Janela escrita por o_arquiduque


Capítulo 9
Reunião em casa de Luiza




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Era madrugada, faltavam poucas horas para que o céu começasse à clarear, mas Alfredo, Luiza e Horácio tinham se reunido na casa da artista para pensar em alguma coisa.

- Foi Otto quem fez isso! – Alfredo traz à tona o começo da discussão.

- Ele fez porque achou que eu estava mentindo! Horácio, não precisa se preocupar, eu custearei o necessário para trazer a Galeria de volta!

- O... Obrigado, Luiza. M... Mas sua exposição agora não tem como ocorrer.

- Mas ela vai! Ela vai acontecer, e naquela Galeria! Farei de tudo para que a reforma aconteça em no máximo um mês e então estaremos fazendo essa exposição, e com quadros inteiramente novos! – Ela estava decidida.

- Como assim, quadros novos, Luiza? – Alfredo passa as mãos pelo cabelo.

- Quadros que vão contar um pouco dessa nossa pequena desventura!

- Isso n... não é muito sensato, é?

- Não importa! E Alfredo, eu vou reescrever minha matéria! Mas isso vai parar nos jornais!

- Não precisa, eu creio que consigo aumentar mais uma página, tenho em mim que você terá muito que escrever!

- Você não imagina o quanto!

- Senhorita... O senhor... – A empregada se aproxima, começa à falar, mas é interrompida por uma voz grave bem conhecida.

- Não precisa me apresentar, eles já me conhecem bem! – Otto entra impetuosamente.

- O senhor não é bem vindo aqui! Poderia se retirar, por favor?! – Luiza estava tremendo de nervosismo.

- Não, não até eu ter a carta em minhas mãos! Vocês já tiveram o primeiro aviso, não queiram ter o segundo! Agora me entreguem essa maldita carta!

- Nós não temos! – Alfredo estava do lado esquerdo de Luiza e Horácio do lado direito, os três em pé, de frente para Otto.

- Está mentindo! Eu não vou deixar que três pessoas quaisquer acabem com minha carreira política! Eu sei muito bem que não posso atirar no editor chefe de um jornal fétido que há muito me incomoda, ou numa artistazinha burguesa comunista, mas ninguém vai notar a falta de um sujeito inútil cuja Galeria jaze em cinzas! – Rapidamente enfiou a mão dentro do casaco, tirou uma arma e disparou duas vezes em Horácio, depois virou-se e saiu como entrara.

Alfredo quis correr atrás, mas Luiza o segurou:

- Se fizer alguma coisa, então será pior para nós! Vamos me ajude. ALGUEM ME AJUDE NESSA CASA! – Seus olhos começavam a encher de lágrima.

- Mas eu não me conformo! Isso não pode ficar assim, eu vou acabar com esse homem!

- Alfredo, por favor, não dá para pensar nisso agora! Só ajude esses moços á levar Horácio ao hospital!

O editor arregaçou as mangas da camisa branca, agora suja de sangue, e ajuda os empregados de Luiza a mover o copo até o carro. Ele acompanharia um dos moços até o destino, para garantir que o homem chegasse ainda com vida.

Enquanto isso Luiza deixa as mulheres limpando a sala e se move em direção ao ateliê.

Passando a soleira, lançou um olhar naquilo tudo, o lugar onde tudo começara. Uma súbita raiva, culpa, frustração e medo açoitavam-na de todas as formas. Ela não agüentou e se rendeu à um punhado de lágrimas, que doíam quando escorriam em sua pele.

Deu vontade de queimar tudo, de rasgar as telas, de repintá-las, tentar mudar os fatos com o pincel, mas corroia-lhe a realidade de que não era possível. Horácio tinha perdido a Galeria e estava perdendo quase sua vida à troco de uma exposição que não deveria ter tanta repercussão assim! Se ela conseguisse encontrar a carta, então acabaria com a reputação de Otto. Agentes públicos não poderiam deixar que suas ações corruptas se tornassem públicas.

Luiza pensou um instante, de olhos fechados, depois se decidiu. Assim que os abriu, sentou em seu habitual banquinho e jogou um copo de solvente nas tintas frescas da tela. Suas pinturas ganhariam uma nova releitura, bem próximas às das telas de Délia, sua amiga, também artista, desaparecida desde a tarde em que a visitara.


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