, seu Horácio pediu que a dona fosse até a Galeria! Disse que não vai ter como seguir em frente com os planos de vocês!
Luiza quase arregalou os olhos. Alfredo arqueou as sobrancelhas.
- Vou pedir que preparem o automóvel! – Ela entrou na casa rapidamente.
- Menino, Horácio não te falou mais nada?
- Não, senhor! Ele apenas me pediu para passar essa mensagem e disse que vocês que acertariam as contas!
-... Todo bem, vai. Aqui está! – Retira algumas moedas.
Depois que o garoto se afastou, aproxima-se um automóvel barulhento, azul claro, um Aero Willys sendo guiado por uma Luiza toda desconfortável com a tecnologia tão avançada da época:
- Entra!
Alfredo sempre achou engraçado quando ela dirigia, mas a situação pedia urgência e não caberia uma boa risada, por mais que internamente estivesse rindo á beça. Apenas entrou no veículo e eles partiram com uma velocidade espantosamente superior aos 80 km/h.
Assim que entraram na nove de julho, de longe já podiam avistar a confusão. Um aglomerado de pessoas à frente de uma construção não muito grande, de onde emanava uma luz incandescente muito conhecida.
Luiza mal estacionou o carro e já deixou a chave com Alfredo para que ele o trancasse, e saiu correndo em meio à multidão para chegar até o centro da ocorrência, mas o cheiro seco, a nuvem cinza e o ar quente, além da luz, já confirmavam seus temores. A Galeria Velha estava em chamas.
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